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postado em: 23/2/2017
“E tu, Daniel, fecha estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo: muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará” (Dn 12:4; ARC).
O tempo indicado nos versos quatro e primeiro de Daniel doze (Dn 12:4,1) é o mesmo do capítulo 11:45. A divisão por capítulo feita aqui é infeliz (Edwin Thiele, apostila, com. Daniel, p. 109), pois o assunto em discussão continua, sendo o mesmo. Os três primeiros versos do capítulo doze descrevem o fim do conflito estudado no capítulo onze. Este tempo não é outro senão aquele em que o anticristo, o homem do pecado, chega ao seu fim. Paulo o identifica em 2Ts 2:8.
A estrutura literária em Dn 11:45 e Dn 12:1 é planejada em torno do uso da palavra tempo: O primeiro e último usos estão associados a eventos salvíficos, enquanto o segundo e o terceiro se referem a um período de angústia sem precedentes. O tempo de angústia é enfatizado, mas é ajustado no âmbito das ações libertadoras de Deus indicando que a salvação é a última palavra de Deus para o Seu povo, não a angústia.
“E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta pelos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro” (Dn 12:1). A passagem introduzida pela expressão temporal “naquele tempo” ajuda o leitor a situar o lugar e os eventos descritos no verso dentro de uma sequência histórica particular. A fim de encontrar esse momento histórico, temos de examinar o contexto anterior.
Daniel 11:40 introduz um momento histórico específico: “No tempo do fim, o rei do Sul...” (NIV). Em Daniel o tempo do fim é um período durante o qual os eventos do fim dos tempos irão ocorrer que levarão ao estabelecimento do reino de Deus na terra (cf. Dn 7:17, 18, 21, 22, 26). Daniel 11:40-45 descreve a atividade dos inimigos de Deus durante esse tempo, culminando em sua tentativa de exterminar o povo de Deus (vs. 44, 45). Enquanto Daniel 11:40-45 descreve o trabalho das forças do mal na terra, Daniel 12:1 descreve a obra de Deus no céu, em nome do Seu povo.
MIGUEL É OUTRO NOME PARA JESUS?
O nome Miguel é usado cinco vezes na Bíblia para designar um ser celestial (cf. Dn 10:13, 21; 12:1; Jd 9; Ap 12:7). Miguel significa “quem é semelhante a Deus” e é um desafio a Satanás, que desde o princípio quis ser igual ao Criador (cf. Is 14:12-14). Sempre que Miguel é mencionado na Bíblia, refere-se à Pessoa de Jesus como Comandante dos exércitos celestiais em direta disputa com Satanás e os anjos maus, e sempre sai vitorioso (cf. Jd 9; Dn 10:13, 21; 12:1; Ap 12:7).
A expressão “um dos primeiros príncipes” de Daniel 10:13 é interpretada, por alguns, de maneira apressada como que sugerindo que há outros em igualdade a Miguel, ou seja, que este ser é um anjo realmente. Porém, o fato de Jesus [Miguel] ser chamado de “um dos primeiros príncipes” não O coloca em igualdade aos demais anjos. O americano Mark Finley, pastor e conferencista de renome internacional, em seu livro Revelando os Mistérios de Daniel, p. 125, afirma que há traduções (em inglês) que traduzem Daniel 10:13 da seguinte forma: “o primeiro dos príncipes”. Comentaristas como João Calvino, Matthew Henry, entre outros, identificam Miguel com o Senhor Jesus Cristo.
“Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda” (Jd 9). Se Jesus é Deus, como pode ser chamado de Arcanjo? No grego, “arcanjo” significa “Chefe dos Anjos”. Esse título não precisa necessariamente referir-se apenas a um ser criado, assim como ocorre com o termo “anjo” (“Mensageiro”). É aceito entre vários comentaristas que Jesus Cristo é o “Anjo do Senhor” mencionado no Antigo Testamento (cf. Gn 16:7; 18:1, 2, 13 e 19; Êx 3:2-5; 23:20-33; 32:34; Jz 6:11_24; 13:21-22).
