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postado em: 31/5/2015
VINHO NOVO, ODRES NOVOS
“Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo novo tira parte da veste velha, e fica maior a rotura. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos” (Mc 2:21, 22).
HISTÓRICO DO VINHO
É difícil especificar quando e onde se iniciou a história do vinho. Na verdade, bastava haver a cultura da uva, sua coleta e posterior conservação em um vaso apropriado, para que houvesse a possibilidade de se obter sua essência. Pesquisas arqueológicas têm apontado a existência de uma quantidade razoável de sementes da uva como indício da presença de produção vinícola, mesmo em seu estágio mais rudimentar.
Vários achados em países como na Turquia, na Síria, no Líbano e na Jordânia evidenciam que na pré- História já era possível encontrar sementes da videira. As mais antigas foram localizadas na cidade de Geórgia, na Rússia, alguns milênios a.C. A videira também era cultivada no Irã, antiga Pérsia, e no sul da Mesopotâmia, atualmente território iraquiano. Há a possibilidade dos fenícios terem disseminado por toda a Europa as espécies que dariam origem às uvas brancas.
As videiras chegaram igualmente ao Egito, através do Rio Nilo e por outros caminhos diversos. Há alguns relatos sobre o vinho envolvendo personagens bíblicos. O Velho Testamento registra no Gênesis que Noé, provavelmente trazia, em sua arca, sementes de uva, plantando-as assim que chegou em terra firme. Dela colheu os frutos, elaborou o vinho e com ele embriagou-se. Outros povos apresentam narrativas semelhantes sobre a produção vinícola. Mas certamente a mitologia grega apresenta mais claramente a história do vinho, associando-a ao deus Dionísio, também conhecido como Baco, o qual dominava a técnica de produção desta bebida, sendo assim responsável pelo cultivo da uva e a elaboração de seu suco.
Embora várias evidências indiquem que o vinho possa ter sua origem no sul asiático, japoneses, chineses e alguns povos muçulmanos renunciaram à sua prática, seja por consequência social ou religiosa. Por outro lado, atingiu o ápice na Grécia e entre os romanos, que estenderam seu cultivo por todo o império. Ao se irradiar pela Europa, ele atingiu regiões as mais remotas, onde houvesse o solo propício e o clima adequado.
Na era medieval sua elaboração e o teor qualitativo entraram em declínio, tornando-se praticamente um monopólio da Igreja, para fins eclesiásticos. Membros do clero e soberanos foram os responsáveis pelo seu ressurgimento, principalmente a partir do século XII, com o crescimento do mercado que absorvia a produção vinícola. As produções mais populares nasceram à margem de rios como o Reno, Garonne e Loire, pois assim era mais fácil transportar os produtos.
Em fins do século XVII o criador da champanhe, D. Pierre Pérignon, proveniente da abadia de Hautvillers, inovou ao criar garrafas e rolhas apropriadas para proteger o vinho. Em 1775 descobriu-se, por acaso, que uvas podres encontradas nas árvores eram responsáveis por um sabor doce inigualável, bem como por um aroma ímpar. Com a chegada dos espanhóis no Novo Mundo, a partir dos séculos XVI e XVII, os vinhedos encontraram outro ponto de expansão, no sul do continente americano. Os séculos XIX e XX trouxeram ao rol dos produtores de vinho novos países, que se posicionaram junto aos produtores já consagrados.
O QUE SÃO ODRES?
Um odre pode ser considerado o antecessor da garrafa de vinho. Um odre é uma bolsa como um bico feito para o armazenamento, transporte e consumo de vinho. Eles têm sido referenciados na literatura clássica e remontam à Grécia Antiga. Feitos de couro, são recipientes duráveis adequados para entusiastas. Devido à sua natureza única, um odre de vinho requer alguns cuidados iniciais e de manutenção para sua máxima utilização.
Uma linha do tempo da origem do odre é difícil de encontrar, no entanto, suas notáveis aparições na Odisséia de Homero [séc. VIII a.C.], na Bíblia e em Don Quixote [séc. XVII a.D.] podem nos levar a um discernimento. Por exemplo, Homero nos diz que o odre remontava à Grécia antiga, e a Bíblia e Don Quixote nos dizem que o odre apareceu cedo na história espanhola, asiática e africana.
São feitos de couro, mais comumente o de cabra. Este é melhor para o artesão lidar devido à sua flexibilidade. E desgasta pouco, aumentando sua vida útil. Depois de selecionar e remover o couro, ele é limpo e curtido com tanino coletado da árvore mimosa. Depois de curtido, o couro é revestido com betume extraído de zimbro ou pinheiros. Purificado a altas temperaturas, é usado para deixar o interior do couro à prova de água.
A peça é unida por um cordão feito de linho, embora quase todos usados até 1970 fossem de cânhamo. Um bico feito de resina ou baquelite [resina sintética] é adicionado para verter e beber. Um odre é feito de material orgânico, ao contrário de uma garrafa de plástico, é preciso que o proprietário faça sua preparação e manutenção. Antes enchê-lo pela primeira vez, ele deve ser aquecido, esfregado, inflado, enxaguado com água e enchido com armazenamento e consumo de vinho.
