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postado em: 18/1/2011
Falando Francamente
Terreno bom e terreno ruim
A Parábola do Semeador (Mateus 13:3-8) é, provavelmente, uma das mais citadas e conhecidas dentre todas as parábolas apresentadas por Jesus. Há incontáveis sermões, comentários e as mais diversas aplicações a seu respeito.
Alguns dias atrás, li algo que me chamou a atenção acerca dessa parábola. O comentarista sugeriu que a semente do evangelho deve ser lançada em todos os tipos de terreno, mas não se deve perder muito tempo com terreno ruim.
A princípio, pareceu-me uma afirmação dura que parece não se afinar muito com nossa pregação cristã do amor. Vamos se a conclusão pode ser considerada correta.
A parábola relata que 75 por cento das sementes não produziram qualquer fruto. Apenas a quarta parte do trabalho do semeador deu resultado.
Esse percentual se aproxima de outra estatística que retrata um quadro que pode ser observado em qualquer grupo de pessoas, não importa seu tamanho: 20 por cento estão abaixo de qualquer tipo de avaliação, são do contra, insatisfeitos, críticos do tudo e não demonstram qualquer interesse em coisa alguma. Trabalhar com eles é “malhar em ferro frio”.
Há outros 20 por cento que estão no lado oposto. São pessoas especiais que fazem a diferença, aquelas que fazem as coisas acontecerem. Essa parte do grupo se situa infinitamente acima da média dos demais membros.
Sobram 60 por cento. Bem, estes são os que ficam na média, isto é, os medíocres, aqueles que não fazem diferença alguma, nem para pior, nem para melhor. A Bíblia os chama “mornos”. Ouvi alguém afirmar outro dia que nem o diabo se interessa por eles.
Jesus foi um pouquinho mais otimista na sua parábola. Colocou o solo fértil como a quarta parte, 25 por cento. Estes sim fazem enorme diferença. Seu rendimento varia de três, seis, a 10 mil por cento! Que outro tipo de investimento poderia render tanto?
Assim, seguindo o raciocínio do autor que li, não vale a pena investir em terreno pedregoso, cheio de espinhos, ou solo duro à beira do caminho. É quase impossível colher aí. Em contrapartida, se o terreno fértil for bem cuidado, ele vai compensar milhares de vezes os solos improdutivos.
Como Deus não faz acepção de pessoas, o problema está com o tipo de coração sobre o qual Seu amor é derramado. Deus insiste, jamais, porém, força alguém a amá-Lo. A resposta de colheita relaciona-se diretamente com o tipo de solo em que a semente cair.
Jesus afirmou que “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt. 20:16b). Faz sentido em relação à parábola.
Não pude deixar de questionar a mim mesmo: “Que tipo de terreno eu mesmo sou?” Essa é a primeira pergunta que temos de nos fazer com toda a sinceridade.
A segunda indagação deve ser: “Quanto tempo estou investindo em cada diferente tipo de solo? Gasto a maior parte do tempo correndo atrás de crentes religiosos, encalacrados, que estão mais interessados no conhecimento em si mesmo do que em mudança de vida, mudança de caráter?”
Jesus gastou pouco tempo com os religiosos de Sua época. E mais: foi extremamente duro com eles, pegou até no chicote em duas ocasiões. O Mestre passou a maior parte do tempo de Seu ministério com os pecadores, cujo coração se apresentava um terreno fértil, pronto para germinar a semente e produzir frutos. E foram estes que estabeleceram os pilares da primeira igreja cristã.
Certa vez, Jesus confrontou os líderes religiosos de Seu tempo com essa terrível afirmação: “Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus” (Mt 21:31).
Trabalhei algum tempo com aconselhamento de casais. Era possível distinguir aqueles que estavam ansiosos por mudança e restauração, ainda que seus problemas parecessem quase insolúveis. A colheita aí era boa. Outros, porém, gastavam o tempo de aconselhamento em reclamações e acusações, cada um querendo fazer prevalecer seu ponto de vista. Terreno ruim. O pior de tudo é que consumiam muito mais o meu tempo, sem que dessem bons frutos.
Lembro-me de alguns casos. Certo indivíduo me ligou todos os dias, por quase dois meses, com um problema conjugal. Nada do que eu lhe falava parecia penetrar em seu coração. Ele estava com a mente fechada. Também não aceitava um encontro pessoal em que ambos os cônjuges estivessem presentes. Não restou outro remédio senão colocar ponto final nas ligações.
Atendi também uma família em suas muitas crises, quase sempre nas madrugadas. Fui percebendo que a atitude de perdão que eles demonstravam nos encontros não era para valer. Algum tempo depois, pegaram suas trouxas e cada um foi para o lado oposto. E eu, para o apostolado inútil!
Quanto tempo gasto em terreno ruim!
Com a experiência, e principalmente com a ajuda do Espírito Santo, é preciso descobrir como avaliar os terrenos. Sem menosprezar ninguém, temos que investir muito mais em terrenos bons.
Amigo leitor, antes de avaliar o tipo de solo dos outros, é preciso antes avaliar o seu. E se descobrir que você está entre os 75 por cento de solo ruim, não perca a esperança, sempre é possível afofar a terra, limpar as pedras e arrancar os espinhos. Você transformar-se num solo fértil, pronto para receber a boa semente e produzir a 30, 60 e a 100 por um.
Se você estiver entre aqueles que ministram para outras pessoas, peça ao Espírito Santo que o ajude a discernir a qualidade do terreno com o qual vai lidar. Você pode e deve semear em todos os tipos de solo, tal como o semeador da parábola o fez. Mas não invista onde descobrir que seu trabalho poderá ser inútil. Há muito solo fértil esperando para ser cultivado.
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Nota: Escrevo quinzenalmente para esta coluna. Comentários e sugestões são sempre bem-vindos. Se você desejar fazer contato comigo, use o e-mail: [email protected]