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postado em: 31/7/2016
Três anos atrás, os olhares da imprensa internacional se voltaram à cidade do Rio de Janeiro, onde ocorria a Jornada Mundial da Juventude. Presente no evento, o recém entronizado papa Francisco conclamou os jovens católicos a serem "revolucionários".[1]
Como é óbvio, o pontífice estava se referindo a uma "revolução" no contexto religioso. Ao longo do tempo, cristãos de todos os países têm se dividido sobre a "revolução" que devem promover: o espectro de posições vai dos que procuram se "retirar do mundo", como os monges, até àqueles que ingressam em partidos políticos radicais. Qual deveria ser, segundo a Bíblia, a nossa posição sobre o assunto? Devemos nos abster da política ou ser parte ativa de partidos, sindicatos ou outras organizações da sociedade civil? Em suma, é lícito que o servo de Cristo, que é forasteiro neste mundo, dedique seus recursos, tempo e talentos na militância por transformações políticas e sociais?
Embora há muito tempo a Cristandade seja confrontada com essas questões, foi a partir de meados do século XIX que muitos professos seguidores de Cristo passaram a ser atraídos irresistivelmente para o movimento revolucionário. É possível apontar uma data para a origem desse processo: 1844. Isso mesmo, 1844! Em agosto desse ano tão familiar para os adventistas do sétimo dia, Karl Marx (1818-1883) e Fredrich Engels (1820-1895) se encontraram em Paris, iniciando uma parceria que mudaria o mundo.[2] Justamente no ano em que muitos estavam ansiosos pela volta iminente de Jesus, Marx e Engels, num tom não menos escatológico, começaram a conclamar os trabalhadores do mundo inteiro para derrubarem violentamente a ordem vigente e instaurarem o socialismo.
Segundo esses pensadores, a ditadura do proletariado aboliria a propriedade privada e, consequentemente, as desigualdades sociais. No futuro, o Estado e suas estruturas de coerção seriam desnecessárias, a igualdade social seria plena e, portanto, estaria consolidado o comunismo, um verdadeiro paraíso sobre a Terra. Desta forma, as esperanças do homem foram desviadas do Ministério de Cristo no Santuário Celestial e de Sua Vinda para uma religião secular, como nunca se vira. O alcance do marxismo foi tamanho que, no século XX, inspirou o surgimento dos primeiros Estados ideológicos da História, “a coisa mais mortífera que já aconteceu à humanidade desde o dilúvio bíblico.”[3]
Nada mais ingênuo do que achar que o marxismo não representa mais perigo simplesmente porque o Muro de Berlim desmoronou em 1989 e com ele todo o bloco soviético.[4] O marxismo cultural e os seus efeitos deletérios podem ser vistos na secularização da religião, na defesa da legalização da maconha, no movimento homossexual, no lobby pró-aborto, na Agenda de Gênero[5] , entre outros. Muitos cristãos reagem com indiferença quando são alertados sobre isso, mas o inimigo não descansa, e eles acabam perecendo por falta de conhecimento (Oséias 4:6). A mídia, ONGs, políticos e sistemas educacionais têm atuado incansavelmente a fim de promover tudo o que seja hostil aos nossos valores judaico-cristãos, e os mais jovens, em especial, têm sido bombardeados com ideias sedutoras, inspiradas diretamente pela serpente que iludiu Eva no jardim do Éden. Como as famílias e os pastores ignoraram ou subestimaram a ameaça, a igreja tornou-se presa fácil dessas filosofias perversas e aberrantes.[6]
Neste artigo, baseei-me na Bíblia e no Espírito de Profecia para mostrar as raízes do problema e sua real solução. A razão humana e as paixões políticas devem se submeter à Luz Maior e à Luz Menor. Além da Inspiração, eu indicarei uma série de materiais acadêmicos que contribuirão para tapar a brecha aberta no muro de nossas famílias e igreja (Ezequiel 22:30).