AS BARREIRAS DAS VELHAS ESTRUTURAS
Dos funcionários romanos na Palestina, nenhum era mais aborrecido que o publicano. O fato de serem os impostos ordenados por um poder estrangeiro, era contínuo motivo de irritação para os judeus, lembrança que era da perda de sua independência. E os cobradores de impostos além de instrumentos da opressão romana, eram extorsionários em seu próprio proveito, enriquecendo-se à custa do povo. Um judeu que aceitasse esse ofício das mãos dos romanos era considerado traidor da honra nacional. Desprezado como apóstata, classificavam-no entre os mais vis da sociedade.
A essa classe pertencia Levi Mateus, o qual, depois dos quatro discípulos na praia de Genezaré, foi o seguinte a ser chamado para o serviço de Cristo. Os fariseus haviam julgado Mateus segundo seu emprego, mas Jesus viu nesse homem uma alma aberta à recepção da verdade. A vocação de Mateus para ser um dos discípulos de Cristo, excitou grande indignação. Que um mestre de religião escolhesse um publicano como um de seus imediatos assistentes, era uma ofensa contra os costumes religiosos, sociais e nacionais. Procurando estimular os preconceitos do povo, os fariseus esperavam voltar a corrente dos sentimentos populares contra Jesus.
Criou-se entre os publicanos amplo interesse. Seu coração foi atraído para o divino Mestre. Na alegria de seu novo discipulado, desejou Mateus levar seus antigos companheiros a Jesus. Fez, portanto, um banquete em sua casa, reunindo os parentes e amigos. Não somente publicanos foram incluídos, mas muitos outros de duvidosa reputação, proscritos por seus mais escrupulosos vizinhos. A festa foi oferecida em honra de Jesus, e Este não hesitou em aceitar a gentileza. Para Ele, as distinções exteriores não tinham nenhum valor. O que Lhe falava ao coração era a sede dalma pela água da vida.
Os fariseus não consideravam que Jesus comia e bebia com os publicanos e pecadores a fim de levar a luz do Céu aos que se sentavam em trevas. Não queriam ver que toda palavra proferida pelo divino Mestre era uma semente viva que germinaria e daria fruto para glória de Deus. Estavam decididos a não aceitar a luz, e, conquanto se houvessem oposto à missão do Batista, prontificavam-se agora a cortejar a amizade dos discípulos [de João] esperando grangear-lhes a cooperação contra Jesus. Faziam parecer que Ele estava anulando as antigas tradições, e comparavam a austera piedade do Batista com a maneira de Jesus em banquetear-Se com publicanos e pecadores.
Os discípulos de João não tinham compreensão da obra de Cristo, pensaram que talvez houvesse algum fundamento para as acusações dos fariseus. Observavam muitas regras prescritas pelos rabis, e esperavam mesmo ser justificados pelas obras da lei. O jejum era observado pelos judeus como meritório, e os mais rígidos dentre eles jejuavam duas vezes por semana. Os fariseus e os discípulos de João estavam jejuando, quando os últimos foram ter com Jesus, com a interrogação: “Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os Teus discípulos não jejuam?” (Mc 2:18).
Mui terno, porém categoricamente, Jesus afirma que aquela não era hora de jejum, pois os discípulos estavam perante o noivo, em celebração. Quando o noivo se retirar, ai sim era tempo de jejum. A presença de Cristo era sinal de festa e não de lamento e contrição. Por fim, após essas duas argüições, Jesus faz uma desconcertante afirmação via parábola, nos versos 21 e 22: “Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo novo tira parte da veste velha, e fica maior a rotura. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos” (cf. Mc 2:15-22).
JESUS E O VINHO
FONTE: SAMUELE BACCHIOCCHI, Ph. D.
Muitos cristãos bem intencionados crêem que o “bom vinho” que Jesus produziu em Caná (Jo 2:10) foi “bom” por causa de seu elevado teor alcoólico. Esta crença sustenta-se sobre três principais pressupostos. Primeiro, presume-se que os judeus não sabiam como evitar a fermentação do suco de uva; e sendo que estação do casamento foi pouco antes da Primavera (cf. Jo 2:13), ou seja, seis meses após a colheita da uva, o vinho utilizado em Caná tinha amplo tempo para fermentar.
Em segundo lugar, presume-se que a descrição dada pelo mestre do banquete quanto ao vinho propiciado por Cristo como “o bom vinho” significa um vinho alcoólico de alta qualidade. Em terceiro lugar, presume-se que a expressão “beberam fartamente” (Jo 2:10), empregada pelo mestre do banquete, indica que os convidados estavam intoxicados por terem estado bebendo vinho fermentado. Consequentemente, o vinho que Jesus fez deve também ter sido fermentado.
Em face da importância que essas pressuposições desempenham em determinar a natureza do vinho propiciado por Cristo, examinaremos brevemente cada uma delas.
O primeiro pressuposto é desmentido por numerosos testemunhos do mundo romano dos tempos do Novo Testamento que descrevem vários métodos de preservar o suco de uva. Vimos no boletim ENDTIME ISSUES N° 81 que a preservação de suco de uva não fermentado era em certos aspectos um processo mais simples do que a preservação de vinho fermentado. Destarte, a possibilidade existia de suprir suco de uva não fermentado nas bodas de Caná, próximo à estação da Páscoa, uma vez que tal bebida podia ser mantida sem fermentação por todo o ano.
