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postado em: 4/28/2015
Histórias de Vítimas Indefesas “Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi. Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi” (Gênesis 3:12-13). Um fenômeno largamente comum: Quando há algo de bom ou positivo para ser dito, quando algo dá certo, então fui eu mesmo. Caso contrário, os outros são os culpados. Um exemplo é o futebol: Se o time vencer, “nós” ganhamos; se perder, então foram “eles que perderam” ou o treinador não presta, ou o juiz roubou. Se algo não dá certo, passamos a figurantes de um filme cujo roteiro foi escrito por outros. Uma conhecida minha que perdera três quilos gostava de contar a todos como conseguira isso, e como evitava o chocolate no escritório. Após algumas semanas e cinco quilos mais pesada, a história era bem outra: Seu excesso de peso seria tendência natural, as colegas devoravam constantemente grandes porções de chocolate à sua frente e, finalmente, o estresse do escritório seria insuportável sem chocolate. “De fato, é assim”, você talvez gostasse de acrescentar. “Os fatos estão aí! É tão óbvio”. Pois é, de fato parece tão evidente, mesmo porque estamos tão acostumados com nossas histórias que, ao final, até acreditamos nelas. A maioria das pessoas não tem a mínima dificuldade para assumir a responsabilidade pelas coisas boas ou bem-sucedidas de suas vidas: Quem comparece pontualmente a um encontro acertou o relógio, tomou seu banho, arrumou-se, deu partida no carro, localizou o lugar combinado... Pelos acontecimentos positivos, as pessoas se responsabilizam – às vezes com discrição, às vezes de modo arrogante. De qualquer modo, nunca ouvi alguém dizer: “Como estou contente por todos terem colaborado na pontualidade com que cheguei aqui; meu relógio funcionou, o carro pegou, os outros motoristas ficaram em casa, de modo que consegui chegar sem contratempos”. No entanto, quando as coisas andam tortas, transformamo-nos repentinamente em vítimas: o direito de autoria é ignorado e, em seu lugar, vem a desculpa das circunstâncias, do azar, os outros... Notícias do Vale de Lágrimas Recentemente, ouvi uma senhora que explicava seu comportamento excessivamente grosseiro a uma caixa de loja com as palavras: “Pois é, sou um bode expiatório e, além disso, sou a irmã mais velha”. Assim como os cientistas que gostam de assumir a responsabilidade por descobertas “positivas” e justificam como imprevisíveis os efeitos colaterais e resíduos de risco, os demais mortais atribuem a seus méritos as coisas bem-sucedidas, atribuindo os fracassos às circunstâncias. Por outro lado, o sucesso alheio freqüentemente é atribuído às circunstâncias, enquanto os fracassos são entendidos como características da personalidade. Isso também vale para as justificativas: Temos o hábito, por exemplo, de achar aceitável o ciúme em nós mesmos; o dos outros é exagerado. Da mesma forma, a infidelidade: Para a própria [sob a ótica do infiel], os motivos são válidos, mas os dos outros são suficientes para condenação [e, como a gente diz: Para o indivíduo “torrar no fogo eterno”, fazendo companhia ao diabo e sua trupe]. Sermos traídos é doloroso; trair, no entanto, é menos grave; nós nos inclinamos a enxergar motivos suficientes e justificáveis de nosso lado, mas inaceitáveis no lado dos outros. Algum tempo atrás, conversava com um policial que também é encarregado pelas multas nas infrações no trânsito. Ele contou-me algumas fantasiosas histórias de vítimas com as quais os motoristas tentam se livrar das multas. Eis algumas pérolas: - “Estava levando a tartaruga ao veterinário, ela saiu do cesto e foi esconder-se debaixo do pedal do acelerador”. - “Ao chegar em casa, errei a entrada e bati numa árvore que não deveria estar naquele lugar”. - “O pedestre não sabia para qual lado deveria ir e, por isso, bati nele com meu carro”. - “O poste do cabo telefônico veio ao meu encontro; tentei desviar, mas o carro começou a derrapar, de modo que ele foi derrubado”. E agora o último exemplo: Que fumar faz mal à nossa saúde é conhecido por todos. Só que, agora, muitos denunciam a indústria de fumo e alçam-se à condição de salvadores, sob o pretexto de terem sido encarregados pelas vítimas. Mas é preciso lembrar que “tabaco não causa câncer”; tabaco é uma planta, e o cigarro é completamente passivo. As pessoas provocam câncer, pois são elas que fumam o cigarro. [...] Já dizia Lessings Nathan, cuja sabedoria era reconhecida: “Ninguém é obrigado a ser obrigado”. - Texto extraído e adaptado do livro “Toda Mudança Começa Em Você”, do Dr. Reinhard K. Sprenger.