I. A Pobreza e a Opressão Sempre Existirão
Em primeiro lugar, devemos admitir que o pecado transtornou completamente as relações humanas. Quase que imediatamente à queda, o Criador pronunciou qual seria a sorte da mulher: "... o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará" (Gênesis 3:16). Assim, antes de senhores e escravos, burgueses e proletários, a opressão das mulheres pelos maridos já existia.
Com o tempo, a opressão se generalizou e se aprofundou. A multiplicação da maldade fez com que Deus se arrependesse de ter criado o homem (Gênesis 6:6); finalmente, o planeta teve que ser destruído pelo dilúvio. Os descendentes de Noé povoaram o mundo pós-diluviano, que voltou a ser terrivelmente pecaminoso. Além do episódio da Torre de Babel, vale a pena destacar a origem do pecado de Sodoma e Gomorra, destruídas juntamente com cidades circunvizinhas: "Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado" (Ezequiel 16: 49, versão Almeida Revista e Atualizada). Nos tempos remotos do justo Jó, uma declaração dramática revela como as injustiças já dominavam o cenário político e social: "As tendas dos tiranos gozam paz, e os que provocam a Deus estão seguros..." (Jó 12:6, versão Almeida Revista e Atualizada).
Na sua onisciência, Deus revelou a Seu povo que “nunca deixará de haver pobre na terra” (Deuteronômio 15:11). O próprio Filho de Deus, quando esteve nesta Terra, reafirmou essa realidade – sempre existirão pobres conosco (João 12:8). Nas suas observações, Salomão (ele próprio um monarca opressor) registrou os infortúnios dos pobres: "Depois volvi-me, e atentei para todas opressões que se fazem debaixo do sol; e eis as lágrimas dos oprimidos, e eles não tinham um consolador; do lado dos seus opressores havia poder; mas eles não tinham consolador" (Eclesiastes 4:1).
Logo, de acordo com os profetas e com o próprio Verbo Encarnado, não faz o menor sentido apoiar qualquer teoria política que pretenda abolir a pobreza. Elas não passam de utopias, e dentre todas disponíveis, nenhuma é tão popular e entorpecedora quanto o marxismo.[7] Cristãos que se deixam levar pelas ideias de Marx frequentemente caem no mesmo engodo de Judas Iscariotes: passam a acreditar e a defender que combater as desigualdades sociais é mais importante do que servir a Deus. Trata-se de um autêntico "evangelho social". Esses cristãos "revolucionários" pregam que os dízimos devem sustentar os pobres, ao invés de servirem para a manutenção dos que anunciam o Evangelho, como diz a Bíblia (I Coríntios 9:14).[8] Não julgamos a sinceridade ou as intenções dessas pessoas, mas analisamos essas práticas à luz da Bíblia. E, de acordo com a Inspiração, preocupar-se com os pobres, por mais que em si seja correto e cristão, se colocado acima de Deus, torna-se idolatria e abominação.
Simpatizantes do socialismo devem estudar a história para verificar se em algum lugar onde ele vicejou o altruísmo sobrepujou o egoísmo. Os fatos não deixam dúvidas. Assim como o hipócrita Judas, que sob o pretexto de reverter a oferta da pecadora para os pobres queria mesmo beneficiar-se com os recursos que desviava (João 12:4), a maioria dos socialistas sonha apenas em usufruir dos recursos extorquidos dos ricos e da classe média. O maior ônus do experimento social acaba recaindo sobre os pobres, que sob um Estado totalitário sofrem uma opressão maior do que qualquer outra que até então tenham sofrido. Nenhum socialista ou comunista jamais optou por ser camponês ou operário após o triunfo da revolução; todos pretendem ser comissários do Partido, ou ocupar qualquer função dirigente que os coloque no seleto círculo da Nomenklatura, uma autêntica elite de burocratas (isso num regime que, teoricamente, não teria classes sociais). Como afirmou um economista brasileiro,
O discurso igualitário vende bem, pois alimenta a paixão mais mesquinha de todas: a inveja. Adam Smith disse: 'A inveja é a paixão que vê com maligno desgosto a superioridade dos que realmente têm direito a toda superioridade que possuem.' O socialismo é a pura idealização da inveja. Como disse Theodore Dalrymple, o ódio aos ricos é uma emoção muito mais forte do que o amor aos pobres. Não vemos uma turba invadindo uma cidade em busca de pobres a quem pudesse dar os seus bens...[9]
Portanto, há que se duvidar dos que querem tirar dos ricos para dar aos pobres – os Robin Hood modernos. Se alguém realmente quer amenizar as dificuldades dos desafortunados, primeiramente é generoso em usar os seus próprios recursos para tal.
