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postado em: 25/8/2013
DA ÁGUA PRO VINHO
“Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, achando-se ali a mãe de Jesus. Jesus também foi convidado, com os Seus discípulos, para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus Lhe disse: Eles não têm mais vinho. Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho Eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que Ele vos disser. Estavam ali seis talhas de pedras, que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três metretas [cerca de 300 litros]. Jesus lhes disse: Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente. Então, lhes determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram. Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho (não sabendo donde viera, se bem que o sabiam os serventes que haviam tirado a água), chamou o noivo e lhe disse: todos costumam por primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora. Com este, deu Jesus princípio a Seus sinais em Caná da Galiléia; manifestou a Sua glória, e os Seus discípulos creram nEle” (João 2:1-11).
Jesus não começou Seu ministério por alguma grande obra perante o Sinédrio em Jerusalém. Numa reunião familiar, de uma pequenina vila galiléia, foi manifestado Seu poder para aumentar a alegria das bodas. Assim mostrou Sua simpatia para com os homens, e desejo de lhes proporcionar felicidade. Tentado, no deserto, bebera Ele próprio o cálice da aflição. Dali saíra para oferecer aos homens uma taça de graças celestiais, mediante Sua bênção que santificaria as relações da vida humana.
João é único evangelista que nunca se refere a Maria pelo seu nome (Cf. Jo 2:12; 6:42; 19:25). Sem dúvida, a morte a separara de José, que com ela partilhara do mistério do nascimento de Jesus. Não havia agora ninguém mais a quem pudesse confiar suas esperanças e temores. Fora separada de Jesus, em cuja simpatia encontrava conforto. Achava-se com Ele um grupo de homens moços que Lhe chamavam Mestre. Eram cinco, até então: João, André, Pedro, Filipe e Natanael (Cf. João 1:40-45).
Era costume, naqueles tempos, que as festas de casamento continuassem por vários dias. Verificou-se nessa ocasião, antes do fim da festa, haver-se esgotado a provisão de vinho. Isso causou muita perplexidade e desgosto. Era coisa fora dos usos dispensar o vinho em ocasiões festivas, e a ausência do mesmo pareceria indicar falta de hospitalidade. Maria, que com certeza ajudara nos preparativos da festa, falou agora a Jesus, dizendo: “Não têm vinho”. Essas palavras eram uma sugestão de que Ele poderia suprir a necessidade.
Mas Jesus respondeu: “Mulher, que tenho Eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora”. Ou, “Que temos nós em comum, mulher? Ainda não é chegada a minha hora”. Essa resposta, rude como nos possa parecer, não exprimia frieza nem descortesia. A maneira de o Salvador Se dirigir a Sua mãe, estava em harmonia com os costumes orientais. Era empregada para com pessoas a quem se desejava mostrar respeito. Na cruz, em Seu derradeiro ato de ternura para com Sua mãe, Jesus dirigiu-Se a ela da mesma maneira, ao confiá-la ao cuidado do mais amado discípulo (Cf. João 19:25-27).
Em Sua visita ao templo, na infância, ao desvendar-se diante dEle o mistério de Sua obra, Cristo dissera a Maria: “Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?” (Cf. Lucas 2:49). Essas palavras ferem a nota tônica de toda a Sua vida e ministério. Tudo estava subordinado a Sua obra, a grande redenção para cujo cumprimento viera ao mundo. Agora, repetiu a lição. Havia risco de Maria olhar a Suas relações com Jesus como lhe dando sobre Ele especial direito, bem como o de, até certo ponto, O dirigir em Sua missão.
Ele lhe fora por trinta anos Filho obediente e amoroso, e Seu amor não mudara. Agora, porém, Lhe cumpria tratar da obra do Pai. Ele torna clara a distinção entre Sua relação para com ela como Filho do homem, e Filho de Deus. O laço de parentesco entre eles não a coloca, de maneira alguma, em pé de igualdade com Ele. As palavras: “Ainda não é chegada a Minha hora”, indicam que todo ato da vida de Cristo na Terra era cumprimento do plano que existira desde os dias da eternidade. Portanto, ao andar entre os homens era guiado passo a passo pela vontade do Pai.
