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postado em: 25/8/2013
O Que Aprendi de Jesus Com o Cãozinho Billy
Depois de tentar em vão uma transferência* no meu trabalho para a cidade de São Paulo, para tranqüilizar um pouco a esposa, dando-lhe as condições mínimas necessárias para desenvolver a obra tão importante que realiza de tradução do Comentário Bíblico Adventista e outros livros religiosos denominacionais, acabamos optando pela “transferência” da sogra.
Viúva, o meu querido sogro já havia falecido há quase uns cinco anos, ela morava sozinha numa enorme casa na zona leste paulista e, naquela época, devido a uma doença rara (só havia outros sete casos semelhantes no mundo), sofria constantes desmaios – nos quais, como era previsível, se machucava toda e, inclusive, corria riscos de uma morte súbita.
Meio a contragosto inicialmente (o idoso cria raízes onde mora, e de lá só quer sair para o “túmulo”), dona Laura se adaptou plenamente à vida pacata e tranqüila da pequena cidade de Frutal. Como os vizinhos, em sua maioria, são bastante simpáticos e os irmãos da igreja local são acolhedores (ela não é adventista, mas aceita numa boa a mensagem do Evangelho), minha sogra está se sentindo em casa e, graças a Deus, após a colocação de um marca-passo, tem apresentado um quadro bem melhor de saúde.
Agora, sob a supervisão direta da filha, ela pode tomar os medicamentos corretos na hora certa, ir às consultas médicas e, nas emergências, ser atendida em alguns dos melhores hospitais e clínicas do país (logicamente, estou falando dos situados no estado de São Paulo – São José do Rio Preto, Barretos, etc. – com quem Frutal praticamente faz divisa).
Quando a sogra veio morar conosco, ela trouxe no “pacote” o Billy. Billy é um cãozinho poodle pretinho – parecido com o que tínhamos quando trabalhamos na Casa Publicadora Brasileira (CPB) em Tatuí, mas com características bastante peculiares: Trata-se de um cão médio (até um pouco comprido para a raça), porém com as pernas bem curtas – o que o torna “diferenciado”. Na verdade, ele é engraçado, esperto e muito inteligente para a raça. Sabe o que quer. Sabe como pedir (quando quer comida, ele vem e late para a gente ou corre para a sua vasilha...).
O Billy só falta falar... Aliás, como estudioso das Comunicações e, agora, também, das “Cãomunicações”, tenho minhas dúvidas a este respeito... Esclareço: Certa ocasião, logo após um dos desmaios (já aqui em Frutal) em que dona Laura se machucou toda e a minha esposa e o irmão Miguel Quaresma (meu “braço direito” e, também, “esquerdo” no trabalho) a levaram às pressas para o hospital, eu fiquei aqui cuidando da casa e, mui especialmente, dele.
O cãozinho ficou amuado e sem querer comer... No segundo dia sem a sua dona, a certo momento, ele bateu as patinhas na porta da casa da minha sogra (uma edícula bem caprichada no fundo do terreno onde moro) e, literalmente, começou a choramingar. Ele choramingava e olhava pra mim, como que indagando em linguagem canina: “Onde ela está? Como será que está, já que saiu daqui mais morta do que viva?” Admito: Nunca tinha visto algo igual ou sequer parecido!
Comprado para servir de companhia para a sogra, ele logo virou “xodó”, uma atração à parte para a família – nas visitas dos irmãos da igreja e, mui especialmente, do meu cunhado. Como tem um quintal enorme para circular, ele passa os dias entre o fundo do terreno (latindo com os bem-te-vis que tomam banho na enorme piscina... E olha que os passarinhos estão certos: Afinal, alguém tinha que fazer uso, já que os humanos aqui não têm tempo para nada...) e à frente; enfiando a carinha no vão do portão, ele late para todos os da “família canina” que passem na rua. E, como um soldado na guarita, permanece em pé (a coisa mais engraçada) debruçando o pescoço sobre o motor do portão eletrônico: Só “urubuservando” os movimentos dos transeuntes humanos e dos animais, mui especialmente dos seus parentes próximos...
Hoje, após terem recebido a notícia do falecimento da única irmã da dona Laura, elas viajaram para a cidade de Franca a fim de acompanhar o funeral. A minha esposa já tinha me alertado quanto aos quatro horários de refeição dele, recomendados pelo “médico” (de manhã cedo, ao meio dia, final da tarde e antes de dormir: por volta das 22h). Normalmente gulosinho, ele comia muito de uma vez e acabava passando mal – daí a prescrição do veterinário.
Portanto, quando ele se aproximou de mim na minha escrivaninha (onde faço os estudos devocionais, leituras, pesquisas para o Mestrado em Comunicação Social, etc.), eu logo pensei: Ele está com fome, e até já passou da hora dele comer... Com esse pensamento em mente, coloquei a comida na vasilha (na quantidade estipulada) e retornei para a escrivaninha – esperando que ele, avidamente, comesse tudo em poucos minutos.