“O Bom Vinho”. O segundo pressuposto é de que o vinho que Jesus propiciou foi chamado de “o bom vinho” (Jo 2:10) pelo mestre do banquete por causa de seu nível elevado de teor alcoólico toma por base o gosto dos bebedores do século vinte que definem um bom vinho em grande medida por seu vigor alcoólico. Isto, porém, não é necessariamente verdadeiro no mundo romano dos tempos neotestamentários, quando os melhores vinhos eram aqueles cuja potência alcoólica havia sido removida por fervura ou filtração.
Plínio, por exemplo, declara que os “vinhos são de maior benefício (utilissimum) quando todo o seu vigor havia sido removido pelo filtrador” [Plínio, Natural History 23, 24, trans. W. H. S. Jones, The Loeb Classical Library], (Cambridge, Massachusetts, 1961). De modo semelhante, Plutarco assinala que o vinho é “muito mais agradável de se beber” quando “nem inflama o cérebro nem infesta a mente ou as paixões” porque sua força foi removida mediante freqüente filtragem [Plutarco, Symposiac 8, 7].
O Talmude indica que beber sob o acompanhamento de instrumentos musicais em ocasiões festivas, como numa festa matrimonial era proibido [Ver Sotah 48ª; também Mishna Sotah 9, 11]. Por exemplo, o Rabino S. M. Isaac, um destacado rabino do século XIX e editor do The Jewish Messenger, diz: “Os judeus, em suas festas para propósitos sagrados, inclusive a festa matrimonial, jamais empregam qualquer tipo de bebida fermentada. Em suas oblações e libações, tanto em privado como em público, empregado o fruto da vide – ou seja, uvas frescas – suco de uva não fermentado, e passas, como símbolo de bênção. A fermentação é para eles sempre um símbolo de corrupção” [Citado em William Patton, Bible Wines. Laws of Fermentation], (Oklahoma City, s.d.), pág. 83. Ênfase acrescentada. Conquanto a declaração do Rabino Isaac não seja bem exata, uma vez que fontes judaicas não são unânimes quanto ao tipo de vinho a ser empregado durante festivais sagrados, ainda indica que alguns judeus empregavam vinho sem fermento por ocasião de festas matrimoniais.
“Beberam Fartamente”. O terceiro pressuposto de que a expressão “beberam fartamente” (Jo 2:10) indique que os convivas da festa matrimonial estavam intoxicados e assim o “bom vinho” propiciado por Cristo deve também ter sido intoxicante, interpreta e aplica mal o comentário do mestre do banquete, e passa por alto o uso mais amplo do verbo. O comentário em questão não foi feito com referência a essa festa matrimonial em particular, mas à prática geral entre os que promoviam festas: “Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior...” (Jo 2:10). Esse comentário faz parte das atividades regulares de um mestre de banquete contratado, antes que ser uma descrição real do estado de intoxicação numa festa em particular.
Outra consideração importante é o fato de que o verbo grego methusko, traduzido por alguns como “bem bêbado”, pode também significar “beber livremente”, como vertido na Revised Stardard Version (em inglês), sem qualquer implicação de intoxicação. Em seu artigo sobre este verbo no Theological Dictionary of the New Testament, Herbert Preisker faz notar que “Methuskomai é utilizado sem qualquer julgamento ético ou religioso em João 2:10, em ligação com a regra de que o vinho mais pobre é servido somente quando os convidados tinham bebido bem” [Herbert Preisker, “Methe, Methuo, Methuskomai”, Theological Dictionary of the New Testament, ed. Gerhard Kittel (Grande Rapids, 1967), vol. 4, pág. 547, ênfase acrescentada].
Implicações Morais. O verbo methusko em João 2:10 é usado no sentido de saciar. Refere-se simplesmente à grande quantidade de vinho geralmente consumido numa festa, sem qualquer referência a efeitos intoxicantes. Os que insistem de que o vinho utilizado na festa era alcoólico e que Jesus também forneceu vinho alcoólico, conquanto de melhor qualidade, são induzidos à conclusão de que Jesus providenciou-lhes uma grande quantidade adicional de vinho intoxicante de modo a que os convivas da festa matrimonial pudessem dedicar-se a sua plena indulgência. Tal conclusão destrói a integridade moral do caráter de Cristo.
A coerência moral requer que Cristo não tivesse produzido miraculosamente entre 120 a 180 galões de vinho intoxicante para uso dos homens, mulheres e crianças reunidos nas bodas de Caná, sem tornar-Se moralmente responsável pela intoxicação deles. A coerência escriturística e moral requer que o “bom vinho” produzido por Cristo fosse suco de uva recente e não-fermentado. Isto é respaldado pelo próprio adjetivo empregado para descrevê-lo, ou seja, kalos, que denota o que é moralmente excelente, em vez de agathos, que significa simplesmente bom [Leon C. Field, Oinos: A Discussion of the Bible Wine Question (New York, 1883), pág. 57].
NOVO VINHO EM ODRES NOVOS
A declaração de Cristo de que “vinho novo deve ser posto em odres novos” (Lc 5:38; Mt 9:17; Mc 2:22), é visto pelos moderacionistas como uma indicação de que Jesus recomendou o uso moderado do vinho alcoólico. Este ponto de vista apóia-se no pressuposto de que a frase “vinho novo” significa o vinho recém-esmagado, mas já num estado de fermentação ativa. Tal vinho, alega-se, só podia ser colocado em novos odres porque os odres velhos arrebentariam sob pressão.