Para encerrar essa questão, temos que aceitar que foi propósito de Deus que existissem diferenças socioeconômicas entre os seres humanos. Leiam essa citação de Ellen G. White:
Muitos há que insistem com grande entusiasmo que todos os homens deviam ter participação igual nas bênçãos temporais de Deus. Mas isto não foi o propósito do Criador. A diversidade de condições é um dos meios pelos quais é desígnio de Deus provar e desenvolver o caráter. Beneficência Social, p. 175. Negrito acrescentado.
Sim, amigos. Existem diferenças de condições, e elas são o instrumento de Deus para “provar e desenvolver o caráter.” Se todos fossem abastados, o egoísmo seria inevitável – não é à toa que nos países mais prósperos o secularismo seja predominante. “O rico e o pobre se encontram; a todos o Senhor os fez” (Provérbios 22:2). Deve haver uma interdependência entre as diversas classes sociais, assim como no corpo de Cristo, Sua Igreja, há diversidade de membros, e entre eles há uma dependência mútua.
II. “O meu reino não é deste mundo”
Voltemos nossos olhos para Jesus, nosso Modelo. Interrogado por Pilatos, ele respondeu: “O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos (...); mas agora o meu reino não é daqui” (João 18:36). Se o nosso Mestre não tinha este mundo como o Seu reino, nós o teríamos? Esperaríamos um paraíso terrestre? Peço perdão ao leitor para transcrever uma longa citação, um comentário inspirado sobre o nosso Modelo:
O reino de Deus não vem com aparência exterior. O evangelho da graça de Deus, com seu espírito de abnegação, não se pode nunca harmonizar com o do mundo. Os dois princípios são antagônicos. (...) Mas hoje, no mundo religioso, existem multidões que, segundo crêem, trabalham pelo estabelecimento do reino de Cristo como um domínio terrestre e temporal. Desejam tornar nosso Senhor o governador dos reinos deste mundo, o governador em seus tribunais e acampamentos, em suas câmaras legislativas, seus palácios e centros de negócios. Esperam que Ele governe por meio de decretos, reforçados por autoridade humana. Uma vez que Cristo não Se encontra aqui pessoalmente, eles próprios empreenderão agir em Seu lugar, para executar as leis de Seu reino. O estabelecimento de tal reino era o que desejavam os judeus ao tempo de Cristo. Teriam recebido Jesus, houvesse Ele estado disposto a estabelecer um domínio temporal, impor o que consideravam como sendo leis de Deus, e fazê-los os expositores de Sua vontade e os instrumentos de Sua autoridade. Mas Ele disse: 'O Meu reino não é deste mundo.' João 18:36. Não quis aceitar o trono terrestre. O governo sob que Jesus viveu era corrupto e opressivo; clamavam de todo lado os abusos - extorsões, intolerância e abusiva crueldade. Não obstante, o Salvador não tentou nenhuma reforma civil. Não atacou nenhum abuso nacional, nem condenou os inimigos da nação. Não interferiu com a autoridade nem com a administração dos que se achavam no poder. Aquele que foi o nosso exemplo, conservou-Se afastado dos governos terrestres. Não porque fosse indiferente às misérias do homem, mas porque o remédio não residia em medidas meramente humanas e externas. Para ser eficiente, a cura deve atingir o próprio homem, individualmente, e regenerar o coração. Não pelas decisões dos tribunais e conselhos, nem pelas assembléias legislativas, nem pelo patrocínio dos grandes do mundo, há de estabelecer-se o reino de Cristo, mas pela implantação de Sua natureza na humanidade, mediante o operar do Espírito Santo. 'A todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem no Seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade do varão, mas de Deus.' João 1:12 e 13. Aí está o único poder capaz de erguer a humanidade. E o instrumento humano para a realização dessa obra é o ensino e a observância da Palavra de Deus. Quando o apóstolo Paulo começou seu ministério em Corinto, populosa, rica e ímpia cidade, poluída pelos revoltantes vícios do paganismo, disse: 'Nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e Este crucificado.' I Cor. 2:2. Escrevendo posteriormente a alguns que foram corrompidos pelos mais vis pecados, pôde dizer: 'Mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito de nosso Deus.' I Cor. 6:11. 