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postado em: 27/2/2009
Minha missão naquela tarde era fazer uma entrevista para a Revista Adventista. Preparei o equipamento e saí de Tatuí, logo após o almoço, com destino a Hortolândia, mais ou menos uma hora de viagem. Eu deveria encontrar o entrevistado na casa do famoso Pastor Geraldo Marski, a quem eu ainda só conhecia de ler.
Cheguei no horário combinado. Na frente da casa do Pastor Geraldo, a cerca de madeira me fez lembrar a infância, em Santa Catarina. A plaquinha bem-humorada também está lá: “Cuidado, pastor alemão!”
Uma distância de uns 50 metros separa o portão da chácara da residência. Toquei a campainha e vi sair da casa antiga um senhor idoso, apoiando-se em um andador. Como o portão estava aberto, fui logo entrando. Segui pela calçada estreita, ladeada por muitas plantas. Mais ou menos na metade do caminho, uma árvore grande, plantada ao lado da calçada, me chamou a atenção. Percebi que ela possuía grossas raízes, apontando para todos os lados. Mas a raiz que vai em direção à calçada de cimento, e que deveria tê-la quebrado, estranhamente faz uma curva para a esquerda. Nunca tinha visto algo parecido. Mas logo conheceria a causa do “fenômeno”.
Chegando à varanda da casa, o senhor de sorriso agradável me estendeu a mão. Sentamo-nos e começamos a conversar, enquanto esperávamos o entrevistado. Desde que fiz minhas pesquisas para escrever A Chegada do Adventismo ao Brasil, e tive contato com muitos descendentes de pioneiros da Igreja, aprendi a admirar ainda mais esses “livros vivos”, homens e mulheres com vasta experiência na vida e nas coisas de Deus.
O Pastor Geraldo, de 91 anos, me falou um pouco sobre seus anos de aposentadoria, sobre a esposa adoentada, sobre os filhos pastores e sobre o jardim, que teve que colocar sob os cuidados de outra pessoa, por não ter mais forças nas pernas para trabalhar.
Foi nesse ponto que ele me perguntou: “Você viu a raiz daquela árvore ali? Há pessoas que ainda duvidam que eu tenha falado com Deus por meio de um cipó [ele fez referência ao fato narrado em seu livro Primeiro o Reino de Deus, na página 95]. Deus Se preocupa conosco, e está atento aos nossos mais simples pedidos. Quando mandei fazer a calçada ao lado da árvore, me disseram que a raiz iria quebrar o cimento. Mas eu pedi a Deus que desviasse a raiz, para que a calçada pudesse ficar em linha reta, do portão até a varanda. E Deus fez a raiz curvar-se.” Estava explicado o “mistério”. A fé remove montanhas. E desvia raízes!
Como o entrevistado estava demorando, o Pastor Geraldo me convidou para entrar e conhecer sua biblioteca. Mostrou-me os originais do livro de memórias que está produzindo com uma antiga máquina de escrever, e a Bíblia que ele comprou na infância, deixando de adquirir o sapato de que tanto necessitava (Primeiro o Reino de Deus, pág. 40).
Fiquei fascinado com tantas obras valiosas e antigas, mas um livro em especial fez meu coração acelerar. O Pastor Geraldo me pediu para pegar de sobre a escrivaninha um volume muito velho, com páginas amareladas e capas mantidas unidas por uma borrachinha. “Leia o que está escrito na folha de rosto”, ele disse. Abri o livro com cuidado e quase não acreditei quando li: “Livro vendido por Albert Stauffer à família Kossmann.”
Era um exemplar do Cristus Unser Heiland (Vida de Jesus), de Ellen White, livro com o qual o Pastor Geraldo havia sido alfabetizado e que o havia levado à conversão, aos 11 anos de idade. Mas não era só isso! O precioso exemplar havia sido vendido em 1899 à família alemã, residente em Benedito Novo, SC, por ninguém menos que o primeiro adventista do sétimo dia a pisar em solo brasileiro, o colportor Albert Stauffer.
Gastamos algumas horas ali, conversando e manuseando outras obras preciosas. Fiz algumas fotos e depois nos dirigimos ao quarto da esposa do pastor, a irmã Alaíde. Portadora do Mal de Alzheimer, ela não nos dirigiu palavra, apenas nos observou. Mas foi emocionante ver o carinho do esposo e entender o verdadeiro significado das palavras “na saúde e na doença”. Fizemos uma oração ali e me despedi da senhora.
Anoitecia, quando me dei conta de que as horas haviam passado rapidamente e que, como se diz no jargão jornalístico, a pauta havia “furado”. O carro do entrevistado tinha quebrado, o que o impossibilitara de cumprir o compromisso. Mesmo assim, aquela foi uma das tardes mais agradáveis da minha vida, que me possibilitou viver na prática o conselho do apóstolo Paulo: “Lembrem dos seus primeiros líderes espirituais, que anunciaram a mensagem de Deus a vocês. Pensem em como eles viveram e morreram e imitem a fé que eles tinham” (Hebreus 13:7, NTLH).
Obrigado, Pastor Geraldo. Aquela tarde valeu por uma vida!