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postado em: 29/4/2011
O Louco e o Lúcido
Naquela manhã eu caminhava a passos largos pela calçada de uma rua no centro da cidade. E tinha pressa! O meio-dia já se aproximava e minha lista de afazeres ainda estava quase inteira.
Ao cruzar com um homem, pude perceber de imediato que se tratava de uma pessoa com perturbações mentais. Ele era franzino, barba descuidada, roupa um tanto quanto suja e carregava uma garrafa pet vazia sob a axila direita. Estava com alguma coisa nas mãos que não me lembro bem o que era, mas, o que me chamou a atenção naquele homem foi o fato de que ele estava sorrindo.
Como não havia mais ninguém por perto e ele não estava me olhando, mas dirigia seu olhar para o chão, percebi que o sorriso era fruto de algo que lhe surgia na mente naquele momento. Seria uma lembrança, um rosto, uma frase? Só Deus sabe...
Num relance, pude contrastar nossas diferentes atitudes. Eu, com o rosto sério, imerso em pensamentos e preocupações; ele, esboçando um sorriso de cândida despreocupação e leveza.
Quando me dei conta estava sorrindo também... Meu Deus, algum transeunte terá me julgado também por louco? Será?
Aquele simples acontecimento mudou a trajetória de meus pensamentos. De repente percebi que eu tinha inúmeros motivos para sorrir, mas Deus precisou colocar em meu caminho alguém que aparentemente não tinha motivos para ser feliz e, contudo, parecia sê-lo.
Com certa facilidade pude enumerar quatro motivos para estar sorrindo e quero compartilhá-los com você. São quatro coisas preciosas para se ter e acredito que você tenha mais do que uma delas; considere-se bem-aventurado se tiver as quatro:
1. Fé – Blaise Pascal, teólogo e cientista do século XVII, afirmou: “Como é bom poder ter fé. Com a fé, vejo mistérios; sem a fé, vejo absurdos.” Em uma análise simplista, a fé dá sentido à existência (de onde vim, quem sou e para onde vou?). A vida não teria nenhuma graça sem fé. Imagine deitar-se para dormir sem ter a esperança de acordar no dia seguinte? Sem fé o que seria da esperança? O apóstolo Paulo a coloca como resultado de um processo que tem início com a fé (Romanos 5:1-5). Não é a toa que Hebreus 11:6 diz que “sem fé, é impossível agradar a Deus”.
2. Lucidez (mental e espiritual) – Já ouvi dizer que a lucidez é insuportável em um mundo de insanos. Outros acham que a lucidez, como a loucura, pode ser perigosa. A escritora Clarice Lispector escreveu: “que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano, - já me aconteceu antes.” Mas por que não podemos ser felizes sendo lúcidos? Como é bom ser lúcido, como é bom poder saber o que se quer e querer o que se sabe! A sabedoria não consiste em unir loucura e alegria, mas lucidez e felicidade. “Digamos” como o filósofo francês André Comte-Sponville “que a sabedoria aponta para uma direção: a do máximo de felicidade no máximo de lucidez.”
3. Capacidade Motora – mínima para cuidar-se sozinho, sem a necessidade de que outras pessoas cuidem de sua higiene, alimentação e locomoção. Digo mínima, porque na realidade existem cinco capacidades motoras: a resistência, a força, a agilidade, a flexibilidade e a velocidade. A dignidade de poder bastar-se não tem preço!
4. Amor – se você tem para dar e para receber, sinta-se um ser privilegiado. Muitos se gastam e se desgastam por coisas outras como, por exemplo: poder, prestígio, fama, dinheiro, móveis, imóveis e automóveis. Provérbios 22:1 afirma categoricamente: “É melhor ser respeitado do que ser rico; é melhor ser amado do que ter uma fortuna em ouro e prata” (A Bíblia Viva).
Como se vê, não é preciso tanta coisa para ser feliz. A maioria das pessoas leva uma vida para entender isso, a não ser que Deus lhe faça cruzar com um louco que sorri... Ou seria um anjo?