'Sempre dou graças ao meu Deus por vós pela graça de Deus que vos foi dada em Jesus Cristo.' I Cor. 1:4. Hoje, como no tempo de Cristo, a obra do reino de Deus não se acha a cargo dos que reclamam o reconhecimento e apoio dos dominadores terrestres e das leis humanas, mas dos que estão declarando ao povo, em Seu nome, as verdades espirituais que operarão, nos que as recebem, a experiência de Paulo: 'Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim.' Gál. 2:20. Então eles trabalharão, como Paulo, em benefício dos homens. Disse ele: 'De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos pois da parte de Cristo que vos reconcilieis com Deus.' II Cor. 5:20.” O Desejado de Todas as Nações, pp. 509-510. Negritos acrescentados.
O reino de Deus não vem com aparência exterior. O evangelho da graça de Deus, com seu espírito de abnegação, não se pode nunca harmonizar com o do mundo. Os dois princípios são antagônicos. (...)
Mas hoje, no mundo religioso, existem multidões que, segundo crêem, trabalham pelo estabelecimento do reino de Cristo como um domínio terrestre e temporal. Desejam tornar nosso Senhor o governador dos reinos deste mundo, o governador em seus tribunais e acampamentos, em suas câmaras legislativas, seus palácios e centros de negócios. Esperam que Ele governe por meio de decretos, reforçados por autoridade humana. Uma vez que Cristo não Se encontra aqui pessoalmente, eles próprios empreenderão agir em Seu lugar, para executar as leis de Seu reino. O estabelecimento de tal reino era o que desejavam os judeus ao tempo de Cristo. Teriam recebido Jesus, houvesse Ele estado disposto a estabelecer um domínio temporal, impor o que consideravam como sendo leis de Deus, e fazê-los os expositores de Sua vontade e os instrumentos de Sua autoridade. Mas Ele disse: 'O Meu reino não é deste mundo.' João 18:36. Não quis aceitar o trono terrestre.
O governo sob que Jesus viveu era corrupto e opressivo; clamavam de todo lado os abusos - extorsões, intolerância e abusiva crueldade. Não obstante, o Salvador não tentou nenhuma reforma civil. Não atacou nenhum abuso nacional, nem condenou os inimigos da nação. Não interferiu com a autoridade nem com a administração dos que se achavam no poder. Aquele que foi o nosso exemplo, conservou-Se afastado dos governos terrestres. Não porque fosse indiferente às misérias do homem, mas porque o remédio não residia em medidas meramente humanas e externas. Para ser eficiente, a cura deve atingir o próprio homem, individualmente, e regenerar o coração.
Não pelas decisões dos tribunais e conselhos, nem pelas assembléias legislativas, nem pelo patrocínio dos grandes do mundo, há de estabelecer-se o reino de Cristo, mas pela implantação de Sua natureza na humanidade, mediante o operar do Espírito Santo. 'A todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem no Seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade do varão, mas de Deus.' João 1:12 e 13. Aí está o único poder capaz de erguer a humanidade. E o instrumento humano para a realização dessa obra é o ensino e a observância da Palavra de Deus.
Quando o apóstolo Paulo começou seu ministério em Corinto, populosa, rica e ímpia cidade, poluída pelos revoltantes vícios do paganismo, disse: 'Nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e Este crucificado.' I Cor. 2:2. Escrevendo posteriormente a alguns que foram corrompidos pelos mais vis pecados, pôde dizer: 'Mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito de nosso Deus.' I Cor. 6:11. 'Sempre dou graças ao meu Deus por vós pela graça de Deus que vos foi dada em Jesus Cristo.' I Cor. 1:4.
