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postado em: 8/8/2008
Mistura Impossível
A notícia de que o Estado norte-americano do Kansas decidiu tirar a teoria da evolução do programa escolar da rede pública reacendeu, há alguns anos, a polêmica sobre o assunto das origens.
A imprensa, de modo geral, dedicou bastante espaço ao assunto, considerando, é claro, o evolucionismo como a grande vítima. O comentário de Peter Moon, no artigo “Fé Sem Razão” (IstoÉ, 25/08/99), é típico:
“De fato, 40% dos americanos (e um em cada quatro universitários) acreditam que Deus criou a Terra, as plantas, os animais e Adão à Sua imagem e semelhança. E fez isso tudo há menos de dez mil anos, uma bobagem sem tamanho!”
O Conselho de Educação do Kansas pode estar ao lado do criacionismo, mas fica evidente que a imprensa mundial ainda empunha a bandeira evolucionista.
Polêmicas à parte, à medida que as pesquisas no campo da Bioquímica e da Biologia Molecular avançam, mais o homem se conscientiza da enorme complexidade da vida. A idéia de que tudo teria surgido por mero acaso, através de fatores aleatórios ao longo de bilhões de anos, já não é tão aceita em nossos dias. E é nesse vácuo entre fé e teorias científicas atéias que vem surgindo com força o evolucionismo teísta.
É interessante observar as reviravoltas que ocorrem na História. Durante a Idade Média não foram poucos os casos em que a ciência teve de se submeter à Igreja. Através da “Santa” Inquisição, o romanismo impunha o medo e mantinha sua dominação ideológica sobre a massa desinformada. A própria Bíblia era negada ao povo pois, “a fim de Satanás manter seu domínio sobre os homens e estabelecer a autoridade do usurpador papal, deveria conservá-los na ignorância das Escrituras. Suas sagradas verdades deveriam ser ocultadas e suprimidas. Durante séculos a circulação da Bíblia foi proibida pela Igreja de Roma. Ao povo foi proibida a sua leitura. Sacerdotes e prelados interpretavam-lhes os ensinos de modo a favorecer suas pretensões” (Ellen G. White. O Grande Conflito, pág. 33 –Ed. Condensada).
Os anos passaram. Pudemos ver, no final do século XX, outra reviravolta. A Igreja Romana (quem diria!) se submetendo às proposições da ciência. Pior: às incertezas da ciência.
Pelo menos foi o que se pode perceber através dos jornais de todo o mundo, no final de outubro de 1997.
A revista Veja, por exemplo, trouxe à página 47, de sua edição de 30 de outubro daquele ano, o seguinte subtítulo: “O Papa surpreende ao dizer que a teoria da evolução é mais do que uma simples hipótese”. E o artigo de Laurentino Gomes continua: “A Igreja [Católica] há muito tempo admite que alguns textos bíblicos são narrativas alegóricas, que não devem ser tomadas ao pé da letra. É o caso do livro Gênese...”
Bem, isso não é nenhuma novidade, mas a seguinte declaração do Papa, é: “As novas descobertas levam à constatação de que a teoria da evolução é mais do que uma hipótese ... se o corpo humano tem sua origem em matéria pré-existente, a alma foi criada diretamente por Deus” (Aqui João Paulo II repete uma frase da encíclica “Humani Generis”, do papa Pio XII). Essa declaração papal conferiu grande força à evolução teísta.
Na verdade, mesmo que o papa não tivesse dito isso, as pessoas estão percebendo que Deus se explica (ou se aceita) pela impossibilidade de, sem Ele, se poder explicar tudo o que existe. Cada vez mais a idéia lógica de um Planejador cósmico é admitida, mas o pensamento evolucionista ainda resiste, uma vez que, para muitos (como os católicos), é sinônimo de verdade científica (ao invés de teoria).
Qual a solução, então? “Bem” – explicam alguns, – “Deus criou a matéria através do Big Bang e deu início ao processo evolutivo.” Simples, não? Na verdade, parece simples, mas não é.
