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postado em: 15/1/2015
Falando Francamente
CRISTÃOS SEM IGREJA?
Isso tem assustado as lideranças denominacionais.
Os motivos são muitos. E alguns deles, velhos conhecidos: as igrejas estão ficando cada vez mais frias espiritualmente, ou algumas delas estão caindo no fanatismo, tentando manipular o pensamento e as ações de seus membros; muitas outras visam apenas capturar os recursos financeiros de seus adeptos e inventam mil maneiras para conseguir seus objetivos; parece que a maioria das igrejas não coloca em prática o verdadeiro amor fraternal; outras são vistas como apenas um clube social... e por aí vai.
Circulou esses dias pelas redes sociais um texto no qual alguém se queixava de que a igreja o havia abandonado e não ele é que deixara a igreja. Claro que algumas – ou muitas – queixas expostas no texto podem ser consideradas legítimas.
Há algumas semanas terminei a tradução de um livro, a pedido de uma editora evangélica, que tem o título provisório “Como ser cristão sem ir à igreja”. Será publicado em breve. A autora relata, na introdução, que ela e seu esposo, líderes de uma igreja nos EUA, chegaram à conclusão de que sua fé estava minguando por causa de atitudes pouco cristãs da liderança da igreja a que frequentavam. Depois de muita reflexão, acharam que seria melhor reunir a família numa pequena célula, em casa, com alguns conhecidos, sem vínculo com nenhuma denominação religiosa.
Ao analisar as razões que ela expõe no seu livro, cheguei à conclusão de que o diagnóstico que ela faz das igrejas de hoje não está muito longe da realidade. A solução que a autora encontrou, porém, não creio que seja a mais adequada. Afinal, o apóstolo Paulo diz que a Igreja de Deus é como um corpo com muitos membros. Assim, não se concebe a ideia de pernas, desligadas de seus corpos, andando sozinhas por aí. Muito menos mãos ou cabeças.
Confesso que durante algum tempo também pensei que, pelo fato de as igrejas – tanto como instituição quanto como comunidades individuais – não estarem atendendo plenamente o propósito para o qual Deus as estabeleceu, seria melhor ficar em casa e desenvolver minha comunhão pessoal com Deus e com minha família.
Essa é a solução que esses 5% de cristãos evangélicos estão encontrando. Não sei se existe uma estatística no Brasil, mas parece não ser muito diferente.
Seria esse o melhor caminho? Do ponto de vista bíblico, certamente não é. O autor de Hebreus menciona que esse não é o comportamento adequado para um cristão: “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns...” Hebreus 10:25ª.
Ficamos, então, suspirando pela igreja de Atos. Como seria bom se aquela comunidade ainda existisse hoje: “Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo.” Atos 2:44-47.
Bem, acompanhando a história da igreja cristã no Novo Testamento, e no próprio livro de Atos, já podemos ver que essa comunidade perfeita foi, aos poucos, deixando de ser um modelo de amor cristão. Os apóstolos tiveram que apagar vários focos de incêndio que surgiram no meio dos irmãos, a começar pelo cuidado das viúvas, que estavam sendo relegadas ao esquecimento. E mais tarde, Paulo teve que dar fortes puxões de orelhas nos gálatas, nos coríntios e em outras comunidades cristãs que estavam se desviando dos propósitos de Deus para elas.
Então, o problema não é novo nem é causado pela secularização do nosso século 21. Parece que onde há pessoas vivendo em conjunto, os relacionamentos sempre acabam se deteriorando ou, no mínimo, se tornando superficiais. E isso vem desde que o pecado entrou no mundo.
As igrejas de hoje não são exceção. Diz um ditado comum entre os cristãos que se você encontrar uma igreja perfeita, por favor, fique longe dela, para não estragar essa perfeição.
Mesmo com todo o conhecimento bíblico que temos atualmente, continuamos seguindo os mesmos passos do antigo povo de Israel, a quem gostamos de criticar – viram sinais e maravilhas da parte de Deus e ainda assim continuavam incrédulos.
Solução?
Hebreus 10:25b apresenta uma: “...mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia.”
Tenho procurado encontrar a melhor forma de não me aborrecer e nem ficar desanimado com os problemas atuais da igreja.
Primeiro, estou tentando evitar as críticas. E como encontramos coisas para criticar. Para mim, confesso que é um exercício trabalhoso, pois como jornalista, tenho grande propensão para criticar.
Em segundo lugar, procuro não ter grandes expectativas em relação ao que a igreja – sejam membros ou a própria instituição – pode me oferecer. Ao contrário, procuro pensar no que eu posso oferecer para minha comunidade, para meus irmãos em Cristo. Também não é fácil. A declaração bíblica de que “há mais felicidade em dar do que receber” (At 20:35) é ótima na teoria. A verdade é que todos realmente gostamos de receber.
Dentre as atitudes que procuro tomar para melhorar o ambiente entre meus irmãos é distribuir sorrisos e abraços, e também orar por eles. Mas isso não pode ter cheiro de formalismo. Qualquer um percebe quando estamos sorrindo apenas para ser polidos. Sorriso amarelo não funciona. E quanto aos abraços, é preciso respeitar as pessoas, pois nem todos gostam de ser abraçados.
São apenas alguns exemplos do que podemos fazer para tornar nossa igreja uma comunidade mais agradável. Há um conhecido hino que diz: “Haja paz na Terra a começar em mim.”
Se ficarmos esperando que as atitudes comecem pelos outros, vamos acabar aceitando o conselho do livro que traduzi e nos tornaremos cristãos sem igreja. Não creio que essa seja a vontade de Deus. Temos que tomar a iniciativa. Um corinho muito cantado pela juventude de hoje é um bom começo: “Se você quer ter amigos... muito simples, seja um.”
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