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postado em: 16/6/2013
FILHOS DE DEUS E FILHAS DOS HOMENS
“Vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram. Ora, naquele tempo havia gigantes na Terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade” (Gên. 6:2, 4).
Gênesis 6:1-4 tem sido considerado uma das passagens mais obscuras da Bíblia. Dificuldades surgem em cada aspecto do texto e esses poucos versos têm provocado muita controvérsia quanto à sua compreensão e ao significado de seus temas. Uma dessas questões controversas diz respeito à identidade dos “filhos de Deus” e das “filhas dos homens”, mencionados nesses versos. Quem eram esses “filhos de Deus”? Seriam eles seres sobrenaturais ou simples seres humanos? Quem eram essas “filhas dos homens”? Como entender Gênesis 6:1-4? Seria uma passagem mitológica que fala da união de seres divinos com mulheres humanas, de forma semelhante ao que é encontrado na mitologia grega e na do Antigo Oriente Médio?
Através da história do estudo dessa passagem, três interpretações têm se destacado: a primeira, a interpretação mitológica, na qual os “filhos de Deus” são vistos como seres celestes, sendo anjos ou deuses. A segunda, a interpretação real, na qual eles são considerados como sendo reis ou governantes, homens com status de realeza. A terceira, a interpretação setita, a qual os considera como sendo os descendentes de Sete, homens da linhagem dos fiéis a Deus dentre os descendentes de Adão. Na seqüência, cada interpretação será revisada com um foco na perspectiva de cada uma e nos seus argumentos.
A interpretação mitológica - /span> AA interpretação dos “filhos de Deus” como seres celestes era bem comum na antiga literatura judaica. O livro de Enoque, capítulos 6 e 7, o Livro dos Jubileus, capítulo 5, Filo de Alexandria (De Gigant 2:358), Josefo (Ant. 1.31), os Manuscritos do Mar Morto (1QapGen 2:1; CD 2:17-19) identificaram os “filhos de Deus” como sendo anjos. Alguns dos primeiros exegetas cristãos (tais como Justino, Clemente de Alexandria e Tertuliano) fizeram o mesmo.
A interpretação mitológica é também a mais comum entre os acadêmicos de hoje. Alguns desses acadêmicos, permanecendo dentro de um contexto mais “bíblico”, identificam os “filhos de Deus” com os anjos. Outros aceitando a passagem como originária de um contexto politeísta, vêem os “filhos de Deus” como seres divinos, deuses mitológicos que teriam vindo à terra e se unido em casamento com mulheres humanas.
Os principais argumentos apresentados a favor da interpretação mitológica são: Primeiro, em outras partes do AT, a expressão “filhos de Deus” se refere a seres celestes, a criaturas divinas (como em Sl 29:1; 89:7; Jó 1:6; 2:1). Segundo, o contraste entre as expressões “filhos de Deus” e “filhas dos homens” indica seres de natureza diferente entre si. O primeiro grupo é divino e celestial, enquanto o segundo é humano e terrestre. Terceiro, os paralelos encontrados na literatura mitológica das culturas contemporâneas ao antigo Israel, as quais também falam desse tipo de casamento entre os deuses e mulheres. Atenção especial é dada à literatura ugarítica, que usa a expressão “filhos de Deus” em referência aos membros do seu panteão divino.
A interpretação real – /span> NNessa interpretação, a expressão “filhos de Deus” é vista como se referindo a reis, governantes poderosos que estabeleceram haréns reais pela força ou que violentavam mulheres de forma indiscriminada. Esta interpretação é também encontrada na antiga literatura judaica. O Targum Onkelos e o Targum Jonathan traduzem a expressão “filhos de Deus” “como filhos dos nobres”; na LXX, Símacus traduziu a expressão por “filhos de poderosos”. Vários exegetas judeus seguiram essa interpretação, e assim o fizeram alguns intérpretes cristãos, às vezes com certa nuance.
Os principais argumentos a favor dessa interpretação são: Primeiro, os juízes são aparentemente identificados com os deuses e os filhos do Altíssimo em Salmo 82. O rei davídico é chamado de “filho de Deus” em 2 Samuel 7:14 e Salmo 2:7. Além dessa evidência bíblica existe também a evidência das culturas antigas, nas quais os reis eram identificados como tendo uma origem divina. Segundo, esta interpretação toma a sério a frase “tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram”, que indica verdadeiros casamentos e não um tipo de união mitológica. Esta frase fala também acerca do poder dos reis de fazer o que bem quisessem.