Do mesmo modo que Cristo não Se torna uma criatura ao ser chamado de “Anjo do Senhor”, o mesmo ocorre quando é designado de arcanjo. Sendo que Ele é o Criador, automaticamente, é o “Chefe Supremo” de todos os anjos. 1Ts 4:16 relaciona a “voz do arcanjo” com a ressurreição dos santos por ocasião da volta do Senhor Jesus Cristo. Cristo mesmo declarou que os mortos sairiam da tumba ao ouvirem a SUA VOZ (cf. Jo 5:28, 29). Essa é outra evidência de que Miguel tem de ser um dos nomes de honra do Salvador.
[Judas 9] “Cristo não Se rebaixou a entrar em controvérsia com Satanás. Poderia aduzir contra ele a obra cruel que seus enganos haviam operado no Céu, causando a ruína de um número enorme de seus habitantes. Poderia ter apontado às falsidades proferidas no Éden, as quais haviam determinado o pecado de Adão e acarretado a morte ao gênero humano. Poderia ter lembrado a Satanás que foi sua obra de tentar Israel à murmuração e à rebelião o que esgotara a longânima paciência de seu dirigente, e em um momento de desprevenção o surpreendera no pecado pelo qual caíra sob o poder da morte.
“Mas Cristo remeteu tudo isto a Seu Pai, dizendo: ‘O Senhor te repreenda”. S. Judas 9. O Salvador não entrou em discussão com Seu adversário, mas naquele momento, ali mesmo, iniciou a obra de quebrar o poder desse adversário decaído, e de trazer o morto à vida. Ali estava uma prova que Satanás não podia contestar, relativa à supremacia do Filho de Deus. Tornou-se para sempre certa a ressurreição. Satanás foi despojado de sua presa; os justos mortos de novo viveriam” (Ellen G. White, PP, p. 504).
SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE APOCALIPSE 10 E DANIEL 12
O mesmo livro que em Daniel 12 é visto como fechado (cf. Dn 12:4), em Apocalipse 10 aparece aberto (cf. Ap 10:2). Enquanto o Ser de Daniel diz por quanto tempo o livro deveria permanecer fechado (cf. Dn 12:7), o Anjo de Apocalipse 10 jura que “não haverá demora” (cf. Ap 10:6). Ou seja, o Anjo de Apocalipse chama atenção para o fato de que finalmente o livro de Daniel foi aberto, pois ele aparece nos últimos dias. João, em Apocalipse 10, ao contemplar a visão, é convidado a comer um livrinho. Ele obedece, e descobre que o livro é doce ao paladar enquanto está na boca, mas torna-se amargo no estômago. A despeito de seu desapontamento, o apóstolo recebe a instrução de prosseguir profetizando.
Apocalipse 10 “como uma candeia que brilha em lugar tenebroso” (cf. 2Pe 1:19) jorra luz no entendimento da profecia de Daniel 12:4, 10: “E tu, Daniel, fecha estas palavras e sela este livro, até o fim do tempo: muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará. Muitos serão purificados, e embranquecidos, e provados; mas os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão.” O texto diz que, no tempo da “abertura” do livro: “a ciência [saber] se multiplicará”, “os ímpios procederão impiamente” e “nenhum dos ímpios entenderá”, “mas os sábios entenderão”.
Algo fantástico revelado em Apocalipse 10 é a informação de que antes que os sábios chegassem a compreender completamente as profecias do tempo do fim, enfrentariam compreensões errôneas. Haveriam de “comer” as profecias abertas de Daniel com muita alegria, apenas para descobrir que o seu contentamento inicial se converteria em tristeza, seu regozijo em desapontamento (cf. Ap 10:8-11).
“MUITOS CORRERÃO DE UMA PARTE PARA OUTRA, E A CIÊNCIA SE MULTIPLICARÁ”
“A predição de que ‘muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará’ [Dn 12:4; ARA], é fascinante. Porventura refere-se a profecia à explosão de viagens e de informações que o mundo está testemunhando desde o fim dos 1260 anos? Contemplando hoje as nossas rodovias apinhadas de veículos e as universidades cheias de alunos, torna-se difícil imaginar o que era a vida quando as pessoas não sabiam ler ou escrever, e quando passavam toda a sua vida dentro dos limites de um município; ou quando a invenção do estribo e o aperfeiçoamento da *aiveca [*aiveca: peça que sustenta a relha do arado para levantar a terra e alargar o sulco] seria capaz de alterar a direção da história européia!
