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postado em: 20/3/2008
O Fortalecimento do Neoateísmo Recentemente, foi traduzido e publicado no Brasil o livro Deus, um Delírio, do maior expoente do ateísmo moderno, o biólogo Richard Dawkins. O que me preocupa em livros como o de Dawkins é a visão extremamente reducionista da realidade, como se tudo o que existe pudesse ser explicado pelo materialismo filosófico. Ariel Roth, no livro “Origens”, sustenta que “a verdade precisa ser buscada, e devia fazer sentido em todos os campos. Devido a ser tão ampla, a verdade abrange toda a realidade; e nossos esforços para encontrá-la deveriam também ser amplos”. “Deus, um Delírio” é, sem dúvida, uma obra panfletária, na qual o autor destila, sem muita base científica, todo o seu ódio à religião. Conheço ateus mais sensatos que se disseram “embaraçados” com a publicação desse novo livro do “devoto de Darwin”. Aliás, esse apelido dado a Dawkins pela Veja torna-se ainda mais apropriado quando se lê “Deus, um Delírio”. Isso é coisa de devoto fundamentalista que acha que a única visão de mundo correta é a sua. Para o ex-ateu Alister McGrath, também professor em Oxford, como Dawkins, e autor de “O Delírio de Dawkins”, a estridência das afirmações contidas no livro do biólogo apenas mascara os argumentos gastos, fracos e reciclados. Dawkins sustenta a idéia de que a existência ou não de Deus deve ser submetida à investigação científica, elevando o método científico a uma esfera que não lhe diz respeito – a do sobrenatural. O que Dawkins parece fazer é substituir Deus por outra “divindade”, a ciência. Deus, um Delírio é, portanto, um livro fora de foco. Violência & Controvérsia Argumentos como a violência causada pelas religiões e a briga entre criacionismo e evolucionismo são válidos para se dizer que o mundo estaria melhor sem religiões? Argumentar assim é a mesma coisa que dizer que o avião é um mau invento porque é utilizado em guerras que matam pessoas. A religião bíblica, pregada por Jesus e fundamentada nas Escrituras Sagradas, nada tem que ver com as atrocidades cometidas em seu nome. Os darwinistas ficam irados quando se diz que Hitler se valeu da idéia da seleção natural para promover sua “limpeza étnica”. Mas não titubeiam em afirmar que a religião é má pelo fato de terem existido a Inquisição e as Cruzadas, para citar dois exemplos. Sobre a controvérsia entre o criacionismo e o evolucionismo, é bom que se diga que os criacionistas mais bem informados evitam o debate puro e simples. Querem apenas ser ouvidos e fazer valer nas escolas o que estabelecem os Parâmetros Curriculares Nacionais. Ou seja, que os alunos devem criticar objetivamente as teorias científicas como construtos humanos de representação aproximada da realidade, que essas teorias estão sujeitas a revisões e até a descarte e que o ensino médio tem entre suas finalidades habilitar o educando a ser capaz de continuar aprendendo, a ter autonomia intelectual e pensamento crítico. Ainda que não se ensine o criacionismo, criticar os pontos fracos do darwinismo é uma ótima forma de ensinar o educando a pensar criticamente. Até dá para entender a motivação de certos ateus. Segundo o psicólogo norte-americano Michael Shermer, diretor da Sociedade dos Céticos e autor do livro “Fronteiras da Ciência: Onde o que faz e o que não faz sentido se encontram”, o irracionalismo vem aumentando no mundo. Pesquisas mostram que cada vez mais se acredita em astrologia, experiências extra-sensoriais, bruxas, duendes, alienígenas e discos voadores. Para ele, “o irracionalismo tem aumentado principalmente por culpa da comunicação de massa e da internet. As pessoas que vivem da exploração dessas crenças são hábeis na utilização desses recursos”. Além disso, há certas igrejas cristãs que vivem de explorar a fé simples do povo e volta e meia ouvimos falar de deslizes morais e desmandos financeiros de líderes religiosos. Isso, somado ao fato de que as religiões tradicionais vêm perdendo muito espaço nos últimos anos, tem deixado um campo aberto para crenças alternativas e esdrúxulas. O problema é