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postado em: 4/23/2015
Procura-se: Pessoas Flexíveis Encorajadoras Acabo de desligar o telefone. Não tive dificuldade em ver-me dentro de uma história. Do outro lado da linha estava um pastor de uma igreja de tamanho considerável. Ele e eu temos sido bons amigos há cerca de dez anos. Trata-se de um homem sensível, interessado, terno... talvez terno até demais, quase frágil às vezes. Sua igreja é evangélica, respeitada na comunidade. Não há a menor razão porque ele não deveria estar usufruindo sentimentos mais profundos de realização, maior poder no púlpito, e um relacionamento mais íntimo com as pessoas. Entretanto, nada disso acontece. Embora amadurecido em anos, está desanimando-se depressa. Que é que ele diz? — Quero desistir! Não se trata de pessoa que desiste à toa, mas agora ele está começando a pensar se não seria melhor dar o fora. Por quê? Porque ele se depara com um paredão de forte resistência. Iniciou um programa criativo que rompe com o passado, programa que não eriçaria muitas penas se as pessoas apreciassem a inovação e gostassem de mudança. Entretanto, porque um punhado de gente de seu rebanho não gosta de inovações e tampouco é aberto, esse pastor enfrenta a ira dos “hunos”. Simpatizo-me com ele, mas é muito pouco o que posso fazer por meu amigo. Chamei-o ao telefone porque eu havia ouvido (boato) que ele estava saindo, e eu queria encorajá-lo. Senti, principalmente, que meu amigo precisava de um ouvido capaz de ouvir, e da certeza de que alguém, embora a muitos quilômetros de distância, ainda acreditava nele. Espero que ele tenha-se sentido revigorado. Oro para que meu amigo não atire a toalha no ringue, mas eu o respeito muito, de modo que não posso pregar para ele. Há inúmeras dificuldades que os líderes eclesiásticos podem e devem enfrentar. Cada uma delas nos fere no âmago, mas a esperança nos ajuda a manejar bem as coisas. Resta-nos, ainda, bastante espaço para respirar. Toda e qualquer posição de liderança tem seus problemas próprios, e o ministério não é exceção. Entretanto, alguns testes só podem ser agüentados durante certo tempo. Um deles é o da rigidez. Não conheço uma palavra melhor para o caso. O Que Mais Estressa os Pastores É muito difícil lidar com pessoas que preferem viver de determinada maneira, com rigidez. Porém, quando passam a exigir isso do pastor também, restringindo, em última análise, a visão ministerial, o teste torna-se insuportável. Creio que a pessoa se sente como que sufocada, perto da asfixia. Por que é tão difícil os ministros suportarem a rigidez? Por que é que a rigidez exerce um efeito tão tirânico sobre as igrejas? Três razões me vêm à mente: Primeira: raramente a rigidez é proveniente do amor. O verdadeiro amor (descrito em 1 Coríntios 13) "... é paciente... benigno... não se conduz inconvenientemente; não procura os seus interesses" (vv. 4-5). Em outras palavras, o amor permite livre escolha. Libera a pessoa. Não faz exigências, nem é possessivo. Segunda: a rigidez restringe a criatividade e, assim, bloqueia o progresso. A rigidez é ameaçada pelo risco e pela possibi¬lidade de fracasso, pelo que tosa as asas do futuro — e em seguida critica a pessoa por não voar. Terceira razão: a rigidez é a marca registrada do legalismo, arquiinimiga de qualquer igreja que deseja mudanças. Se se lhe der corda suficiente, ela enforcará todas as idéias novas, todo o pensamento novo, todos os programas de inovações. Sim, tudo o que é renovação. A liberdade exige lugar para expandir-se, espaço para crescer, trazendo em si a excitação da exploração de novos caminhos. Ao remover a liberdade, damos adeus — um desesperado e saudoso adeus às ondas de entusiasmo. O pastor Eugene Peterson não se intimida, não usa de meias palavras, ao intimar as pessoas que são livres a serem também vigilantes. Leia este texto com a máxima atenção: "Há pessoas que não querem que sejamos livres. Não querem que sejamos livres diante de Deus, aceitos como somos pela Sua graça. Não querem que sejamos livres a fim de expressar nossa fé de modo original e criativo neste mundo. “Querem controlar-nos. Usar-nos para consecução de seus próprios propósitos. Essas