Fermentado Vinho Novo? Esta interpretação popular é muito imaginativa mas de pouco fundamento. Qualquer um familiarizado com a pressão causada pela fermentação causadora de gás sabe que nenhum recipiente, seja de vidro ou couro, pode resistir à pressão do novo vinho fermentado. Como Alexander B. Bruce assinala, “Jesus não estava pensando absolutamente em vinho fermentado, intoxicante, mas de ‘mosto’, uma bebida não intoxicante, que podia ser mantida com segurança em recipientes novos de couro, mas não em velhos odres que haviam guardado vinho ordinário antes, porque partículas de matéria albuminóide aderida ao couro produziria a fermentação e desenvolveria o gás com uma enorme pressão” [Alexander Balmam Bruce, The Synoptic Gospels in The Expositor’s Grek Testament (Grand Rapids, 1956), pág. 500].
O único “vinho novo” que podia ser guardado em segurança em novos odres era o mosto não fermentado após ter sido filtrado ou fervido. Columella, o renomado agriculturista romano que foi contemporâneo dos apóstolos, atesta que uma “jarra de vinho novo” era empregada para preservar mosto fresco, não fermentado. “Para que o mosto permaneça sempre doce como se fosse recente, fazei de modo seguinte: antes que as cascas de uva sejam colocadas sob a prensa, tomai da vasilha uma parte do mosto mais novo possível e colocai-o numa jarra nova [amphoram novam], daí espalhe-o e o cubra cuidadosamente com piche, de modo que nenhuma água seja capaz de introduzir-se” [Columella, (On Agriculture) 12, 29].
Significado Simbólico – Esta interpretação é confirmada mais adiante pelo significado simbólico do que Cristo disse. A imagem do vinho novo em odres novos é uma lição ilustrativa da regeneração. Como Ernest Gordon habilmente explicou, “os odres velhos, com seu sedimento alcoólico, representavam a natureza corrupta dos fariseus. Não podia ser posto o vinho novo do Evangelho neles. Eles poderiam fermentá-lo. ‘Não vim chamar justos, e sim pecadores’. Mais tarde através de sua conversão transformou os novos recipientes, capazes de reterem o vinho novo sem deteriorá-lo (Mc. 2:15-17,22). Então, pela comparação do vinho intoxicante com o farisaísmo degenerado, Cristo confidenciou, claramente, qual era a Sua opinião de vinho intoxicante” [Ernest Gordon, Christ, the Apostles and Wine. An Exegetical Study (Philadephia, 1947), pág. 20].
“É bom notar”, continua Ernest Gordon, “como nesta ilustração casual, Ele [Cristo] identifica vinho em conjunto com o vinho não fermentado. Vinho fermentado é determinado como não reconhecido. Poderia ser colocado em qualquer tipo de odre, conquanto miserável e corrupto. Mas vinho novo é como pano novo que é muito bom para ser usado no conserto de trapos. É algo limpo e saudável, exigindo um recipiente limpo. O modo natural no qual esta ilustração é usada, sugere, pelo menos, um entendimento geral e realista entre seus ouvintes judeus de que o verdadeiro fruto da videira, o vinho bom, seria não fermentado” [Ibid., pág. 21].
O VINHO VELHO É MELHOR?
Em Lucas, a afirmação de Cristo sobre vinho novo em odres novos é seguida por uma declaração semelhante, todavia diferente: “E ninguém, tendo bebido o velho, quer o novo; porque diz: O velho é bom” (Lc 5:39). Embora este texto não seja encontrado nos outros evangelhos, faz parte integrante da narrativa. Os moderacionistas atribuem fundamental importância a essa declaração porque contém, na visão deles, uma clara recomendação de Cristo ao vinho alcoólico. Kenneth L. Gentry, por exemplo, fala da “quase universal prevalência da preferência do vinho velho (fermentado) sobre o novo (pré ou não fermentado) entre os homens. O Senhor mesmo fez referência a essa valorização entre os homens, em Lucas 5:39: ‘E ninguém, tendo bebido o velho, quer o novo; porque diz: O velho é bom” [Kenneth L. Gentry, The Christian and Alcoholic Beverages (Grand Rapids, 1986), pág. 54].
O Significado de “Vinho Novo”. A frase “vinho novo/oinos neos” é usada na Septuaginta (a tradução para o grego do Velho Testamento), para traduzir tanto vinho fermentado em Jó 32:19, como o suco de uva não fermentado em Isaías 49:26. Em traduções posteriores o hebraico asis é o que designa suco de uva não fermentado.
Na passsagem em consideração é legítimo deduzir que “vinho novo” tem o mesmo significado que em todas as passagens, porque El é usado, consecutivamente, sem nenhuma insinuação à mudança de significado. As metáforas de ambos, dizem, são usadas sem confusão ou contradição. Este termo “vinho novo” do verso 38 [Lc 5:38] é, como mostrado claramente, o mesmo que deve ser verdade do “vinho novo” do verso 39.
