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postado em: 15/6/2012
Derretendo dogmas
A revista Veja desta semana publicou uma reportagem de quatro páginas intitulada "Um dogma que começa a derreter", apontando evidências de que os céticos do aquecimento global causado pelo ser humano (entre os quais este blogueiro) podem estar com a razão. Segundo a semanal, o próprio ambientalista inglês James Lovelock, de 92 anos, ainda lúcido, afirmou ter sido alarmista em suas considerações sobre as mudanças no clima. "Foi uma tolice de minha parte", reiterou Lovelock a Veja. "O ser humano não é mais culpado do que as árvores no que diz respeito ao aumento das temperaturas."
Para Veja, nem o Climagate, o escândalo sobre a manipulação de dados nos relatórios do IPCC, o painel climático da ONU, foi um golpe tão duro para os defensores da ideia de que a humanidade vive uma emergência planetária iminente, resultado da emissão excessiva de CO2 na atmosfera, quanto as palavras de Lovelock. Isso porque ele é tido como uma espécie de guru dos aquecimentistas, mais ou menos como o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, que comprou uma casa à beira-mar avaliada em milhões de dólares, muito embora pregue que o mar vai subir!
"Até mudar de ideia, Lovelock reverberava previsões aterrorizantes sobre o futuro do planeta. Em uma delas, ele afirmava que 80% da população mundial seria dizimada por catástrofes até 2100", diz a reportagem. Aproveitando a onda alarmista, os defensores do ECOmenismo não perderam tempo e divulgaram suas propostas de salvamento do planeta, entre elas a separação do domingo como dia da família e de baixa emissão de carbono (proposta incentivada e abraçada de imediato pela Igreja Católica). Em 2010, numa entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, procurei mostrar a relação entre aquecimento global e neopaganismo.
Veja (que no passado também embarcou no oba-oba do aquecimento com capas bem alarmistas) mostra que "Lovelock não foi o único cientista de renome a protagonizar uma mudança de prumo recentemente. Em setembro do ano passado, o físico norueguês Ivar Giaever, laureado com o Nobel em sua área, em 1973, deixou a Sociedade Americana de Física (APS) por discordar da postura da instituição em relação ao tema. Disse Giaever, na ocasião: ‘A APS aceita discutir se ocorrem alterações na massa de um próton ou os múltiplos universos, mas a evidência do aquecimento global é indiscutível? Esse assunto está se tornando uma religião. Sou um descrente.""
Palavras semelhantes foram usadas pelo teólogo adventista Sérgio Santelli, em e-mail publicado na revista Veja do dia 29/12/2008. Segundo o teólogo, o ECOmenismo estava se transformando numa "religião urbana de alcance global". Que bom que outras pessoas perceberam a mesma coisa.
Mas a parte da declaração de Giaever que mais me chamou a atenção foi esta: "A APS aceita discutir se ocorrem alterações na massa de um próton ou os múltiplos universos [ideia totalmente hipotética], mas a evidência do aquecimento global é indiscutível?" Outras evidências também não são discutidas pelos defensores do mainstream científico, especialmente os darwinistas. Voltarei a este ponto mais adiante.
É bom lembrar - e Veja lembra - que os céticos do aquecimento "não negam o fato de que o planeta está mais quente - quase todos os cientistas hoje concordam que a temperatura média da Terra subiu 0,8 grau no século passado. A divergência recai sobre as causas da oscilação". Entre elas, talvez, a atividade solar intensificada em anos recentes. Só que um fenômeno "natural" de aquecimento não poderia ser usado como argumento coletivista para promover mudanças (como a guarda do domingo) profundas entre a humanidade, com o fim de "salvar a Terra" da ação humana desastrosa.
Ponderação interessante da semanal: "A discussão, em si, não é um problema. Dos debates nascem as melhores soluções para uma questão. O perigo está no dogmatismo e na polarização exagerada." Pena que esse argumento nem sempre seja defendido ou praticado, quando o assunto é criacionismo e evolucionismo, por exemplo. E aqui eu volto ao ponto que deixei aberto lá em cima.
Veja cita as palavras do climatologista americano Richard Lindzen: "Quando uma questão se torna parte do programa político, a posição politicamente aceitável passa a ser o objetivo e não a consequência da pesquisa científica." Esse programa pode ser, também, ideológico. Deixando mais claro: quando os cientistas se esforçam para defender o naturalismo filosófico, tratam de acomodar os fatos a essa cosmovisão, mesmo que esses fatos apontem noutra direção, no caso, a do teísmo e do design inteligente. E essa motivação, à semelhança da motivação política, nada tem que ver com a ciência experimental (o próprio naturalismo não pode ser submetido ao método científico; trata-se de uma filosofia apriorística). Os céticos (nesse caso, os criacionistas e defensores do design inteligente) são vistos com preconceito e/ou indiferença; suas ideias e refutações são ignoradas, como eram as dos céticos do aquecimento, poucos anos atrás.
Veja diz mais (e dá vontade de colocar estas palavras num quadro e pendurar na parede): "Não existem certezas absolutas na ciência. No entanto, não há como negar a contribuição do ceticismo para a elucidação da questão climática." Que bom se isso fosse igualmente aplicado ao darwinismo... Repita a frase entre aspas trocando apenas "questão climática" por "origem da vida".
Nunca é tarde para derreter dogmas.
Michelson Borges