Aviões datam de época tão recente quanto 1903. Automóveis foram produzidos pela primeira vez em 1909. Milhões de adultos ainda podem lembrar como era a vida sem o televisor. Pessoalmente, ainda consigo recordar vividamente o senso de incrível fantasia que me envolveu quando, em minha infância, meu irmão mais velho me contou – com toda a autoridade de que está revestido um irmão mais velho – que se uma esfera fosse lançada com suficiente força, ela poderia permanecer em órbita ao redor da Terra. Pois nos dias atuais os astronautas permanecem em órbita ao redor da Terra e ao redor da Lua.
O conhecimento, nos dias atuais, desenvolve-se com tanta rapidez, que em muitas áreas a informação parece duplicar a cada intervalo de poucos anos. Partes sensíveis de computadores supervelozes são mantidos a temperaturas próximas ao zero absoluto (-273,16 graus Celsius), porque a velocidade dos elétrons a temperaturas mais altas não é suficientemente alta para os cálculos necessários.
Embora as palavras de Daniel 12:4 tenham sido utilizadas para descrever esta explosão de conhecimentos e de viagens, é muito mais provável que elas se refiram ao crescente conhecimento das profecias bíblicas que, segundo o próprio capítulo, deveria ocorrer no tempo do fim. Os dois conceitos não estão desvinculados um do outro. O aumento no conhecimento e nas viagens contribuiu vastamente para que maior número de pessoas pudesse ler e escrever, para que os missionários se dirigissem a muitas partes e para que a Palavra de Deus fosse impressa. Se um número muito maior de pessoas está em condições de ler o livro de Daniel e de orar pedindo compreensão para a sua mensagem, evidentemente o conhecimento do livro teria de aumentar” (C. Mervyn Maxwell, Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel, págs. 318, 319, grifos acrescentados).
OS IMIGRANTES NO CENÁRIO DO TEMPO DO FIM
A Europa vive uma crise migratória de enormes proporções. Guerras, pobreza, repressão política e religiosa são alguns dos motivos que fazem milhares de pessoas saírem de seus países em busca de uma vida melhor no continente europeu. Alex Tabarrok acredita que a imigração é “o melhor programa antipobreza do mundo”. Tabarrok é professor de economia na Universidade George Mason na Virgínia e também filho de imigrantes. Tabarrok aprova totalmente a idéia de que a imigração oferece enormes benefícios econômicos, afirmando que tirar alguém de um país pobre como o Haiti e colocá-lo em um país rico como os EUA pode aumentar seu salário de três a cinco vezes.
Mas em última instância a posição pró-migração de Tabarrok não trata de economia – trata de moralidade, do que ele acredita que deveria ser um direito humano fundamental: a capacidade de se mover pela Terra como quisermos. Tabarrok se pergunta por que, em uma era em que o dinheiro e a informação correm velozes pelo planeta, as pessoas não podem cruzar fronteiras com a mesma facilidade, especialmente quando fazer isso as salvaria da guerra ou da fome. “Há direitos que cabem a todo mundo, não importa quem seja ou onde esteja no globo”, disse Tabarrok a Dubner [Professor, Jornalista e Palestrante Stephen J. Dubner, fundador da Associação Desportiva para Deficientes – ADD]. E completou: “Esses direitos incluem a livre expressão. Eles incluem a liberdade de religião. E acredito que também deveriam incluir o direito de se movimentar pela Terra.” (Além das Fronteiras: as Vantagens Econômicas da Imigração – Freakonomics – UOL Notícias, 31/12/2015).
COMISSÃO ÀS ETNIAS NO FIM DO TEMPO
“Há várias razões para pensar que a atual diversidade humana foi originada em Deus. Primeira razão, toda a diversidade de povos da terra surgiu de uma família que Deus criou no Éden (Gn 1-2), e com uma família tudo recomeçou novamente depois do dilúvio (Gn 7-11). Paulo disse: “De um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra (At 17:26). Segunda razão, foi da vontade de Deus que se desenvolvesse uma diversidade de raças. Quando Moisés relata que “foram disseminadas as nações na terra depois do dilúvio” (Gn 10:32), introduz o incidente da Torre de Babel (Gn 11:1-9) para explicar a origem da diversidade de grupos humanos que se conheciam neste tempo.
