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postado em: 2/3/2011
Falando Francamente
LEGALISMO. AINDA EXISTE EM NOSSO MEIO?
Teria imenso prazer em dizer que o legalismo já teria sido banido inteiramente de nosso meio. Mas, com certeza, creio que há uma resposta na ponta da língua da maioria dos leitores: sim, ainda existe. Infelizmente, também sou forçado a concordar, ao menos em parte.
Só que o legalismo que se vê hoje não é tão explícito quanto ao que se via anos atrás. Teoricamente, não há mais pregações sobre usos e costumes, sobre a necessidade de operar boas obras para obter a salvação. Pelo menos não dessa forma.
Mas o legalismo continua bem arraigado entre as igrejas em geral. E pior: travestido com alguns conceitos de “graça”. É muito mais fácil lidar com o legalismo explícito. Umas duas ou três citações bíblicas põem esse tipo de legalismo para correr. Porém, quando ele vem adornado por adereços do tipo “boas obras são o resultado da graça” ele fica bem mais difícil de ser identificado e combatido. Em teoria, a ideia é corretíssima – boas obras resultam da graça, mas na prática, todos nós somos incentivados a praticar boas obras para ser bem-vistos na igreja.
O ministério de Cristo na Terra, incluindo seus ensinos, seus milagres, sua morte e ressurreição quebraram o poder do cativeiro em que a humanidade era mantida. Jesus procurou livrar o povo do sistema de crenças vigente na época. Ele empreendeu uma batalha sem tréguas contra o farisaísmo, um credo que buscava o favor de Deus através de méritos pessoais, a aceitação divina mediante o desempenho pessoal.
Jesus nunca investiu contra as prostitutas, os cobradores de impostos e outras classes compostas por aqueles que eram considerados os “maiores pecadores”. Não que Jesus abonasse seu comportamento pecaminoso, mas o Mestre via mais esperança na conversão deles do que na mudança da mente de um fariseu legalista para aceitar a graça da salvação.
É claro que não vou aqui me indispor contra determinados incentivos que se faz para que sejam cumpridas certas normas da igreja. Certamente as normas são necessárias. O Universo de Deus é governado por leis imutáveis. O problema não está aí. As leis de Deus são eternas. É um tema que não cabe discutir em hipótese alguma.
O ponto chave da questão do legalismo, a meu ver, tem a ver com o que se poderia chamar de “supervalorização do membro de fachada”. Isto é, aquele que faz tudo certinho, aceita todas as regras e as cumpre fielmente sem discutir. Esse é considerado o “modelo de cristão”, não importa se ele faz tudo isso apenas para ser bem-visto, ainda que seu coração esteja longe de uma verdadeira conversão. Tudo bem, ele está na igreja.
Mais de um século atrás Ellen White já dizia: “Uma religião legal não corresponderá às necessidades desta época. Em nosso serviço podemos executar todos os atos exteriores e ainda assim estar tão destituídos da influência vivificadora do Espírito Santo como estavam os montes de Gilboa, desprovidos de chuva”. – Testimonies, vol. 6, págs. 417 e 418.
E quanto vento seco desses montes de Gilboa ainda sopram em nosso meio...
Se Jesus estivesse pessoalmente conosco hoje, talvez fosse necessário que ele tivesse de recomendar a muitos “Nicodemos” modernos a necessidade de um novo nascimento. É bem verdade que a experiência do novo nascimento é inteiramente pessoal e cada um é responsável por aceitá-la. Mas ainda há pouco incentivo para isso nas pregações de hoje. A maioria talvez ache que tendo passado pelas águas do batismo, nasceu de novo e está salva – a prática da teoria “uma vez salvo, salvo para sempre!”.
Ao contrário disso, temos de passar diariamente pela experiência do novo nascimento – que tecnicamente atende pelo nome de santificação. E o escritor de Hebreus diz que “sem a qual [santificação] ninguém verá o Senhor” (Hb. 12:14).
Ainda batemos muito na tecla da “guarda dos mandamentos”. Isto é, na letra, não no espírito da lei que a Palavra de Deus diz que deveria ser escrita em nosso coração.
Uma simples ilustração resolve o problema da guarda da lei. Sou casado há quarenta anos. Amo profundamente minha esposa. Eu não vou trair sua confiança só porque o sétimo mandamento da lei de Deus diz que não devo adulterar. Eu sou fiel a ela simplesmente por amor, e não para manter um contrato de casamento firmado há quarenta anos num cartório, nem ao menos por uma determinação legal. Não tenho necessidade de ler o sétimo mandamento todos os dias para me manter fiel a minha esposa.
Igualmente, outras atitudes de amor incondicional a Deus e aos nossos semelhantes dispensam a necessidade de uma lei martelando em nossa cabeça diariamente. E esse amor nos é concedido exclusivamente pela graça do Senhor Jesus. Sem ela, não temos a capacidade de amar. Mas podemos sim, sem a graça, guardar a letra da lei e ficar bem na foto com toda a igreja. Legalismo puro, sem valor para Deus.
As leis e normas servem apenas para nos mostrar se realmente a graça tem ou não penetrado o mais profundo de nosso ser. Um “crente de fachada” ou fariseu moderno pode cumprir fielmente qualquer lei, seja de Deus ou dos homens e ser um “desgraçado” literalmente, isto é, alguém que não foi alcançado pela graça.
Fico feliz em notar que nossa liderança está incentivando a igreja na busca urgente de um reavivamento. Há esperança, portanto. E para que esse reavivamento aconteça, uma dose imensa da graça do Senhor Jesus precisa derramada em nosso coração pelo Espírito Santo.
Para quem tem familiaridade com a língua inglesa, recomendo ouvir um sermão proferido pelo Dr. Dwigth Nelson, partor da Andrews University, no final do ano passado. Ele vai direto a ponto essencial para o reavivamento. Simplesmente inspirador. Lamento que não esteja traduzido para o português. A quem interessar, o link é: http://www.revivalandreformation.org/seeking-nelson
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