Poucos segundos depois, sem ter ouvido um barulhinho sequer do meu amiguinho peludo mastigando a ração, eu o vejo entrando em casa e – ato contínuo – deitando-se amuado num cantinho ao lado da escrivaninha da minha esposa, localizada estrategicamente em frente à minha (é o que possibilita facilmente a troca constante de opiniões sobre “as palavras ideais” a cada caso, quando ela está traduzindo e/ou eu estou preparando sermões ou artigos).
Após ter constatado que ele não havia comido nada, eu me dirigi até o local em que fica a sua tigela de ração; isso, com o “peludinho” me seguindo, com as quatro patas e olhos atentos, abanando o rabinho de pompom... Chegando lá, eu disse para ele comer e, em seguida, me assentei pertinho dele. Incrível! O cãozinho começou a comer – sempre olhando para mim – e, depois de ver que eu continuava lá, e que de lá não sairia, ele comeu vorazmente toda a ração que estava na tigela. Toda! Como se diz: Não deixou um pedacinho sequer pra “contar a história”...
Neste momento, quando me preparava para fazer o devocional, eu me lembrei daquele trecho do mais famoso dos Salmos: “O Senhor é o meu Pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do Seu nome” (Salmo 23:1-3).
Amigos, este Salmo não apenas fala a nós – a cada ser humano, a cada pecador – ele, também, e acima de tudo, fala de nós: Das nossas lutas, dificuldades, infortúnios, decepções, dramas pessoais, anseios, inquietudes, preocupações, anelos, sonhos, aspirações, necessidades, fracassos, medo, insegurança, etc. Não é à toa que, ao invés de chamá-lo “O Salmo do Bom Pastor”, muitos teólogos o classificam como “O Salmo da Ovelha”.
Como vocês todos sabem, a ovelha é um animal dócil e, ao mesmo tempo, “tolinho” (nem sempre tem a noção real dos perigos) e arisco. Sendo assim, ela só se alimenta corretamente e, conseqüentemente, só se desenvolve quando se sente tranqüila – num ambiente acolhedor, agradável e seguro.
É por isso que Davi, o autor deste belíssimo Salmo, sendo pastor de ovelhas e, ao mesmo tempo, uma “ovelha” do rebanho do Senhor, o Supremo Pastor (I Pedro 5:4), fala de si mesmo de todas as suas necessidades como “ovelha” – e de todos nós, por extensão – com total propriedade. Ele narra a total suficiência que há em Jesus, o seu total interesse e completa disposição para atender a cada uma das nossas necessidades e suprir cada uma das nossas carências: “O Senhor é o meu Pastor; nada me faltará”. Neste caso, a segunda sentença é uma conseqüência natural da segunda; ou seja: Se o Senhor é o meu Pastor, nada me faltará!
Paulo, o gigante do Evangelho, afirmou convicto: “E o meu Deus, segundo a Sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Filipenses 4:19). “Lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós”, lembra-nos o apóstolo Pedro (I Pedro 5:7). E, falando de sua própria experiência como “ovelha”, carente, inquieta e insegura, Davi, o próprio autor do Salmo 23, assegura: “Já fui jovem e agora sou velho, mas nunca vi o justo desamparado nem seus filhos mendigando o pão” (Salmo 37:25).
Enquanto não se sentiu tranqüilo, em segurança com a minha presença (na garantia de que não seria abandonado, por completo), o Billy não comeu. Enquanto não estivermos tranqüilos e em paz, seguros da presença amável do nosso Supremo Pastor, da Sua provisão completa para nós e da Sua proteção àqueles que O amam e O buscam com sinceridade**, não iremos crescer e desenvolver-nos rumo aos elevados propósitos e metas que o Senhor tem traçado para cada um de nós. É por isso que Ele mesmo nos assegura: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28:20).
Afinal, o que é fé? Billy responde...
Quando David Livingstone estava para embarcar num navio para a África, a fim de evangelizar os nativos, seus amigos apelaram tentando convencê-lo a ficar. Falaram sobre o conforto e segurança dos quais ele estava abrindo mão, ao viajar para um lugar desconhecido e inóspito. Descreveram os perigos inúmeros aos quais estaria exposto – cobras gigantescas capazes de engolir um homem inteiro, leões e outros animais ferozes, canibais, doenças desconhecidas e mortais, etc. Tudo fizeram, em vão, para dissuadi-lo da santa empreitada em favor dos africanos.
Após ouvir durante vários minutos aqueles discursos pessimistas e desanimadores, David Livingstone, pegando a sua Bíblia, leu o texto que há muito tempo já havia definido toda a questão para ele: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28:20).
Fechando a Bíblia, afirmou convicto: “Senhores, estas são as palavras de um Perfeito Cavalheiro que sempre cumpriu tudo aquilo que prometeu; portanto, adeus! Estou partindo para a África...”
Neste momento, enquanto escrevo as últimas palavras deste artigo, o Billy está aqui deitado – do lado, a poucos centímetros dos meus pés – totalmente esticado; “esparrachado no chão, “parecendo um tapetinho”, como diz a minha esposa. Ele não está nem aí para a “Hora do Brasil”, para as “ansiedades caninas” ou para o que esteja acontecendo lá fora... Passeatas? Manifestações? Agruras e inquietações caninas? “Tô nem aí...”