Terceiro, essa interpretação torna inteligível o julgamento divino que sobreveio sobre toda a humanidade, em vez de atingir somente aqueles que estiveram envolvidos no ato em si (os “filhos de Deus”, as “filhas dos homens” e seus filhos). Na ideologia oriental não é incomum que o destino de todo o povo esteja ligado ao destino do seu rei.
A interpretação setita – Essa interpretação identifica os “filhos de Deus” com homens descendentes da linhagem de Sete, ou seja, daqueles que tinham se mantido fiéis a Deus (Gn 5). As “filhas dos homens” seriam mulheres da ímpia linhagem de Caim (Gn 4:17-24). Este modo de interpretar o texto tem sido muito comum no meio cristão desde os tempos patrísticos. Hoje, ele é mais comum no meio cristão conservador, mas há alguns exegetas mais liberais que o adotam também.
Os principais argumentos a favor dessa interpretação são: Primeiro, homens eram também chamados de “filhos de Deus” na Bíblia (Êx 4:22, 23; Dt 14:1; 32:5, 6; Sl 73:15; 82:6; Os 1:10; Ml 1:6). Segundo, não há nenhuma referência na Bíblia que apóie a idéia de que anjos ou demônios sejam seres dotados de funções sexuais, enquanto que o contrário é expressamente declarado em Mateus 22:30. A idéia, mesmo de sexo em relação a Deus ou os anjos, é algo totalmente alheio ao pensamento hebraico. Terceiro, no contexto que precede o capítulo 6, a família de Sete é diferenciada da família de Caim num plano religioso.
Quarto, a expressão “tomar mulher” é uma expressão comum no AT para o casamento e não denota nenhuma relação anormal entre anjos e seres humanos. Quinto, o vs. 3 deixa claro que o juízo divino concernia ao ser humano somente. Se os “filhos de Deus” eram anjos, alguma referência de juízo sobre eles deveria aparecer no texto também. No entanto, o juízo cai somente sobre os homens. Portanto, o texto parece indicar que somente a humanidade esteve envolvida na falta que foi cometida.
Avaliação das três principais interpretações
Ao se analisar as três principais interpretações, observa-se que cada uma tem fortes argumentos a seu favor. A Bíblia usa o termo “filhos de Deus” tanto para seres celestes, como para governantes e reis, como também para simples homens que faziam parte do povo de Deus. Cada interpretação, portanto, encontra apoio no texto bíblico. Tanto a interpretação mitológica como a real têm paralelos nas idéias, costumes e mitos encontrados no mundo antigo. Este fato constitui em si um forte argumento a favor delas aos olhos da maioria dos exegetas modernos. Para aqueles que apóiam a interpretação setita, geralmente o testemunho da Bíblia, e especialmente as palavras de Jesus, acerca da natureza dos anjos se constitui no mais forte argumento dessa interpretação.
No entanto, cada interpretação deixa em aberto muitas questões. O aceitar a interpretação mitológica, por exemplo, implica na negação do claro testemunho do resto das Escrituras e de Jesus (Mt 22:30) acerca da natureza dos anjos. Além disso, permanece também o questionamento quanto à razão de toda humanidade sofrer juízo pelo pecado de alguns seres celestes com algumas mulheres humanas.
Contra a interpretação real tem se levantado o questionamento de que, apesar de ser encontrada referência a reis como “filhos de Deus” no Egito, na Mesopotâmia e em Canaã; em Israel esse tipo de linguagem parece estar restrita à retórica da corte e a composições poéticas, nunca sendo encontrada no AT, pelo menos, em textos com o estilo de simples narrativa como em Gênesis seis. Além disso, o termo “filho de Deus” nunca é atestado no Antigo Oriente Médio como uma referência genérica a reis, mas somente em referência específica a um certo rei.
Contra a interpretação setita tem sido objetado que visto o termo “homem” ser usado no vs. 1 como uma referência a toda a humanidade, no vs. 2 ele deve ser entendido também de modo genérico e não específico, como se referisse à linhagem caimita. Em Gênesis 6:1-2 se encontra, portanto, um contraste entre seres humanos e celestiais. Em vista da força dos argumentos tanto a favor como contra essas interpretações, e em vista que todas as três clamam estar bem fundamentadas na Bíblia, nos parece que a questão poderia ser decidida somente a partir de uma investigação detalhada do próprio texto bíblico e do seu contexto.