Significado de “Vinho Velho”. Antes de discutir se Cristo expressou ou não um julgamento da qualidade superior do “vinho velho” sobre o “vinho novo”, é importante determinar se o “vinho velho” referia-se ao fermentado ou ao não fermentado. Do ponto de vista da qualidade, a idade “melhora” o sabor não só do fermentado, mas também do suco de uva não fermentado. Conquanto nenhuma mudança química ocorra, o suco de uva adquire um sabor mais refinado sendo conservado, pois as partículas finas e delicadas separam-se da matéria albuminosa e outras sedimentações. Assim, o “vinho velho” considerado bom, poderia referir-se ao suco de uva preservado e melhorado pela idade.
O contexto, porém, favorece o significado de vinho fermentado, uma vez que Cristo utilizou a metáfora do “vinho velho” para representar as formas de religião, e o “vinho novo” para as novas formas de vida religiosa que Ele ensinava e inaugurava. Neste contexto, o vinho velho fermentado representa melhor as formas corruptas da velha religião farisaica.
O “Vinho Velho” é Melhor? À luz desta conclusão resta determinar se Cristo, através dessa declaração, está expressando um juízo de valor da superioridade do “vinho velho” (fermentado) sobre o “vinho novo” (não fermentado). Uma leitura cuidadosa destes textos indica que quem diz “o velho é bom” não é Cristo, mas alguém que tenha bebido o “vinho velho”. Em outras palavras, Cristo não está expressando Sua própria opinião, mas a opinião daqueles que adquiriram um gosto por vinhos velhos. Ele disse, simplesmente, que alguém que tivesse adquirido gosto por vinhos velhos não gostaria do novo. Sabemos ser este o caso. Beber bebida alcoólica gera apetite por bebidas estimulantes e não por sucos sem álcool.
A declaração de Cristo não representa Sua aprovação da superioridade do vinho velho fermentado. Vários comentaristas enfatizam este ponto. No seu comentário sobre o evangelho de Lucas, Norval Geldenhuys diz: “O ponto aqui não tem nada a ver com a comparação do vinho velho com o novo, mas refere-se à predileção pelo vinho velho no caso daqueles que estão acostumados a bebê-lo” [Norval Geldenhuys, “Commentary on the Gospel of Luke”, The New International Commentary on theNew Testament (Grand Rapids, 1983), pág. 198].
R. C. H. Lenski declara a mesma verdade muito sucintamente: “Não foi Jesus que chamou o vinho velho de ‘bom o bastante’, mas aquele que o bebeu. Uma porção de vinho velho é, decididamente mau, porque não foi preparado convenientemente; a idade é uma coisa, excelência pela idade é bem outra” [R. H. Lenski, The Interpretation of St. Luke’s Gospel (Columbus, Ohio, 1953), pág. 320].
O Contexto do “Vinho Velho”. A opinião de que o vinho velho fermentado é melhor que o vinho novo, seria falsa mesmo que todos na terra cressem nisso! E na passagem que estamos isso é contraditado pelo contexto em que ocorre e pelo propósito integral da ilustração. No contexto imediato Jesus emprega a mesma palavra (palaios) quanto a roupas velhas, que Ele, obviamente, não consideraria melhores do que as novas. A declaração sobre “vinho velho” parece contradizer a anterior sobre “roupas velhas”, mas a contradição desaparece quando se compreende o propósito da ilustração.
O propósito da ilustração não é elogiar a superioridade do vinho velho, mas advertir contra um exagero das formas de religiosidade promovida pelos fariseus. A religiosidade consistia, como indicado no verso 33, no cumprimento de práticas ascéticas externas tais como os freqüentes jejuns e as orações públicas. Para justificar o fato de que Seus discípulos não aderiam às formas externas de religiosidade, Cristo usou quatro ilustrações: os convidados do casamento que não jejuam na presença do noivo (vv. 34-35); roupas novas não eram usadas como retalho em roupas velhas (v. 36); o vinho novo não era colocado em odres velhos (vv. 37-38); vinho novo não era apreciado por aqueles acostumados a beber vinho velho (v. 39).
O propósito comum de todas as quatro ilustrações é ajudar as pessoas acostumadas com as velhas formas de religião, e alheias à nova forma de vida religiosa ensinada por Cristo, a perceberem que o velho parece bom apenas para aqueles que não estão acostumados com o novo, que é propriamente o melhor. Neste contexto, o vinho velho fermentado parece bom apenas para quem que não sabe que o vinho novo é o melhor.
FOI JESUS UM GLUTÃO E BÊBADO?
Mais de dezenove séculos atrás, Jesus foi acusado de ter sido um “glutão e um bêbado”, porque Ele veio “comendo e bebendo” (Lc 7:33; Mt 11:19). Moderacionistas encontraram na descrição de Jesus de Seu próprio estilo de vida de “comer e beber” (Mt 11:19; Lc 7:34) uma prova indiscutível de que Ele admitia, abertamente, usar vinho alcoólico. Além disso, discute-se que Jesus deve ter bebido vinho alcoólico para Seus críticos acusá-Lo de Ser um “bêbado”.
Estilo de Vida Social. Esta interpretação ignora várias considerações importantes. A frase “comendo e bebendo” é usada como idiomatismo para descrever a diferença entre o estilo de vida social de Jesus e o de João Batista. João veio “não comendo pão, nem bebendo vinho” (Lc 7:33), para dizer, que ele viveu um estilo de vida de completo isolamento, e que Cristo veio “comendo e bebendo”, para dizer, que Ele viveu um estilo de vida social de livre associação.