pessoas se recusam a viver vigorosa e abertamente pela fé, mas preferem mancomunar-se num grupelho, e tentam obter aprovação, insistindo em que todos parecem iguais, falam e agem igualmente e, assim pretendem validar o valor mútuo, entre si. Tentam crescer em número, sob a condição de que os novos membros ajam e falem da maneira como todos o fazem. “Tais pessoas se infiltram nas comunidades da fé "para espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus" e com freqüência descobrem meios de controlar, restringir e reduzir as vidas de cristãos livres. Sem que o percebamos, vamos tornando-nos ansiosos a respeito do que os outros vão dizer sobre nós, obsessivamente preocupados com o que os outros acham que nós deveríamos fazer. “Já não conseguimos viver as Boas Novas mas, com muita ansiedade tentamos decorar e recitar um texto que alguém nos atribuiu. Nessa situação estaremos seguros, mas não livres. Poderemos sobreviver como comunidade re¬ligiosa, mas não experimentaremos o que significa ser uma pessoa humana, vivos em amor e fé, cres¬cendo na esperança." Em última análise, a rigidez condena os sonhos à morte. Sem os sonhos, a vida se torna enfadonha, cheia de tédio, de cuidados a serem tomados, de inibições. Em vez de lançarmo-nos em novas aventuras, agarramo-nos à tábua de salvação, por medo. A rigidez e o risco não conseguem coexistir. Em 24 de maio de 1965 um barco de 4 metros de comprimento deslizou suavemente de um porto de Falmouth, Massachusetts. Destino? Inglaterra. Seria a menor embarcação a fazer o percurso. Seu nome? Tinkerbelle. Piloto? Robert Manry, editor de texto do jornal Cleveland Plain Dealer, que achou que dez anos preso a uma escrivaninha era tédio suficiente. Por isso, pediu licença no emprego para realizar seu sonho secreto. Many estava com medo... não do oceano, mas de todas as pessoas que tentariam dissuadi-lo da viagem. Por isso, não partilhou seus planos com muita gente, só com alguns parentes, e de modo especial com a esposa, Virgínia, que lhe deu o maior apoio. A viagem? Qualquer coisa, menos agradável. Ele passou noites horrorosas sem poder dormir, tentando cruzar rotas de navegação sem ser atropelado e afundado. Após semanas no mar, a comida perdeu o sabor. A solidão, esse monstro antigo das profundezas, levou-o a alucinações terríveis. O leme quebrou três vezes. Tempestades varreram o convés, arrastando-o para longe do barco e, não fora a corda que ele amarrara ao redor da cintura, jamais teria conseguido voltar a bordo. Finalmente, depois de setenta e oito dias a sós, no mar, entrou em Falmouth, Inglaterra. O Que o Mundo Mais Precisa Durante aquelas noites, preso à alavanca de navegação, ele havia fantasiado o que faria logo após chegar ao destino. Esperava simplesmente alojar-se num hotel, jantar sozinho e depois, na manhã seguinte, ver se a Associated Press estaria interessada em sua história. Que surpresa o aguardava! A notícia de sua aproximação se espalhara por toda parte. Para seu espanto, trezentos barcos, com buzinas barulhentas, escoltaram o Tinkerbelle até o porto de chegada. Quarenta mil pessoas o aguardavam, gritando e aplaudindo-o, na praia. Robert Manry, o editor de texto que se tornara um sonhador, da noite para o dia virou herói. A história de seu feito tem sido contada no mundo todo. Entretanto, Robert não poderia ter feito tudo isso sozinho. De pé no cais estava uma heroína maior ainda — Virgínia. Recusando-se a ser rígida e fechada, quando o sonho de Robert tomava forma, ela o encorajou... desejando arriscar-se... permitindo ao marido a liberdade de perseguir seu sonho. Pastorados de grande sucesso não chegam lá sem que haja sonhadores que se cansaram de fazer apenas "manutenção" anos e anos sem fim. A busca do caráter se acelera no contexto da liberdade, do encorajamento e do risco. Precisamos de mais Roberts que tenham criatividade e tenacidade, a fim de romper o tédio, e tentar o inusitado, incomum. Mas, acima de tudo, precisamos de Virgínias que não permitirão que a rigidez seja o árbitro. Diga-me uma coisa: Você tem alguma dificuldade em ver-se a si próprio nesta história? - Texto extraído e adaptado de “A Busca do Caráter”, de Charles Swindoll.