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postado em: 22/4/2017
"Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!" 1 Coríntios 9:16.
Para aqueles que acompanham as publicações da Casa Publicadora Brasileira (CPB), o título deste artigo soou familiar. A escolha não foi casual. Começo por recomendar a todos a leitura do pequeno/grande livro A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo, do historiador George Knight. Esse opúsculo deveria ser lido em paralelo a outros dois livros do mesmo autor, publicados pela CPB em 2005 e 2015, respectivamente: Em Busca de Identidade: o Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas do Sétimo Dia e Adventismo - Origem e Impacto do Movimento Milerita. São livros mais que necessários, são urgentes, e eu explico o porquê.
A História pode ser um grande antídoto para a letargia laodiceana. Em sua neutralização (ou "esterilização", termo que prefiro), a igreja de Laodiceia pode se esquecer das lições das igrejas que lhe precederam. Precisa, portanto, relembrar a grande lição da primeira delas, a igreja de Éfeso. Como ela havia deixado o seu primeiro amor, a primeira admoestação que recebeu foi: "LEMBRA-TE, POIS, DE ONDE CAÍSTE..." (Apocalipse 2:5).
Que instrução valiosa! Éfeso havia se esquecido de onde havia caído. Será que ao menos tinha consciência de que havia caído? Bem, entre ela e a autossuficiente Laodiceia, é mais provável que Éfeso se desse conta dessa condição. Em todo caso, eis o primeiro alerta, Laodiceia: LEMBRA-TE DE ONDE CAÍSTE![1]
No mesmo verso do segundo capítulo de Apocalipse, os apelos se sucedem: ARREPENDE-TE, E PRATICA AS PRIMEIRAS OBRAS. Nesse sentido, os livros indicados no início desse artigo são fundamentais para que os adventistas do sétimo dia se reencontrem com a sua História, com os fundamentos da sua fé e propósito de seu chamado: a pregação das três mensagens angélicas.
Dias atrás, ao assistir a um vídeo no YouTube, voltei a refletir sobre o processo de esterilização do adventismo.[2] Nesse vídeo, a partir dos 9 min., há uma declaração estarrecedora envolvendo a nossa igreja. Para facilitar, fiz um print da tela e destaquei o termo que mais nos interessa:
Note a chamada da pesquisa: "As diferenças entre as religiões não são fundamentais. Rotatividade entre as igrejas é alta...". Nesse sentido, um dos entrevistados, um homem de 27 anos, afirmou que para ele não existia esse "negócio de religião [denominação]" - gostava de frequentar igrejas, e no seu "currículo" conta-se a IGREJA ADVENTISTA... Enfim, um frequentador descompromissado que simplesmente não se sentiu impressionado ao conhecer a igreja remanescente. Que triste! Ele chega a enumerar a nossa igreja ao lado de uma outra que, dentre outras coisas, prega a imortalidade da alma, o tormento eterno e a santificação do domingo. Não duvido que esse rapaz tenha frequentado nossa igreja por meses (ou anos) a fio, praticamente sem ouvir pregações sobre a condição do homem na morte, o Juízo ou o selo de Deus. Afinal, essa é a minha experiência, nos meus quase 30 anos de vida (e de membro da igreja), e após frequentar igrejas de diversos lugares (inclusive do exterior) e de níveis sociais (os sermões do tipo "leite com água" estão longe de serem exclusividade de igrejas de periferia). Além disso, assisto a sermões online com certa regularidade.[3]
É, pois, cada vez mais notória a diluição da identidade no vasto espectro religioso pós-moderno. Estamos perdendo nossa vivacidade, utilidade e relevância. Contudo, como lembra o George Knight, "o adventismo nunca se viu como apenas mais uma denominação." "É um movimento evangélico com uma mensagem profética para o mundo centralizada no Cordeiro de Deus e no Leão da tribo de Judá apresentado no Apocalipse" (A Visão Apocalíptica, p. 29). Se retrocedermos aos primórdios do nosso movimento religioso, notaremos que a "dinâmica vital" que impulsionou os mileritas foi uma "profunda certeza, baseada no estudo de Daniel e Apocalipse, de que Cristo estaria voltando em breve" (Adventismo, p. 9).
Quão longe nos afastamos das nossas origens! Se não fosse assim, o jovem que participou da pesquisa citada acima poderia ter frequentado várias igrejas e não ter notado diferenças fundamentais, exceto a Igreja Adventista do Sétimo Dia! Sua declaração é sintoma de um grave mal que nos acomete enquanto denominação...
