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postado em: 20/7/2013
SALMO 37 – COMO PODEM OS ÍMPIOS PROSPERAR?
Como pode um Deus justo ficar aparentemente inerte frente à injustiça da prosperidade dos ímpios? O tema do salmo 37 está expresso nas palavras do verso 7, e trata do grande problema da prosperidade dos ímpios, que muitas vezes nos deixa perplexos e sem resposta.
Esta era a preocupação do salmista Davi: Como podem os ímpios prosperar? Como Deus aparentemente não vê tanta iniquidade, tanta violência e tanto crime, adicionados a tanta roubo, opressão e corrupção descabidos? Como podem prosperar os perversos e corruptos, quando os justos e bons muitas vezes estão sofrendo na miséria?
Em suas profundas meditações e grande experiência de alguém já idoso (V.25), além de ser poeta e profeta inspirado e rei da nação israelita, Davi apresenta os imperativos para todo o seguidor de Jeová Deus e de Jesus Cristo, a fim de que tenha esse assunto claro em sua mente, e não venha a decair em sua fé. Ele responde a indagação com um salmo em forma de acróstico, no original. Ele apresenta como resposta mais convincente o destino dos ímpios em contraste com a recompensa dos justos.
Qual deve ser a nossa atitude frente ao problema da prosperidade imerecida dos ímpios? OS 10 IMPERATIVOS do salmista nos ajudam a enfrentar o problema. O primeiro imperativo de sua coleção é este, embora pareça estranho:
1 – NÃO TE INDIGNES (V. 1)
“Não te indignes por causa dos malfeitores” (v.1) Este é o primeiro imperativo de Davi.
Davi passou por essa experiência. Imagine o salmista encerrado em uma caverna, escondido para que o seu rei [Saul] a quem ele tanto ajudara, não o mate com o seu exército armado. Imagine o grande rei Davi com vestes reais atravessando um rio gelado com a sua família, mulheres e crianças acompanhados de amigos fiéis, levando bagagem pesada, passando fome e frio pelo caminho, enquanto que os seus adversários estavam festejando a vitória sobre ele. Não estaria ele se perguntando: Como podem prosperar os ímpios na sua iniquidade? Como pode um Deus Todo-poderoso deixar que isso aconteça? Ele diz: “Não te indignes por causa dos malfeitores.”
Mas Davi não nos deixa apenas no seu imperativo. Ele nos dá a resposta divina para a nossa inquietação e perplexidade no verso 2: “Pois eles dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde.” Ou seja: Não se preocupe se os ímpios prosperam. A prosperidade deles é passageira, efêmera, porque eles mesmos passarão, e tudo quanto possuem será dado aos justos que possuirão a terra de modo exclusivo e final. Ora, se os ímpios são tão fugidiços, tão transitórios, por que você gastaria tempo e energia em se preocupar com eles?
Aqui podemos ver claramente o Destino dos Ímpios. A maioria dos teólogos protestantes e católicos prega a doutrina do castigo eterno em que os ímpios sofrerão eternamente nos fogos ardentes do Inferno. Eles dizem que enquanto os justos recebem a vida eterna no Céu, os ímpios sofrerão a vida eterna no Inferno. Mas isto seria multiplicar a impiedade, o pecado, a irreverência e a transgressão, porque preservar o malfeitor equivale a preservar o mal e a iniquidade. Graças a Deus, esta doutrina não encontra eco nas Escrituras.
Além disso, prolongar a vida dos perversos a fim de prolongar eternamente o seu castigo não se combina com a justiça de um Deus cujo caráter é amorável e justo por excelência. Como poderia o ímpio sofrer com justiça por toda a eternidade, enquanto Deus existir, se pecou por muito pouco tempo, cerca de 70 anos, em comparação com a eternidade? No mínimo, isso seria completamente desproporcional. Mas a Bíblia afirma que há gradações de culpa (Lc 12:47-48), além de também afirmar a extinção dos ímpios. Mesmo a retribuição de um ser humano depois de um certo tempo se limita e clama, dizendo: “Basta! Deixai-o, já sofreu tanto que chega!”