que os céticos acabam colocando no mesmo saco todo tipo de crença. Quem dera Dawkins fosse mesmo cético. O verdadeiro cético não firma o pé sobre verdades absolutas. O verdadeiro cético – se é cético de verdade – duvidará do próprio ceticismo e estará aberto a evidências contrárias. Dawkins e seus pares não são céticos. Eles escolheram uma cosmovisão e enxergam o mundo somente com essas lentes. Isso é dogmatismo (bem semelhante ao dos religiosos que eles condenam). E, como todo dogmatismo, essa visão de mundo acaba encontrando bastante resistência. Origens do ateísmo Essa tendência contra a religião é coisa antiga. Confrontado por Moisés, faraó fez a pergunta que praticamente inaugurou o ateísmo neste planeta: “Quem é o Senhor?” Séculos depois, no dia 10 de agosto de 1793, uma multidão se reuniu na praça da Bastilha, em Paris, para uma festa em homenagem à nova deusa ocidental: a Razão. Posteriormente, outra cerimônia foi realizada na catedral de Notre-Dame, tudo para não deixar dúvidas de que a razão era agora o instrumento de libertação da “tirania e obscurantismo da religião”. De repente, as portas do templo se abriram. De seu interior saiu uma figura feminina deslumbrante, com vestido branco e manto azul. Era a atriz Thérèse Angelique Aubry, que representava a deusa Razão. As cerimônias públicas que tiveram lugar em Paris materializaram a grande mudança na forma de ver o mundo, que já tomava lugar desde a Renascença. A ousadia do homem parecia não ter limites, e chegou-se a ordenar que fossem apagados todos os sinais de Deus, como os templos. Conta-se que num fim de tarde, quando os encarregados pela destruição chegaram para deitar por terra as paredes de uma das igrejas, se depararam com o velho jardineiro que cuidava das flores. Ao vê-los chegar, o ancião perguntou curioso por que estavam ali com tantas ferramentas. Um dos indivíduos respondeu com ousadia: – Viemos aqui para apagar de uma vez por todas os sinais de Deus da face da Terra. O jardineiro olhou admirado para a turba e perguntou: – E onde estão as escadas? O rapaz, um tanto inquieto, retrucou: – Mas para que precisamos de escadas? E o jardineiro complementou: – Se vocês querem apagar os sinais de Deus precisarão de uma escada. E uma escada muito alta, a fim de que possam apagar as estrelas. O jardineiro tinha razão. Os sinais de Deus não poderiam ser apagados por ninguém. Mas o Racionalismo acabaria por contribuir para a eclosão, em meados do século 20, de uma religiosidade vazia, baseada nas emoções. Uma verdadeira retomada da experiência religiosa primitiva e da superstição. É contra essa religião que, numa atitude anacrônica e descontextualizada, os novos ateus pelejam, achando que combatem o cristianismo e o criacionismo. Se conhecessem o que ensina realmente o criacionismo bíblico, suas bases racionais, talvez pensassem de forma diferente. Mas é bom lembrar que Jesus disse que nos últimos dias a situação de rebeldia, a falta de fé e a semelhança com as condições do mundo antediluviano seriam evidências de que Sua segunda vinda estaria próxima (cf. Mt 24). Todos os dias os meios de comunicação veiculam notícias que pintam o quadro do panorama profético em cores bem vivas. Enquanto a temperatura da Terra vai subindo e intensificando as tragédias ambientais, o ânimo dos novos ateus também esquenta. O Crescimento dos Sem-Religião Alguns dos chamados “sem-religião” acabam se sentindo justificados em sua postura ao observar da “arquibancada” o duelo entre ateus e religiosos. “Se esse pessoal não se entende, prefiro ficar neutro”, pensam. Mas, na verdade, a maioria desses “sem religião” é composta mais por hedonistas do que por ateus ou céticos convictos. São pessoas que não querem compromisso com sistemas e crenças. São da filosofia do “deixa a vida me levar” e desconhecem os argumentos pró e contra a religião. Michael Shermer diz: “Se você abandona a capacidade crítica de pensar cientificamente, pode acreditar em absolutamente tudo.” De fato, existe esse perigo, como também há o perigo de descrer de tudo. Talvez por isso o apóstolo Paulo, em Romanos 12:1, classifique