Se partirmos da premissa de que Deus é o Criador, mas Se utilizou de processos evolutivos para trazer a vida como a conhecemos à existência, a primeira a ser atingida por esse raciocínio “conciliatório” é a Bíblia. Vejamos por quê.
A Palavra de Deus deixa clara a nossa responsabilidade diante do Criador. Mas se a espécie humana é o resultado final do acaso e da evolução através das eras cronológicas, temos nós qualquer responsabilidade diante de um poder mais elevado? De acordo com o Dr. S. J. Schwantes (Colunas do Caráter, pág. 205 – Casa), “que estímulo há para se forjarem caracteres nobres e se praticarem atos heróicos numa filosofia que não reconhece outra lei que não a da selva, nem outra sanção que não a sobrevivência do mais forte?”
Se a espécie humana evoluiu, tem significado o importante conceito “todos são criados iguais”? E como a regra áurea “fazei aos outros o que quereis que vos façam” encontra significado na sociedade, se a “sobrevivência dos mais aptos” tem sido responsável por trazer a humanidade ao seu presente estado de inteligência superior?
As duas idéias não parecem ser compatíveis. Aliás, se a teoria evolucionista estiver correta, nem ao menos poderemos estar certos de que a “raça” branca, a “raça” negra, ou qualquer outra “raça” não seja inferior.
Como se pode ver, a teologia bíblica é atingida bem no centro se rejeitarmos o relato da Criação. Importantíssimas doutrinas da Bíblia dependem desse relato. Por exemplo: a Bíblia afirma que a morte ocorreu como resultado do pecado (ver Gênesis 2). E na carta de Paulo aos Romanos, lemos que “por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte” (Romanos 5:12). Mas a evolução ensina que a morte existiu desde o princípio, muito antes que houvesse um ser humano. Em outras palavras: a morte não é um resultado do pecado.
Nesse caso, qual é o significado teológico da vida e morte de Jesus? Paulo diz: “Porque, como pela desobediência de um só homem (Adão) muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de Um só muitos se tornarão justos” (Romanos 5:19).
Por que precisamos de redenção e libertação? Se não houve um Jardim do Éden, com sua árvore da vida, qual é o futuro que Apocalipse 22 descreve para os remidos? Se as rochas da crosta terrestre já estivessem cheias de restos fossilizados de bilhões de animais, e mesmo de formas hominídeas que pareciam homens, então o próprio Deus é diretamente responsável por ter criado o sofrimento e a morte, não como julgamento pela rebelião, mas como fator integral da Sua obra de criação e governo soberano. E isto significa caos teológico!
O quarto mandamento da Lei de Deus diz: “Lembra-te do dia do sábado para o santificar, seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus ... porque em seis dias fez o Senhor os Céus e a Terra e o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado e o santificou” (Êxodo 20:8-11).
Além de ser um mandamento e um sinal distintivo entre o Senhor e Seu povo (ver Ezequiel 20:20), o sábado comemora a obra criadora de Deus, em seis dias literais. Cristo confirmou este mandamento guardando-o (ver Lucas 4:16). A Bíblia assegura que na Nova Terra (Apocalipse 21) também será observado o sábado (ver Isaías 66:23).
Pela teoria evolucionista teríamos que ignorar também este importante conceito bíblico que é uma evidência de nosso amor ao Criador (ver João 14:15), memorial da criação e selo de obediência e fidelidade a Deus.
Como se pode ver, evolução e criação é uma mistura impossível. A tentativa de conciliação (talvez para se evitar maiores discussões) acaba originando uma teoria amorfa e ilógica.
A Criação não pode ser provada em laboratório, é verdade. Mas a evolução biológica também não. No fundo, tudo é uma questão de fé. De minha parte, prefiro crer no Deus Criador Todo-Poderoso, a crer no acaso e no tempo como os fatores “desencadeadores” da vida.
Michelson Borges é redator na Casa Publicadora Brasileira e autor dos livros A História da Vida e Por Que Creio (ambos da CPB).