Nenhuma Menção de “Vinho”. Um ponto significativo passado por alto frequentemente é que Jesus não mencionou “vinho” na descrição de Seu próprio estilo de vida. Enquanto que de João Batista, Jesus disse que ele veio “não comendo pão, nem bebendo vinho”, de Si mesmo Ele disse simplesmente: “Veio o Filho do Homem, que come e bebe”. Se Jesus procurasse ser conhecido, ao contrário de João Batista, então poderia ter repetido a palavra “vinho” por causa da ênfase e clareza.
Por recusar especificar quais os tipos de alimentos ou bebidas que consumia, Cristo poderia ter desejado privar Seus críticos de qualquer base para sua acusação de glutonaria e embriaguez. A omissão de “pão” e “vinho” na segunda declaração (Mateus os omite em ambas as declarações) bem poderia ter sido planejado para expor a falta de sentido da acusação. Em outras palavras, Jesus parece dizer: “Meus críticos me acusam de ser um glutão e bêbado, só porque Eu não tomo alimentos sozinho mas como frequentemente na presença de outras pessoas. Eu como socialmente. Mas meus críticos, de fato, não sabem o que Eu como”.
Mesmo supondo que Seus críticos realmente vissem Jesus bebendo alguma coisa, eles poderiam tê-Lo acusado de ser um bêbado, mesmo que O vissem bebendo suco de uva, ou até água. No dia de Pentecostes, os críticos acusaram os apóstolos de estarem bêbados com suco de uva (gleukos = embriagados – At 2:13). Isto mostra que não importava o que Jesus tivesse bebido, Seus críticos inescrupulosos O caluniariam como um bêbado.
Acusação Crítica Perigosa. Deduzir que Jesus devia ter bebido vinho porque Seus críticos O acusaram de ser um “bêbado”, significaria aceitar como verdade as palavras dos inimigos de Cristo. Em outras duas ocasiões seus críticos acusaram Jesus: “Tens demônio” (Jo 7:20; 8:48). Se acreditarmos que Cristo bebeu vinho alcoólico porque Seus críticos O acusaram de ser um bêbado, então teríamos também que acreditar que Ele tivesse demônio. O absurdo de tal raciocínio mostra que aceitar as acusações desses críticos não é uma base segura para definir o ensinamento bíblico.
Jesus respondeu a este ataque sem base de Seus críticos: “Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos” (Lc 7:35). A evidência textual divide-se entre “filhos” e “obras”, mas o significado dessa obscura declaração permanece a mesma, a saber, que a sabedoria é para ser julgada pelos seus resultados. A sabedoria de Deus é vindicada pelas obras que elas geram.Assim, deduzir na base das alegações de Seus críticos de que Jesus bebeu vinho mostra completa falta de sabedoria. Os resultados de Sua vida de abnegação falam por si mesmos.
O VINHO COMUM
A importância fundamental é atribuída ao “vinho” da Última Ceia porque Cristo não apenas o usou, mas do mesmo modo ordenou que fosse usado até o fim dos tempos como memorial de Seu sangue redentor (Mt 26:28-29; Mc 14:24-25). Acredita-se amplamente que o vinho da Última Ceia era alcoólico por duas principais razões: (1) a frase “fruto da videira” é uma expressão figurativa que era usada como equivalente funcional de vinho fermentado, e (2) os judeus supostamente usariam apenas vinho fermentado na Páscoa. Esta crença é desacreditada por várias importantes considerações.
“O Fruto da Videira”. A linguagem da Última Ceia é significativa. Em todos os evangelhos sinóticos Jesus chama o conteúdo da taça de “o fruto da videira” (Mt 26:29; Mc 14:25 e Lc 22:18). O substantivo “fruto” (gennema) denota que é o produto em estado natural, da mesma maneira em que foi apanhado. Vinho fermentado não é o “fruto da videira” natural, mas o fruto da fermentação não natural e decadente. O historiador judeu Flávio Josefo, que foi contemporâneo dos apóstolos, chama explicitamente, os três cachos de uvas frescas prensados numa taça pelo mordomo do Faraó como “o fruto da videira” [Josephus, (Antiquities of the Jews) 2, 5, 2]. Isto estabelece que a frase era usada, inequivocamente, para designar a doçura do suco de uva não fermentado.
Se o conteúdo do cálice era de vinho alcoólico, Cristo dificilmente poderia ter dito: “Bebei dele todos” (Mt 26:27; cf. Mc 14:23; Lc 22:17), especialmente em vista do fato de que na Páscoa um típico cálice de vinho não continha apenas um gole de vinho, mas aproximadamente meio litro [J. B. Lightfood, (The Temple-Service and the Prospecto of the Temple, pág. 151), Londres, 1833]. Cristo dificilmente poderia ter ordenado a “todos” os Seus seguidores para beberem o cálice, se este contivesse vinho alcoólico. Há alguns para os quais o álcool, em qualquer forma, é muito prejudicial.
Crianças novas que participarem à mesa do Senhor, certamente não deveriam tocar vinho. Há aqueles aos quais o simples gosto ou cheiro do álcool desperta um latente desejo por álcool. Poderia Cristo que nos ensinou a orar “livra-nos da tentação”, ter feito de Seu memorial à mesa um lugar de irresistível tentação para alguém e de perigo para todos? O vinho da Ceia do Senhor nunca pode ser tomado livre e festivamente na medida em que seja alcoólico e intoxicante.
