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postado em: 19/7/2017
“[...] exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas, verso 3 u.p.)
A pergunta acima, que fornece o título para este artigo, poderia ser respondida (e de fato o é) de inúmeras maneiras; eis aqui algumas das possíveis, “humorísticas e até absurdas”, respostas dadas pelos conhecedores em nível superficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia:
Da mesma forma que o escritor John Seaman, autor das palavras acima, pensamos que “não podemos acusar essas pessoas por suas respostas francas, pois é provável que nunca tenham tido oportunidades de saber quem realmente são os adventistas do sétimo dia”. Por outro lado, “Essas afirmações simplistas, por mais sinceras que sejam, certamente mostram o que os adventistas do sétimo dia não são”.
Neste artigo, sem grandes preocupações “editoriais” e/ou “estéticas” e, ao mesmo tempo, perseguindo um único objetivo: fugir aos “rótulos”, preconceitos, ilações e superficialismos, pretendemos analisar os adventistas do sétimo dia à luz das suas pretensões eclesiológicas, missiológicas e escatológicas. A razão para tal direcionamento analítico, é estar conscientes de que sempre será um exercício hermenêutico impossível de ser levado a bom termo – sujeito a monumentais falhas de análise e interpretação – pretender analisar a pretensa singularidade adventista e a sua ênfase doutrinária (para muitos “intérpretes” e “analistas” desavisados – desprovidos dos mínimos conhecimentos da eclesiologia adventista, do arcabouço profético em que foi gerado e se sustém a IASD – sempre vista como “exagerada”, “desproporcional em relação às outras doutrinas”, “maniqueísta”, etc.)
Recentemente, num excelente artigo (link logo abaixo), o Professor Raphael Teixeira, mestre em História, expôs exatamente essas tentativas “intramuros” de reduzir e desfigurar a pregação adventista – desconectando-a exatamente da sua grande fonte de Poder, que é torna atraente – sim, eu disse ATRAENTE – e verdadeiramente singular aos olhos do mundo:
É, pois, cada vez mais notória a diluição da identidade no vasto espectro religioso pós-moderno. Estamos perdendo nossa vivacidade, utilidade e relevância. Contudo, como lembra o George Knight, "o adventismo nunca se viu como apenas mais uma denominação." "É um movimento evangélico com uma mensagem profética para o mundo centralizada no Cordeiro de Deus e no Leão da tribo de Judá apresentado no Apocalipse" (A Visão Apocalíptica, p. 29). Se retrocedermos aos primórdios do nosso movimento religioso, notaremos que a "dinâmica vital" que impulsionou os mileritas foi uma "profunda certeza, baseada no estudo de Daniel e Apocalipse, de que Cristo estaria voltando em breve" (Adventismo, p. 9).
Quão longe nos afastamos das nossas origens! [...] ONDE CAÍMOS? O Prof. Knight, no mesmo livro supracitado, dá o seu palpite: "(...) No momento em que a igreja se torna politicamente correta em todas as suas reivindicações e perde a quantidade adequada de arrogância santificada em relação à sua mensagem e missão, torna-se estéril, mesmo que continue a vangloriar-se de sua potência" (A Visão Apocalíptica, p. 17).
Desde o início, o povo adventista foi chamado para pregar uma mensagem politicamente incorreta - o Evangelho Eterno, a última Verdade Presente. Ai de nós se não pregarmos esse Evangelho! Como atalaias, podemos estar a cochilar, mas a mensagem que devemos pregar ao mundo é mais urgente do que nunca! iasdemfoco.net/Colunistas_RaphaelTeixeiraPag.asp?Id=8
O grande amigo e arguto escritor Raphael Teixeira está completamente certo, em suas assertivas e conclusões! Se perdermos de vista o nosso foco e a grande e singular contribuição que podemos dar ao mundo, no apresentar mensagens que para muitos mesmo entre os pretensos “adventistas” soam como “estranhas” (Lembrando aqui que o rótulo de “estranhas” ou “estranhos” via de regra é aplicado pelos que desconhecem ou não vivem a Verdade: Atos 17:18), “antipáticas”, “mantras”, “politicamente incorretas” e “delírios adventistas”, perderemos a nossa identidade e a nossa própria razão de existir como Igreja.
No que tange a essa distinção/singularidade do corpo doutrinário da IASD – das chamadas “Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia” – nós temos as seguintes considerações da parte de alguns dos seus mais renomados escritores e teólogos:
- Dr. Ángel Manuel Rodriguéz, em “Teologia do Remanescente: Uma Perspectiva Eclesiológica Adventista”: “Os adventistas do sétimo dia têm um corpo de doutrinas, estilo de vida particular e uma cosmovisão bíblica. Tais elementos, juntamente com a organização mundial da igreja, caracterizam o adventismo ao redor do planeta e contribuem para sua unidade. A eclesiologia adventista deve explorar a importância dessa união num mundo cada vez mais caracterizado pela fragmentação. [...] À medida que o movimento adventista continuar a crescer, ele se tornará cada vez mais influente ao redor do mundo. Podemos facilmente antecipar o aumento da necessidade de diálogo com outras comunidades cristãs e com líderes de outras religiões do mundo. A igreja precisa estar pronta para se expressar de forma clara e persuasiva acerca de sua identidade, missão e motivo de existência. A expressão desses fatos deve se caracterizar por uma clara linha de raciocínio bíblico-teológica. Isso será de valor fundamental para a comunidade de fiéis, bem como para outros públicos, além de ser útil na eliminação de preconceitos e estereótipos” (pp. 18-19)
- Dr. Alberto R. Timm, em “O Santuário e as Três Mensagens Angélicas: Fatores Integrativos no Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas”: “A estrutura fundamental do sistema doutrinário adventista sabatista foi estabelecida durante o período entre 1844 e 1850. Durante esse período, as principais doutrinas distintivas adventistas sabatistas foram gradualmente integradas nesse sistema, por meio do santuário e das três mensagens angélicas. [...] A crença adventista sabatista na perpetuidade da Lei de Deus (Êx 20:3-17; Dt 5:7-21), com menção especial ao mandamento que requer a observância do sábado do sétimo dia (Êx 20:8-11; Dt 5:12-15), surgiu da interação da ênfase histórica batista do sétimo dia sobre a “perpetuidade do sábado” com a ênfase escatológica milerita sobre o “iminente advento”. (TIMM: 1999, p. 90)
- O Pastor Enoch De Oliveira, que foi considerado “O Príncipe dos Pregadores Adventistas”, em seu livro clássico “A Mão de Deus ao Leme”, rechaça – ao seu tempo – todas as inconsistentes e levianas acusações contra o conjunto de doutrinas incorporadas à Fé Adventista e a pecha injusta de “seita” que muitos detratores da IASD querem colocar na Igreja que, além de assumir e incorporar no seu sistema de crenças TODAS as DOUTRINAS BÍBLICAS (eu escrevi e afirmo TODAS...) que são compartilhadas pelas outras denominações evangélicas, vai muito além – encarnando a santa comenda de remanescente fiel a Deus na guarda da Sua Santa Lei (ver: Apocalipse 12:17 e Apocalipse 14:12).
