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postado em: 23/9/2011
Exageros da NASA e a festa da mídia
O site Inovação Tecnológica publicou um artigo muito bom (e franco) assinado por Agostinho Rosa. Segundo o autor, “talvez nenhum outro indicador mostre tão claramente o desespero da NASA [a agência espacial norte-americana] pela sobrevivência enquanto instituição quanto as suas recentes ‘revelações científicas’ bombásticas, sempre feitas em conferências anunciadas previamente a jornalistas do mundo inteiro. Acostumados a décadas de seriedade e estudos de ponta financiados pela agência norte-americana, vários jornalistas não têm tido o cuidado necessário para separar os novos frutos dos ‘frutos recauchutados’ e dos ‘possíveis-frutos-se-vocês-nos-derem-dinheiro-para-plantar-as-árvores’. Essa ansiedade pela mostra de resultados tem levado a NASA a promover anúncios de ‘descobertas científicas’ altamente polêmicas, seguidamente questionadas por vários grupos que não participam das pesquisas”.
Rosa recapitula que foi assim com a bactéria alienígena que respira arsênio, com as seguidas “descobertas” de água na Lua em volumes que chegaram a ser comparados aos oceanos da Terra, e com as seguidas “descobertas” de água em Marte, que têm acontecido cerca de duas vezes por ano.
A descoberta da vez diz respeito à presença de componentes de uma molécula de DNA em meteoritos, mas Rosa lembra que os chamados “blocos elementares” de uma molécula de DNA têm sido encontrados em meteoritos desde os anos 1960. Qual a novidade, então? “O mérito desse novo estudo é que os cientistas juntaram dois argumentos para descartar que o meteorito tenha sido contaminado depois de ter caído na Terra. Então, será que os anúncios anteriores não deveriam ter sido levados tão a sério?” Mas foram, como bem deve se lembrar quem leu as manchetes na época.
A maior crítica do articulista tem que ver com a forma como muitos órgãos de imprensa “traduziram” o estudo (simplesmente colocando as conclusões da pesquisa de forma taxativa demais) e com o caminho que vem tomando a busca pelas explicações da origem da vida. “Em termos puramente experimentais, a vida sempre foi um estorvo para a ciência”, diz Rosa, “se parecendo mais com uma anomalia contaminando um sistema mecanicamente muito bem engrenado.”
Para ele, é justamente por causa das dificuldades em se explicar a origem da vida aqui na Terra que a explicação para uma origem extraterrestre da vida “vem tanto a calhar”. “A procura pela origem da vida é um campo de pesquisa que vem sendo deixado praticamente de lado. Por ser complexo demais, talvez seja melhor abordá-lo aos poucos, estudando seus ‘blocos básicos’ um a um, na esperança de que o conhecimento das partes possa dar algum insight sobre a composição do todo”, revela.
E aqui está a estratégia naturalista mais bem explicada: “Ora, se pudermos dizer que a vida veio do espaço, isso nos dá um tempo precioso, já que o nosso acesso ao espaço é limitado demais para qualquer pesquisa que se queira séria. Isso tiraria de pauta qualquer necessidade de entendimento da origem da vida aqui na Terra, até hoje às voltas com uma incômoda teoria da geração espontânea, ou abiogênese. Aparentemente, os experimentos de Francesco Redi, feitos em 1668, não valem quando se considera um espaço grande o suficiente – como a Terra – em um tempo longo o suficiente – tudo parece possível desde que você possa lançar mão do largamente usado ‘argumento científico’ dos ‘ao longo de milhões de anos’.” Bingo!
E Rosa conclui assim: “A próxima discussão lógica seria considerar se, e como, esses blocos, emergindo onde quer que seja, se unem para formar a vida. Mas aí já é querer exigir da ciência acadêmica algo que ela não pode dar.”
Parabéns a Agostinho Rosa e ao site Inovação Tecnológica pela ousadia (e coragem) de publicar esse texto, indo na contramão da euforia midiática e dos repórteres que parecem não mais se dar ao trabalho de perguntar o que está nas entrelinhas das produções das agências de notícias internacionais.
Com relação à suposta origem espacial da vida, escrevi isto em meu livro A História da Vida (p. 39, 40): “Diante da tremenda dificuldade de demonstrar que a vida teria surgido sem a interferência de um ser sobrenatural, alguns cientistas propuseram uma hipótese que tem ganhado adeptos, graças ao seu poder de jogar o problema para outro campo. Trata-se da teoria da panspermia cósmica. A ideia é a de que ‘o aparecimento dos primeiros seres vivos na Terra veio dos cosmozoários, que seriam micro-organismos flutuantes no espaço cósmico. Mas existem provas concretas de que isso jamais poderia ter acontecido. Tais seres seriam destruídos pelos raios cósmicos e ultravioleta que varrem continuamente o espaço sideral’ (fonte). Isso sem contar que, se a radiação cósmica não desse conta do trabalho, o calor da entrada na atmosfera e o impacto do meteorito no qual os micro-organismos estivessem ‘embarcados’ os teria liquidado antes de terem a chance de ‘evoluir’ (como se isso também fosse fácil...). Como disse, essa hipótese é conveniente porque, se você perguntar como a vida começou em algum lugar do espaço, a resposta será: Não há como saber, pois não temos acesso ao campo de estudo. Então tá...”
Michelson Borges