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postado em: 19/2/2014
O SENHOR PROVERÁ
“Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse: Abraão! Este Lhe respondeu: Eis-me aqui! Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que Eu lhe mostrarei” (Gn 22:1,2).
A palavra hebraica nissah significa “provar” ou “examinar” quando se refere que Deus põe à prova ou a um exame o ser humano (Cf. Êx 16:4; Dt 8:2, 16; 13:3; 2Cr 32:31). [Admiti outros significados: sabedoria ou reputação quando um homem põe à prova outro homem; presunção ou tentação, quando o homem prova a Deus, tratando de obrigá-Lo a proceder de acordo com os propósitos humanos]. Se as palavras acima foram pronunciadas lentamente, como é provável no contexto, Abraão deve haver sentido uma seqüência de orgulho, temor e repulsa. A repetição foi premeditada por Deus para despertar o afeto paternal e, outrossim, para que Abraão fosse preparado para a severa prova que haveria de vir rapidamente.
O vocábulo Moriá aparece apenas duas vezes na Bíblia: no texto acima e em 2Cr 3:1. De acordo com o livro de Crônicas, Salomão edificou seu templo sobre o monte Moriá, ao norte da cidade de Davi, a oeste do vale de Cedron, perto do lugar chamado Gólgota, onde séculos mais tarde Cristo foi crucificado (Cf. Jo 19:17), e que fica a uns 80 quilômetros de Berseba, ou os três dias de viagem para Abraão e sua pequena comitiva. Portanto, a terra de Moriá traz consigo a região montanhosa em torno de Jerusalém. No entanto, o nome parece ter sido pouco comum.
A viagem ao Monte Moriá
“Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu jumento, tomou consigo dois servos e a Isaque, seu filho; rachou lenha para o holocausto e foi para o lugar que Deus lhe havia indicado. Ao terceiro dia, erguendo Abraão os olhos, viu o lugar de longe” (Gn 22:3, 4). “Lado a lado, pai e filho viajavam silenciosamente. O patriarca, ponderando seu grave segredo, não tinha ânimo para falar. Seus pensamentos estavam naquela mãe ufana e extremosa, e considerava o dia em que sozinho deveria voltar a ela. Bem sabia que a faca lhe cortaria o coração, quando tirasse a vida de seu filho...
“Aquele dia – o mais comprido que jamais Abraão experimentara – arrastava-se vagarosamente ao seu termo. Enquanto seu filho e os moços dormiam, passou ele a noite em oração, esperando ainda que algum mensageiro celestial pudesse vir dizer que a prova já era suficiente, que o jovem poderia voltar ileso para sua mãe. Nenhum alívio, porém, lhe veio à alma torturada...
“Outro longo dia, outra noite de humilhação e oração, enquanto a ordem que o deveria deixar desfilhado lhe repercutia sempre no ouvido. Perto estava Satanás para insinuar dúvidas e incredulidade; mas Abraão resistiu a suas sugestões. Quando estavam a ponto de iniciar a viagem do terceiro dia, o patriarca, olhando para o Norte, viu o sinal prometido, uma nuvem de glória pairando sobre o monte Moriá, e compreendeu que a voz que lhe falara era do Céu.”¹
Escalando a montanha...
“Então, disse a seus servos: Esperai aqui, com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós. Tomou Abraão a lenha do holocausto e a colocou sobre Isaque, seu filho; ele, porém, levava nas mãos o fogo e o cutelo. Assim, caminhavam ambos juntos. Quando Isaque disse a Abraão, seu pai: Meu pai! Respondeu Abraão: Eis-me aqui, meu filho! Perguntou-lhe Isaque: Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto? Respondeu Abraão: Deus proverá para Si, meu filho, o cordeiro para o holocausto; e seguiam ambos juntos” (Cf. Gn 22:5-8).
Enquanto subiam o monte, Isaque, que conhecia os altares, os sacrifícios, os cordeiros e o fogo bem como tudo o que estava incluído no ritual, finalmente pergunta: “Pai, aqui estão a lenha e o fogo, mas onde está o cordeiro?” Abraão não lhe poderia dizer por enquanto. No lugar indicado construíram o altar, e sobre o mesmo colocaram a lenha. “Então, com voz trêmula, Abraão desvendou a seu filho a mensagem divina. Foi com terror e espanto que Isaque soube de sua sorte; mas não opôs resistência...
“Poderia escapar deste destino, se o houvesse preferido fazer; o ancião, ferido de pesares, exausto com as lutas daqueles três dias terríveis, não poderia ter-se oposto à vontade do vigoroso jovem. Isaque, porém, tinha sido educado desde a meninice a uma obediência pronta e confiante, e, ao ser o propósito de Deus manifesto perante ele, entregou-se com voluntária submissão. Era participante da fé de Abraão, e sentia-se honrado sendo chamado a dar a vida em oferta a Deus. Com ternura procura aliviar a dor do pai, e acoroçoa-lhe as mãos desfalecidas a amarrarem as cordas que o prendem ao altar...