o verdadeiro culto como “racional”, nada tendo que ver com a emotividade vazia de muitos cultos sensacionalistas modernos. O Criador é o Deus que convida: “Venham cá, vamos discutir este assunto” (Is 1:18, BLH). Deus não é irrazoável. Embora nossa aceitação de Sua existência e das verdades reveladas por Ele se baseiem na fé, há evidências suficientes para o observador atento e livre de preconceitos. Afinal, mesmo quando utilizamos a “capacidade crítica de pensar cientificamente”, chegamos à conclusão de que o Universo é obra de um Planejador inteligente, pois o efeito pressupõe uma causa. O acaso e a não-intencionalidade jamais responderam à pergunta fundamental: “De onde viemos?” O apóstolo Paulo dá a entender que não há nada de errado com o emprego da razão na busca de respostas, quando diz que se deve examinar tudo e reter o que é bom (1Ts 5:21). O problema consiste em querer utilizar a razão humana para mensurar o que está além dela. Utilizar a ciência, uma ferramenta humana, para determinar a existência ou não de Deus é como tentar medir as distâncias cósmicas com uma fita métrica. Ou, para usar um exemplo mais conhecido, é tentar colocar o oceano em um buraquinho na areia. Eis aqui o paradoxo neo-ateísta. Enquanto as religiões não apresentarem esses fatos para as mentes mais questionadoras e não se mostrarem relevantes para o mundo moderno, muita gente continuará se declarando “sem religião”. É interessante notar que a maioria das pessoas continua crendo em Deus. A decepção de muitos, de fato, é com as igrejas e não necessariamente com o Criador. Seguindo as Evidências Daniel Dennett, que é outra estrela do ateísmo moderno e militante, diz que o “encanto” que deve ser quebrado (ele é autor de “Quebrando o Encanto”) é o tabu contra a pesquisa científica e sem obstáculos dos segredos da religião como fenômeno natural, entre outros. “Mas certamente um dos motivos mais insistentes e plausíveis para a resistência a essa reivindicação é o medo que o encanto seja quebrado – se a religião for posta sob as luzes fortes do microscópio.” Mas eu pergunto: O contrário disso seria aceito? E se o microscópio e o telescópio revelassem as digitais do Criador? Ateus como Dawkins e Dennett se dobrariam ante as evidências? Seguiriam os fatos aonde eles forem dar? Ou dariam as costas às evidências, dizendo que a única visão de mundo aceitável é a naturalista? O filósofo ateu Thomas Nagel, com a sinceridade que falta a Dawkins e Dennett e uma autoconsciência fora do comum, escreveu em The Last Word: “O pensamento de que a relação entre a mente e o mundo é algo fundamental deixa muitas pessoas nervosas hoje em dia. Creio que esse medo da religião é uma manifestação que apresenta conseqüências amplas e, muitas vezes, perniciosas para a vida intelectual moderna. “Quando falo de medo da religião, não me refiro à hostilidade totalmente compreensível com relação a certas religiões e instituições religiosas estabelecidas, em virtude de suas doutrinas morais, políticas sociais e influência política objetáveis. Nem me refiro à associação de várias crenças religiosas com a superstição e a aceitação de falsidades empíricas evidentes. “Estou falando de algo muito mais profundo – ou seja, o medo da própria religião. Falo por experiência própria, pois eu mesmo estou altamente sujeito a esse medo: quero que o ateísmo seja verdade e fico incomodado com o fato de que algumas das pessoas mais inteligentes e bem-informadas sejam crentes religiosos. “Não significa simplesmente que eu não acredite em Deus – e, naturalmente, espero que esteja certo em minha crença. Significa que eu espero que não haja Deus! Não quero que exista um Deus; não quero que o Universo seja assim”, completa Nagel. Dawkins também não quer. Mas, não tem coragem para dizer isso. Por esse e outros motivos, creio que tanto o ceticismo quanto a religiosidade vazia crescerão em nossos dias. Isso, porque as pessoas, cada vez mais preocupadas com superficialidades (quem vai ficar com quem na novela, que time vencerá o campeonato, e por aí vai), desconhecem tanto a ciência quanto a Bíblia.