Ao historiar a epopeia do Povo do Advento, a quem serviu durante décadas, Enoch De Oliveira afirma: “Quando o Dr. J. E. Brow, presidente da “Brown University” e do “International Christian Fellowship”, publicou a primeira edição de sua obra acerca das “seitas”, foi interrogado por que não incluíra os adventistas. Em outra edição desta mesma obra, deu a seguinte resposta:
“Em TODAS AS DOUTRINAS CARDEAIS DA BÍBLIA – a concepção milagrosa, o nascimento virginal, a crucifixão, a ressureição, a ascensão, a divindade de Cristo, a expiação, a segunda vinda, a personalidade do Espírito Santo e a infalibilidade da Bíblia – os Adventistas do Sétimo Dia permanecem firmes como o aço” (OLIVEIRA: 1985, p. 36).
Antes de prosseguirmos, é mister que façamos justiça a esses escritores, teólogos, pesquisadores, evangelistas, pastores e líderes de outras denominações que, mesmo divergindo em alguns pontos de crenças com os Adventistas do Sétimo Dia, são honestos e criteriosos no reconhecer a seriedade com que estes tratam a Palavra de Deus e “a fé de Jesus”. Nesse naipe, além do Dr. J. E. Brow e o renomado teólogo anglicano Geoffrey J. Paxton, sobre o qual falaremos daqui a pouco, temos o maior especialista em “seitas” de todos os tempos: o Dr. Walter Martin. Pois bem, nos três volumes da sua monumental obra “O Império das Seitas” ele principia falando das Testemunhas de Jeová e da Fé Bahái; fala no segundo volume sobre: Zen-Budismo, Islamismo, Fraternidade Rosacruz, Religiões Orientais e Mormonismo e, conclui, no terceiro e último volume, com estudos profundos sobre Igreja Universal de Deus (Anglo-Israelismo), Unitarismo, Igreja da Unificação, Associação Unidade de Cristianismo e Cientologia (aquela seita queridinha do Tom Cruise, John Travolta e outras estrelas de Hollywood).
Onde está a Igreja Adventista do Sétimo Dia, neste conjunto das melhores obras já produzidas em nível mundial sobre seitas? Resposta: Em nenhum lugar!!! Em sua obra, o teólogo anglicano Geoffrey J. Paxton relata um encontro histórico ocorrido na sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia:
Nesse tempo de renovada agitação sobre a questão global de 1888, dois eruditos evangélicos dirigiram-se aos líderes adventistas, a fim de se esclarecerem sobre a verdadeira posição dos adventistas (Tratava-se de uma seita ou de uma igreja evangélica?). Donald Grey Barnhouse e Walter Martin [ou seja: o autor da monumental obra “O Império das Seitas”...] foram calorosamente recebidos na sede da Conferência Geral. [...] Após as trocas de ideia, Barnhouse e Martin estavam surpresos e um tanto impressionados com as respostas obtidas sobre esses aspectos da teologia. [...] Assim, Barnhouse e Martin concluíram, satisfeitos, que o movimento adventista do sétimo dia deveria ser reconhecido como uma denominação evangélica, apesar dos seus aspectos heterodoxos (por exemplo, a não imortalidade da alma). (PAXTON: 1987, pp. 98-99)
Destaque aqui para: “Assim, Barnhouse e Martin concluíram, satisfeitos, que o movimento adventista do sétimo dia deveria ser reconhecido como uma denominação evangélica, apesar dos seus aspectos heterodoxos (por exemplo, a não imortalidade da alma).”
Vejam: creiam, ou não, concordem, ou não, os detratores, nós entendemos que a IASD é e faz parte de um movimento profético suscitado por Deus – em seu exato e devido tempo – para a restauração da Verdade!!! Seguimos a corrente histórico-profética, que nos mostra exatamente que, logo após os quatro impérios mundiais: Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma (ver: Daniel 2:31 a 43; Daniel 7:1 a 8; Daniel 7:17 a 25), surgia no cenário histórico um poder político-religioso que dominaria sobre o mundo, subjugando reis e governantes, perseguindo e massacrando os opositores, e tentando impor sobre as consciências um sistema de crenças totalmente divorciado da Verdade:
“O quarto animal será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços. E, quanto às dez pontas, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros e abaterá a três reis. E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues nas suas mãos por um tempo, e tempos, e metade de um tempo” (Daniel 7:23-25).
Destaque para: “Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e CUIDARÁ EM MUDAR OS TEMPOS E A LEI...”
“O bode tornou-se muito grande, mas no auge da sua força o seu grande chifre foi quebrado, e em seu lugar cresceram quatro chifres enormes, na direção dos quatro ventos da terra. De um deles saiu um outro chifre, que começou pequeno, mas cresceu em poder na direção do sul, do leste e da Terra Magnífica. Cresceu até alcançar o exército dos céus, e atirou na terra alguns componentes do exército das estrelas e os pisoteou. Tanto cresceu que chegou a desafiar o príncipe do exército; suprimiu o sacrifício diário oferecido ao príncipe, e o local do santuário foi destruído. Por causa da rebelião, o exército dos santos e o sacrifício diário foram dados ao chifre. Ele tinha êxito em tudo o que fazia, e a verdade foi lançada por terra. Então ouvi dois anjos conversando, e um deles perguntou ao outro: "Quanto tempo durarão os acontecimentos anunciados por essa visão? Até quando será suprimido o sacrifício diário e a rebelião devastadora prevalecerá? Até quando o santuário e o exército ficarão entregues ao poder do chifre e serão pisoteados?" Ele me disse: "Isso tudo levará duas mil e trezentas tardes e manhãs; então o santuário será reconsagrado". (Daniel 8:8-14, NVI).