Hoje, como no tempo de Cristo, a obra do reino de Deus não se acha a cargo dos que reclamam o reconhecimento e apoio dos dominadores terrestres e das leis humanas, mas dos que estão declarando ao povo, em Seu nome, as verdades espirituais que operarão, nos que as recebem, a experiência de Paulo: 'Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim.' Gál. 2:20. Então eles trabalharão, como Paulo, em benefício dos homens. Disse ele: 'De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos pois da parte de Cristo que vos reconcilieis com Deus.' II Cor. 5:20.”
O Desejado de Todas as Nações, pp. 509-510. Negritos acrescentados.
III. Não apoiar políticos que reprimem a liberdade religiosa
“Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade...” (I Timóteo 2:1-2). Após considerar tudo o que foi escrito, deve estar claro que o cristianismo é uma religião conservadora. Devemos temer o Senhor e o rei, e não nos misturar com os “sediciosos” (Provérbios 24:21 – versão católica). Em nossas orações pelas autoridades, devemos pedir que elas não nos privem da liberdade religiosa, que é o mínimo para que possamos ir por todo o mundo, pregando a toda criatura (Marcos 16:15). Segundo a escritora Ellen White,
Não podemos, com segurança, tomar parte em nenhum plano político. Não podemos trabalhar para agradar a homens que irão empregar sua influência para reprimir a liberdade religiosa, e pôr em execução medidas opressivas para levar ou compelir seus semelhantes a observar o domingo como sábado. (…) O povo de Deus não deve votar para colocar tais homens em cargos oficiais; pois assim fazendo, são participantes nos pecados que eles cometem enquanto investidos desses cargos.Fundamentos da Educação Cristã, p. 475.
Ora, como podemos apoiar ideologias e políticos que militam aberta ou dissimuladamente para restringir a liberdade religiosa? Levando em consideração o texto acima, é evidente que nas eleições devemos descartar candidatos que queiram reprimir esse direito ao qual tanto estimamos. Embora existam políticos autoritários em todo o horizonte político-ideológico, é inegável que a esquerda (cujo "papa" - Karl Marx - afirmou ser a religião o "ópio do povo") é muito mais ameaçadora à liberdade de culto e de religião.
IV. O perigo dos sindicatos
A verdadeira transformação - a que abalará o mundo - se dará de forma individual, nos corações. Seu sucesso dependerá muito menos da ação humana do que do poder do Espírito Santo. Devemos nos afastar das coletividades, sobretudo se o objetivo delas, declarado ou não, é o mal: “Não seguirás a multidão para fazeres o mal...” (Êxodo 23:2).
Nesse contexto, os sindicatos merecem uma atenção especial, pelo poder de arregimentação, de pressão e de perseguição, bem como pelo papel que terão nos últimos dias. Mais uma vez, muitos adventistas não se dão conta da gravidade do problema, e sindicalizam-se tranquilamente. As citações abaixo são esclarecedoras:
Satanás está ativamente em operação em nossas cidades populosas. Sua obra é observada na confusão, na luta e discórdia entre o capital e o trabalho, bem como na hipocrisia que penetrou nas igrejas. ... A concupiscência da carne, a soberba dos olhos, a ostentação do egoísmo, o abuso do poder, a crueldade e a força empregados para fazer com que os homens se liguem às confederações e uniões - atando-se a si mesmos em molhos para a queima dos grandes fogos dos últimos dias - tudo isso é operação de instrumentos satânicos. Evangelismo, pág. 26. Os ímpios estão sendo atados em feixes, atados em conglomerados comerciais, em sindicatos, em confederações. Não devemos ter nada que ver com essas organizações. Deus é o nosso Soberano, o nosso Governador, e Ele nos convida a sair e separar-nos do mundo. 'Retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras.' II Cor. 6:17. Se recusarmos fazer isso, se continuarmos a nos vincular ao mundo e a encarar toda questão de um ponto de vista mundano, tornar-nos-emos como o mundo. Quando métodos e idéias mundanos governam nossas transações, não podemos colocar-nos sobre a elevada e santa plataforma da verdade eterna. The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 4, pág. 1.142. Os sindicatos serão um dos instrumentos que trarão sobre a Terra um tempo de angústia tal como nunca houve desde o princípio do mundo. (…) Alguns homens combinarão segurar todos os meios que se possam obter em certos ramos de negócio. Formar-se-ão sindicatos, e os que a eles se recusam unir serão homens marcados. (...) Por causa dessas uniões e confederações, logo será muito difícil nossas instituições levarem avante seu trabalho nas cidades. (...) Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 142. Bem depressa se aproxima o tempo em que o poder controlador dos sindicatos será muito opressivo. Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 141. Eventos Finais, pp. 116-117. Negritos acrescentados.