Robert G. Ingersoll (1833-1899), crítico da religião cristã, viveu uma vida de incredulidade, após ouvir a mentira de que o fogo do Inferno arderá por toda a eternidade a queimar pobres e indefesas criaturas humanas. Ele atacou a Bíblia, usou todos os argumentos da incredulidade contra as Escrituras, e morreu na descrença. Mas, se eu pudesse lhe entregar uma mensagem de esperança, eu lhe diria: Robert, não se preocupe, porque, embora você tenha combatido contra Deus e contra as Sagradas Escrituras, o “fogo eterno” do Inferno não arderá eternamente; isso foi um engano dos seus líderes espirituais!” Mas, infelizmente, não posso dar esse recado ao meu xará, porque os mortos não têm mais a possibilidade de saber ou se comunicar conosco (Ec 9:5-6).
O que nos diz o salmista Davi? Ele apresenta a doutrina bíblica a respeito dos malfeitores: Os ímpios não participam da vida eterna, nem no Céu nem no Inferno. Seu castigo será terrível; porém, não eterno. O seu fim logo virá. Eles serão consumidos para sempre. Isto é dito no Antigo e Novo Testamentos. Note o que disse o salmista neste Salmo 37:
1 - Os ímpios murcharão: “Pois eles dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde” (v. 2,20).
2 - Os ímpios serão exterminados: “Os malfeitores serão exterminados” (v. 9, 22,28,34,38).
3 - Os ímpios passarão: “Mais um pouco de tempo, e já não existirá o ímpio; procurarás o seu lugar e não o acharás” (v. 10).
4 - Os ímpios serão traspassados: “A sua espada ... lhes traspassará o próprio coração” (15).
5 - Os ímpios serão quebrados: “Pois os braços dos ímpios serão quebrados” (v. 17).
6 - Os ímpios perecerão: “Os ímpios perecerão” (20).
7 - Os ímpios serão aniquilados: “Os inimigos do Senhor serão... aniquilados” (v. 20).
8 - Os ímpios se desfarão: “Se desfarão em fumaça” (v. 20).
9 - Os ímpios serão destruídos: “Quanto aos transgressores, serão, à uma, destruídos” (v. 38).
10 - Os ímpios desaparecerão: “Vi um ímpio prepotente a expandir-se qual cedro do Líbano. Passei, e eis que desaparecera; procurei-o, e já não foi encontrado” (v. 35-36).
Depois destas 10 afirmações, exceto se passou por uma lavagem cerebral, ninguém pode em sã consciência afirmar que os malfeitores continuarão a sua vida denegrindo o caráter de Deus com as suas blasfêmias no Inferno por toda a eternidade. As afirmações mais categóricas do salmista são usadas para responder à pergunta: Para onde irão estes ímpios que prosperam apesar de sua impiedade?
O seu destino já está reservado: eles serão destruídos, se desfarão em cinzas, serão exterminados completamente, e desaparecerão para sempre. Jamais serão vistos novamente, jamais lembrados, jamais viverão outra vez. Extinção completa, aniquilamento e esquecimento total. Nada de Inferno eterno. O Universo inteiro será purificado da mácula do pecado para sempre. Voltará a felicidade dos justos eternamente.
2 – NÃO TENHAS INVEJA (V. 1)
“Nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade”.
A prosperidade é algo que atrai a inveja dos que desejam ter uma vida fácil e confortável. É por isso que muitos enveredaram pelo caminho do tráfico das drogas e da corrupção. Mas, quem, em um momento de lucidez, invejaria um ímpio que prospera? É muito interessante a afirmação de um pregador: “Quem invejaria ao boi gordo com faixas e grinaldas que o decoram, quando é levado ao matadouro? Pois bem, … o ímpio rico não é mais que um animal engordado para o matadouro.”
Colocados um ao lado do outro estes dois imperativos [Não te indignes, nem tenhas inveja] longe de serem sinônimos, são antagônicos. Indignação é uma repulsa, enquanto que a inveja é um desejo de posse. Indignação é agressiva, enquanto que a inveja parece passiva. Aqui temos dois sentimentos contrários. O indignado rejeita, o invejoso aceita. Entretanto, muitos que parecem indignados, estão apenas lamentando por não estar na posição dos invejados.
Portanto, considerando a nossa natureza sutil, uma pessoa que se demonstra externamente indignada, irada, revoltada, está às vezes, revelando a sua inveja interna. Isso aconteceu com os líderes judeus que se indignaram diante da alegada blasfêmia de Cristo apenas por inveja (Mc 2:7; 15:10). Mas eles estavam apenas acariciando sentimentos maus contra um homem justo, o que é totalmente inaceitável.