A Lei da Fermentação. Apoio adicional para a natureza do vinho não fermentado da Comunhão é provido pela lei mosaica que requeria a exclusão de todos os artigos fermentados durante a festa da Páscoa (Êx 12:15; 13:6, 7). Jesus compreendia o significado da letra e do espírito da lei mosaica relativos às “coisas não fermentadas”, como indicado por Sua advertência contra “o fermento dos fariseus e dos saduceus” (Mt 16:6). “Fermento” para Cristo representava a natureza e ensinamentos corruptos, como os discípulos depois entenderam (Mt 16:12). A consistência e beleza do simbolismo do sangue não pode ser adequadamente representado pelo vinho fermentado, o qual é posto na Bíblia como depravação humana e indignação divina.
Não podemos conceber a Cristo curvando-Se para abençoar com oração de graças um cálice que contivesse vinho alcoólico, sobre que a Bíblia nos adverte para não olharmos (Pv 23:31). Um cálice que intoxica é um cálice de maldição e não “cálice da bênção” (1Co 10:16); é “o cálice dos demônios” e não o “cálice do Senhor” (1Co 10:21); é um cálice que não pode simbolizar adequadamente a incorruptibilidade e o “precioso sangue de Cristo” (1Pd 1:18, 19). Isto dá razão para acreditarmos que o cálice que Ele “abençoou” e deu a Seus discípulos não continha qualquer “coisa fermentada”, proibida pela Escritura.
Testemunhos Históricos. Testemunhos históricos de judeus e cristãos apóiam o uso do vinho não fermentado na Páscoa/Ceia do Senhor. Louis Ginzberg (1873-1941), respeitado estudioso do Talmude que por quase 40 anos foi presidente do Departamento de Estudos Rabínicos e Talmúdicos do Seminário Teológico Judaico da América, proveu o que talvez seja a mais exaustiva análise das referências do Talmude relativas ao uso do vinho nas cerimônias religiosas judaicas. Ele conclui sua investigação dizendo: “Temos provado, assim, com base em passagens principais tanto do Talmude da Babilônia como de Jerusalém, que o vinho não fermentado pode ter sido usado lekatehillah (opcionalmente) por Kiddush [a consagração de um festival por meio de um cálice de vinho] e outras cerimônias religiosas do lado de fora do templo” [Louis Ginzberg, “A Responce to the Question Whether Unfermented Wine May Be Used in Jewish Ceremonies”], (American Jewish Year Book 1923, pág. 414).
A conclusão de Ginzberg é confirmada pela The Jewish Encyclopedia. Comentado sobre o tempo da Última Ceia, ele disse: “De acordo com os evangelhos sinópticos, pareceria que na quinta-feira à tarde da última semana de Sua vida, Jesus com Seus discípulos entrou em Jerusalém para comer a refeição da Páscoa com eles na cidade sagrada; se for assim, o pão e o vinho da missa ou serviço de comunhão instituído então por Ele como um memorial, seria o pão sem fermento e o vinho não fermentado do serviço de Seder” [The Jewish Encyclopedia], (edição de 1904, s.v.”Jesus”, vol. 5, pág. 414)
O costume do uso do vinho não fermentado na Páscoa sobreviveu através dos séculos não apenas entre alguns judeus, mas também entre certos grupos de cristãos e igrejas. Por exemplo, os apócrifos de Atos e Martítio do Apóstolo São Mateus, circulou no terceiro século, como uma voz celestial instruindo ao bispo local, Plato, dizendo: “Leia o evangelho e traga um pão sagrado como oferta; e após prensar os três cachos da vinha dentro da taça, comunique-se comigo, como o Senhor Jesus mostrou-nos como ofertar quando Ele subiu da sepultura no terceiro dia” [“Acts and Martyrdom of St. Matthew the Apostle”, eds. Alexander Roberts and Janes Donaldson, The Ante-Nicene Fathers (Grand Rapids, 1978), vol. 8, págs. 532-533]. Este é um testemunho claro do uso do suco de uva recém prensado na celebração da Última Ceia.
A prática de prensar uvas preservadas diretamente dentro da taça de comunhão foi confirmada por concílios, papas e teólogos, inclusive Tomás de Aquino (1225-1274 AD) [Ver Wine in the Bible, págs. 168-169]. O uso de vinho não fermentado é bem documentado, especialmente, entre as Igrejas Orientais como a Igreja da Abissínia, a Igreja Nestoriana da Ásia Ocidental, os cristãos de São Tomás na Índia, os monastérios Cópticos no Egito e os cristãos de São João na Pérsia, os quais celebravam a Ceia do Senhor com vinho não fermentado ou feito com uvas frescas ou secas [G. W. Samson, The Divine Law as to Wines (Nova York, 1880), págs. 205-217. Ver também Leon C. Field, Oinos: A Discussion of the Bible Wine Question (Nova York, 1883, págs. 91-94; Frederic R. Lees and Dawson Burns, The Temperance Bible-Commentary (Londres, 1894), págs. 280-282].