V. Conclusão: Marxismo, terrível ameaça aos valores cristãos
Em 1884, apenas um ano após a morte de Karl Marx, foi fundada em Londres a "Sociedade Socialista Fabiana". O objetivo dos fabianos é socializar o mundo de forma gradativa. Assim, eles criaram os "Estudantes para uma sociedade democrática", que deu origem ao Wheater underground. Este, por sua vez, promoveu todas as mudanças sociais ocorridas nos Estados Unidos da América nos últimos quarenta anos. Segundo o documentário Agenda: Triturando a América[10], o presidente Barack Obama recebeu influências espirituais e ideológicas de Jim Wallis e Willyan Ayers, líderes dessas organizações.
Foi na Itália fascista, contudo, que surgiu a maior força intelectual do socialismo "silencioso": Antônio Gramsci (1891-1937). Esse pensador marxista acreditava que, ao invés de destruir instituições básicas como a Igreja, o socialismo deveria infiltrá-las e usá-las ao seu favor. Seu objetivo era criar um homem que almejasse um governo que cuidaria dele do início ao fim da sua vida. O seu plano genial consistia em tornar o Partido "onipresente e invisível".[11] Assim, por meio de uma espécie de lavagem cerebral coletiva, as pessoas absorveriam valores comunistas (e, portanto, hostis ao cristianismo) sem qualquer vinculação formal a organizações partidárias.
Ora, tal processo está bastante avançado no Ocidente e, infelizmente, as famílias e as igrejas têm sido duramente afetadas. Como disse um professor ateu que tive nos tempos da graduação, as igrejas se tornaram seculares. Os reflexos não poderiam ser mais devastadores para a espiritualidade. Cito apenas alguns dos males: ecumenismo; avanço da agenda feminista e homossexual dentro das denominações cristãs; pouca consideração para com a inspiração da Bíblia, que cada vez mais passam a ser vistas como mera criação literária humana; ênfase em projetos sociais sem proselitismo (tentar converter o pecador tornou-se politicamente incorreto... não podemos nunca abrir mão de pregar a mensagem do terceiro anjo. Cf. Testemunhos para a Igreja, vol. 8, p. 184); músicas, eventos e a adoração de modo geral estão cada vez mais impregnados pelo mundanismo. Enfim, pertencer à igreja tornou-se sinônimo de pertencer a uma comunidade bem intencionada, de pessoas que querem tornar o mundo um lugar melhor, mas que é cada vez menos comprometida com o mundo vindouro.
Não restam dúvidas de que os cristãos - e os adventistas do sétimo dia, em particular - devem se comprometer plenamente com a beneficência social. "Aprendei a fazer o bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas" (Isaías 1:17). Ao nosso Deus, fazer a justiça e o juízo é preferível a fazer sacrifício (Provérbios 31:3). Contudo, não podemos abrir mão dos nossos princípios, e muito menos nos esquecer de que fomos chamados para dar a última mensagem de advertência a um mundo que será destruído. Outros indivíduos e organizações poderão se encarregar de obras de assistência "laicas". Não os criticamos, mas não é essa a nossa missão.