Ora, se é inaceitável qualquer sentimento de ira ou mesmo de inveja contra um justo, alguém poderia dizer que isto é justificável para com os ímpios e maus. Entretanto, qualquer sentimento de ira, inveja ou vingança contra eles será um julgamento contra a administração de Deus, que, com Sua infinita e insondável sabedoria, preserva os ímpios mesmo em sua mais crassa impiedade e corrupção. Nunca esqueçamos as palavras do sábio Salomão: “Não te aflijas por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos perversos”. “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos.” Pv 24:19; Pv 14:30.
3 – CONFIA NO SENHOR (V. 3)
Este é o 3º imperativo, um imperativo duplo, porque um completa e resulta no outro: “Confia no Senhor e faze o bem”.
No contexto deste salmo, é mister confiar em Deus, quando nos vem à lembrança que os ímpios estão prosperando e nós indo de mal a pior, em posições contrárias (2Tm 3:13). Há homens do passado que tiveram de confiar em Deus, depois de passarem por idêntico problema.
O patriarca Jó que sofria sem saber por quê e acusado pelos amigos (Jó 21); José como escravo do Egito (Gn 39:1,20); Davi neste Salmo (Sl 37) e Asafe que quase desistiu (Sl 73: 2-3), além de Jeremias que disse: “Por que prospera o caminho dos perversos, e vivem em paz todos os que procedem perfidamente?” (12:1), e o povo do tempo de Malaquias que dissera: “Ora, pois, nós reputamos por felizes os soberbos; também os que cometem impiedade prosperam, sim, eles tentam ao Senhor e escapam.” (Ml 3:15) – todos estes alcançaram a vitória porque confiaram em Deus plenamente.
Confiar em Deus é uma necessidade de todos os que se sentem fracos e dependem de Alguém que é Todo-poderoso. Precisamos confiar em Deus quando os ímpios tramam contra nós enfurecidos, rangendo os dentes (v. 12). Precisamos confiar em Deus quando “os ímpios arrancam da espada e distendem o arco para abater o pobre e necessitado, para matar os que trilham o reto caminho” (v. 14). Precisamos confiar em Deus quando temos pouco e os ímpios têm em abundância, sabendo que o pouco dos justos vale mais (v. 16).
Precisamos confiar em Deus para não sermos envergonhados no dia do mal, e nos dias da fome sermos fartos (v. 19), porque o justo jamais será desamparado (v. 25). Devemos confiar em Deus quando “o perverso espreita ao justo e procura tirar-lhe a vida” (v. 32), sabendo que o Senhor não nos deixará nas suas mãos homicidas, nem nos condenará no dia em que formos julgados em tribunal (v. 33).
Mas muitas pessoas ficam só na primeira parte do imperativo. Muitos ficam numa confiança imóvel. Entretanto, temos que agir: “Faze o bem” (v. 3), diz o poeta. O que significa fazer o bem? “Habita na terra e alimenta-te da verdade” (v. 3), ou seja: Vive no lugar em que Deus o colocou em amor e justiça, e na esfera em que Ele deseja que você atue; você não precisa ficar vagueando de um lugar para outro, pela sua segurança e estabilidade. Fazer o bem significa praticar as obras da justiça divina no lugar onde Deus determinou para nós.
Então, demonstre que a verdade de Deus tem poder em sua vida, porque você se alimenta dela. Alimentar-se da verdade é alimentar-se do próprio Cristo que é a Verdade, o Pão que desceu do Céu: “Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o Pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.” “Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a Mim.” (Jo 6:35,45; 14:6).
E mais: Você poderá dizer ao mundo ímpio que você é livre mesmo quando eles o prenderem em suas celas, porque a verdade liberta os seus possuidores, e você estará pronto a dar o seu testemunho a favor da verdade, só a verdade e nada menos do que a verdade. Disse Cristo: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8:32). Especialmente quando a verdade é um alimento diário, quando temos o privilégio de nos alimentarmos dela continuamente, assim como nos alimentamos de nosso pão cotidiano.
Enquanto confiamos em Deus, fazemos o bem e andamos na verdade. Esta será a maior arma contra os inimigos que desejam nos condenar: eles não terão nada de que nos acusar, a não ser buscar alguma coisa em nossa devoção. Isso aconteceu com Daniel, mas ele foi logo livrado da boca dos leões famintos. Ele confiava em Deus, mas continuou a fazer o bem, orando ao Altíssimo, habitando na terra onde Deus o colocara, alimentando-se da verdade, e levando a sério a sua devoção, sem se importar com o que os outros diziam.