ONDE CAÍMOS? O Prof. Knight, no mesmo livro supracitado, dá o seu palpite: "(...) No momento em que a igreja se torna politicamente correta em todas as suas reivindicações e perde a quantidade adequada de arrogância santificada em relação à sua mensagem e missão, torna-se estéril, mesmo que continue a vangloriar-se de sua potência" (A Visão Apocalíptica, p. 17).[4]
Desde o início, o povo adventista foi chamado para pregar uma mensagem politicamente incorreta - o Evangelho Eterno, a última Verdade Presente. Ai de nós se não pregarmos esse Evangelho! Como atalaias, podemos estar a cochilar, mas a mensagem que devemos pregar ao mundo é mais urgente do que nunca:
"No próprio tempo em que vivemos, o Senhor chamou Seu povo e encarregou-o de proclamar uma mensagem. Chamou-o para expor a maldade do homem do pecado que fez da lei dominical um poder distintivo, que tem cuidado em mudar os tempos e a lei e em oprimir o povo de Deus que permanece firme para honrá-Lo pela observância do único sábado verdadeiro, o sábado da criação, como sendo santo ao Senhor." Evangelismo, p. 233.[5]
Enquanto não compreendermos a seriedade da nossa missão, não estaremos à altura de cumpri-la. Quando a crise final se abater sobre a igreja, muitos serão despertos, mas poucos estarão preparados. Por ora, a ausência de perseguição contribui para que estejamos conformados com a norma do mundo. E esse conformismo nos "blinda" da perseguição. Como explica a Mensageira do Senhor:
"Por que é, pois, que a perseguição, em grande parte, parece adormentada? A única razão é que a igreja se conformou com a norma do mundo, e portanto não suscita oposição. A religião que em nosso tempo prevalece não é do caráter puro e santo que assinalou a fé cristã nos dias de Cristo e Seus apóstolos. É unicamente por causa do espírito de transigência com o pecado, por serem as grandes verdades da Palavra de Deus tão indiferentemente consideradas, por haver tão pouca piedade vital na igreja, que o cristianismo, é aparentemente tão popular no mundo. Haja um reavivamento da fé e poder da igreja primitiva, e o espírito de opressão reviverá, reacendendo-se as fogueiras da perseguição." O Grande Conflito, p. 48.3.
Gostaria de concluir com uma reflexão compartilhada por um homem de Deus e amigo pessoal. Ela servirá para dissipar qualquer dúvida sobre a gravidade e a amplitude do problema analisado neste artigo.
No ano passado, em viagem a São Paulo, o meu amigo e a sua esposa conheceram o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Eles se encontraram numa Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) da região central da capital paulista. O casal ficou feliz ao ver a forma como os irmãos da igreja receberam o Zé do Caixão - com o mesmo calor, simpatia e atenção dispensados a todos os outros visitantes. Nenhum "tratamento especial", nada de autógrafos, nada de selfies. Não foi tratado como artista, mas como ser humano. Na igreja do Senhor, não existe (ou não deveria existir) "gente famosa". Ali somos todos iguais e igualmente carentes da graça de Deus.
Ora, em virtude de algumas visitas de Mojica à IASD, circulou pelas redes sociais a notícia de que teria se convertido e preparava-se para o batismo (ou já havia se batizado). Porém, desfazendo o "mal entendido", o próprio Mojica deu uma entrevista à Revista VEJA.[6] Eis o que diz a reportagem:
"O ator e cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, esteve no centro de um forte rumor nas redes sociais ao longo da semana. Uma foto de Mojica ao lado da esposa em uma Igreja Adventista do Sétimo Dia, em São Paulo, seria a prova de que o ícone do terror nacional teria se convertido à religião evangélica. Em entrevista à VEJA, Zé do Caixão garantiu que é católico e que não mudou de religião. 'Acompanhei minha mulher, que é evangélica, em um culto da igreja', diz."
Um trecho da reportagem chama a atenção... e, como membro da IASD desde a infância, me senti profundamente triste e, de certa forma, ofendido com o relato que se seguiu. Veja como a reportagem continua:
"De qualquer forma, [Mojica] garante que não sentiu muita diferença entre os dois tipos de cerimônias. 'O pastor fala, as pessoas repetem o que ele diz e todo mundo ora. Pode até mudar uma ou outra coisa no discurso dos religiosos, mas o conteúdo é o mesmo.'"
Esta afirmação é de causar tremenda angústia a qualquer verdadeiro adventista. Que impacto essa declaração causará sobre a mente dos milhões de leitores da VEJA! Que testemunho representa o declarar que "a IASD é como qualquer outra!"
Por que muitas pessoas têm-nos visto como uma igreja evangélica? Por que temos sido considerados por muitos como uma igreja comum, que não difere muito das demais denominações religiosas?
O Senhor nos deixou instruções, dentre as quais...