Identidade dos filhos de Deus e das filhas dos homens
O texto bíblico aponta para a indicação quanto à identificação dos “filhos de Deus” em Gênesis 4:26 e 5:1-3. Primeiramente, Gn 4:26 descreve o início do relacionamento entre um grupo religioso organizado, os descendentes de Sete, e Deus. Tem sido observado, pelos defensores da interpretação Setita, que dentro do contexto de uma relação religiosa e de fidelidade a Deus, seres humanos têm sido chamados de “filhos de Deus” na Bíblia. Além disto, Gênesis 5:1-3 tem algumas características peculiares. Na apresentação da genealogia de Adão, vs. 1 retoma a criação e apresenta Deus como o primeiro membro nessa genealogia. Ele criou o ser humano segundo a Sua imagem.
Do mesmo modo, Adão gerou seu filho Sete segundo a sua imagem e semelhança. Deus é aqui claramente colocado como o primeiro membro da linhagem Setita e a Sua ação de criar o homem é posta em paralelo, pelo uso do mesmo tipo de palavras, com a ação de Adão gerar um filho. A ação de Deus e a de Adão são colocadas no mesmo nível no relato genealógico. Deus é verdadeiramente o pai do ser humano (Adão e Eva), quanto Adão era o pai de Sete. Com uma identificação tão clara no início do capítulo 5 não é surpreendente encontrar uma referência aos descendentes de Sete como os “filhos de Deus” em Gênesis 6:1-4.
Quanto à questão acerca das “filhas dos homens”, pode-se observar um fenômeno semelhante no texto bíblico. Enquanto no caso dos “filhos de Deus”, a referência foi feita ao primeiro membro que aparece na genealogia de adão, ou seja, a Deus (Gn 5:1); a referência às mulheres caimitas é feita em relação ao primeiro membro da linhagem de Caim, ao Homem (Adão e Eva, ver Gn 4:1). O texto bíblico lê literalmente “filhas do homem [Adam]”. Assim as expressões “filhas dos homens” e “filhos de Deus”, em Gênesis 6:1-4, teriam sido enquadradas pelos relatos genealógicos que as precederam nos capítulos 4 e 5. Ambas as expressões parecem fazer referência ao primeiro membro mencionado nestas genealogias.
Pode-se afirmar que, mediante o acúmulo das evidências extraídas do texto, chega-se à conclusão que valida a interpretação Setita. Na análise da identidade dos “filhos de Deus” e das “filhas dos homens”, um indício final veio do modo como Deus foi introduzido na genealogia de Adão no capítulo 5 de Gênesis. Ele é apresentado ali como membro regular dessa genealogia; de fato, como o primeiro membro da mesma. Portanto, não seria nada estranho apresentar os descendentes de Sete como “filhos de Deus”.
Quanto às “filhas dos homens”, Gênesis 6:1-4 fez o mesmo tipo de referência, apontando para Gênesis 4:1, ao Homem (Adão e Eva) como os primeiros da genealogia de Caim. Para maiores argumentos e esclarecimentos, ver o artigo: “Os Filhos de Deus” em Gênesis 6:1-4, do professor Reinaldo W. Siqueira no endereço abaixo do qual reproduzimos as principais idéias (Cf. Artigo: Os “FILHOS DE DEUS” EM GÊNESIS 6:1-4, Kerygma: Revista Eletrônica de Teologia, 2º Semestre de 2005, pastor Reinaldo W. Siqueira, Ph.D., Professor de Antigo Testamento do curso de Teologia do Unasp – Atualmente, é reitor do SALT na Divisão Sul-Americana ).
À semelhança de Deus e à semelhança de Adão
Com referência à criação de Adão, acha-se dito: “À semelhança de Deus o fez;” mas o homem, depois da queda, “gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem” (Gn 5:1 e 3). Ao passo que Adão foi criado sem pecado, à semelhança de Deus, Sete, como Caim, herdou a natureza decaída de seus pais. Mas recebeu também conhecimento do Redentor, e instrução em justiça. Pela graça divina serviu e honrou a Deus; e trabalhou, como teria feito Abel caso ele vivesse, para volver a mente dos homens pecadores à reverência e obediência a seu Criador.
“E a Sete mesmo também nasceu um filho: e chamou o seu nome Enos; então se começou a invocar o nome do Senhor” (Gn 4:26). Os fiéis haviam adorado a Deus; mas, como aumentassem os homens, a distinção entre as duas classes se tornou mais assinalada. Havia uma franca profissão de fidelidade para com Deus por parte de uma, assim como de desdém e desobediência por parte da outra. Por algum tempo as duas classes permaneceram separadas. Enquanto durou esta separação, mantiveram em sua pureza o culto a Deus.
