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postado em: 4/22/2015
Uma Queda Espiralada Algumas de minhas memórias agradáveis me levam de volta a uma pequenina baía, no golfo do México. Meu avô materno possuía uma pequena cabana nessa baía e sua generosidade o induzia a partilhá-la com a numerosa prole. Por todos os meus anos de adolescência, nossa família passava as férias de verão ali passeando de barco, nadando, pulando de ancoradouros, apanhando camarões com rede, pescando de manhã, esforçando-se inutilmente até altas horas, mas principalmente rindo e descansando. Enquanto esses anos iam passando em comunhão familiar, e em alegria, uma horrorosa erosão se instalava. As águas da baía estavam escavando a terra entre a cabana e o mar. Ano após ano, devido à maré que ia e vinha, alguns furacões e as arremetidas normais das ondas contra a praia, grandes porções de terra estavam sendo consumidas pela baía. Durante todas as nossas atividades ou nas horas de lazer e descanso, ninguém jamais falou disso, nem se incomodou com o fato. Contudo, jamais me esquecerei do dia em que tudo isso mudou. Fiz uma pequena experiência, perto do fim de um dia de verão, que produziu uma impressão indelével em minha mente. No ano anterior, nossa classe do primeiro grau havia estudado a erosão. O professor conseguiu convencer-nos muito bem de que ainda quando não conseguimos ver o que está acontecendo, nem ouvir muitas advertências, a erosão pode ocorrer bem debaixo de nosso nariz. Só porque a erosão é silenciosa e lenta, isso não significa que não é devastadora. Por isso, sozinho naquele último dia de férias, enterrei uma estaca no chão e, em seguida, medi a passos a distância entre a estaca e o mar—cerca de quinze passadas, se bem me lembro. Voltamos para lá no ano seguinte. Antes de o sol descer, ao chegarmos no primeiro dia voltei à estaca e medi a distância: agora era um pouco menos de doze passadas. A baía havia engolido três passadas e mais um pouco — não em grandes goles, você entende? mas uma polegada aqui, outra acolá, durante o ano que transcorrera. Instalara-se uma queda espiralada. Fico sempre imaginando: se eu voltasse àquele lugar de belas memórias familiares, será que a cabana ainda estaria lá, firme, ou teria sido devorada pelo apetite insaciável do mar? Os Germes da Queda Espiritual Um amigo que freqüentara um colégio das elites, no meio-oeste, há muitos anos, contou-me uma história semelhante. Havia certa árvore enorme — uma espécie de marco, ou símbolo querido — sob a qual os estudantes se encontraram durante décadas. Ninguém conseguia imaginar aquele "campus" sem o gigantesco carvalho, que estendia seus tentáculos, de que tantos gostavam. Parecia fazer parte do cenário — perpetuamente, até que... Um dia, com um enorme ruído ensurdecedor, C-R-A-Q-U-E! o gigante rendeu o espírito. Uma vez caído, todos quantos lamentaram a morte do gigante poderiam ver o que ninguém havia percebido antes. A queda espiralada se iniciara havia muitos anos. Mês após mês, outono após outono, a erosão tomara conta da árvore. Só porque a erosão era silenciosa e lenta, isso não significava que a árvore não estava morrendo. Semelhantemente, de modo lento e silencioso, germes invisíveis da moral e da ética podem invadir-nos, trazendo os estágios iniciais de uma doença terminal. Ninguém consegue detectá-la com os olhos, porque o fenômeno acontece de modo imperceptível. Uma distração aqui, um compromisso ali, um desvio deliberado acolá, um amolecimento, um bocejo, um cochilo, um soninho, um hábito... um destino. Antes de podermos percebê-lo, um pedaço do caráter desaparece no mar, um pedaço protetor — a casca da árvore — só sobra na grama. O que antes era apenas "uma coisinha à-toa" transforma-se, na verdade, em algo maior do que a própria vida. O que se iniciou com inocência inquisitiva termina como vício destruidor. A mesma queda espiralada pode causar impacto sobre a família. Refiro-me a isso com a expressão "efeito dominó." O que papai e mamãe toleram passa para o filho e filha. Jeremias chorou, certa vez: "... os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram" (Jeremias 31:29). A tragédia é que o mal não pára aí. Esses jovens crescem e vão delinear o futuro da nação. Lembro-me de uma linha de carta escrita por John Steinbeck a Adiai Stevenson: “Existe um gás ondulante, superpenetrante, da imoralidade, que se forma no jardim da infância e não pára enquanto não atinge os mais elevados postos de comando, tanto empresariais como governamentais”. O sociólogo e historiador Carie Zimmerman, em seu livro “Família e Civilização”, publicado em 1947, registrou algumas observações agudas que fez, ao comparar a desintegração de várias culturas com o declínio paralelo da vida familiar, nessas mesmas culturas. Oito padrões específicos de comportamento doméstico caracterizam a queda espiralada de cada cultura estudada por Zimmerman: - O casamento perde a unção sagrada... freqüentemente é quebrado pelo divórcio. - Perde-se o significado tradicional da cerimônia matrimonial. - Crescem os movimentos feministas. - Aumenta o desrespeito público pelos pais e pelas autoridades em geral. - Acelera-se a delinqüência juvenil, a promiscuidade e a rebelião. - Pessoas de casamento tradicional recusam-se a aceitar responsabilidades de família. - Grande desejo de praticar adultério, e aceitação dessa prática. - Grande interesse por perversões sexuais e crimes relacionados com sexo, e ampla divulgação de tais males. O último padrão marca, geralmente, o estágio final da desintegração social. O "gás ondulante, superpenetrante", pode ser invisível mas, de acordo com Zimmermam, é letal. Antes de você terminar a leitura de hoje com um dar de ombros, gaste sessenta segundos esquadrinhando sua vida. Se você é casado, tome as medidas mentais de seu casamento... e de sua família. Pense com profundidade. Não minta para você mesmo. Dê uma olhada por dentro das muralhas de seus padrões morais, reavalie seu compromisso com a excelência ética, que uma vez foi forte. Será que há cupins na madeira? Não se deixe enganar pelos anos que se passaram em inocência e folguedo. É possível que uma horrenda erosão se tenha instalado, e você nem percebeu. Lembre-se: Só porque as mudanças são silenciosas e lentas, isso não significa que as coisas não estão se deteriorando. - Texto extraído e adaptado de “A Busca do Caráter”, de Charles Swindoll.