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postado em: 23/2/2017
Muita tinta e papel já foram gastos para tratar da função dos professores na sociedade. Atualmente, o tema segue em alta e discute-se muito a formação desses profissionais, sua valorização e condições de trabalho, seu papel num mundo onde há excesso de informação e falta de formação. Não tenho a pretensão aqui de discutir esses e muitos outros aspectos da atividade docente. Limitar-me-ei a apresentar o professor como ministro do evangelho, dentro de um contexto adventista.
Nesse sentido, além de livros de Ellen G. White como Educação (Ed), Fundamentos da Educação Cristã (FEC) e Conselhos a Professores, Pais e Estudantes (CP), recomendo um livro publicado pela Unaspress em 2010: Mitos na Educação Adventista, de George Knight. No seu melhor estilo — aliando clareza à erudição derivada de anos de estudos e ministério — esse professor de Andrews refuta diversos mitos que distorcem, dificultam ou desvirtuam a missão dos educadores adventistas.
"O professor cristão conhece não apenas seu assunto, mas também seus alunos, e ambos dentro do contexto de uma visão de mundo cristã" (KNIGHT, 2010: p. 183; cf. também Ed, p. 280.1). Naturalmente, o professor precisa de tempo para conhecer seus alunos. Este é um ponto que os administradores deveriam ter sempre em mente: o professor não fará um trabalho de qualidade se desdobrando em duas, três ou mais escolas, uma realidade cada vez mais comum na educação brasileira. Seguindo essa lógica — de que "menos é mais" — a mensageira do Senhor nos orienta: "Eliminemos cuidadosamente de nosso curso de estudos tudo quanto pode ser dispensado, a fim de que haja lugar na mente dos estudantes para serem introduzidas as sementes da justiça" (FEC, p. 525).
Nota-se, assim, que muito é esperado do mestre adventista, a quem "é confiada uma grande obra — obra para a qual, em sua própria força, ele é de todo incapaz" (CP, p. 236). O sucesso, portanto, só será possível desde que uma "profunda experiência cristã" seja "associada à obra da verdadeira educação" (FEC, p. 516). Desta forma, interessa antes o "melhor professor" que o "melhor método". A metodologia aparentemente não importa (KNIGHT, 2010: p. 180). Segundo os irmãos Standish, no livro Uma Visão Adventista da Educação, a religião não deve ser considerada "simplesmente como um adendo ao currículo mas como um princípio que permeie o currículo e os métodos de ensino" (STANDISH, Collin D. & STANDISH, Russell R., 2007: p. 21).
Ninguém ignora que a atividade docente seja uma profissão, e o professor tenha os seus direitos e deveres pautados na legislação trabalhista. Mas, antes de tudo, instruir é uma vocação religiosa: "E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres..." (Efésios 4:11, Almeida Revisada Imprensa Bíblica. Todos os negritos são meus). Segundo o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 6, p. 1135, "a estrutura desta frase em grego sugere que Paulo pretende falar de duas fases de uma mesma função. Qualquer ministério efetivo é um ministério de ensino. (...) O próprio Mestre foi o grande pastor-professor, que pastoreava e ensinava o rebanho."
Considerando que as Escrituras assim tratem o ministério de ensino, chama a atenção que, na prática, a docência e a função pastoral estejam tão dissociadas. Conheço um capelão escolar, bem-sucedido e realizado em seu ministério, que certa vez me relatou uma conversa que teve com um colega, pastor distrital. Este perguntou ao referido capelão se ele planejava deixar logo o colégio para assumir um distrito. O capelão respondeu que não, uma vez que estava satisfeito em atuar na educação. O pastor, admirado, retrucou: "Mas você não quer crescer?!"
"Pois a boca fala do que está cheio o coração" (Mateus 12:34, NVI). A declaração infeliz desse pastor está longe de refletir um preconceito isolado (tanto é que, passado algum tempo, o capelão voltou a ser questionado, por outro pastor, se não queria "crescer" na Obra...). Muitas pessoas, tais como esses pastores, consideram o magistério como menos importante, numa hierarquia falaciosa das profissões (nesse sentido, recomendo o capítulo sobre o "mito da hierarquia" no citado livro do Knight). Uma pena! No século XIX, o grande D. Pedro II declarou: "Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro." Nessa linha, George Knight destaca:
O professor cristão é um pastor e ministro do evangelho. A diferença entre os títulos de pastor e professor na sociedade moderna surge da divisão atual de trabalho. A sociedade do século 21 pode ver o professor cristão como aquele que pastoreia na 'escola', e o pastor aquele que ensina numa 'comunidade religiosa maior'. Devemos conscientemente reconhecer que a função deles é essencialmente a mesma, mesmo que sejam pelas definições de hoje, incumbidos de diferentes vinhas do Senhor. Ensinar jovens não é apenas um ato ministerial, mas também uma das mais eficazes formas de ministério, uma vez que afeta a todos na idade mais sensível (KNIGHT, 2010: p. 182).
Que essa reflexão faça com que muitos revejam os seus conceitos. Que os professores que leem este texto tenham uma consciência real das suas responsabilidades. Que os administradores da educação adventista, por sua vez, lhes proporcionem os meios para cumprirem tais responsabilidades (e que por "meios" entendam muito mais que valorização salarial). Que pais e alunos manifestem seu apoio e apreço aos incansáveis "ministros do evangelho" das salas de aula. Pais, professores e pastores militam na mesma seara, e deveriam demonstrar plena união no esforço de guiar os mais jovens aos pés de Cristo. Para a nossa reflexão final, deixo essa pérola dos escritos inspirados:
Deve-se mostrar respeito para com os representantes de Deus — ministros, professores, pais, os quais são chamados para falarem e agirem em Seu lugar. No respeito que lhes é manifestado, Ele é honrado (Ed, p. 244).