Sem se desconcertar absolutamente com as palavras de Jesus, Maria disse aos que serviam à mesa: “Fazei tudo quanto Ele vos disser”. Assim fez ela o que podia para preparar o caminho para a obra de Cristo. Ele pediu aos servos que enchessem de água as seis grandes talhas de pedra disponíveis. Assim foi feito. Então, como o vinho era para uso imediato, disse: “Tirai agora e levai ao mestre-sala”. Em lugar da água com que haviam sido cheias as talhas, saiu vinho dali. Provando o que os servos levaram, o mestre-sala achou muito superior a qualquer vinho que já tivesse provado, e muito diverso do que fora servido ao princípio da festa. Esse primeiro milagre, dentre outros propósitos, serviu para honrar a confiança de Maria, e fortalecer a fé dos discípulos.
O dom de Cristo à festa nupcial era um símbolo. A água representava o batismo em Sua morte e o vinho, o derramamento de Seu sangue pelos pecados do mundo. A água para encher as talhas foi levada por mãos humanas, mas unicamente a palavra de Cristo podia comunicar-lhe a virtude doadora de vida. O mesmo quanto aos ritos da ceia que indicam a morte do Salvador. Somente pelo poder de Cristo, operando pela fé, é que têm eficácia para nutrir a alma.
O vinho provido por Cristo para a festa, e o que Ele deu aos discípulos como símbolo de Seu próprio sangue, era o puro suco de uva. Fora Cristo que, no Velho Testamento, dera aviso a Israel: “O vinho é escarnecedor e a bebida forte alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio” (Pv 20:1). Ele nunca proveu tal beberagem e não contradiz em Seus próprios ensinos. O vinho não fermentado que proveu para os convidados das bodas, era uma bebida sã e refrigerante. Seu efeito havia de por o gosto em harmonia com um apetite são (Cf. DTN, pp. 102-109).
O PRIMEIRO SINAL DE JESUS SOMENTE EM JOÃO
João é o único evangelista a registrar esse milagre: Mateus, Marcos e Lucas não têm uma só palavra dele. Como João veio a conhecê-lo? Parcialmente, por estar presente. Mas, pela parte introdutória, com referência à mãe de Jesus, pode-se concluir que lhe chegou também de outra maneira. Volvamos às palavras de Jesus, dirigidas do alto da cruz a João, como está escrito: “Vendo Jesus Sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse-lhe: Mulher, eis aí teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa” (João 19:26 e 27).
É possível que ninguém conhecia as palavras dirigidas por Jesus à Sua mãe senão a própria Maria. Foi, como já vimos, a Sua maneira educada de dizer-lhe que cumpria os detalhes da redenção provida na eternidade. Mas quando João e a respeitada mãe conversavam, posteriormente, ela, com toda a probabilidade, o fez lembrar do milagre, e contou-lhe do engano dela. Se essa conjectura for correta, vemos a modéstia da mãe de Jesus que narrou a própria falta, e não proibiu João de mencioná-la. O Espírito Santo inspirou o evangelista a registrar, não somente o milagre, mas também o erro de Maria.
Foi sábio, pois trata-se de um argumento conclusivo contra a noção de que a mãe de Jesus possa interceder a nosso favor com seu Filho, e exercer autoridade com Ele. Fica evidente nessa narrativa que nosso Salvador não toleraria semelhante idéia, quer na mente dela, quer na nossa. “Que temos nós em comum, mulher?”, é uma sentença que faz se ouvir o toque fúnebre de qualquer conceito de nosso Senhor ser afetado por qualquer grau de parentesco segundo a carne.
Jesus, com todo o respeito amoroso, mas de modo muito decidido, exclui toda a interferência da parte de Maria, pois Seu reino devia ser segundo o espírito, e não segundo a carne. É um prazer imenso acreditar, no tocante à mãe de Jesus que, apesar de incorrer em um erro natural, ela não persistiu nele, nem por um instante, e, ainda, não o escondeu de João, mas provavelmente tenha tido o cuidado de contar-lhe a fim de que nenhum outro chegasse a cair em erro semelhante por ter dela um conceito impróprio.