"Os ministros designados por Deus acharão necessário empregar esforços extraordinários, a fim de atrair a atenção de multidões. E quando tiverem êxito em congregar grande número de pessoas, devem apresentar mensagens tão fora do comum, que o povo seja despertado e advertido." Evangelismo, p. 40-41.
Mensagens fora do comum! Será que é aqui que reside o problema? Temos pregado mensagens absolutamente diferentes daquilo que se ouve nas demais igrejas? Vou além... temos vivido um estilo de vida diferente daquele que é vivido pela sociedade em geral?
Prezados irmãos adventistas, não nos conformemos! Por que oferecer às pessoas aquilo que já encontram em qualquer outra igreja? Sejamos pessoas incomuns! Sejamos uma igreja incomum! O mundo precisa ser despertado e advertido! O Senhor Jesus está voltando; portanto, é hora de despertarmos. É hora de a Noiva de nosso Senhor Jesus Cristo, de forma distinta e incomparável, despontar no cenário profético dos últimos acontecimentos da História (Apocalipse 12:1). É hora da Noiva do Senhor Jesus demonstrar a sua pureza (doutrinária), sua santidade e lealdade ao Noivo Celeste – vestindo o manto celestial da Justiça e, assim, podendo apresentar-se aos olhos do mundo e do Universo como “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Efésios 5:27).
Sim, amados, como escreveu o querido irmão Paulo: “E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos” (Romanos 13:11). É hora de dar o “sonido correto” à trombeta (I Coríntios 14:8), para despertar cristãos sonolentos e conduzir à Verdade milhares e milhares de pessoas que estão seduzidas e inebriadas com o “vinho” (doutrina) prostituído de Babilônia (Apocalipse 14:8).
Finalmente, aproximamo-nos celeremente do momento mais crítico da História deste mundo, conforme profetizado por Isaías, quando as mais densas trevas da imoralidade e do desconhecimento de Deus e da Sua Palavra irão cobrir toda a Terra; pois é este, sem sombra de dúvidas, exatamente o momento mais glorioso desta Igreja: “Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do SENHOR nasce sobre ti. Porque eis que as trevas cobrem a terra, e a escuridão, os povos; mas sobre ti aparece resplendente o SENHOR, e a sua glória se vê sobre ti. As nações se encaminham para a tua luz, e os reis, para o resplendor que te nasceu” (Isaías 60:1-3).
Em meio à pregação das três mensagens angélicas, o convite final da parte de Deus para a salvação; em meio às trevas espirituais que cobrem a Terra, à explosão do espiritismo, ao domínio do secularismo sob novas formas e disfarces e à proliferação de todas as formas de filosofias esdrúxulas, Deus tem uma Igreja (Apocalipse 12:17 e 14:12), Deus tem um povo que lhe é peculiar – “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (I Pedro 2:9, p.p.). Sobre este povo pesa a mais solene missão profética de todos os tempos: “a fim de proclamardes as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (I Pedro 2:9, u.p.).
Não é à toa que este povo, esta Igreja, é apresentado no contexto profético dos eventos finais da História nas seguintes palavras: “Depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, e a Terra se iluminou com a sua glória” (Apocalipse 18:1). Maranata!
***
Agradeço ao meu amigo Elizeu C. Lira pela leitura atenta da primeira versão deste artigo. Sou grato também por suas sugestões enriquecedoras. A responsabilidade pela iniciativa em escrever esse texto e pelas ideias nele expostas são inteiramente minhas.
Referências:
[1] Não se trata de uma queda no sentido de a amada igreja ter sido rejeitada por Deus. A Mensageira do Senhor é clara ao lembrar que "a igreja talvez pareça como prestes a cair, mas não cairá" (Maranata - o Senhor Vem!, p. 204). Essa "queda" deve ser entendida num sentido mais lato, de esfriamento, neutralização, mornidão espiritual.
[2] "Relembre: O PT descobriu que não é dono dos pobres dos pobres", disponível em: <youtu.be/v19ZoyhXjT0>. Último acesso no dia 13 de abril de 2017.
[3] No mundo digital, uma das exceções é o ministério leigo "A Última Verdade Presente". Inscreva-se no seu canal do YouTube: <youtube.com/channel/UCd_MWhxockyXiT3qnkGfvsQ>.
[4] É justamente por causa dessa "arrogância santificada" que as Testemunhas de Jeová tiveram recentemente suas atividades suspensas na Rússia; a decisão final caberá ao Supremo Tribunal do país. As limitações à liberdade religiosa também poderão afetar a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Assista: youtube.com/watch?v=2NlGPcKLXYY. Último acesso no dia 13 de abril de 2017.
[5] Todos os negritos foram acrescentados pelo autor.
[6] In: <veja.abril.com.br/entretenimento/jose-mojica-marins-nao-me-converti. Último acesso no dia 13 de abril de 2017.