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postado em: 22/5/2011
Falando Francamente
MEXERICAS E MEXERICOS
Moro numa chácara onde há um pomar com boas árvores frutíferas. A mexeriqueira é uma delas. O nome da fruta – a mexerica – parece variar nas diversas regiões do Brasil, onde é também conhecida como tangerina, carioca, bergamota, polkan, mimosa e vai por aí, com sua diversidade de nomes e características particulares. Na minha chácara, é mexerica tradicional mesmo, aquela frutinha cheia de gomos, um pouco ácida, que serve mais para um bom suco do que para ser chupada ao natural.
Neste ano, minha mexeriqueira não deu bons frutos. As mexericas eram extremamente ácidas e com manchas marrons na casca que se refletiam na parte interna, tornando-as impróprias para o consumo. Até os passarinhos, que costumam fazer suas refeições no meu pomar não se interessaram muito pelas mexericas, deixando-as para as vespas.
E o que isso tem a ver com mexerico? Bem, podemos começar pelos nomes que são praticamente homônimos. Mas esse é apenas um aspecto, dentre muitos. Por que certos indivíduos são chamados mexeriqueiros? Talvez alguém tenha feito a comparação pensando no odor característico que a mexerica deixa em nossas mãos, quando as descascamos. O mexerico igualmente deixa seu odor bem marcado por onde passa.
Como não entendo de agronomia, não consegui detectar o tipo de praga que atingiu a mexeriqueira e a fez produzir frutos tão ruins neste ano, mas com certeza, algo pernicioso atingiu a árvore e estragou seus frutos.
O mexeriqueiro, à semelhança de uma árvore frutífera, é uma pessoa que, sem dúvida foi afetada por algum tipo de praga que fez com que seus frutos se deteriorassem e se tornassem imprestáveis. E como são prejudiciais esses frutos.
Creio que o mexerico, também conhecido como fofoca, maledicência, boataria etc., são ainda piores do que as mexericas impróprias para consumo, pois estas, apenas caem no chão e, de alguma forma, servem de adubo orgânico para a terra. Os mexeriqueiros nem para adubo prestam. Reconheço que é uma afirmação pesada, mas verdadeira. Eles contaminam totalmente o ambiente por onde circulam, comprometendo a saúde de toda uma comunidade.
Quantas dores e mágoas poderiam ser evitadas se os mexericos e mexeriqueiros fossem completamente banidos de nossos arraiais. No entanto, parece que há um sabor especial e maligno em falar da vida alheia.
Anos atrás, conheci um grupo de amigos que se autodenominava “a turminha do Salmo 1”, em referência àqueles que se assentam na roda dos escarnecedores. Eles se reuniam, principalmente nas tardes de sábado, para “passar a limpo” as principais fofocas da semana. Poucos escapavam de suas línguas ferinas.
Vamos ser sinceros, deixando de lado a hipocrisia. Em certos momentos da vida, com raríssimas exceções, a maioria de nós já se envolveu, de alguma forma, com a “turminha do Salmo 1”. Mas é bom que isso tenha ficado no passado e a prática completamente abandonada, com o crescimento espiritual – que conhecemos como o processo de santificação “sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14).
Se houver algo a ser tratado com alguém, deve-se fazê-lo diretamente com a pessoa. Esse é o método bíblico ensinado por Jesus: “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão” (Mt 18:15).
Diversas vezes coloquei em prática esse ensino bíblico. Um dia falei com certo irmão a respeito de uma atitude errada que eu entendi que ele havia tomado. Confesso que não é tão cômodo encarar alguém face a face para tratar de um problema; é muito mais simples falar pelas costas ou mandar recados. Mas com amor e com o auxílio do Espírito Santo foi possível conversar sobre o assunto sem maiores constrangimentos.
Ele se mostrou tão agradecido por eu ter falado diretamente com ele que me deu um grande abraço. Disse que se todos na igreja agissem assim, seria o melhor lugar do mundo para se viver. Uma semana depois ele voltou para me dizer que havia feito os devidos acertos e agora estava em paz com Deus. Como fiquei feliz. Já éramos amigos, mas nossa amizade solidificou-se ainda mais depois dessa ocasião.
Quando se fala diretamente com alguém, a pessoa tem a oportunidade de se defender, caso esteja certa, ou de se corrigir, estando errada.
O mexeriqueiro não oferece essa oportunidade de defesa ou correção. Muitos corações ficam despedaçados com os boatos, na maioria das vezes maldosos, que circulam em nossa comunidade. São mexericas podres, contaminadas, que têm destruído vidas.
“Estas seis coisas o SENHOR odeia, e a sétima a sua alma abomina... A testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos” (Pv 6:16,19).
Ao longo de minha vida também cometi erros e tive amigos verdadeiros que me alertaram (não muitos, infelizmente). Noutras tantas vezes, fui vítima, como a maioria das pessoas que desenvolve atividades públicas, de mexeriqueiros. Em todas essas ocasiões tenho procurado perdoá-los e não me fazer de vítima, pois não desejo viver com meu coração cheio de amargura por causa dessas mexericas podres.
No caso da mexeriqueira de minha chácara, há uma solução simples e, ao mesmo tempo radical: a poda. Com certeza, os próximos frutos brotarão viçosos e saudáveis. Jesus também disse que é necessário limpar e podar os ramos de uma videira para que ela dê bons frutos (João 15).
Permitamos que o Senhor Jesus nos limpe e nos faça a poda necessária para que produzamos muitos frutos bons, pois, caso nos tornemos ramos imprestáveis, seremos cortados da videira e lançados no fogo. “E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 13:50).
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