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postado em: 26/6/2014
Não Acompanhe a Multidão!
“Não acompanhe a multidão na prática do mal” (Êxodo 23:2, BV).
Multidão é um agregado pacífico ou tumultuoso de pessoas que ocupam determinado espaço físico. Possui as seguintes características: é desordenada, descontrolada, anônima, desinibida. Pode ser fanática, é constituída de unidades uniformes; os fins e os sentimentos estão enquadrados pelo mais baixo denominador comum; a interação manifesta-se em termos de emoções generalizadas; os participantes adquirem segurança e poder; apresenta uma idéia fixa; pode dar expressão [enunciar por palavras ou gestos] aos motivos inconscientes, reforçados pelo caráter cumulativo e circular de grande agitação.
As formas básicas de multidão apresentam os seguintes modelos: multidão em pânico, gerado por um “perigo comum”, que exalta a intensidade dos estímulos entre os indivíduos; multidão casual, que se reúne para observar um acidente, uma construção; arruaça ou conflito, em manifestações de ruas, conflitos étnicos; multidão ativa, turba, caracterizada pela existência de um alvo ou objetivo para o qual se canaliza a ação, como por exemplo, pessoas se aglomerando em torno de um personagem famoso ou para ver a prisão de um assassino. A turba pode se transformar em tumulto; multidão expressiva, a excitação é descarregada sem regras preestabelecidas através do simples movimento físico que tem a finalidade de afrouxar a tensão, por meio de festas e rituais como o carnaval; multidões convencionais ou auditório: o comportamento se expressa de modo preestabelecido e regularizado, possuindo duração limitada.
Na atualidade, observa-se um novo perfil de multidão que são as massas. MMassa é uma coleção abstrata de indivíduos, recebendo impressões e opiniões já formadas, veiculadas pelos meios de comunicação e mídia de forma geral. A existência da massa implica em uma elite reduzida, pensante, ativa, dominante, formadores de opiniões como religião, cultura, moda, tecnologia, política, etc. Por não estar aglomerada ao redor de um acontecimento, por ser uma multidão solitária, a massa é de fácil manipulação. A maior ambição de um integrante da massa é ser aceito, e, para isso, faz qualquer coisa, compra qualquer coisa, veste qualquer coisa, ouve qualquer coisa, se submete a qualquer coisa para se adequar, reproduzindo os outros em tudo.
Como a massa não pensa, ela precisa de alguém que pense por ela, precisa de um pai que lhe diga o que fazer. Esse papel já foi exercido por líderes políticos, como Hitler e Getúlio Vargas. Não é à toa que o líder brasileiro era chamado de “pai dos pobres”.
Hoje, quem normalmente exerce essa função são figuras importantes da mídia, tais como apresentadores de TV, cantores populares, religiosos ou políticos carismáticos, etc. Como obedece cegamente aos impulsos recebidos pela mídia, a massa pode adotar um tom de verdadeiro fanatismo contra qualquer um que ouse discordar de seus pontos de vista.
Interesse pela conduta das multidões
O interesse pelo comportamento das multidões teve início no final do século XIX, na Europa, especialmente em Paris. Em 1895, o psicólogo social e sociólogo francês Gustave Le Bon [7 de maio de 1841 – 13 de dezembro de 1931] escrevia o importante trabalho intitulado “A PSICOLOGIA DAS MULTIDÕES”. LLe Bon defende que, quando no meio de uma multidão, o homem regressa para um estado mental primitivo. Uma pessoa que, no dia-a-dia, costuma ser comedida e culta, torna-se capaz, em determinadas circunstâncias, de agir como um bárbaro e está propenso a agir de uma forma violenta. Perde suas faculdades críticas na extensa massa de gente.
As pessoas na multidão perdem suas inibições e padrões morais, e tornam-se fortemente emotivas, diz Le Bon. Este emocionalismo, esta irracionalidade, presta-se ao poder da sugestão, por meio do qual a conduta de um indivíduo pode ser determinada pelas suas percepções e as ações de outros ao redor dele. Insuflada a revolta, os líderes de tais manifestações, desde que bem escolados, conduzem as massas na direção que desejam.