Desafortunadamente alguns autores deram má interpretação medieval, alguns autores têm assumido que a diversidade humana foi o resultado do pecado e não a vontade original de Deus. Mas, outros eruditos têm interpretado que o incidente da confusão de língua em Babel foi um ato de Deus para conseguir realizar Seu sonho. Nessa última linha de interpretação, está Ellen G. White que comenta o seguinte sobre a construção da cidade e da torre: ‘Estes empreendimentos destinavam-se a impedir que o povo se espalhasse ao longo, em colônias. Deus determinara que os homens se dispersassem pela Terra toda, para povoá-la e subjugá-la; mas estes construtores de Babel resolveram conservar unida a sua comunidade, em um corpo, e fundar uma monarquia que finalmente abrangesse a Terra inteira’ (PP, p. 119).
Esta declaração mostra, com clareza, a vontade humana de não querer espalhar-se e aponta para o plano de fundar uma monarquia em contraste com a vontade divina de cobrir a terra com diversas colônias. Então, o Criador confundiu sua língua a assim conseguir seu objetivo. ‘Até essa época, todos os homens haviam falado o mesmo idioma; agora os que podiam se entender se reuniram em grupos; uns tomaram um caminho, outros outro. “Destarte o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra” (Gn 11:8). Esta dispersão obrigou os homens a povoar a terra, e o propósito de Deus se alcançou [...] Era o propósito do Criador que à medida que os homens fossem fundar nações em distintas partes da terra, levassem consigo o conhecimento de Sua vontade, e que a luz da verdade iluminasse as gerações futuras” (Ibid, 120-121; Daniel Rode, DMiss Universidade Adventista Del Plata, A Visão Adventista dos Últimos Acontecimentos, págs., 339, 340).
Obviamente, a Bíblia não menciona apenas as raças, nações e grupos étnicos, mas também retrata Deus envolvendo-Se ativamente em favor das nações e das famílias da Terra, à medida que o plano de salvação se desenrola. “Podemos observar que as graves distorções da percepção bíblica de raça e nacionalidade ocorrem quando a identificação com a própria nação, país, tribo ou grupo resulta em hostilidade para com outros grupos. Miroslav Volf denomina tal hostilidade como ‘exclusão’ e classifica três principais formas em que ocorre essa exclusão: eliminação, dominação, ou abandono. Como devemos lidar com o problema da exclusão? Há três caminhos diante de nós.
Benevolência – As Escrituras substituem a eliminação pela benevolência. O mandamento “amarás o teu próximo” (Levítico 19:18; Marcos 12:31) certamente transcende as fronteiras tribais e nacionais, e inclui o outro tribal, étnico ou nacional... Paulo diz: “Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” (Romanos 12:20, 21). Benevolência “elimina” o inimigo ao transformá-lo em amigo.
Serviço – Em vez de dominação, as Escrituras recomendam serviço. A legislação em favor do estrangeiro afirma: “Não afligirás o forasteiro, nem o oprimirás; pois forasteiros fostes na terra do Egito” (Êxodo 22:21). Deus utiliza a experiência de Israel no Egito como motivação para manter a lei. Uma vez que o oprimido pode se tornar opressor, Deus lembra a Seu povo seu status anterior, a fim de que eles exercessem a solidariedade para com o estrangeiro. Entre as nações do antigo Oriente Médio, Israel era a única a ter leis que exigiam proteção aos estrangeiros.
Solidariedade – O abandono do outro “étnico” deve ser substituído pela solidariedade. Na dedicação do templo, Salomão ora para que Deus ouça a oração do estrangeiro (1 Reis 8:41, 43), uma indicação de que o culto do templo incluiria estrangeiros – não os excluiria como ocorreu mais tarde. A esse respeito, a parábola do bom samaritano pode trazer uma boa lição, pois retrata um “exemplo clássico de racismo” (Lucas 10:29-37). Ao nos relacionarmos com o nosso próximo étnico, as Escrituras nos apelam para que exemplifiquemos uma atitude de aceitação, serviço e solidariedade.