Mas com o correr do tempo arriscaram-se pouco a pouco a misturar-se com os descendentes de Caim. Esta associação produziu os piores resultados. “Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas” (Gn 6:2). Os filhos de Sete, atraídos pela beleza das filhas dos antepassados de Caim, desagradaram ao Senhor casando-se com elas. Muitos dos adoradores de Deus foram seduzidos ao pecado pelos engodos que constantemente estavam agora diante deles, e perderam seu caráter peculiar e santo.
Misturando-se com os depravados, tornaram-se semelhantes a eles, no espírito e nas ações; as restrições do sétimo mandamento eram desatendidas, “e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram”. Os filhos de Sete “entraram pelo caminho de Caim” (Jd 11); fixaram a mente na prosperidade e gozos mundanos, e negligenciaram os mandamentos do Senhor. Os homens “se não importaram de ter conhecimento de Deus”; “em seus discursos se desvaneceram, e seu coração insensato se obscureceu”. Por isso “Deus os entregou a um sentimento perverso” (Cf. Rm 1:21 e28). O pecado propagou-se largamente na Terra como uma lepra mortal (Cf. PP., pp. 77 e 78).
As boas novas do Evangelho desde a entrada do pecadoo:p>
““Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo” (Ap 14:6). As Escrituras caracterizam a mensagem do primeiro anjo, especificamente como um “evangelho eterno”, ou seja, a combinação de “evangelho” com “eterno” enfatizando a natureza permanente e divina do evangelho e seu incontestável caráter soberano. Esta ênfase parece sugerir que o evangelho seria ameaçado por sua distorção ou falsificação nos últimos dias (Cf. Gl 1:6, 9, 11 e 12).
O livro Questions on Doctrine define o termo “evangelho eterno” da seguinte maneira: “São as mesmas inalteráveis e imutáveis boas novas que Deus tem comunicado ao homem desde que o pecado entrou no mundo, embora percebidas através de diversas épocas com variados graus de clareza e ênfase” (SDA’s Answers Questions on Doctrine, 1957, p. 613, citado pelo teólogo Hans K. LaRondele em Doutrina da Salvação, 1982).
Tão logo entrou o pecado mo mundo, Deus revelou um Salvador que definitivamente feriria a cabeça da serpente, mas que primeiramente deveria sofrer nesta luta (Cf. Gn 3:15). O plano divino de salvação através de Cristo não foi, portanto, uma atitude posterior, mas preparado como o concerto eterno da graça de Deus antes da queda, antes mesmo da fundação do mundo, para restaurar o homem caído em sua justiça e dignidade original (Cf. Ef 1:4; 1Pe 1:20; Hb 13:20; Ap 13:8).
Portanto, em Jesus Cristo, a graciosa escolha de Deus da raça humana pecadora proveu a fonte e segurança para justificar o homem por meio da fé no Substituto. Também Abraão recebeu este concerto eterno como o evangelho da graça restauradora centralizada no Filho de Deus (Gn 12:3; Gl 3:8). “A galáxia dos santos do Antigo Testamento registrada em Hebreus 11 mostra que o homem foi salvo pela fé desde o princípio” (Dr. E. Heppenstall, Idem Hans K. LaRondele).
A verdade evangélica de que o concerto de Deus com os patriarcas, renovado a seguir com o antigo Israel, foi essencialmente um concerto de justificação pela graça e não um concerto de justificação pelas obras da Lei, sendo redescoberto pela Reforma no século XVI. João Calvino, claramente explicou por meio das Escrituras que o concerto de Deus com Abraão, Moisés e os Doze Apóstolos [Igreja] é realmente um /b>e o mesmo, posto que todos tiveram e conheceram a Cristo como Mediador.
SSomente dois princípios de adoração: Expiação pela graça ou justificação pelas obras
Com base na autoridade messiânica de Jesus, é de vital importância para cada pessoa buscar a verdade revelada sobre a adoração, experimentar Seu Espírito salvador e santificador. Desde que Deus prometeu no Paraíso a vinda de um Salvador (Cf. Gn 3:15), a adoração foi ordenada a fim de expressar fé no Salvador vindouro, em Sua expiação justa e substitutiva pelo derramamento de sangue animal. Isto se tornou claro à luz do testemunho no Novo Testamento quando testifica que na adoração de Israel “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22).