4 – AGRADA-TE DO SENHOR (V. 4)
Aqui temos um imperativo seguido de uma promessa: “Agrada-te do Senhor e Ele satisfará os desejos do teu coração” (v. 4). A Bíblia tem ordens e imperativos, mas sempre acompanhados de promessas e bem-aventuranças. Quando obedecemos às ordens, podemos esperar o cumprimento das promessas. “Ele satisfará os desejos do teu coração.”
O que significa esse imperativo? Agradar-se do Senhor é uma experiência de relacionamento pessoal de amor para com Deus, de tal modo que O amamos independentemente das circunstâncias que nos envolvem. Isto inclui mesmo passarmos por sofrimento ocasionado por ímpios que nos afligem e prosperam. Não podemos concordar com os maus; porém, nos agradamos de Deus que nunca nos decepcionou. Nessas ocasiões especiais, o adorador de Jeová está disposto a fazer a Sua vontade, e se deleita em Deus, assim como disse Maria, mãe de Jesus: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (Lc 1:46-47).
Mas o que significam as palavras da promessa: “Ele satisfará os desejos do teu coração”? Pareceria que agora temos o cumprimento de nossos mais íntimos desejos e tendências, mesmo que irrelevantes ou pecaminosos? Bastaria nos agradar de Deus? Temos aí a garantia de que todas as nossas orações ainda nem apresentadas serão atendidas? De fato, como serão os nossos desejos, quando nós nos deleitamos em Deus?
A resposta deve ser dada à luz das palavras do mesmo salmo que diz: “A boca do justo profere a sabedoria, e a sua língua fala o que é justo. No coração, tem ele a Lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão” (v. 30-31). Nossos desejos estarão afinados de acordo com a justiça e sabedoria da Lei de Deus, gravada em nosso coração.
Deleitar-se em Deus é tanto um privilégio como um dever. Mas Ele não prometeu satisfazer os apetites pervertidos do corpo, a sua intemperança ou o temperamento da vaidade, mas os desejos da alma renovada e santificada. Qual é o desejo do coração de um homem renovado que tem a Lei de Deus no coração? É conhecer, amar e servir a Deus. Por isso mesmo foi que o salmista Davi disse: “Agrada-me fazer a Tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua Lei” (Sl 40:8).
5 – ENTREGA O TEU CAMINHO AO SENHOR (V. 5).
“Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle, e o mais Ele fará” (v. 5). Uma ordem, seguida de outra ordem, porque ambas se explicam, seguidas de uma grande promessa.
Uma das coisas mais difíceis de se fazer é entregar o nosso caminho a Deus. Queremos dirigir os nossos passos em um caminho que já traçamos por nossa própria sabedoria, e julgamos que vamos indo muito bem. E até nos elogiamos por nossas proezas. No final, vemos que perdemos tempo, energia e propriedades, simplesmente por não seguirmos o caminho de Deus. Então, resta lamentar e prometermos a nós mesmos não fazer mais isso, apenas para repetirmos a mesma rotina no dia seguinte.
O que significa entregar o nosso caminho a Deus? Salomão nos ajuda a identificar o nosso caminho, em um verso paralelo, dizendo: “Confia ao Senhor as tuas obras, e os teus desígnios serão estabelecidos” (Pv 16:3). Nosso caminho são as nossas obras, todos os afazeres e negócios da vida, as coisas que fazemos, e nas quais andamos. Devemos entregar todas as nossas obras, os nossos planos, as nossas afeições, os nossos sentimentos, e desejos do coração. Tribulações, provações, aflições pelas quais estamos andando. Tudo deve ser entregue a Deus, em forma submissa e contente.
Portanto, entregar o caminho ao Senhor é outra maneira de dizer “Confia no Senhor” (v. 3), pois aqui estão as palavras do salmista, em seu duplo imperativo: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle” (v. 5), em forma de paralelismo sinônimo. Quando entregamos o nosso caminho a Cristo Jesus, Senhor nosso, nós confiamos a Ele todas as coisas em que estamos envolvidos, buscando dEle a direção, quanto às nossas vontades e necessidades, certos de que Ele cumprirá todas as Suas promessas.