A Bíblia sanciona a diversidade de raças e nações, juntamente com a convicção de que todas as raças, etnias e nações são uma única e mesma família humana. Sobre essa base teológica, a Bíblia estabelece sua percepção das nações e grupos étnicos, revitalizando distinções tribais e nacionais. Acima dessas formas de lealdade humanas está a absoluta lealdade devida ao Deus Criador, ao exigir que amemos nossos irmãos estrangeiros. Portanto, qualquer manifestação de racismo, etnocentrismo, nacionalismo, tribalismo ou sistema de castas é inaceitável, não somente do ponto de vista humanitário, mas também a partir de uma perspectiva bíblica ou teológica.
Somente uma visão de mundo moldada pelas Escrituras pode oferecer uma base sólida para abordar a questão de raça, etnia e nacionalidade de forma prática. Como a Bíblia deixa claro desde o “princípio”, a criação estabelece a base sobre a qual devemos fundamentar a nossa relação com o nosso próximo estrangeiro. Além disso, as Escrituras revelam que o pecado tem distorcido a nossa percepção do outro ao nosso lado. O racismo e as formas relacionadas de preconceito têm infectado a natureza humana e só podem ser erradicados pelo sangue de Jesus. NEle “não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas Cristo é tudo em todos” (Colossenses 3:11 – Pastor Elias Brasil de Souza*, artigo: Racismo e nacionalismo: o ensino bíblico, DIÁLOGO UNIVERSITÁRIO, 2014, págs. 7, 8; * Elias Brasil de Souza é diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo, em Silver Spring, Maryland, EUA).
MIGUEL VENCE A BATALHA DO ARMAGEDOM
O Novo Testamento projeta dois ajuntamentos reconhecidos como Israel, não apenas um: “Porque nem todos os de Israel são de fato israelitas” (Rm 9:6). Ao falar dos que são “de Israel” a alusão é ao povo pertencente à nação judaica literal. Mas somente porque pessoas são “de Israel”, ou judaicas, não significa essencialmente que de fato são “israelitas”. Paulo, evidentemente, revelou haver “um Israel segundo a carne” (cf. 1Co 10:18) e outro “Israel de Deus” (Gl 6:16) reunido em Jesus Cristo.
O Israel “segundo a carne” (cf. Rm 9:3, 4), tem a sua linha hereditária de Abraão, porém ainda não crê em Cristo como o Messias. O “Israel de Deus” (Gl 6:16) aludi-se àqueles do grupo composto de judeus e não-judeus que receberam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador (cf. Jo 1:12). “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3:28, 29).
“Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra. Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres. Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição. Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA. Então, vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto” (Ap 17:1-6).
O livro do Apocalipse retrata o inimigo final de Deus e de Seu povo fiel como a prostituta “Babilônia”. Deus a sentenciará com o firme propósito de tirá-la da rota, assim como provocou a queda da antiga Babilônia. O símbolo usado pelo anjo apocalíptico vem do Antigo Testamento, quando ele anuncia: “Caiu, caiu Babilônia, a Grande, que fez todas as nações beber do vinho da ira da sua prostituição” (Ap 14:8; ver Is 21:9). Este simbolismo é mais desenvolvido na visão dos sete últimos flagelos, os dois últimos dos quais aludem claramente à queda da antiga Babilônia após o seu curso de entrada do rio Eufrates ser subitamente desviado (cf. Ap 16:12, 17-19). João introduz Babilônia em sua visão no Apocalipse por causa de sua oposição a Jerusalém, a capital de Israel.
“Derramou o sexto anjo a sua taça sobre o grande rio Eufrates, cujas águas secaram, para que se preparasse o caminho dos reis que vêm do lado do nascimento do sol” (Ap 16:12). A Babilônia de Nabucodonozor fixava-se sobre o Eufrates, de onde vinha toda a água necessária para o bom funcionamento da cidade (cf. Jr 51:63, 64). A cidade era totalmente murada, com dois portões de ferro com barras que desciam até o leito do rio tanto da entrada quanto da saída. Quando os portões e as outras entradas eram fechados, Babilônia ficava potencialmente impenetrável.