As Escrituras, portanto, indicam que a diferença básica entre o sacrifício de Abel e o de Caim não foi a forma externa de adoração em si mesma (Cf. Gn 4:3, 4), mas “pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim” (Cf. Hb 11:4). Que tipo de fé era expressa na oferta de Abel? Hebreus 11:1 o indica: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem”. Esta definição pressupõe uma promessa especial de salvação por meio da revelação divina e como a confiança na vinda do Salvador deveria ser expressa na adoração.
A unidade da justificação e santificação
Recebemos a justificação recebendo-O a Ele (MDC, 18). De acordo com a Palavra de Deus, a justificação de Deus possui dois aspectos inseparáveis: O aspecto judicial e o poder dinâmico. /b>PPaulo, que desenvolveu de forma tão benéfica a justiça imputada de Deus por meio da fé em Cristo, registrou também um dos mais extraordinários hinos de amor já escritos: I Coríntios 13. As boas novas de verdadeira obediência fluem espontaneamente da fé. Sem fé, o amor estaria saturado pelo egoísmo. “A fé recebe, o amor dá. A fé leva o homem a Deus, o amor leva Deus ao homem” (Lutero).
As Escrituras Sagradas ensinam que somos salvos pela graça, através da fé, para as boas obras, /b>oo que torna a obediência inevitável. Paulo constrói a estrutura desta posição teológica da salvação nos seguintes termos: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:8-10).
Graça é o fator primário pelo qual nós somos salvos que, sem dúvida, pertence inteiramente a Deus. Graça é, em essência, a atitude misericordiosa com a qual Deus Se relaciona conosco em nosso pecado. Fé é a capacidade que Deus depositou em cada coração humano para responder à Sua graça (Cf. Rm 12:3). Ele é o Autor da fé. “Olhando para Jesus, Autor e consumador da fé” (Hb 12:2). Conquanto Ele tenha criado nossa fé e a colocado nos nossos corações, Ele não a exercerá por nós.
Assim, no sentido em que nós devemos exercitar a fé que Ele nos deu, pode ser dito que a fé é a nossa parte. Mesmo assim, Ele não nos deixa a exercitar o dom da fé por nós mesmos. Não somente Ele nos deu fé como um dom gratuito, Ele também toma sobre Si mesmo a responsabilidade em despertar nossa fé à ação. Ele faz isto atraindo a nossa atenção para o Seu infinito amor como foi manifestado na cruz. Assim Paulo diz que a fé “opera pelo amor” (Gl 5:6). Isto é, a fé é tornada ativa por encontrar-se com o amor de Deus. Amor é o fator motivador no plano de Deus da salvação. O amor de Deus desperta e move a fé em nós para assim apreciarmos a Sua graça que voluntária e alegremente nos submetemos a Seu propósito para nossas vidas.
Um pecador salvo e tornado justo pela graça de Deus traz glória Àquele que efetuou a salvação. É o propósito de Deus “dar a conhecer as riquezas da Sua glória nos vasos de misericórdia” (Cf. Rm 9:23). Nós somos esses vasos. Como objetos de extravagante graça, nada temos do que nos jactar a não ser a cruz de Cristo. É para nos proteger da glória própria que Paulo nos adverte a não nos atribuir grau algum de mérito às nossas boas obras, porque se fôssemos “justificados pelas obras,” teríamos tido “algo de que se gloriar” (Cf. Rm 4:2).
Agora nenhuma condenação
“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). Para alguém que passou pelo Novo Nascimento, não há razão para ficar ruminando pecados do passado. Se restituições tiverem de ser feitas ou penalidades sociais cumpridas, que sejam. Mas nenhuma autoridade restará ao “inimigo das almas” para acusar. O crente acha-se escondido em Cristo, o próprio Deus o vê através de Cristo, Ele enxerga a Justiça de Cristo, os 33 anos de vida justa creditados em sua conta, não as suas injustiças (Cf. Rm 5:10, 19, ).
Conta-se que Martinho Lutero teve um sonho agonizante em que o diabo lhe apareceu e apresentou uma lista contendo muitos dos pecados que ele cometera na vida. Lutero leu toda a relação e, vendo que não estava completa, disse: “Todos esses pecados eu cometi, mas faltam outros”. O diabo retornou depois com uma enorme lista com a relação completa dos pecados de Lutero, e lhe apresentou: “Agora a lista está completa. Todos os seus pecados estão aqui”. Ao que o reformador exclamou: “O sangue de Jesus Cristo me purifica de todo pecado!”