Para quem conhece um “tiquim” só (usando o linguajar “minerim”***) sobre os cães, sabe que eles só ficam assim quando se sentem em paz, tranqüilos e, detalhe: Totalmente seguros de que, naquele momento, estão alimentados e 100% protegidos. “Cãocientes” de que tudo está, e continuará, bem e de que nada irá quebrar esta “cãodição” favorável (confira, nas fotos abaixo), os parentes de Billy – como o próprio faz agora – relaxam. Eles ficam que nem gato de hotel...
Olha, nós, pastores, pregadores, teólogos – e muitos outros pretensos conhecedores da Bíblia – só complicamos as coisas! Ao invés de fornecer definições fáceis e práticas sobre questões fáceis e práticas da vida, estamos sempre ampliando as dúvidas e elevando à enésima potência as incompreensões das pessoas.
Certa ocasião, faz muitos anos, li sobre um missionário que estava traduzindo a Bíblia para um dialeto africano. Ao chegar ao vocábulo “fé”, ele “empacou” – entrando em desespero por não conseguir encontrar nenhuma, palavra naquela língua nativa, que expressasse por completo o significado da palavra “fé”.
Isso perdurou até que, certo dia, estando na casa de um dos nativos com quem havia travado grande amizade, ele viu quando o homem veio da mata carregando um pesado animal, no ombro, que havia caçado. Quando o nativo adentrou a porta de casa, antes mesmo de cumprimentar o missionário, retirou o pesado fardo do ombro – jogando-o em cima de uma pequena “mesa”. Em seguida, jogando-se literalmente num pequeno banco, suspirou aliviado e pronunciou uma palavra do seu idioma.
Ao ouvir isso, o missionário pensou: “Bingo!” “Eureka!” Descobri a palavra apropriada para expressar o verdadeiro significado de “fé” nesta língua nativa! Assim, ele pediu que o seu amigo repetisse a palavra e, depois, a soletrasse para ele; e o missionário anotou prontamente a palavra.
Eu não lembro qual era a palavra no idioma nativo (rsr seria exigir muito de um “cérebro 5.5”); e nem precisa! No entanto, tenho a certeza de que o sentido é o mesmo daquele que traduz a condição do Billy neste exato instante: Confiança! Tranqüilidade! Descanso!
Então, amigo, por que não exercer a verdadeira fé no Senhor agora, já, neste exato momento? Faça isso e, automaticamente, você irá experimentar o que diz a letra daquele hino evangélico: “Pode cair o mundo, estou em paz!’
Siga o exemplo e “cãoselho” do Billy! Eu estou seguindo...
Pastor Elizeu C. Lira – ex-redator da CPB, jornalista, teólogo, escritor, mestrando em Comunicação Social; é, também, distrital de Frutal e “cãopanheiro” do Billy em algumas “cãominhadas” semanais.
[Dedico este texto à minha querida irmã, Vanete Lira, e ao meu Grande Amigo Paulo Kanai – que estará se submetendo a uma cirurgia nesta próxima segunda-feira. Vocês dois já enfrentaram muitas situações difíceis, críticas até, e as superaram com destemor e, acima de tudo, fé! Portanto, “Tende bom ânimo! Sou Eu. Não temais!” (Mateus 14:27). É o que nos assegura o Senhor dos impossíveis... E, como acrescenta o meu escritor favorito: “Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8:31).]
* Era uma questão humanitária, a minha sogra estava naquela situação crítica e a Rosangela, como única filha, tinha que socorrê-la. Foi a primeira e única vez em que pedi para ir para qualquer lugar na “obra”. Teve o caso de indivíduos, presidentes de campo e noutras funções administrativas – ex-colegas de classe e, também, alguns que até se diziam meus “amigos” – que sequer quiseram atender uma ligação telefônica minha. No entanto, agradeço a Deus sempre – o tempo inteiro – por eles terem agido assim e, em contrapartida, pela solução que Deus tinha – sempre a melhor – e aplicou para a nossa situação. Como dizem em Patos de Minas: “Estou ‘dos mais feliz’ com o lugar, trabalho, pessoas e os resultados colhidos aqui nesta região. Melhor? impossível!
** Não estou aqui falando, logicamente, de mentirosos e hipócritas; tipo aquele indivíduo que eu estava visitando em sua casa, depois de ter acontecido uma grande tragédia em sua vida, e ele se queixou comigo na maior cara de pau: “Sou fiel a Deus nos dízimos, e em tudo o mais, e acontece isso comigo!” Mentira!!! Quanto eu saiba, ele nunca foi fiel a Deus em nada!
*** Tem um serviço de moto-taxi aqui pertinho de minha casa. Sabe qual é o nome? “Ligerim”.
Que camaradinha folgado!!! Parece até gato de hotel...
Billy examinando a máquina com o seu “cheirômetro”
Billy comendo, depois de se sentir tranqüilo...
A prova do crime”: Não sobrou nada!!!
Encheu a barriguinha, vamos à sonequinha...
“Vista aérea do Billy” (com essa “massinha peluda toda”, os carrapatos devem cantar: “Ai, se eu te pego! Ai, se eu te pego!”)