Sua fé era acompanhada por imperfeições, mas era do tipo certo. Perseverava debaixo das dificuldades e no fim, foi triunfante, pois o vinho que estivera em falta voltou a ser demasiado, e o que Ele providenciou foi de qualidade imbatível. Oxalá, tenhamos fé que consiga sobreviver a uma repreensão. Que possamos cantar, como Maria: “O meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lucas 1:47), e que Jesus seja para nós, como era para ela: O amado digno de confiança, em quem a alma aprendeu a esperar em confiança.
Sem perder a boa disposição e certa de que Jesus tomaria alguma providência, deu uma sábia orientação aos servos da casa: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Cf Jo 2:5). Há nestas palavras de Maria uma grande lição prática no propósito de voltarmos nossa atenção para Cristo, procurando realizar, não apenas parte, mas tudo o que Ele nos mandar. “Se Me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14:15).
Jesus podia fazer o milagre, até mesmo antes que a falta do vinho fosse notada, porém, isso não atenderia aos Seus objetivos. Nenhuma pessoa presente teria conhecimento, Seu poder não seria reconhecido (Cf. 2:11) e Deus não seria glorificado. É necessário que, por algum tempo, tenhamos consciência de nossa necessidade a fim de que a bênção seja desejada e valorizada. “Mas Jesus, ouvindo, disse: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes” (Mateus 9:12).
Se Jesus quisesse, poderia dizer uma palavra e o vinho de todos os vasos jorraria para todos os copos (Cf. 1 Reis 17:14-16), mas Ele desejava a participação dos servos na realização do milagre. Poderia fazer tudo sozinho, mas Deus quer a contribuição humana na obra da redenção, nos dando a oportunidade e o privilégio de participar, e isto significa trabalho.
A nossa fé deve ser evidenciada através da obediência e do serviço. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dEle, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas (Efésios 2:8-10). Jesus fez o milagre, mas os servos fizeram a sua parte fielmente e com grande alegria.
O mestre-sala disse ao noivo: “Todos costumam por primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora” (vs. 10). Quando permitimos que Jesus opera em nós, através do Seu Espírito, saímos do usual, do comum no uso dos talentos para um nível de excelência contínua, pois é intenção de Deus “dar a conhecer as riquezas da Sua glória nos vasos de misericórdia” (Romanos 9:23).
Os convidados esperavam que, com o desenrolar da festa, o vinho fosse piorando, mas, porque Jesus fora convidado e os serventes fizeram “tudo o que Ele lhes disse”, a surpresa foi geral pela qualidade do último que fora servido: era o “bom vinho”, servido de fé em fé (Cf. Romanos 1:17) e de glória em glória (2Coríntios 3:18). A festa estava preservada e a comemoração podia continuar, com alegria ainda maior. “Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galiléia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (João 2:11).
A PRESENÇA DE JESUS NAS BODAS: DERRIBAR AS BARREIRAS DAS CLASSES SOCIAIS
“Jesus reprovava a condescendência própria em todas as suas formas, todavia era de natureza sociável. Aceitava a hospitalidade de todas as classes, visitando a casa de ricos e pobres, instruídos e ignorantes, procurando elevar-lhes os pensamentos das coisas comuns da vida, para as espirituais e eternas...
“Não consentia com o desperdício, e nem uma sombra de mundana leviandade Lhe manchou a conduta; todavia, achava prazer em cenas de inocente felicidade, e sancionava, com Sua presença, as reuniões sociais. Um casamento judaico era ocasião impressionante, e sua alegria não desagradava ao Filho do homem. Assistindo a essa festa, honrou Jesus o matrimônio como instituição divina” (DTN, p. 107).
PASTOR VAGNER ALVES FERREIRA
JUBILADO – ASSOCIAÇÃO NORTE PARANAENSE/IASD
E-MAIL: [email protected]