Destaque para: “O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das transgressões; E DEITOU POR TERRA A VERDADE; E O QUE FEZ PROSPEROU”.
Vejam: a IASD surge exatamente como resposta a esta intrigante pergunta: “Depois, ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: ATÉ QUANDO DURARÁ A VISÃO DO SACRIFÍCIO DIÁRIO E DA TRANSGRESSÃO ASSOLADORA, VISÃO NA QUAL É ENTREGUE O SANTUÁRIO E O EXÉRCITO, A FIM DE SEREM PISADOS?” [Noutras palavras: “ATÉ QUANDO A VERDADE ESTARÁ JOGADA POR TERRA? QUANDO A VERDADE SERÁ PLENAMENTE RESTAURADA?”]
Em que pesem as grandes contribuições de Ellen G. White para o Movimento Adventista, seu início, no entanto, derivou do despertamento profético-religioso que se deu no começo do século dezenove e que culminou com o famoso desapontamento de 22 de outubro de 1844, ocasião em que devia ocorrer a segunda vinda de Jesus Cristo, conforme o Milerismo anunciava.
As profecias bíblicas, notadamente as dos livros de Daniel e Apocalipse, por seus misteriosos e atraentes símbolos e a sua conotação com o desenrolar de muitos eventos históricos, desde o Império Babilônico, tiveram, a partir do século dezoito, um sem número de estudiosos, investigadores e expositores. Em diversas partes do mundo muitos pregadores surgiram, espontaneamente e sem ligação um com o outro, para anunciar a segunda vinda de Cristo como prestes a acorrer.
O prelúdio disto foi o movimento reformador protestante, que propiciou o contato popular da Bíblia e suscitou fosse investigada com ardente desejo de aprender. Eventos da Natureza, preditos nas Escrituras Sagradas, contribuíram para acentuar o interesse pela Palavra de Deus. O tema central das pregações era a segunda vinda de Cristo. Nisto se empenharam inúmeros pregadores: José Wolff, entre 1821 e 1845, viajou pela África, Ásia, Estados Unidos e Oriente Próximo, anunciando a Segunda Vinda de Cristo.
Na Inglaterra, por influência de Henrique Drummond, banqueiro e membro do Parlamento, realizaram-se assembléias proféticas anuais, a primeira delas, em 1826, conhecidas como Assembléias Albury, por terem sido realizadas no espaçoso lar de Drummond, no parque Albury. O objetivo dessas assembléias era estudar as profecias relativas à segunda vinda de Cristo. O pregador principal foi Eduardo Irving, mas também participava José Wolff e mais de vinte pastores de várias denominações.
Manoel Lacunza, chileno de nascimento, sacerdote católico da ordem jesuíta, ordenado em 1766, também foi atraído para o estudo das profecias, resultando ele mesmo escrever o livro “La Vinda Del Mesias en Gloria e Majestad”. Nesse trabalho, por razões óbvias, Lacunza usou o pseudônimo de Bem Ezra. Esse livro circulou em forma manuscrita na Espanha e na América do Sul e foi depois traduzido para o latim e o italiano.
William (Guilherme) Miller foi um dos proeminentes pregadores americanos da segunda vinda de Cristo, durante a primeira parte do século dezenove. A leitura que fez da Bíblia, produziu um novo rumo espiritual em sua vida, pois deixou as idéias deistas para filiar-se à Igreja Batista, que lhe deu uma credencial de Pregador. Nessa religião permaneceu até a sua morte.
A análise que ele fez da profecia de Daniel, capítulo oito e verso catorze, que diz: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado”, causou-lhe profunda impressão. Repassou datas e conferiu algarismos, consultou fontes históricas e, por fim, na sua última conclusão, verificou, alarmado, que o retorno de Jesus dar-se-ia a 22 de outubro de 1844.
A exposição que Miller fazia dessa profecia era convincente, e a idéia do próximo retorno de Jesus Cristo agitou o mundo religioso, primeiramente na Nova Inglaterra [extremo nordeste dos EUA]. De 1839 a 1840, homens de influência e capacidade, dentre eles escritores e pastores, aceitaram os ensinos de Miller e a ele se uniram em sua campanha de evangelização. Surgia, assim, o movimento conhecido como Milerismo, que, baseado na profecia acima aludida, dos 2.300 anos, pregava a volta de Cristo para 22 de outubro de 1844.
Além dos Mileritas, outras religiões evangélicas também passaram a anunciar o advento de Cristo. Estima-se em mais de quinhentos os pregadores que se empenharam nessa campanha. Todos estavam unânimes quanto à data de 22 de outubro de 1844 para o retorno de Cristo. As pregações eram feitas em igrejas, salões, teatros e em grandes tendas de lona.
Foi um despertar religioso memorável, sem igual, que reuniu considerável número de adeptos. Uns por convicção, outros por temor ou companheirismo. Os fiéis mileritas estavam possuídos de plena convicção de que Jesus viria na data aprazada, por isso o espírito de renúncia, piedade e abnegação, de oração e súplicas, era nota saliente.
Mas o anoitecer do dia 22de outubro de 1844 trouxe para milhares de pessoas um dos mais chocantes desapontamentos de que se têm notícia. A tensa expectativa durante as horas do dia fatídico; o antegozo de uma felicidade nova e eterna; a agradável doçura da proclamação de um evento, transformaram-se em amarga desilusão.
Foi tríplice a conseqüência do desapontamento, que já na mesma noite de 22 de outubro se esboçava e que se tornou evidente com o decorrer dos dias. Esse tríplice resultado foi: a) O retorno de grande número à sua anterior maneira de viver, sem fé e sem esperança; b) Outros persistiram em marcar novas datas para a volta de Cristo, desanimando por fim e desaparecendo como agrupamento religioso; c) Um terceiro grupo, formado por pessoas devotas e sinceras, embora bem reduzido em número, manteve-se unido no reexame das Sagradas Escrituras, com muita oração e jejuns, com o objetivo de descobrir onde estava o erro que motivara o desapontamento.
O resultado disto, que veio progressivamente, foi a recomposição do quadro doutrinário evangélico, com doutrinas apoiadas exclusivamente pela Bíblia. Crenças até então populares foram rejeitadas, como a do primeiro dia da semana (domingo) como dia de guarda. A aceitação da Lei de Deus dos Dez Mandamentos, como está na Bíblia e a obrigatoriedade de sua observância, dentre outras. Fica esclarecido que a origem da doutrina da guarda do sábado na Igreja Adventista do 7º Dia é bíblica, estabelecida por Deus na Criação do mundo.