Enfim, entregar o caminho a Deus significa mais: “Consagre-se a Deus pela manhã; faça disso a sua primeira atividade. E ore: ‘Toma-me, ó Senhor, para ser Teu inteiramente. Deponho todos os meus planos a Teus pés. Usa-me hoje para o Teu serviço. Fica comigo, e que tudo o que eu fizer seja operado por Ti.’ Essa e uma questão diária. Cada manhã consagre-se a Deus para aquele dia. Entregue-Lhe todos os seus planos para saber se devem ser levados avante ou não, de acordo com o que Sua providência indicar. Assim, dia após dia, você poderá entregar sua vida nas mãos de Deus, e ela será cada vez mais moldada segundo a vida de Cristo.” (EGW, Caminho a Cristo, p. 45).
E aqui temos a Sua promessa que acompanha o imperativo de entregarmos tudo a Deus: “Ele tudo fará” (v. 5). Isso não significa que ficaremos na ociosidade, de braços cruzados, sem fazer nada, apenas esperando que Deus faça todas as coisas por nós. De fato, aquilo que nós podemos realizar, Ele Se nega a fazer. Lázaro estava morto, e diante da sepultura do Seu amigo, Cristo ordenou que tirassem a pedra que cobria a entrada. Jesus podia ter dado um sopro e a pedra seria rolada e removida. Mas Ele não faz aquilo que nós podemos fazer.
Ele não poderá fazer tudo se não entregarmos tudo a Ele. Portanto, entregar o nosso caminho a Deus significa entregarmos tudo o que temos a Deus, e esperar que Ele faça tudo de acordo com a Sua vontade. E a Sua vontade inclui fazermos tudo o que Ele nos ordenar, independentemente daquilo que já planejamos em contrário.
O que mais o Senhor fará? “Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia” (v.6). No que tange à nossa reputação, quando formos caluniados, quando formos acusados injustamente, também devemos ficar quietos e deixarmos nossas reivindicações e angústias diante de Deus, entregando-Lhe tudo o que nos oprime, em relação às injustas insinuações dos outros. A Sua promessa consoladora é que Ele fará resplandecer aquilo que fizemos para que todos possam ver claramente a retidão de nossos atos. E a glória voltará para Ele: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus“ (Mt 5:16).
6 – DESCANSA NO SENHOR (V. 7)
O 6º imperativo é triplo: “Descansa no Senhor e espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera em seu caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios.” Aqui temos a ordem tríplice para descansar, esperar, e não se irritar. E aqui de modo mais claro se destaca o tema deste salmo: “por causa do homem [ímpio] que prospera em seu caminho!”
Deus sabe que precisamos de descanso. Estamos cansados deste mundo de pecado, cheio de mentiras, desonestidades e crimes. Estamos cansados de ver pessoas cansadas da justiça. Como disse o grande Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto" (Obras Completas, v. 41, t. 3, 1914, p. 86).
Jesus Cristo sabe que necessitamos de descanso. Ele ainda nos convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11:28-30).
Descansar em Deus no original hebraico é ficar em silêncio diante dEle. “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46:10). É preciso parar de falar, parar de reclamar e de se indignar diante dos ímpios e perante Deus. É preciso parar de acusar a Deus porque os ímpios não são castigados logo que cometem a iniquidade, ou porque os justos não são recompensados ou reconhecidos de imediato. Temos que aprender a calar ou descansar na sabedoria divina, e esperar nEle, confiando em todas as ocasiões, que tudo está em Suas mãos e que Ele a Seu tempo dará um final justo e perfeito ao nosso mundo para testemunho do universo.
7 – DEIXA A IRA (V. 8)
“Deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal. Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no Senhor possuirão a terra” (v. 8-9).
Aqui temos novamente um imperativo em ampliação: Há aqui outro imperativo tríplice: “Deixa a ira (1), abandona o furor (2), não te impacientes (3).” Há uma admoestação: “Certamente isso acabará mal!” Há uma razão convincente: “Porque os malfeitores serão exterminados!” E há também uma promessa alvissareira: “Os que esperam no Senhor possuirão a terra.”
