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postado em: 22/12/2013
MANDELA OU MANDALA?
“Nunca homem algum falou assim como este homem” (João 7:46).
O deputado federal pelo PT-BA, Nelson Pellegrino, afirmou no plenário da Câmara Federal que “Nelson Mandela foi o homem mais completo do Século XX.”.
Essa foi um dos milhares de homenagens feitas ao grande líder político e ex-presidente Sul-Africano entre 10 e 15 de dezembro de 2013. Nelson Mandela inegavelmente fez por merecê-las, considerando-se sua influência e liderança na luta contra o regime de segregação racial que dizimou tantas vidas em tantos anos naquele país.
Ao que tudo indica, esse foi o funeral que reuniu o maior número de chefes de estado de todo o mundo (mais de 90), além de pessoas de destaque em todas as áreas do conhecimento humano.
Mandela ficará marcado na história daquele país e na história do mundo por tudo o que ele passou e por tudo o que ele fez, incluindo sua cinematográfica vida prisional.
Confesso que sou um admirador deste homem que soube fazer seu tempo na história e, principalmente, soube quando sair de cena, rejeitando a tentação natural dos políticos de perpetuar-se no poder; entretanto, afirmar que ele foi o homem mais completo do século XX é um exagero do deputado Pellegrino.
Nenhum homem pode ser considerado completo quando nos vem à mente a lembrança de que vivemos sob a égide do pecado e suas consequências danosas. Homens e mulheres de valor, de grandeza admirável fulguram na história humana. Só para citar alguns de uma extensa lista: Abraão, Moisés, Davi, Salomão, Alexandre Magno, Paulo de Tarso, Martinho Lutero, Gandhi, Abraham Lincoln, Winston Churchill, etc. Estas e outras dezenas de pessoas que mudaram os destinos do mundo foram, sem dúvida, figuras excepcionais, mas, todas, sem exceção, tinham seus defeitos e áreas onde não eram bem sucedidas. Consideremos os exemplos citados:
Abraão acedeu ao conselho de Sara e quis resolver a promessa de Deus a seu modo, tomando Agar, serva egípcia e tendo com ela seu filho Ismael. Uma atitude que deu origem a uma inimizade entre Hebreus e Palestinos que tem passado de geração em geração até chegar aos nossos dias.
Moisés, homem manso e tímido, deixou de entrar na terra prometida porque “perdeu” a mansidão e feriu a Rocha duas vezes.
Davi, homem segundo o coração de Deus, traiu, assassinou, adulterou e dissimulou um vergonhoso pecado em Israel.
Salomão, a princípio buscando em Deus a sabedoria para governar, deixou-se enredar pela idolatria de suas mulheres, cujo casamento Deus desaconselhou em Sua Palavra. Ele conduziu o povo à idolatria e sentia-se infeliz (Eclesiastes Capítulos 1 e 2).
Alexandre Magno conquistou o mundo antes dos trinta anos, mas não dominou sua intemperança. Historiadores relatam seu uso excessivo de bebida alcoólica, do abuso de sua saúde até o limite em incansáveis batalhas. Alexandre, O Grande, morreu de febre com apenas 32 anos, e, o fato de não fazer num sucessor, causou a ruína do maior império estabelecido pelo homem
Paulo de Tarso, homem de Deus, figura mais proeminente do Novo Testamento, demonstrava grande dificuldade em trabalhar com pessoas que não acompanhavam seu ritmo acelerado e destemido, entre estes o jovem João Marcos.
Martinho Lutero, líder da Reforma Protestante, parecia ter dificuldade em reconhecer a importância da figura feminina quando lemos sua frase: “Não há maior defeito numa mulher que o desejar ser inteligente”.
Gandhi, segundo o autor Joseph Lelyveld, ex-editor executivo do The New York Times, em seu livro “Great Soul” afirma que “Mahatma”Gandhi era racista, bissexual e praticava diariamente o contrário do que professava para a humanidade. (?!)
Lincoln tinha tamanha dificuldade no relacionamento conjugal que, quando advogado, antes de ser presidente, empreendia viagens longas para ficar mais tempo fora de casa.
Churchill, segundo Rodrigo Constantino de O GLOBO, “o maior responsável individual pela derrota nacional-socialista na Segunda Guerra Mundial, tinha, como todo ser humano, suas falhas e contradições. Nem sempre foi correto, e errou em suas previsões em importantes situações”.
Voltemos a Nelson Mandela. Suas qualidades políticas são inegáveis, mas fazer dele um homem perfeito é trilhar por um caminho perigoso. Mandela administrou bem o sofrimento e isolamento de dezenas de anos na prisão, soube liderar os sul-africanos no banimento do apartheid, mas, fracassou no que concerne a ter uma família equilibrada e feliz: casou-se três vezes, teve vários filhos, netos e bisnetos. Uma família desunida e que se desentendeu até mesmo nos procedimentos dos funerais de Madiba.
Nem Mandela, nem qualquer ser humano pode ser declarado completo no que concerne à perfeição. Todo ser humano pode se destacar em alguma coisa, pode mesmo chegar a ser grande ou o melhor em sua área de atuação, mas jamais será perfeito, completo em sua condição humana.
Talvez exageremos a importância das pessoas às quais admiramos porque carecemos de bons exemplos, de supostos modelos de vida que nos motivem a seguir em frente. Nesse quesito, muitas vezes os tomamos como ícones, ídolos, fazendo deles uma espécie de mandala para admirarmos e para nos servir de chancela.
Se quisermos olhar para alguém completo, perfeito, não há esperança em olhar para os seres humanos. Seres humanos são imperfeitos e nos decepcionam. Vejam: Elias, o grande modelo de profeta que a Bíblia apresenta, oscilou entre uma incontestável vitória no Monte Carmelo diante dos 450 profetas de Baal e uma vergonhosa fuga causada tão somente pela ameaça de uma mulher, Jezabel. (I Reis, capítulos 18 e 19).
Temos que nos espelhar no único modelo perfeito, Jesus Cristo, o Filho de Deus. Sem dúvida, a expressão daquele guarda do templo, encarregado de prender Jesus e impedir que Ele continuasse com aquela reunião no pátio do Templo é a mais simples definição do único ser humano “completo” que pisou neste planeta: “Ninguém jamais, falou como este homem”!
Obs.: Mandala (do sânscrito) significa círculo. Tem sido interpretada de forma popular como círculo mágico ou concentração de energia, sendo universalmente um símbolo da integração e da harmonia. Uma espécie de força interior que dá forma à vida, para melhor ou para pior. Carl Jung usava esse vocábulo para aludir aos padrões arquétipos (modelos) e seus elementos constituintes.