Neste ponto, lembramo-nos do grande interesse manifesto pelas pessoas em todos os lugares do mundo em conhecerem a sua genealogia, as suas raízes, suas origens. Se isso é importante no que tange a indivíduos, com certeza é muito mais importante no que se refere a uma denominação ou agremiação religiosa que ostenta a faculdade de unir (religar) as pessoas a Deus, orientá-las no sentido de conduzirem a vida da melhor forma possível neste mundo e, o mais importante, guiá-las pelo “caminho estreito” que leva à salvação e Eternidade. Portanto, é essencial questionarmos:
De onde vieram os adventistas do sétimo dia? A História menciona muitas organizações e movimentos de grande porte que surgiram da noite para o dia. Mas não foi isso o que aconteceu com a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Em vez de ter aparecido repentinamente, ela formou-se a partir de uma série progressiva de acontecimentos históricos e do estudo e discernimento profundo das Escrituras. (SEAMAN: 2002, p. 9)
Qual Fênix renascida das cinzas e escombros do grande desapontamento sofrido pelo Movimento Milerita, a IASD despontou timidamente no cenário mundial e cresceu e agigantou-se surpreendendo até os mais otimistas observadores e estudiosos:
Para começar, o movimento adventista, quando todas as coisas são levadas em conta, saiu-se impressionantemente bem. De um grupo isolados de refugiados do movimento milenarista, pequeno e sem distinção, ampliou-se, para formar um estabelecimento humanitário formidável no mundo. Seja qual for o credo ou candura de alguém, este é fato que não pode ser negado. (PAXTON: 1987, p. 177)
Neste sentido e diapasão, alguns textos bíblicos que são de extrema relevância à IASD no sentido de nortear e balizar a sua missão profética como Igreja são estes: “A voz que ouvi, vinda do céu, estava de novo falando comigo e dizendo: Vai e toma o livro que se acha aberto na mão do anjo em pé sobre o mar e sobre a terra. Fui, pois, ao anjo, dizendo-lhe que me desse o livrinho. Ele, então, me falou: Toma-o e devora-o; certamente, ele será amargo ao teu estômago, mas, na tua boca, doce como mel. Tomei o livrinho da mão do anjo e o devorei, e, na minha boca, era doce como mel; quando, porém, o comi, o meu estômago ficou amargo. Então, me disseram: É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis.” (Apocalipse 10:8-11).
Todo verdadeiro adventista, mesmo as crianças e indivíduos de mediano a pouquíssimo conhecimento bíblico/teológico, sabe que este texto descreve simbolicamente a experiência dramática vivida pelos milhares de cristãos despertados pela mensagem poderosa e alvissareira do Movimento Millerita: “Jesus está voltando, agora!” Pregação esta, que conduziu milhares de fiéis do dulçor do “mel” (a doce expectativa da iminente Volta de Jesus) para o frustrante “amargo” – o chamado “Grande Desapontamento”. Como foi dito há pouco, o terceiro grupo, formado por pessoas devotas e sinceras, embora bem reduzido em número, manteve-se unido no reexame das Sagradas Escrituras, com muita oração e jejuns, com o objetivo de descobrir onde estava o erro que motivara o desapontamento.
Por meio da inspiração/revelação de vários textos bíblicos, Deus lhes proveu o esclarecimento, e a orientação para a sua “recalibragem profética”; entre esses textos, estava este: “O Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará. Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé” (Habacuque 2:2-4).
Nessa perspectiva, o senso de missão é reavivado; há uma importante e solene obra a ser feita: “É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis”.
Sim, como lembra o teólogo anglicano Geoffrey J. Paxton – que se apresenta como “um crítico simpático” dos adventistas, e, também, atestam centenas de outros teólogos e estudiosos/pesquisadores honestos do Adventismo: “uma análise dos adventistas e sua reivindicação de serem os herdeiros especiais da Reforma do século XVI” (PAXTON: 1987, p. 9).
Como requer a um pesquisador sério, honesto e criterioso, Paxton procede a um “exame do próprio âmago do movimento” (adventista). Portanto, logo na parte introdutória do seu livro ele expõe as suas primeiras conclusões – fruto de exaustivas pesquisas e análises que, diferente da maioria dos críticos contumazes, vão muito além da superfície:
Os adventistas do sétimo dia têm sido muito mal-compreendidos. As razões para tanto são, sem dúvida, complexas. Mas, sejam quais forem as razões, permanece o fato de que a maioria dos críticos do adventismo deixa de alcançar o cerne da questão. Os adventistas frequentemente têm tido dificuldade em reconhecer-se nessas análises.
A impressão de que o adventismo do sétimo dia é pouco melhor do que uma seita não-cristã não resiste a um exame sério. Os adventistas creem na Santíssima Trindade, na divindade de Cristo, na nascimento virginal, na sua ressurreição corpórea e ascensão à destra do Pai. Este não é um credo de uma seita não-cristã. Além disso, os adventistas do sétimo dia creem na salvação pela graça, mediante a fé somente, tão ardorosamente quanto o crê a maioria dos evangélicos. Creem na santificação pela posse do Espírito Santo e no breve retorno de Jesus Cristo, em grande poder e glória. Não, seja o que for que pensemos sobre essa ou aquela doutrina “particular” adventista, temos de reconhecer o movimento como sendo cristão.
“Alega-se, às vezes, que os adventistas do sétimo dia pregam a salvação pela guarda do sábado. Mas, em meus contatos com eles, jamais ouvi tal coisa. Os adventistas não creem que são aceitos por Deus porque observam o sábado mais do que por praticarem a monogamia!” (PAXTON: 1987, pp. 13-14).