Observando as condições prevalecentes em nosso mundo moderno, vemos tantos malfeitores, tantos pecadores, tantos perversos, ladrões, assassinos e corruptos. Mas muitas vezes não podemos deixar de ficar impacientes ao ver como prosperam os ímpios em sua maldade. Como ficar inertes diante de bandidos que roubam a sua casa e ainda matam toda a sua família diante dos seus olhos e você impotente tem que contemplar a barbárie de homens ímpios, perversos e maus, que ainda saem dando risadas escarnecedoras? Este sentimento de ira não precisa ser erradicado, mas controlado. Como disse Lutero sobre o Salmo 37: “Aqui está a paciência dos santos.”
Com efeito, o cristão não é caracterizado pela ira, pelo furor, ou pela impaciência, mas pela mansidão. Mas eles não podem competir com os justos porque a garantia é de que os malfeitores serão exterminados e desaparecerão do universo, “mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz” (v. 10, 11). Cristo usou essas palavras e acrescentou um elogio aos mansos no Seu Reino (Mt 5:5): “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.” Esta é a promessa de Cristo e está em toda a Bíblia.
Há uma crença errônea de que os justos hão de morar no Céu, eternamente, com os anjos. Assim dizem muitos teólogos protestantes e católicos. Mas os ensinos e as promessas da Palavra de Deus indicam para outra direção. A Bíblia ensina no Apocalipse que haveremos de morar com Deus no Céu onde Ele está hoje, por mil anos (Ap 20), mas depois disso, todos os justos e anjos virão para esta Terra, quando a Nova Jerusalém descerá do Céu (Ap 21:2), e Deus estabelecerá o Seu trono de glória aqui neste mundo (Ap 21:3) para sempre (Dn 7:14).
A razão para isto está no fato de que Cristo esteve aqui pessoalmente, morrendo na Cruz do Calvário, e derramando o Seu precioso sangue por nossa Salvação, exaltando a importância desta Terra por toda a eternidade e diante de todo o Universo.
Então, se cumprirá a promessa: “Os que esperam no Senhor possuirão a terra” (v. 9); “Os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz” (v. 11); “Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre” (v. 29); “Pois eis que Eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas” (Is 65:17); “Nós, porém, segundo a Sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2Pe 3:13); “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Ap 21:1).
8 – APARTA-TE DO MAL (V. 27)
“Aparta-te do mal e faze o bem, e será perpétua a tua morada. Pois o Senhor ama a justiça e não desampara os seus santos; serão preservados para sempre” (v. 27-30)
No grande conflito entre o bem e o mal, o salmista nos orienta: “Aparta-te do mal e pratica o bem” (v. 27). Vivemos em um mundo cheio de mal; porém, precisamos nos apartar do mal, hoje mais do que nunca. Quando deixamos a ira, estamos nos apartando do mal. Quando evitamos os maus sentimentos, estamos nos apartando do mal. Quando deixamos de lado a violência, estamos nos apartando do mal. Quando evitamos a sensualidade, estamos nos apartando do mal.
Os homens santos do passado tinham a coragem de obedecer a este imperativo, que é o clamor da consciência espiritual: “Aparta-te do mal.” Isso requer muito poder espiritual, porque o mal em nossa natureza clama por satisfação. Não basta dizer como a grande maioria sem Cristo diz: “Eu sou bom, porque eu não mato, não roubo, não adultero, não desejo o mal para o meu próximo, não fumo, não bebo, não uso drogas,...” e a lista vai longe de coisas que não fazem, mas que, contudo, não se constituem numa forte tentação.
É preciso ir mais a fundo e perceber a maldade da natureza nas coisas mais sutis, mais básicas como a cobiça, o egoísmo, a avareza, a preguiça, a gulodice, a inveja, a luxúria, e por aí vão os pecados capitais. Destes pecados devemos nos apartar com o auxílio do Espírito Santo, que nos fortalece a vida espiritual.
Mas mesmo isso não é suficiente. Não basta nos apartarmos do mal, negativamente. É preciso ir além disso. Muitos pensam que a vida cristã se resume em não fazer o que é considerado mal. Não praticam o pecado e se satisfazem com isso, achando que esta é a sua parte. Mas isso não é suficiente. O 10º imperativo duplo se completa ao dizer mais: “Faze o bem!” Não só nos aparatamos do mal, mas ao mesmo tempo fazemos o que é bom, e praticamos o bem.