Essa deve ser a atitude de cada crente nascido de novo quanto ao seu passado. Como todos os pecados foram completamente perdoados, a posição dele passa de injusto para justificado, de impuro para purificado, de escravo para liberto. Não há mais dívida para com Deus. “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do restante da sua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniqüidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Mq 7:18 e 19).
A nova vida em Cristo
“Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim, andai nEle” (Cl 2:6). Receber o Senhor Jesus Cristo é justificação. Andar nEle ou permanecer nEle é santificação. A justificação pela fé constitui o fundamento da salvação, e a santificação pela fé representa as paredes erguidas sobre esse fundamento (Morris Venden). Pode-se acrescentar ser a glorificação /b>oo privilégio de habitar nesse edifício para sempre. Fé é simplesmente confiar em Deus, tomando-O em Sua palavra. A fé diz: “As promessas de Deus são verdadeiras: Ele me perdoou e me aceitou como um filho Seu.”
Justificação é a resposta de Deus ao que faz confissão de seus pecados. Santificação é a resposta do crente à graça/b>.. O teólogo Hans K. LaRondelle afirma: “Existem dois erros que ameaçam nossa compreensão da relação bíblica entre a justificação e a santificação. Um deles é a separação das duas, o que ilegitimamente vai além da distinção que Paulo fez das mesmas. O outro é a identificação total das duas de tal maneira que uma delas é absorvida pela outra”. Justificação pela fé, ou seja, declarados justos perante Deus é a obra de Cristo por nós, enquanto santificação é a obra do Espírito em nós.
A santificação é vista nas Escrituras de duas perspectivas diferentes: (1) santificação como um status ou posição perante Deus; e (2) santificação como um processo ou crescimento. Santificação como posição diante de Deus: Quando um pecador penitente aceita Jesus como seu Salvador e Senhor, ele é separado do reino de Satanás e levado para o reino de Deus. “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor” (Cl 1:13). É por isso que muitas passagens do Novo Testamento vêem a santificação como um ato passado, ou seja, um acontecimento já realizado (Cf. At 26:18; 1Cr 1:2; 6:11; Ef 1:1; Fl 1:1, etc.). Esse termo não é usado para descrever a impecaminosidade dessas pessoas, mas sim o reconhecimento de sua posição ou status perante Deus: ssão pessoas separadas.
Santificação como processo: /span>AA bíblia descreve sempre o início do relacionamento de um pecador penitente com Deus como o início de uma nova vida. “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura” (2Cr 5:17). Tão radicalmente diferentes são os princípios do reino de Deus dos de Satanás que se afirma que o crente “nasceu de novo” (Jo 3:7). O que acontece na Natureza acontece, também, na esfera espiritual: ou os bebês crescem ou morrem. Falar sobre crescimento espiritual é apenas outra maneira de descrever o processo de santificação (Cf. 1Pe 2:2; 2Pe 3:18; Ef 4:15, etc.).
Esta santificação é um processo progressivo e uma subida de um nível de perfeição para outro. Está claro, do ponto de vista bíblico, que o cristão deve ser mental, física, social e espiritualmente separado para a adoração e o serviço de Deus, e que deve buscar e aperfeiçoar esse ideal constantemente. Quando o crente entra em união com Cristo, permanece diante de Deus justificado e santificado, revestido da justiça ou obediência imputada de Cristo. Pela graça, o crente foi posto justo diante de Deus e consagrado inteiramente a Ele. O crente é um “santo” – uma pessoa separada ou dedicada.
Em união vital com Cristo e sob a cobertura de proteção de sua justificação e santificação como posição ou status, o crente continua a crescer espiritualmente, a viver vida santificada, submetendo diariamente a vontade humana à vontade divina. Esse crescimento do caráter não conhece ponto de chegada antes da morte ou da vinda de Cristo. Enquanto o cristão viver, o conhecimento se ampliará, a compreensão amadurecerá, o arrependimento se aprofundará. Assim, durante cada momento de contínuo e progressivo crescimento, o cristão tem certeza de que Deus o aceita por amor a Cristo (Cf. Ellen G. White, AA, pp. 560-562).
PASTOR VAGNER ALVES FERRREIRA
JUBILADO – ASSOCIAÇÃO NORTE PARANAENSE/IASD
E-MAIL: [email protected]