Algumas páginas adiante, o renomado teólogo anglicano novamente investe pesadamente contra a ignorância obtusa da maioria dos detratores dos os adventistas e contra a superficialidade manifesta mormente pelos acérrimos críticos do adventismo:
A essa altura, um evangélico qualquer deve deter-se e confessar sua vergonha. Em tantas de nossas “investigações” do adventismo, essa tremenda convicção tem obtido pouca ou nenhuma elucidação. Temos tantas vezes dado a impressão de que os adventistas estão preocupados com quaisquer coisas, menos com o evangelho, a ponto de se especializar em minudências teológicas. Temos que pedir desculpas aos adventistas por essa terrível desconsideração. Que se torne claro, de uma vez por todas: qualquer análise crítica do adventismo que pretenda penetrar o âmago do movimento tem de encarar sua concepção do evangelho e seu apoio bíblico e teológico para tal concepção. Falhar nesse ponto é errar completamente o alvo do adventismo. (PAXTON: 1987, p. 22)
Neste ponto, retomamos o “fio de prumo” que baliza as pretensões eclesiológicas, missiológicas e escatológicas do Adventismo – que, por sua vez, configuram a essência e a própria razão da existência da IASD. Como Paxton bem captou, nisso reside a Reivindicação Adventista:
Qual é, então, a verdadeira reivindicação adventista? Como o adventismo encara sua missão neste planeta? Qual, no seu entender, é sua razão de existir? O adventista considera-se como estando na sequência direta da Reforma Protestante. Ele sente-se um Protestante no mais amplo sentido da palavra. Enquanto outros cristãos não pretendem estar na linha direta dos reformadores do século XVI, ao adventista não restam quaisquer dúvidas quanto a isso. Ele é um filho de Lutero e Calvino. (PAXTON: 1987, p. 14)
Como fruto de sua exaustiva pesquisa, reitero: marca indelével de todo pesquisador probo e criterioso, Paxton expõe as ideias fundantes e norteadoras dos pioneiros do Adventismo que corroboram com essa reivindicação:
Nesses últimos dias, como obreiros remanescentes de Deus, somos convocados não só para reconstruir o edifício da Reforma, mas para restaurar também a estrutura da igreja primitiva e trazer tudo em harmonia com o divino Modelo. Temos mesmo que restaurar aspectos originais, omitidos pelos reformadores. E, igualmente, temos de reconstruir as partes distorcidas e rejeitadas pelos pervertedores das posições da Reforma dos últimos dias. Não só nos confrontamos com essa dupla tarefa, mas somos comissionados a concluir essa estrutura inconclusa, levando-a a bom termo, sob o teto dos aspectos da verdade presente destes últimos dias, trazendo, assim, a estrutura total à conclusão. (FROOM apud PAXTON: pp. 18-19)
O autor destas palavras acima, LeRoy Edwin Froom, um dos mais conceituados eruditos adventistas de todos os tempos, foi professor de Teologia Histórica na Universidade Andrews, em Berrien Springs, Michigan (EUA). Como pontua Paxton, “Ele escreveu alguns volumes notáveis, respeitados não apenas no movimento adventista, mas mesmo fora dele”. Como acrescenta o escritor e teólogo anglicano: Na obra Our Firm Foundation, ele apresenta uma matéria que constitui a condensação de sua alentada coleção em quatro volumes, Prophetic Faith of Our Fathers. Nessa matéria, Dr. Froom procurou provar que a interpretação profética adventista não é uma inovação, mas uma restauração da verdadeira posição histórica dos próprios reformadores”.
Froom, classificava a comissão confiada ao movimento adventista como: [...] fundamentalmente uma restauração, não a formação de uma nova estrutura. Está inseparavelmente ligada aos esforços de todos os edificadores da verdade profética do passado... Nós verdadeiramente edificaremos outra vez os fundamentos e a superestrutura de “muitas gerações”, formando o majestoso edifício da verdade, originalmente designado por Deus. Esta é a comissão que nos foi confiada, sob o movimento do Advento. (FROOM apud PAXTON: p. 19)
Destaque aqui para três colocações do eminente teólogo adventista:
3. “[...] fundamentalmente uma restauração, não a formação de uma nova estrutura. Está inseparavelmente ligada aos esforços de todos os edificadores da verdade profética do passado...”
Numa rápida análise destas três sentenças enunciadas por Froom:
1. Embora não restem dúvidas à maioria dos fiéis cristãos de hoje que a Reforma do Século XVI tenha sido um movimento 100% suscitado e guiado por Deus no sentido da restauração da Verdade, trazendo o povo de volta à Bíblia e à leitura individual da Palavra de Deus e resgate das grandes verdades bíblicas que estavam sob camadas de “entulho” (desvios doutrinários, erros e heresias abomináveis perpetrados pelo clero romano ao longo de séculos), os reformadores, como todos os paladinos da Fé através da História, não lograram alcançar um conhecimento pleno de TODA A VERDADE – mas, “apenas”, da “VERDADE PRESENTE” (Justificação Pela Fé), ou seja: aquela modalidade (tipo) e dose (medida) de conhecimentos bíblicos necessários para a promoção deste que foi um dos maiores despertamentos espirituais de toda a História. Por outro lado, o conhecimento da Verdade é progressivo:
No prefácio do livro “Em busca de identidade: o desenvolvimento das doutrinas Adventistas do Sétimo Dia”, o Pastor Neal C. Wilson, ex-presidente da Associação Geral do Sétimo Dia (1979-1990) corrobora com essa visão e prática saudável dos membros, líderes e teólogos da IASD:
A esta altura, trago novamente à baila aquela citação de Paxton sobre as pretensões e identidade do adventismo: Qual é, então, a verdadeira reivindicação adventista? Como o adventismo encara sua missão neste planeta? Qual, no seu entender, é sua razão de existir?
O adventista considera-se como estando na sequência direta da Reforma Protestante. Ele sente-se um Protestante no mais amplo sentido da palavra. Enquanto outros cristãos não pretendem estar na linha direta dos reformadores do século XVI, ao adventista não restam quaisquer dúvidas quanto a isso. Ele é um filho de Lutero e Calvino. (PAXTON: 1987, p. 14)
Não! Para o principal historiador adventista, Paxton – nesse particular – foi induzido ao erro; segundo ele, são outras as verdadeiras raízes teológicas do adventismo:
O protestantismo norte-americano do século 19 era filho da Reforma do século 16. Muitos adventistas sabem disso, mas erroneamente concluem que sua igreja é herdeira das ramificações reformistas iniciadas por Martinho Lutero, João Calvino ou Ulrico Zuínglio. Embora seja verdade que o conceito adventista de salvação pela graça mediante a fé tenha vindo dos principais reformadores, a orientação teológica do adventismo tem mais a ver com aquilo que os historiadores eclesiásticos chamam de a Reforma Radical ou os anabatistas.