Conclusão: À luz das considerações anteriores, concluimos que “o fruto da vide” que Jesus ordenou ser usado como memorial de Seu sangue redentor não era fermentado, já que na Escritura fermento representa a corrupção humana e a indignação divina, mas o não fermentado e puro suco de uva, como emblema adequado do sangue de Cristo não contaminado, derramado para a remissão de nossos pecados.
A afirmação de que Cristo usou e sancionou o uso de bebidas alcoólicas repousa em suposições não fundamentadas, fora do texto, contexto e sem apoio histórico. A evidência que foi submetida, indica que Jesus absteve-Se de toda substância intoxicante e não deu autorização aos Seus seguidores para que eles próprios não as usassem. Podemos seguir o exemplo de Jesus pela abstinência de qualquer substância que intoxique nosso corpo e prejudique nossa mente. [Samuele Bacchiocchi, Ph. D. (*)
Ex-Professor de Teologia e História Eclesiástica, Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan, EUA – Traduzido por Profº Azenilto G. Brito (*), Ministério Sola Scriptura].
ROUPAS NOVAS NÃO ERAM USADAS COMO RETALHOS EM ROUPAS VELHAS
“Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo novo tira parte da veste velha; e, fica maior a rotura” (cf. Mc 2:21). A mensagem de João não devia ser entremeada com a tradição e a superstição. Uma tentativa de misturar as pretensões dos fariseus com a devoção de João, só tornaria mais evidente a rotura em ambas. Nem podiam os princípios do ensino de Cristo ser unidos com as formas do farisaísmo. Tornaria mais distinta a separação entre o velho e o novo. Jesus ilustrou posteriormente este fato, dizendo: “Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres” (cf. Mc 2:22).
Os odres de couro usados como vasos para guardar o vinho novo, ficavam depois de algum tempo secos e quebradiços, fazendo-se então imprestáveis para tornar a servir ao mesmo fim. Por meio dessa ilustração familiar, Jesus apresentou a condição dos guias judaicos. Sacerdotes, escribas e principais se haviam fixado numa rotina de cerimônias e tradições. Encolhera-se-lhes o coração como os odres de couro a que Ele os comparara. Ao passo que se satisfaziam com uma religião legal, era-lhes impossível tornar-se depositários das vivas verdades do Céu. Julgavam a própria justiça toda suficiente, e não desejavam que um novo elemento fosse introduzido em sua religião.
Os fariseu julgavam-se demasiado sábios para necessitar instruções, demasiado justos para precisar de salvação, muito altamente honrados para carecer da honra que de Cristo vem. O Salvador deles Se desviou em busca de outros que recebessem a mensagem do Céu. Nos ignorantes pecadores, no publicano na alfândega, na mulher de Samaria, no povo comum que O escutava de boa vontade, encontrou Ele Seus novos odres para o vinho novo. Se, mediante a graça de Cristo, Seus filhos se tornam odres novos, Ele os encherá de vinho.
Jesus mostrou o poder dos falsos ensinos para destruir a capacidade de apreciar e desejar a verdade. “Ninguém”, disse Ele, “tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho.” Toda a verdade dada ao mundo por meio de várias maneiras de Deus revelar, resplandeceu com nova beleza nas palavras de Cristo. Mas os escribas e fariseus não tinham nenhum desejo quanto ao precioso vinho novo. Enquanto não se esvaziassem das velhas tradições, costumes e práticas, não tinham, na mente e no coração, lugar para os ensinos de Cristo. Apegavam-se às formas mortas, e desviavam-se da verdade viva e do poder de Deus. Foi isso que se demonstrou a ruína dos judeus, e será a de muitas almas em nossos próprios dias.
VINHO NOVO EM ODRES NOVOS
George Webber, autor de The Congregation in Mission, escreveu: “Nenhum relacionamento de amor se desenvolverá, se não existirem estruturas sobre as quais ele possa crescer.” O padrão dos seres humanos, tanto na sociedade quanto na igreja, é construir estruturas decadentes, as quais refletem o egoísmo de nossas naturezas pecaminosas. Mas o novo vinho que Cristo oferece é o amor serviçal, e devemos medir continuamente a efetividade de nossas estruturas sociais cristãs a partir do amor que nutrimos uns pelos outros (cf. João 15:12).
Jesus utilizou a metáfora do vinho para ilustrar o que Ele oferece: o Espírito Santo que opera no crente com poder e produz nova vida (cf. At 1:8), e Sua morte vicária pela qual Deus perdoa e purifica todos aqueles que vão a Ele e confessam suas necessidades. Ele falou, porém, da tensão que se cria entre vinho novo e odres velhos. Vinho novo é o símbolo da nova vida que Ele oferece aos crentes. Os odres velhos representam os antigos padrões, tanto da vida particular quanto do relacionamento com o mundo secular e espiritual.
“Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (cf. Sl 51:17). O homem se deve esvaziar do próprio eu, antes de ser, no mais amplo sentido, um crente em Jesus. Quando se renuncia ao eu, então o Senhor pode tornar o homem uma nova criatura. Novos odres podem conter o vinho novo. O amor de Cristo há de animar o crente de uma vida nova. Naquele que contempla o autor e consumador de nossa fé, o caráter de Cristo se há de manifestar.
PASTOR VAGNER ALVES FERREIRA
JUBILADO – ASSOCIAÇÃO NORTE PARANAENSE/IASD
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