Acerca de Jó, lemos que ele se desviava do mal (Jó 1:1). Mas ele não ficou só nisto, por mais importante que isto seja. Jó adorava ao verdadeiro Deus, negando os falsos ídolos (Jó 31: 24-28); ele repartia o seu pão com os pobres e com as viúvas (v. 16-17); ele cobria os necessitados com roupas e cobertas (v. 19); praticava a justiça nos tribunais e defendia os órfãos (v. 21); ele atendia bem aos seus servos, dando-lhes a razão (v. 13); ele respeitava os seus inimigos (29-30); hospedava os estrangeiros e praticava a hospitalidade sem acepção para com os viajantes (v. 32). Leia o capítulo todo (Jó 31), e você verá o que significa realmente apartar-se do mal e praticar o bem!
Para fazer o bem, precisamos amar a verdade, amar a justiça e odiar o pecado. De Cristo, lemos: “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade” (Hb 1:9). Certa vez, um pastor encontrou um membro de sua igreja fumando. Quando ele percebeu que não podia mais se esconder e disfarçar o cigarro, disse ao pastor: “Você me pegou. Mas eu odeio esse vício.” O pastor lhe perguntou: “Até que ponto você o odeia? Você odeia esse vício a ponto de largá-lo?” Então, o homem lhe disse: “Agora, você me pegou de novo. Eu quero deixá-lo e de agora em diante, eu odeio isso de fato, e deixo de fumar!” O pastor fez uma oração e aquele homem nunca mais voltou ao vício. Ele agora estava pronto para fazer o bem. Para fazer o bem, é preciso se purificar primeiro, apartar-se do mal, odiando o pecado e a iniquidade, e praticar a verdade e a justiça.
E qual será a recompensa? Qual é a promessa? Leia de novo essas palavras cheias de esperança, no v. 27: “E será perpétua a tua morada!” Que gloriosa promessa! Que esperança estimulante! Vivemos em um mundo em que a nossa morada é transitória e passageira. Outras pessoas vão nos substituir, e ocupar ao nosso lugar, onde agora habitamos. Mas, se nos separamos do mal, praticamos o bem, então, satisfeitas as condições, a promessa nos pertence, com todas as letras!
Logo, temos a segurança de quem nos deu a promessa, v. 28-29: “Pois o Senhor ama a justiça e não desampara os Seus santos; serão preservados para sempre, mas a descendência dos ímpios será exterminada. Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre.” A nossa morada será perpétua, eterna, junto a um Deus imortal! Nunca temos um imperativo sem uma gloriosa promessa. Pois se Deus ama a justiça, os Seus santos refletem essa justiça: “A boca do justo profere a sabedoria, e a sua língua fala o que é justo” (V. 30).
9 – ESPERA NO SENHOR (V. 34)
“Espera no Senhor, segue o Seu caminho, e Ele te exaltará para possuíres a terra.” Aqui temos outro imperativo duplo e uma promessa de exaltação e prosperidade para os humildes e mansos.
Ninguém gosta de esperar, mesmo que seja por Deus. Aliás, a tendência é pensar que, se Deus é Todo-poderoso, então, não precisamos esperar por Ele; Ele é que tem que esperar por nós que somos tão limitados. Mas, Ele pensa diferente de nós, tem planos que para nós são impenetráveis e desconhecidos, e muitas vezes, perdemos a paciência com Ele, e há certas pessoas que até dizem que Deus os decepcionou. Mas, pacientemente, depois de esperar muitas vezes por nós, Ele nos ordena que esperemos igualmente por Ele: “Espera no Senhor!”
E, se o único Senhor de toda a Bíblia é Jesus Cristo (1Co 8:6; Ef 4:5), então, esperar no Senhor é esperar em Jesus Cristo, o nosso Salvador, que morreu por nós. Portanto, temos em Cristo Aquele que é o nosso Salvador, mas também é o nosso Senhor. Nunca nos esqueçamos de que primeiro Ele nos salva e depois, recebemos o Seu amorável convite: “Segue-Me!” (Mt 9:9). E, como Mateus, que ouviu este convite, haveremos de segui-Lo, deixando tudo para trás. Portanto, Davi se dirige a nós e nos diz neste penúltimo imperativo duplo do Salmo 37: “Segue o Seu caminho!” (v. 34). Se já seguimos o Seu caminho como nosso Salvador, por que não O seguiríamos como o Senhor de nossa vida? Se Ele já deu a Sua vida por nós, o que não faríamos por Ele?