Enquanto o tronco principal da Reforma conservou crenças como o batismo infantil e o patrocínio estatal da igreja, os anabatistas rejeitaram ambas as doutrinas como antibíblicas. Em vez disso, eles preconizavam uma igreja de crentes em que o batismo fosse precedido pela fé e que defendesse a separação entre Igreja e Estado. Embora os principais reformadores tenham desenvolvido o conceito de sola scriptura (a Bíblia somente), os anabatistas achavam que as principais igrejas reformadas não eram coerentes com essa crença. O anabatismo pretendia um retorno completo aos ensinos da Bíblia. Para os anabatistas, era um erro parar onde Lutero, Calvino e Zuínglio tinham parado teologicamente. Em seu melhor, o anabatismo era um afastamento da tradição igrejeira e da formulação de credos, e uma aproximação dos ideais da igreja do Novo Testamento. (KNIGHT: 2005, p.29)
2. É fato inconteste que hoje, passados 500 anos da Reforma, aquelas igrejas tradicionais da “corrente protestante”, e até mesmo os Luteranos, não permaneceram fiéis às descobertas bíblicas dos reformadores e aos ensinos doutrinários de Martinho Lutero, João Calvino e demais líderes desse grande movimento reformatório! Para sermos mais realistas e precisos, os “herdeiros da Reforma” e/ou antigos “Protestantes”, hoje, não protestam contra nada que cause ou promova desvios doutrinários homéricos ou desvirtuamentos dos ensinos bíblicos e interpretações doutrinárias patrocinados pelos seus pioneiros!
Na acepção da palavra, essas denominações sofreram um “encolhimento” teológico (doutrinário) e sociológico (grupo social, número de membros); se olharmos para a Europa, berço da Reforma e destas religiões, veremos que muitas delas praticamente desapareceram por lá – onde existiam templos históricos seculares, hoje vemos prédios modernos, lojas de departamentos, variados comércios e até boates e cabarés.
É exatamente aí, neste perfeito equilíbrio entre as conquistas do passado e as pesquisas incessantes do presente, que encontramos a dinâmica do Adventismo e a sua pujança atual e notável crescimento – nestes dois últimos dois séculos que viram tantas denominações religiosas surgirem como MOVIMENTOS e, poucos anos mais tarde, tornarem-se MONUMENTOS. Como pontua o principal historiador da IASD:
Muitos adventistas provavelmente não pensam que as crenças de sua igreja tenham mudado através dos tempos. A maioria provavelmente crê que os fundadores do movimento do advento possuíam a mesma postura doutrinária do adventismo no início do século 21. Embora esse ponto de vista tenha muito de verdade, também encerra um grave equívoco. [...] os pioneiros adventistas criam que a “verdade presente” era dinâmica (e não estática) e que podia ser alterada à medida que o Espírito Santo conduzia a igreja em seu estudo da Bíblia. O adventismo moderno adota o mesmo ponto de vista. Por outro lado, certas crenças fundamentais adotadas pelos adventistas são tão básicas que definem o próprio adventismo e não poderiam ser alteradas sem criar uma corporação religiosa inteiramente diferente. Nesse sentido, a história da teologia adventista é uma história de contínua transformação no contexto da estabilidade. (KNIGHT: 2005, pp. 11-12)
Nesse ponto, destaco dessa citação o seguinte: “Por outro lado, certas crenças fundamentais adotadas pelos adventistas são tão básicas que definem o próprio adventismo e não poderiam ser alteradas sem criar uma corporação religiosa inteiramente diferente.” Voltaremos a falar sobre isso, daqui a pouco...
3. Na introdução do livro “Nisto Cremos: 27 Ensinos Bíblicos dos Adventistas do Sétimo Dia”, encontramos a seguinte e oportuna declaração: “Escrevemos este livro com a consciência de nossa dívida para com as ricas verdades bíblicas que recebemos da igreja cristã ao longo da História. Prestamos nosso reconhecimento à nobre linhagem de testemunhas – tais como Wycliffe, Huss, Lutero, Tyndale, Calvino, Knox e Wesley – cuja compreensão sucessiva de nova luz conduziu a Igreja em direção ao entendimento mais amplo do caráter de Deus. E reconhecemos que esse entendimento é sempre progressivo. ‘Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Prov. 4:18). Contudo, sempre que descobrirmos novas facetas da revelação de Deus, estas deverão harmonizar-se perfeitamente com o testemunho unificado das Escrituras”. (pp. 11-12)
Caso você queira conhecer mais sobre este assunto:
A Formação do Corpo de Crenças Professadas Pelos Adventistas
Essas crenças seminais, devido ao seu caráter fundante e peculiaridades com o Adventismo do Sétimo Dia, traduzem a razão de ser desta Igreja e, portanto, caminham de parelha com as pretensões do Adventismo do Sétimo Dia; consequentemente, ou permanecem juntas, ou caem juntas! Repito: ou elas permanecem juntas, ou caem juntas!
Entre estas crenças, estão a Volta de Jesus e a observância do sábado do quarto Mandamento da Lei de Deus (Êxodo 20:8-11), ambas – como “joias da coroa” – incrustadas com o máximo destaque possível no próprio nome desta denominação religiosa: Igreja Adventista do Sétimo Dia. A esse respeito, o escritor John Seaman em seu opúsculo “Quem são os Adventistas do Sétimo Dia?” informa-nos o seguinte:
À medida que crescia o grupo dos crentes no sábado e na breve vinda de Cristo, ficou claro que só conseguiriam cumprir sua missão de maneira eficaz caso se organizassem. O primeiro passo rumo à organização seria escolher um nome para esse crescente movimento. Depois da discussão em torno de vários nomes, escolheu-se o nome “adventistas do sétimo dia”, que é, na verdade, uma descrição exata da denominação – os que observavam o sábado do sétimo dia e aguardavam ansiosamente a breve vinda de Jesus. Em 1863 o processo organizacional estava concluído. (SEAMAN: 2002, p. 15)
Abrindo aqui um importante e necessário parêntesis, os amados leitores estão lembrados de algumas páginas atrás citamos e enfatizamos alguns princípios estabelecidos desde os primórdios pelos adventistas do sétimo dia que, no dizer de um de seus principais teólogos, seriam “norteadores” na construção do corpo de crenças da IASD? Pois bem, entre estes princípios encontra-se este: “[...] fundamentalmente uma restauração, não a formação de uma nova estrutura. Está inseparavelmente ligada aos esforços de todos os edificadores da verdade profética do passado...”