“E agora as últimas palavras de amor são proferidas, as últimas lágrimas derramadas, o último abraço dado. O pai levanta o cutelo para matar o filho, quando subitamente lhe é detido. Um anjo de Deus chama do Céu o patriarca: ‘Abraão, Abraão!’ Ele rapidamente responde: ‘Eis-me aqui’. E de novo se ouve a voz: ‘Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não Me negaste o teu filho, o teu único’ (Cf. Gn 22:11-18).” ²
Então Abraão viu “um carneiro detrás dele, travado pelas pontas num mato”, e prontamente trazendo a nova vítima, ofereceu-a” em lugar de seu filho”. Em sua alegria e gratidão, Abraão deu um novo nome ao lugar sagrado – “Jeová-jiré,” “o Senhor proverá”.
A graça no Monte Moriá
Ao longo da historia da humanidade Deus tem Se manifestado como o Provedor Universal. Nos momentos mais aflitivos e sombrios, Jeová-jiré Se revela, com pronto livramento, com a manutenção da vida, com a cura física, emocional e espiritual - provendo a solução para toda e qualquer necessidade do ser humano. Todavia, sem a menor sombra de dúvida, o auge desta provisão é a encarnação de Jesus: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).
Por símbolos e por promessas, Deus “anunciou primeiro o evangelho a Abraão” (Gl 3:8). E a fé dele fixou-se no Redentor que haveria de vir, pois Cristo afirmou aos judeus: “Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia, e viu-o, e alegrou-se” (Jo 8:56). O carneiro oferecido em lugar de Isaque representava o Filho de Deus, que seria sacrificado em nosso lugar. “Quando o homem foi condenado à morte pela transgressão da lei de Deus, o Pai, olhando para o Filho, disse ao pecador: ‘Vive, Eu achei um resgate.’”³
Por fim, esta história fala muito mais a respeito da revelação de Deus do que a respeito de Abraão: “E pôs Abraão por nome àquele lugar – O SENHOR PROVERÁ” (v. 14). O nome chama a atenção para Deus, não para Abraão, porque foi nessa montanha, ao lado de Jerusalém, que Deus proveu o Cordeiro que tem a resposta para cada um de nossos problemas – e ali Abraão foi aprovado com louvor! Sobre este lugar sagrado, no Santíssimo do templo de Salomão, o Senhor estabeleceu Sua morada – a Shekiná -, prodigalizando, através de Sua glória, as necessidades do Seu povo (Cf. Êx 25:8).
A obediência da fé
Nessa história da grande provação de Abraão, aprendemos que “estas coisas foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado” (1Co 10:11). Através de sua extensa caminhada, desde Ur dos caldeus, até a terra do sacrifício, Deus, pacientemente, foi preparando Abraão para a grande prova de sua vida.
O processo de polidez de Abraão envolveu deslizes, momentos dramáticos, sombrios, nos quais sentiu que somente alcançaria o ideal de Deus “sem enfraquecer na fé..., mas, pela fé se fortaleceu” [Cf. Rm 4:19, 20], glorificando a Deus na sua perfeita obediência: “...Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito” (Gn 17:1). Abraão creu em Jesus Cristo (Cf. Gl 3:8; Jo 8:56), recebendo, por conseguinte, Sua justiça imputada, sendo declarado ou considerado perfeito, justo, pelas Escrituras.
Logo, o grande ato de fé de Abraão, permanece como uma coluna de luz, iluminando o caminho dos crentes na Palavra de Deus em todos os séculos subseqüentes. “E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus” (Tg 2:23). E Paulo comenta: “Os que são da fé são filhos de Abraão” (Gl 3:7). Mas a fé de Abraão foi evidenciada pelas suas obras. Crer é a raiz; as ações, o resultado. Sua obediência foi muito mais que um mero hábito. Foi uma experiência adquirida no relacionamento de profunda confiança em Deus.
O cristianismo divide-se em dois grandes agrupamentos: Há muitos cristãos buscando a salvação através da obediência, como se esta fosse um passaporte para a eternidade. Outros, talvez em maior número, alardeiam o seguinte: “Crê apenas em Cristo, e estás salvo. Nada tens que ver com a guarda da lei.” Porém, as Escrituras afirmam que Abraão, o pai da fé, não fez parte de nenhum destes dois grupos acima!
O Evangelho apresenta como Verdade Absoluta que Cristo é o único caminho para a salvação (Cf. Jo 14:6; At 4:12; Ap 12:11), que esta é um dom de Deus, vem pela fé na graça de Jesus e não pelas obras (Cf. Ef 2:8, 9). Paulo afirma que, se a justificação (salvação) é pela Lei, “Cristo morreu em vão” (Cf. Gl 2:21). Mas apresenta igualmente que o crente transformado se torna “nova criatura” (Cf. 2Co 5:17) e que, sob o Novo Concerto de Salvação Eterna, a Lei é escrita no coração (Cf. Hb 8:10), mesmo sendo salvo única e exclusivamente pela graça através da fé em Cristo.
Como conseqüência da transformação [santificação/nova criatura], o crente pratica boas obras (Cf. Ef 2:10), ou seja, à semelhança de Abraão, obedece aos mandamentos do Senhor, como declaram as Escrituras: “Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e as Minhas leis” (Gn 26:5). Diz o apóstolo Tiago: “A fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2:17). E o apóstolo do amor, diz-nos: “Este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos” (1Jo 5:3).
Pastor Vagner Alves Ferreira
Jubilado – Associação Norte Paranaense/IASD
E-mail: [email protected]
Referências
1. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 147.
2. Ibid., p. 149.
3. Ibid., p. 151.