Daí, teremos o cumprimento de Sua promessa: “Ele te exaltará para possuíres a terra” (v. 33). Davi sabia muito bem o que era ser humilhado, diante do seu povo, diante de sua família e diante de Deus. Mas também sabia o que era ser exaltado, porque, depois de tanta humilhação, ele foi enaltecido como o rei de Israel como ninguém jamais fora, além de ser um tipo de Cristo, e pai do Messias.
Mas, mesmo depois de ser assim exaltado, Davi ainda não chegou a possuir a terra, porque ele, como outros heróis da fé, ainda não pôde ver a concretização da promessa (Hb 11:32,39). Isso acontecerá após o Milênio (Ap 20-21). Então, todos os justos serão exaltados para receber o reino eterno de Deus para todo o sempre (Dn 7:27).
10 – OBSERVA O HOMEM ÍNTEGRO (V. 37)
“Observa o homem íntegro e atenta no que é reto; porquanto o homem de paz terá posteridade” (v. 37).
A Bíblia disse a respeito de Jó, cito novamente o patriarca do sofrimento e da paciência: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (Jó 1:1). Por que será que isso foi escrito na Bíblia? Foi escrito para que nós pudéssemos observar homens íntegros, a fim de aprendermos deles, e imitarmos o seu exemplo em nossa vida.
Jó foi um dos homens de Deus que enfrentou o grande problema da prosperidade dos ímpios. Ele não podia entender esse assunto e disse: “Como é, pois, que vivem os perversos, envelhecem e ainda se tornam mais poderosos? ... Passam eles os seus dias em prosperidade e em paz descem à sepultura. E são estes os que disseram a Deus: Retira-te de nós!” (Jó 21:7, 13-14). Mas Jó saiu vitorioso e recebeu de volta em dobro todas as coisas e os filhos que perdeu. Mas qual foi o segredo de Jó? Apesar de muitas dúvidas a respeito das razões do seu sofrimento, pôde dizer: “Eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19:25).
Disse o salmista em seu décimo imperativo: “Observa o homem íntegro!” Contemple o patriarca Noé. Disse Deus a respeito dele: “Eis a história de Noé. Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé andava com Deus.” (Gn 6:9).
Ao observarmos a esse homem íntegro, veremos que ele era de tal fibra de caráter, não em uma cidade celestial, mas em uma terra cheia de corrupção e violência (v. 11). No entanto, pôde revelar aos homens antediluvianos que ele era diferente, porque andava com Deus. Aqueles homens ímpios não terão desculpas no dia do Juízo. O homem que é íntegro se torna vitorioso. Ele não se intimida com o problema da prosperidade dos ímpios, porque todos eles serão exterminados, assim como aconteceu no Dilúvio.
Mas o último imperativo também é duplo e nos diz mais: “Atenta no que é reto” (v.37). Assim como observamos aos homens íntegros, contemplamos a retidão, as virtudes que são a expressão da justiça de Deus, e continuamos praticando o que agrada a Deus e seguindo o caminho reto. E pela contemplação seremos transformados.
E qual será a nossa recompensa? A promessa que nos estimula ao cumprimento do seu último imperativo? “O homem de paz terá posteridade” (v. 37). Os transgressores serão destruídos e a descendência dos ímpios será exterminada (v. 38), mas os justos terão uma posteridade abundante como a areia do mar, senão aqui lá no Céu. Imagina, quantos filhos, quantos amigos e companheiros e anjos que nunca pecaram nós teremos lá! Sem contar com os amigos dos bilhões de mundos afora em todo o universo! Lá poderemos contar a nossa história e de quão maravilhoso foi Jesus Cristo para conosco! Esta é a verdadeira posteridade e com ela a verdadeira prosperidade.
CONCLUSÃO
Como Davi termina este salmo? Quais são as últimas promessas inspiradas na conclusão do Salmo? “Vem do Senhor a salvação dos justos; Ele é a sua Fortaleza no dia da tribulação. O Senhor os ajuda e os livra; livra-os dos ímpios e os salva, porque nEle buscam refúgio.” (v. 39-40). Portanto, vamos buscar o refúgio em nosso grande e maravilhoso Deus, que certamente nos dará a salvação hoje e eternamente. Vamos confiar em Deus e entregar o nosso caminho e todos os nossos projetos ao Todo-poderoso. Vamos descansar e esperar nEle, e vamos seguir o Seu Caminho. Porque disse Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida! ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Jo 14:6).
Pr. Roberto Biagini
Mestrado em Teologia
[email protected]
17/07/2013.