Psicologia das Multidões influenciou o próprio Freud, ainda no começo do século XX, a escrever Psicologia das Massas e Análise do Eu, “teorizando que a identificação com os líderes de grandes movimentos suprimiria a capacidade de autocrítica uma vez que o líder faria as vezes do superego, na terminologia psicanalítica, e a partir daí seria possível comportar-se de maneira antes inimaginável” (Dr. Daniel Martins de Barros, ESTADÃO/Blogs, 15 junho de 2013).
A obra de Le Bon, sabedora do mecanismo humano interpessoal, continua, até hoje, uma referência para os cientistas sociais. No mesmo artigo acima citado, falando sobre a violência nas manifestações das multidões, o doutor Daniel faz as seguintes considerações reportando às idéias de Gustave Le Bon:
“Tal pensamento mudou ao longo do tempo, sobretudo depois que os cientistas sociais passaram eles mesmos a se envolver em passeatas e piquetes nos anos 60, pelos direitos civis, contra a guerra do Vietnã, etc. Percebeu-se então que o comportamento das multidões de fato transcende o dos indivíduos, mas não pode ser considerado irracional. Ao contrário, existem determinantes bastante claros e identificáveis por trás da maioria dos atos violentos que ocorrem em passeatas quando a ação dos grupos passa a ser analisada em termos das relações entre os atores representados e considerando-se contextos políticos e históricos dos indivíduos envolvidos.
“Isso não exclui de maneira alguma a influência que o conjunto exerce sobre o sujeito. Embora não percebamos no dia-a-dia, o fato de sermos seres sociais nos faz susceptíveis ao movimento de manada, e o comportamento dos outros é muito mais espelhado por nós do que imaginamos. Quando se adere a um movimento qualquer a identificação entre as pessoas aumenta ainda mais essa reciprocidade... Nesse momento, qualquer atitude mais agressiva corre o risco de se tornar um estopim para uma escalada de violência.
“Nas passeatas dos últimos dias em São Paulo há reunião de vários fatores de risco para o comportamento do grupo se tornar violento: há uma reivindicação clara que diz respeito à mobilidade urbana, há assim uma causa comum entre os manifestantes, o tamanho do grupo que ele tem reunido confere uma grande sensação de poder às pessoas” (Id. – DANIEL MARTINS DE BARROS é psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas [IPq – Hc], onde atua como coordenador médico do Núcleo de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica [Nufor]. Doutor em Ciências e Bacharel em Filosofia, ambos pela USP, atualmente bloga para o Estadão. ESPECIALIZAÇÕES: Psiquiatria, Psiquiatria Forense, Filosofia).
Jesus e as multidões
“Vendo ele [Jesus] as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Mt 9:36-38).
Quem reside nas grandes metrópoles sabe o que significa “multidões”: É gente e mais gente enchendo os ônibus, metrôs, trens, barcos, navios, aviões, as ruas, os parques, as praças, os mercados, os auditórios, etc. O que se vê numa multidão? Há os que percebem algum benefício. Para o grupo de marketing, quanto mais gente tiver contato com os seus anúncios, maiores serão as chances de obterem usuários. Políticos podem ver nas multidões a garantia de sua próxima eleição. O artista reconhece na multidão que lota o recinto o seu prestígio e a continuidade do seu sucesso. Pouco habitualmente são os que vêem nas multidões pessoas com nomes, rostos e histórias.
Empregando a frase do Evangelho, “Vendo Ele as multidões, compadeceu-se delas... porque estavam como ovelhas que não têm pastor”, Jesus solicita para Si o título de Pastor. Este símbolo com o qual Jesus Se identifica, recebe a sua justificação na observação do evangelista ao interpretar os sentimentos do coração do Senhor vendo as multidões que O seguiam: “compadeceu-Se delas”, teve compaixão.