Consonante com essa visão integrativa, vemos a maneira como os primeiros adventistas assimilaram a observância do sábado e, em seguida, o incorporaram em seu corpo doutrinário e, como vimos a pouco, em seu nome – no pulsar da missão e na própria razão de existência da Igreja Adventista do Sétimo Dia:
Ao descobrir que Miller estava correto em suas datas, mas errado quanto ao acontecimento, esse pequeno grupo de mileritas [ou seja, os “remanescentes” do “Grande Desapontamento”] deparou-se com outras verdades durante o processo de estudo da Bíblia. Uma dessas verdades foi a redescoberta do sábado bíblico: o sétimo dia da semana. O sábado vinha sendo guardado por diversos grupos e indivíduos desde a criação do mundo, mas fora agora revelado no contexto da breve vinda de Cristo.
Embora Miller não tenha descoberto toda a verdade que precisava ser descoberta, fez-nos dar um passo gigantesco na compreensão da Bíblia. Os ensinos de Miller ajudaram a mudar para sempre a paisagem religiosa do mundo. Existem milhões de pessoas hoje em dia, pertencentes a diversas confissões religiosas, cuja crença é de que não há lógica em esperar por um milênio de paz antes da volta da volta de Jesus. Há também muitas igrejas ensinando que o mundo está ficando demasiado ímpio e que o fim logo virá. Que há de extraordinário nisso? Na verdade, muita coisa, se você admitir que antes de Guilherme Miller começar a pregar, alguém poderia ser excluído da igreja da qual fazia parte apenas por ensinar que Jesus está voltando a este mundo. Os que creem na breve volta de Jesus recebem o nome de adventistas. Portanto, em alguns aspectos, há atualmente muitos adventistas nas igrejas ao redor do mundo. Eles são gratos a Guilherme Miller por ele haver descoberto essa doutrina nas Escrituras. (SEAMAN: 2002, pp. 14-15)
Bem, pegando o estudioso escritor e arguto pesquisador John Seaman em suas palavras (Quando afirma: “Portanto, em alguns aspectos, há atualmente muitos adventistas nas igrejas ao redor do mundo. Eles são gratos a Guilherme Miller por ele haver descoberto essa doutrina nas Escrituras.”), eu diria: Olha, quanto ao fato de que eles “são gratos a Guilherme Miller por ele haver descoberto essa doutrina nas Escrituras”, tenho minhas respeitosas dúvidas – até por que a maioria desses não conhece Guilherme Miller ou sequer sabe da sua existência! Agora, que como resultado de seus estudos (de Miller) e do grande despertamento religioso suscitado por Deus (Apocalipse 10:1-10), do qual ele foi elemento catalisador, hoje há dezenas – quiçá, centenas – de milhões de ADVENTISTAS espalhados pelo mundo (ou seja: bem mais do que os “poucos” mais de 20 milhões de membros contabilizados pela IASD em nível mundial...), quanto a isso não resta a menor dúvida!!! Um prova inquestionável disso encontra-se, hoje, nas bibliotecas dos pastores da IASD: os melhores livros que temos sobre a Volta de Jesus não foram escritos por autores da IASD, mas, sim, por escritores e teólogos batistas, presbiterianos, metodistas, reformados, etc.
É, também, importante aqui frisar que, da mesma forma que a doutrina sobre a Volta de Jesus é 100% bíblica e talvez de todas a mais enfatizada (cerca de 2.500 menções a ela são feitas, do Gênesis ao Apocalipse) e, além disso, não fazia parte do corpo de crenças da maioria esmagadora das igrejas evangélicas da época, o mesmo se deu com a “doutrina da mortalidade da alma” (não se trata de “invenção dos adventistas do sétimo dia”, como supõe a vã filosofia de muitos...) e a doutrina do sábado. No tocante ao sábado, acrescenta o historiador e teólogo adventista George Knight:
O interesse no sábado do sétimo dia entre os adventistas havia se originado antes do desapontamento de outubro. J. A. Begg, um estudante de profecia na Escócia, foi o primeiro a chamar a atenção para isso. Mas o verdadeiro impulso para o sábado veio dos batistas do sétimo dia. A primeira tentativa de que se tem notícia empreendida por esse grupo para influenciar os mileritas ocorreu em princípios de 1842, mas a revista Signs of the Times recusou-se a publicar o material [...] Contudo, os batistas do sétimo dia sentiram a necessidade de espalhar a mensagem do sábado. Em 1843, a assembleia de sua associação geral decidiu tornar a abordagem mais dinâmica (ao contrário de sua postura tradicional sobre o tema) para promover a compreensão do sábado. A reunião, portanto, decidiu que era seu “solene dever” iluminar seus concidadãos sobre o assunto. Seus esforços tiveram alguns resultados positivos. [...] Embora seja impossível determinar agora sua extensão, sabemos com certeza que uma zelosa batista do sétimo dia chamada Raquel Oaks ficou interessada no segundo advento. Por volta de 1844, ela não somente havia aceitado a proximidade do advento, mas também compartilhara sua concepção do sábado com a congregação milerita de Washington, New Hampshire. Na primavera de 1844, vários membros dessa igreja começaram a guardar o sábado do sétimo dia. (KNIGHT: 2005, p. 67)
Outro personagem que teve importância fundamental no desenvolvimento do corpo doutrinário dos adventistas do sétimo dia foi o Capitão José Bates. Segundo George Knight:
É impossível exagerar a importância das contribuições de Bates para o desenvolvimento da teologia adventista sabatista. Na qualidade de primeiro teólogo do adventismo, ele apresenta um sistema conceitual que unifica as doutrinas da segunda vinda, do sábado e do santuário dentro de uma grande luta entre o bem e o mal conforme descrita em Apocalipse 11:19-14:20. Fundamentando-se nessas interpretações, os sabatistas iriam finalmente se ver não apenas como a verdadeira continuação do adventismo milerita, mas também como um povo profético detentor de uma mensagem escatológica de tremenda urgência. Eles passariam a considerar-se como tendo o dever de pregar a mensagem do terceiro anjo. (KNIGHT: 2005, p. 72)
Escrevendo sobre as marcas do remanescente do tempo do fim no apocalipse, o teólogo adventista Gerhard Pafandl, diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica Silver Spring (EUA), acrescenta um elemento muito interessante que agrega valor à ênfase adventista de portadores especiais das três mensagens angélicas – com especial destaque ao chamado ao arrependimento e a um relacionamento correto com o Deus Criador, demonstrado pela obediência aos Seus mandamentos – e à singularidade do sábado como marca distintiva do povo de Deus nos dias finais da História deste mundo:
Nas Escrituras, temer ao Senhor não se relaciona somente à adoração a Ele, mas também à obediência a Seus mandamentos. Em outras palavras, aqueles que temem a Deus são os que guardam os Seus mandamentos (por exemplo, Dt 10:12, 13, 20; 11:1, 13, 22; 30:6, 16). Na verdade, no Antigo Testamento, “o temor como reverência adoradora e como obediência são inseparáveis”. Portanto, temer a Deus é honrá-lO, fazer uma mudança radical na vida, começar um relacionamento com Ele e se comprometer por completo. Dessa maneira, o Senhor é glorificado por meio de uma vida marcada pela obediência aos Seus mandamentos.