Dn 5:5, 25-28, 30, 31. “No mesmo instante, apareceram uns dedos de mão de homem e escreviam, defronte do candeeiro, na caiadura da parede do palácio real; e o rei via os dedos que estavam escrevendo... Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE, TEQUEL E PARSIM. Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele. TEQUEL: Pesado foste na balança e achado em falta. PERES: Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas. Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus. E Dario, o medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou do reino.” Isto se deu no dia 13 de outubro de 539 a.C. Segundo escavações, a sala do palácio da orgia tinha 52m de comprimento por 17m de largura, totalizando uma área de 884m².
De acordo com as informações contidas no Cilindro de Ciro que se encontra no Museu Britânico, em Londres, na noite da orgia, depois de um longo cerco, Ciro, um general persa e sobrinho de Dario, conquistou Babilônia. Ele e seus homens cavaram valas rio acima ao longo do Eufrates, desviando a água para uma depressão. Gradualmente o rio teve suas águas reduzidas ao percorrer a cidade de Babilônia. Ninguém notou. Quando as águas baixaram ao ponto de permitir que Ciro e seus homens furtivamente adentrassem na cidade sob as portas duplas que haviam sido deixadas abertas, rapidamente atacaram a condenada cidade, mataram o rei e dominaram Babilônia.
“No momento mesmo em que o rei e seus nobres estavam bebendo pelos vasos sagrados de Jeová, e louvando a seus deuses de prata e ouro, os medos e persas, havendo desviado do seu leito o Eufrates, estavam marchando para o coração da cidade desguarnecida... Naquela mesma noite foi morto Belsazar, rei dos caldeus, e um monarca estrangeiro ocupou o trono” (Ellen G. White, PR, p. 531).
É essencial para definir precisamente a característica teológica de cada participante na antiga queda de Babilônia, em conexão com o Senhor, antes que se possa determinar com responsabilidade a função correspondente de cada participante na queda apocalíptica da Babilônia em conexão com Cristo: a) Babilônia funcionava como o inimigo do Senhor e como opressor de Israel; b) O Eufrates era uma parte integrante da Babilônia, apoiando e protegendo-a como uma parede, assim, da mesma forma hostil a Israel; c) A secagem do Eufrates indicava o julgamento de Deus sobre Babilônia, causando sua queda súbita: urgia desenvolver uma estratégia para desviar o leito do rio para a preparação da libertação de Israel; d) Ciro e seus reis aliados dos medos e dos persas (Jr 50:41; 51:11, 28) vieram como os reis do Oriente previstos para Babilônia para cumprir o propósito de Deus. Eles eram os inimigos da Babilônia e os libertadores de Israel. Ciro é “ungido” pelo Senhor para derrotar Babilônia e libertar Israel; e) Daniel e o Israel de Deus na Babilônia constituíam as pessoas fiéis da aliança, os arrependidos de Deus (cf. Dn 9).
No Apocalipse, Babilônia representa o inimigo em potencial e muito perigoso de Cristo e de Sua Igreja. Agora, tanto a Babilônia e Israel são universais, o seu âmbito territorial é mundial. O evangelho é explicitamente enviado “a toda nação, tribo, língua e povo” (Ap 14:6). Em harmonia com esta escala mundial de Babilônia, a Inspiração dá também ao rio Eufrates de Babilônia uma aplicação universal enfaticamente: “As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, multidões, nações e línguas” (Ap 14:8; 17:1-6, 15). A interpretação do anjo sobre o significado do Eufrates em Apocalipse 17 é de bom alvitre para nos proteger contra uma aplicação literal do rio da Babilônia no Oriente Médio. O evangelho de Jesus Cristo nos liberta das restrições da literalidade étnica e geográfica para a era messiânica – “do Israel de Deus” (Gl 6:16).
A palavra Armagedon vem de duas outras palavras hebraicas: AR = monte, montanha, e MEGIDO = cidade localizada perto dos vales de Saron e Jezreel, onde se cruzavam duas importantes rotas comerciais. A cidade foi fortificada por Salomão (cf. 1Rs 9:15) e se tornou cenário de grandes batalhas (cf. Jz 5:19-21; 2Rs 23:29). Etimologicamente, Armagedom significa “Monte de Megido”. Como no Armagedom ocorreram grandes batalhas, esse lugar passou a figurar nas profecias como o lugar da batalha final entre Deus e Seu povo, de um lado, e Satanás e os ímpios, do outro. A batalha ocorrerá quando as forças do mal tentarem acabar com o povo de Deus, mas Ele os protegerá. Isso ocorrerá pouco antes da segunda vinda de Cristo. A sexta praga tem que ver com a preparação das nações para o Armagedom, e a sétima com a batalha propriamente dita (cf. Ap 16:12-21).
