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postado em: 19/12/2008
Meditar: Arte Milenar a Serviço do Profissional do Século XXI
A simples menção da palavra meditação remete o pensamento a uma interpretação do termo com implicações geralmente religiosas, embora a arte de meditar consista no exercício da reflexão, do exame dos pensamentos e dos fatos, das possibilidades e impossibilidades que permeiam a vida.
Meditar apenas não é o exercício da ação. A meditação antecede ou sucede os fatos ou mesmo a intenção ou não-intenção de praticá-los e pode ainda ser o exercício do julgamento e da análise dos atos praticados por outrem.
Para algumas pessoas, meditar é ocupar-se em um pensamento contemplativo contínuo, é cogitar algo, refletir de modo demorado, para outros não é mero sinônimo de pensar. Num sentido religioso, a meditação tem sido entendida como uso reverente, intenso e contínuo da contemplação de Deus ou de algum tema ou ideal religioso.
Nas religiões orientais, a meditação é fundamental e chega a suplantar outras práticas como a oração ou adoração. Alguns tipos de meditação chegam a produzir uma espécie de transe.
Atribuem-se à arte de meditar curas físicas, emocionais e espirituais, todavia discorre-se neste texto sobre o exercício da meditação como instrumento de auxílio ao profissional moderno, imerso, quase sempre, na tresloucada rotina que a exigüidade do tempo nos impõe.
Uma das mais antigas composições sobre a meditação de que se tem notícia foi o opúsculo a arte de meditar, cujo autor, Hugo de São Vítor viveu provavelmente no século XII, sugerindo que a “meditação é a cogitação freqüente, que investiga o modo, a causa e a razão de cada coisa” (VÍTOR, s/d).
Para ele, “No modo, investiga o que é; na causa, por que é; na razão, como é. Os seus gêneros são três: o primeiro é sobre as criaturas, o segundo sobre as escrituras, e o último sobre os costumes. A meditação das criaturas surge da admiração; a meditação das escrituras, da leitura; a meditação dos costumes da circunspecção, do atento exame dos afetos, pensamentos e obras humanas”. (VÍTOR, s/d).
Mas como poderia a arte de meditar ser útil ao profissional moderno? Em primeiro lugar é importante lembrar que o exercício de atividades profissionais em um mundo globalizado, poluído, massificado, mundo que tem pressa, não é tarefa fácil e desprovida de adrenalina. Pelo contrário, as atividades profissionais de hoje são extenuantes porque à medida que o mundo se torna rápido, tecnológico e consumista, as decisões também imperam sê-lo.
Quem gosta de esperar em uma fila para ser atendido, quem quer esperar muito tempo o preparo do alimento em um restaurante? Não é à toa que os self-services, os supermercados, os terminais de auto-atendimento proliferam cada vez mais. Nesse corre-corre diuturno, geralmente não mais se dispõe de tempo para apreciar a beleza natural de uma flor, embevecer-se com a beleza de uma música suave, escrever cartas manuscritas, cultivar o hábito da leitura, caminhar sem pressa, jogar conversa fora ou permitir-se refletir sobre a vida, as prioridades e o que é de fato importante, etc.
Ouve-se repetidas vezes por pessoas que sobreviveram a um infarto que só então descobriram a importância de coisas simples, de demorar-se construindo castelos no ar, da introspecção, do milenar conceito Socrático “conhece-te a ti mesmo”.
Pode-se meditar de várias formas: com os olhos abertos ou fechados ou em diversas posições corporais, entretanto subentende-se a necessidade de concentração, silêncio ou coordenação sonora que propicie a ausência de ruídos (do ponto de vista da dinâmica do processo de comunicação).
Pode-se meditar sobre os fatos do passado e sobre as alternativas do futuro. Até mesmo na contemplação de objetos, fotografias, cartas, lugares, músicas, cheiros e sabores pode-se criar um ambiente apropriado para a meditação que de certa forma remete o ser humano para uma relação íntima consigo mesmo, o que por si só é saudável.
O profissional do Século XXI precisa dispor de tempo para introspecção, análise de valores, redescoberta do eu, não em uma conotação de egocentrismo, mas, para o alcance de novas e salutares experiências.
Referências:
CHAMPLIN, R.N.; BENTES, J.M. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia.São Paulo: Candeia, Vol. 4.1991.
VÍTOR, Hugo de São. Opúsculo sobre a arte de meditar.Disponível em: http://accio.com.br/Nazare/1946/pfp-04.htm, acesso em 23.03.2006.