As Escrituras dizem que ao Jesus andar pelas cidades e povoados, ensinando, pregando e curando, não raro Se defrontava com as multidões ou era acompanhado por elas. Jesus sempre percebia que aqueles aglomerados eram mais do que massas, na verdade, consistiam de vidas sem rumo, pessoas desorientadas, desamparadas e aflitas que não sabiam para onde ir. Jesus as via como ovelhas sem um pastor que as conduzisse. No cotidiano rural da Palestina, a imagem do pastor conduzindo e guardando ovelhas era comum. Aquelas pessoas não tinham quem cuidasse delas. Estar cercado por indivíduos não significa companheirismo, rumo e verdadeira alegria.
“A multidão não tem o poder de banir a angústia de uma alma aflita”, então Jesus aproxima e divisa no meio dela uma fisionomia, um nome, uma história: a minha, a sua! Ele não nos vê como massa, mas como ovelhas carentes que precisam de um pastor para nos orientar e cuidar de nós. Para Cristo não somos massa de manobra, somos pessoas que Ele deseja inserir em Seu rebanho e fazer-nos “repousar em pastos verdejantes”. “Não temas, porque Eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és Meu” (Cf. Is 43:1).
As multidões e Jesus
“Então, reunindo Pilatos os principais sacerdotes, as autoridades e o povo, disse-lhes: Apresentastes-me este homem como agitador do povo; mas, tendo-O interrogado na vossa presença, nada verifiquei contra Ele dos crimes de que O acusais. Nem tampouco Herodes, pois no-Lo tornou a enviar. É, pois, claro que nada contra Ele se verificou digno de morte. Portanto, após castigá-Lo, soltá-Lo-ei. [E era-lhe forçoso soltar-lhes um detento por ocasião da festa.] Toda a multidão, porém, gritava: Fora com Este! Solta-nos Barrabás! Barrabás estava no cárcere por causa de uma sedição na cidade e também por homicídio. Desejando Pilatos soltar a Jesus, insistiu ainda. Eles, porém, mais gritavam: Crucifica-O! Crucifica-O!” (Cf. Lc 23:13-21).
“Da multidão que acompanhava o Salvador ao Calvário, muitos O haviam seguido com jubilosos hosanas e agitando palmas, enquanto marchava triunfalmente para Jerusalém. Mas não poucos dos que então Lhe entoaram louvores porque era popular assim fazer, avolumavam agora o clamor: ‘Crucifica-O, crucifica-O’!” (DTN, p. 555).
É impressionante a convicção de Gustave Le Bom em O Indivíduo em Multidão ao analisar o comportamento do indivíduo integrado num grupo: “Quaisquer que sejam os indivíduos que compõem a multidão, sejam quais forem as semelhanças ou diferenças no seu gênero de vida, nas suas ocupações, no seu caráter ou na sua inteligência, o simples fato de constituírem uma multidão concede-lhes uma alma coletiva. E Esta alma fá-los sentir, pensar e agir de uma maneira diferente do modo como sentiriam, pensariam e agiriam cada um isoladamente.
“Certas idéias, certos sentimentos só surgem e se transformam em atos nos indivíduos em multidão. A multidão psicológica é um ser provisório, composto de elementos heterogêneos que, por momentos, se uniram, tal como as células que se unem num corpo novo forma um ser que manifesta caracteres bem diferentes daqueles que cada uma das células possui.”
“A multidão não é apenas impulsiva e móvel. Tal como o selvagem, também ela não admite que se interponham obstáculos entre o seu desejo e a realização desse desejo, e admite-o tanto menos quanto maior for o seu número, o que lhe dá a sensação de um poder irresistível. Para o indivíduo em multidão a noção de impossibilidade desaparece. O homem isolado sabe bem que sozinho não poderá incendiar um palácio ou saquear um armazém e, por isso, a tentação de o fazer nem sequer lhe aflora o espírito.
“Mas, ao fazer parte de uma multidão, toma consciência do poder que o número lhe confere e cede imediatamente à primeira sugestão de crime ou de roubo. Qualquer obstáculo inesperado será derrubado com ímpeto” (Gustave Le Bom, Psicologia das Multidões. Tradução de Ivone Moura Delraux. Edições Roger Delraux, 1980). “Amo o público, mas não o admiro. Como indivíduo, sim. Mas, como multidão, não passa de um monstro sem cabeça” (Charles Chaplin). Jesus estava sempre cercado por multidões, mas sabia que elas não eram movidas por convicção.