O secamento do rio Eufrates está diretamente relacionado com essa batalha final entre as forças do bem e do mal. Essa guerra final será uma batalha espiritual entre a verdade e o erro. O secamento das águas do Eufrates será, então, a retirada do apoio humano à Babilônia simbólica – poderes políticos e religiosos, que antes estavam coligados e unidos contra a verdade e o povo de Deus. “Todo o mundo estará em um ou no outro lado da questão. Será travada a batalha do Armagedom. E nesse dia nenhum de nós deverá estar dormindo. Precisamos estar bem despertos, como as virgens prudentes, tendo azeite em nossas vasilhas com nossas lâmpadas. O poder do Espírito Santo deve estar sobre nós, e o Capitão do exército do Senhor estará à frente dos anjos para dirigir a batalha” (cf. Ellen G. White, Eventos Finais, p. 250, 251).
O SECAMENTO DO EUFRATES DA BABILÔNIA UNIVERSAL
“Derramou o sexto anjo a sua taça sobre o grande rio Eufrates, cujas águas secaram, para que se preparasse o caminho dos reis que vêm do lado do nascimento do sol. Então, os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom” (AP 16:12, 16). “Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumarão no fogo” (Ap 17:16). O secamento do grande rio Eufrates vai acontecer quando os governantes políticos e multidões religiosas de todas as nações de repente perceberem o veredito de Deus sobre a Babilônia espiritual e unidos retirarem o seu apoio dela (cf. Ap 17:16). Eles vão reverter drasticamente seu leal apoio em ódio ativo com tanta hostilidade que acabarão por destruí-la completamente. Esta é a extinção repentina de Babilônia (cf. Ap 17:17). Águas do Eufrates, as multidões que a ela [à Babilônia] apoiaram em seu trabalho (Ap 17:15), de repente, retiram o seu apoio.
Quando Ciro secou as águas do Eufrates, foi preparado o caminho para que todos os reis do Oriente entrassem na capital e assumissem seu governo mundial. Assim, a escrita na sala do banquete de Belsazar foi cumprido: “O seu reino está dividido e dado aos medos e persas” (Dn 5:28). No entanto, a profecia não encontrou sua consumação completa e exaustiva senão quando Ciro derrubou a antiga Babilônia e com o posterior retorno de Israel a Jerusalém (Ed 1:1-5).
O drama apocalíptico dos sinais cósmicos espetaculares e a destruição eterna de Babilônia serão cumpridos logo que o Messias entrar pessoalmente em cena como Guerreiro santo para destituir Babilônia, quando seus crimes contra o “Israel de Deus” se acumularem até o céu (Ap 18:5). O fato de que Cristo trará julgamento divino do Templo celestial no tempo do fim (Ap 18:15-19) é mais do que uma analogia impressionante com a posse vitoriosa de Ciro da antiga Babilônia. Sua vinda não será mais a partir de qualquer lugar da terra, mas diretamente do trono celestial de Deus, isto é, a partir da direção do Oriente astronômico ou Cósmico.
Esta será a maior glória teofânica nunca exibida para o mundo, a mais esplêndida libertação do povo, cujo cavaleiro Se chama Fiel e Verdadeiro: “Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça... E seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro” (Ap 19:11-14). “Ao aproximar-Se mais da terra, pudemos ver a excelente glória e majestade de Jesus, enquanto Ele saía para vencer. Um séquito de santos, com coroas brilhantes, resplandecentes sobre as cabeças, acompanhava-O, em seu trajeto” (Ellen G. White, PE, 286). “AMÉM! VEM, SENHOR JESUS!”
PASTOR VAGNER ALVES FERREIRA
JUBILADO – ASSOCIAÇÃO NORTE PARANAENSE/IASD
E-MAILL: [email protected]