Por fim, existe uma esperança para aqueles que se revoltam com um mundo tão injusto. Já os que se refestelam com essas mesmas injustiças, têm diante de si uma séria advertência. Ela não provêm do marxismo ou de qualquer proposta política. Trata-se de uma solução definitiva e real para o problema, e foi enunciada pelo apóstolo Tiago (5:1-8):
Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós hão de vir. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas de traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias. Eis que o jornal dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras, e que por vós foi diminuído, clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos exércitos. Deliciosamente vivestes sobre a terra, e vos deleitastes; cevastes os vossos corações, como num dia de matança. Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu. Sede pois, irmãos, pacientes até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e serôdia. Sede vós também pacientes, fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está próxima.
Referências:
[1] 'Sejam revolucionários contra cultura do provisório', diz o Papa, O Globo (28//07/2013), disponível em: <oglobo.globo.com/rio/sejam-revolucionarios-contra-cultura-do-provisorio-diz-papa-9249362>. Último acesso a 30 de julho de 2016.
[2] Cf. Ron Du Preez, 1844: coincidência ou fato? Diálogo Universitário, disponível em: <dialogue.adventist.org/pt/18-3/dupreez/1844-coincidencia-ou-providencia>. Acesso a 30 de julho de 2016.
[3] Embaixador Caius Traian Dragomir, entrevista a Olavo de Carvalho. Disponível em: <olavodecarvalho.org/textos/dragomir.htm>. Acesso a 30 de julho de 2016. A bibliografia sobre os horrores do comunismo é vastíssima, embora apenas uma fração dela tenha sido traduzida. Cito, a título de amostragem, O Livro Negro do Comunismo, escrito por Stéphane Courtois et. al. (Bertrand Brasil, 1999), O Passado de uma Ilusão, de François Furet (Siciliano, 1995) e Gulag – uma história dos campos de prisioneiros soviéticos, de Anne Applebaum (Ediouro, 2004). Eu preparei uma seleção de documentários, reportagens e filmes sobre o assunto. Os links estão disponíveis no meu blog: <sou-cesar.blogspot.com.br/2013/09/documentarios-anticomunistas.html>.
[4] Tal foi o erro de Vanderlei Dorneles, no artigo A Bíblia e o fim das Esquerdas. O link desse artigo, bem como a minha refutação ao mesmo, encontram-se no meu blog: <sou-cesar.blogspot.com.br/2016/03/nao-e-o-fim-da-esquerdas.html>.
[5] Cf. A Agenda de Gênero – Redefinindo a Igualdade, disponível em: <escolasempartido.org/images/agenero>. Acesso em 30 de julho de 2016.
[6] Como a grande imprensa está praticamente dominada por esquerdistas, algumas das mais importantes fontes de informação sobre a subversão dos valores judaico-cristãos estão na internet. Além do site do Michelson Borges (criacionismo.com.br), recomendo os sites <midiasemmascara.org> e <juliosevero.blogspot.com.br>, sendo que estes dois últimos não se inserem na cosmovisão adventista e, portanto, devem ser encarados com a devida cautela.
[7] Raymond Aron (1905-1983) já dizia que ele é o ópio dos intelectuais!
[8] Meses atrás, um dos mais importantes portais de notícias do meio evangélico brasileiro deu destaque à história de um pastor que usa dízimos para construir casas para membros carentes: <noticias.gospelmais.com.br/pastor-dizimos-construir-casas-membros-77786.html>. Acesso a 30 de julho de 2016.
[9] CONSTANTINO, Rodrigo. Esquerda Caviar: a hipocrisia dos artistas e intelectuais progressistas no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro: Record, 2014, p. 262.
[10] Disponível em: <youtube.com/watch?v=wUa6DBBmO3s>. Último acesso a 30 de julho de 2016.
[11] Cf. "Onipresente e invisível", de Olavo de Carvalho, Mídia sem Máscara, disponível em: <midiasemmascara.org/artigos/globalismo/12925-onipresente-e-invisivel.html>. Último acesso a 30 de julho de 2016.