NNão seguirás a multidão para fazeres mal (Êx 23:2)
“Não siga a maioria quando ela faz o que é errado e não dê testemunho falso para ajudar a maioria a torcer a justiça. Não faça injustiça, nem mesmo para favorecer o pobre” (Cf. Êx 23:2, 3; BLH). A Inspiração nos diz que definitivamente “a voz do povo não é a voz de Deus”! Outro alerta não menos importante do texto nos chama a atenção: Não prevarique, mesmo que seja para beneficiar alguém carente e seguir princípios e idéias de grupo. Os fins não justificam os meios!
As Escrituras advertem para que o cristão não se deixe coagir de uma forma ou outra para a prática do mal – seja livre, honesto e pense por si mesmo. “Às vezes a maioria significa apenas que todos os tolos estão no mesmo lado.” (Collen Spencer – Universidade de Maine). É comum ouvir comentários do tipo: “Eu fumo porque a maioria de meus amigos fuma”; ou “Eu bebo porque todos os meus colegas bebem”; ou “Eu comecei a me envolver com drogas porque o meu grupo da faculdade acabou me convencendo”. E daí, a vida dessas pessoas melhorou por seguirem a maioria? Correram riscos enquanto permaneceram nessa aventura? Valeu a pena?
Ai de vós quando todos vos louvarem (Lc 6:26)
Quando o cristianismo se esquivou da tarefa de confrontar as ilusões mundanas populares com verdades bíblicas imutáveis e impopulares, perdeu a sua influência e amalgamou-se de maneira impotente com o mundo. A mensagem do evangelho não pode simplesmente ser mudada para se conformar com as vicissitudes das opiniões do planeta. A verdade da Palavra de Deus não se desbota com o decorrer do tempo, não está sujeita a mudança ou adaptação. Por outro lado, o pensamento do mundo está em fluxo constante. As tendências e as filosofias que dominam o presente século mudam radicalmente, com regularidade, de geração a geração. A única coisa que permanece constante é o ódio do mundo para com Cristo e o Seu evangelho.
Com efeito, vemos legiões de porta-vozes afirmando “Senhor, Senhor temos profetizado em teu nome, e em teu nome expelimos demônios, e em teu nome fizemos muitos milagres” (cf. Mt 7:15-23) mas que na realidade têm sido seduzidos a relativizar a verdade e a pregar um evangelho social, sem cruz. A busca pela aprovação do mundo [das multidões] é o mesmo que prostituição espiritual. De fato, essa foi exatamente a figura que o apóstolo Tiago usou para descrevê-la: “Infiéis [Adúlteros], não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Cf. Tg 4:4). “Ai de vós, quando todos vos louvarem” (Lc 6:26).
Não se assustar por causa da multidão
“Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão, porque a peleja não é vossa, mas de Deus” (2Cr 20:15).
Facilmente manejável, a multidão é uma força imbatível contra o indivíduo, que pode recuar por puro mecanismo de auto-sobrevivência emocional. De fato, a multidão estava presente como força coerciva na formação do bezerro de ouro pelas mãos de Arão, irmão de Moisés; na negação de Pedro, quando da prisão de Jesus; estava presente para mandar matar Jesus aos alegres gritos de “crucifica-O! crucifica-O!”.
Para desafiar o estímulo homicida da multidão, Deus nos alcança pessoalmente, por meio da vitória pessoal de Seu único Filho Jesus Cristo. “No mundo, passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Cf Jo 16:33). NEle não somos devorados pelo grupo: o equilíbrio entre individualidade e vida em comunidade é restaurado pela unidade em Cristo. “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Cf. Ef 4:11-13).
PASTOR VAGNER ALVES FERREIRAo:
JUBILADO – ASSOCIAÇÃO NORTE PARANAENSE/IASD