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postado em: 27/11/2016
No 17º ano de reinado, Jeosafá escolheu o seu primogênito, Jeorão, para governar como corregente (2 Rs 8:16). Seus demais filhos, por sua vez, governavam importantes cidades fortificadas.
A história do rei Jeorão, narrada em 2 Crônicas 21 e 2 Reis 8:16-24, é uma das mais trágicas dos anais reais do povo judeu. Seu caráter e suas decisões antecipam em séculos O Príncipe, escrito por Nicolau Maquiavel (1469-1527), autor que promoveu a separação entre política e moral (um governante “maquiavélico”, portanto, seria aquele que age sem escrúpulos, tendo em vista apenas alcançar e se firmar no poder).
Se Jeorão era inclinado a ser frio e calculista, sua união com Atalia, filha do rei de Israel, Acabe, e de Jezabel, uma rainha pra lá de “maquiavélica”, só piorou as coisas. Jeorão enxergava seus irmãos como rivais em potencial e tratou de eliminá-los assim que assumiu plenamente o poder. Na purga, foram assassinados também alguns príncipes, o que sugere que os irmãos de Jeorão tinham reunido simpatizantes e partidários entre os homens influentes de Judá. Nesse episódio dramático, é possível que o rei tenha sido influenciado por sua esposa, que mais tarde destruiu toda a descendência real (2 Cr 22:10).
Jeorão governou individualmente de 848 a 841 a.C. No seu reinado atribulado, ele enfrentou a revolta dos edomitas, e ao tentar sem sucesso subjugá-los, foi cercado, escapando ileso por sorte. Além dessa cisão, motivada pelos ataques dos filisteus contra Judá, Libna, que ficava na região baixa do reino, também se rebelou. Deste modo, Judá se enfraqueceu politicamente durante esses oito anos em que foi governada por Jeorão.
No campo religioso, as ações do rei judeu não foram menos desastrosas. Jeorão se prestou a restaurar os altares idólatras que ficavam nos lugares altos, altares esses que foram destruídos por seus predecessores, Asa e Jeosafá (2 Cr 14:3; 17:6). Mais uma vez, Atalia, sua esposa de origem fenícia, contribuiu para que ele tomasse essa decisão. A adoração a deuses pagãos em Judá envolvia a participação nas práticas imorais dos antigos cultos cananeus. Por essa razão, em 2 Crônicas 21:11 a Nova Versão Internacional e a Bíblia de Jerusalém usam o verbo “prostituir-se” no lugar de “idolatria”.
Por todos os seus pecados, o rei recebeu uma carta de terrível advertência de Elias, profeta que “não podia permanecer em silêncio enquanto o reino de Judá estava seguindo o mesmo curso que tinha levado o reino do norte à beira da ruína” (Profetas e Reis, p. 213). Tanto o monarca quanto os seus súditos sofreriam o castigo por terem se apostatado. Jeorão sofreria com uma doença que faria com que suas entranhas fossem expelidas (2 Cr 21:15), e o reino seria invadido por filisteus, arábios e etíopes (v. 16).
Imerso em problemas pessoais e políticos tão graves, Jeorão faleceu sem qualquer demonstração de arrependimento. Seu fim não poderia ter sido mais melancólico: “foi sem deixar de si saudades” (2 Cr 21:20). Segundo o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 3, p. 282, a ele não foram conferidas as honras usuais que consistiam na queima de madeiras e especiarias aromáticas, procedimento de praxe nos funerais reais. Como sinal de desonra, não foi sepultado nos sepulcros dos reis.
A história de Jeorão e dos reis de Judá e de Israel nos trazem inúmeras lições. Sabemos que, independentemente da índole desses líderes, nunca fora plano de Deus que a monarquia fosse instituída entre o Seu povo (cf. 1 Sm 8). Devido à dureza do coração humano, todavia, o Senhor, como um pai sábio, permitiu aos Seus filhos seguirem o caminho que vieram a escolher. Consequentemente, eles colheram todos os frutos do seu erro (1 Sm 8:18).
Além da opressão tributária, das guerras promovidas por pura vaidade e de outros males, a obsessão pelo poder levaria alguns homens a agirem como Jeorão. A partir de então, todos os laços naturais e espirituais poderiam ser rompidos. Famílias inteiras foram literalmente destruídas, alianças com os idólatras foram firmadas e Yahweh, esquecido.
Esquecidos também seriam reis como Jeorão. Para o povo de Judá, seu reinado foi como um pesadelo. Ainda hoje, certos líderes seculares ou religiosos geram um sentimento de indisfarçado alívio ao serem substituídos, seja pelo encerramento do seu mandato, por um impeachment, um chamado ou qualquer outro motivo. Enquanto “reinavam”, seus subordinados amargavam com a opressão, derramando “lágrimas” sem que ninguém viesse a consolá-los, uma vez que “o poder estava do lado dos seus opressores” (Ec 4:1). Felizmente, “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30:5).