O decálogo, “como um resumo da Torá, definia a qualidade de uma vida santificada diante de Deus. O mandamento do sábado, por sua vez, consiste no sinal da percepção adequada da santificação”. Assim, a primeira marca indicativa do remanescente do tempo do fim é sua lealdade aos mandamentos de Deus. No tempo dos apóstolos (na igreja primitiva), guardar o sábado não era uma característica especial, pois todos o faziam. Hoje, porém, quando a maior parte dos cristãos guarda o domingo, observar o mandamento do sábado tornou-se, de fato, uma marca distintiva. Simon Kistemaker, com discernimento, afirma:
As ordens divinas se encontram resumidas no decálogo e completamente reveladas nas Escrituras, no Antigo e no Novo Testamento. À medida que o mundo se afasta dessas ordenanças e as considera obsoletas, os cristãos são chamados a guardá-las. Eles sabem que há uma grande recompensa para quem observa a lei de Deus (Sl 19:11). Ela perdura por todas as eras, não precisa de acréscimos, é relevante a todas as culturas e nunca será revogada. (RODRIGUEZ: 2012, p. 141)
Discorrendo sobre a importância do conjunto de crenças da IASD como fator integrativo e unificador entre os membros em nível mundial, o escritor John Seaman enfatiza as raízes edênicas do sábado (ler: Gênesis 2:1-3), a sua atual e eterna validade e, também, como elemento principal, entre as DOUTRINAS BÍBLICAS, como constituinte da SINGULARIDADE da Igreja Adventista do Sétimo Dia:
O sábado foi dado à humanidade no Jardim do Éden, na criação, sendo aplicável ainda hoje. Não existe a menor evidência bíblica de que Deus tenha mudado Sua lei. Sendo assim, os adventistas do sétimo dia vão à igreja no sétimo dia da semana e seguem as diretrizes escriturísticas relativas à observância do santo sábado. A crença no sábado do sétimo dia talvez seja uma das doutrinas mais distintivas da igreja. Essa crença tem ajudado a unificar pessoas de todas as nacionalidades e etnias na adoração ao Senhor no dia de sábado. Conversos ao adventismo do sétimo dia de muitas e diferentes formações têm se unido na adoração sabática como visível expressão de seu amor a Deus e aceitação de Sua autoridade sobre o Universo. (SEAMAN: 2002, pp. 21-22)
Concluindo a primeira parte deste artigo, gostaríamos de lembrar e enfatizar o seguinte:
1. Mais do qualquer segmento evangélico atual e, também, mais do que quaisquer grupos religiosos através da História, os membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia se sentem responsáveis, compelidos e motivados a apresentar ao mundo as 3 Mensagens Angélicas (Apocalipse 14:6-12), o derradeiro convite divino para a salvação.
2. A primeira destas mensagens (a Primeira Mensagem Angélica), trata-se de um poderoso apelo de Deus chamando o Seu povo – espalhado, como já dissemos, por todo o mundo, por todas as igrejas evangélicas, por todos os credos e filosofias: e isso inclui os ateus, agnósticos, Nova Era, espiritismo, maçonaria, etc. – à Verdadeira Adoração: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apocalipse 14:7).
SEJA HONESTO, AMIGO LEITOR, AO RESPONDER ESTAS PERGUNTAS:
a) Aonde está isso? Onde encontram-se estas palavras, originalmente? Onde se encontram as Credenciais Divinas como Criador, afirmadas aqui: adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”?
VAMOS AUXILIÁ-LO(A) UM POUQUINHO, NESTA TAREFA; É SÓ CONFERIR NA SUA BÍBLIA, AS RESPOSTAS EXATAS PARA ESTAS TÃO SOLENES PERGUNTAS:
a) “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera” (Gênesis 2:1-3).
b) “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” (Êxodo 20:8-11).
Antes de concluirmos, queremos chamar a atenção do prezado(a) leitor(a) para algo que nunca antes havíamos notado:
As 3 Mensagens Angélicas (Apocalipse 14:6-12):
- COMEÇAM FALANDO DA SANTA LEI DE DEUS: “E vi outro anjo voando pelo meio do céu, e tinha um evangelho eterno para proclamar aos que habitam sobre a terra e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apocalipse 14:6-7).
Ou seja, mesmo que você, prezado(a) leitor(a), não queira admitir a presença do quarto Mandamento (Êxodo 20:8-11), terá que admitir a presença inequívoca dos dois primeiros Mandamentos – no chamado à Verdadeira Adoração: “adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”. Vejamos:
- E TERMINAM FALANDO DA SANTA LEI DE DEUS: “Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse14:12).
MEDITEMOS, PORTANTO, NESTAS ORDENANÇAS BÍBLICAS:
“À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8:20).
“De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más” (Eclesiastes 12:13-14).
“Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás, também ordenou: Não matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade” (Tiago 2:10-12).
“Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os Seus mandamentos. Aquele que diz: Eu O conheço e não guarda os Seus mandamentos é MENTIROSO, e nele não está a verdade” (I João 2:3-4).
“Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os MENTIROSOS, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte” (Apocalipse 21:8).
Autor: Pastor Elizeu Lira: Jornalista, é autor de 10 livros (entre eles, “Uma Nova Ordem Mundial: O Governo da Nova Era, publicado pela CPB), pós-graduado em Ciências da Religião, mestre em Comunicação Social (UMESP) e doutorando em Educação pela UFU.