Digite uma palavra chave ou escolha um item em BUSCAR EM:
postado em: 4/29/2015
O Jargão da Impotência O telefonema já está longo demais: Um importante compromisso o espera e você está ficando aflito. Provavelmente, não poderá cumpri-lo... e então você puxa o “freio” de emergência: “Sinto muito, mas tenho de desligar!” Mais algumas rápidas palavras de despedida e, finalmente, você está livre do inconveniente telefonema. Porém, inicialmente, você nem deveria ter atendido a ligação (“... talvez fosse uma coisa importante!”) ou a deveria ter encurtado e combinado uma hora mais apropriada com o interlocutor. Já dizia Lessings Nathan, cuja sabedoria era reconhecida: “Ninguém é obrigado a ser obrigado!” Não trato aqui dos pormenores da linguagem; meu assunto é a ampla focalização para se diminuir e acusar as circunstâncias e, assim, fugir da responsabilidade, tornando-se vítima: É melhor ser escravo do que enfrentar. Em algum momento, somos aquilo que pensamos de nós, pois o pensar não expressa somente nossa fala; ao contrário, a fala também expressa nosso pensar. “A fala é a casa do ser”, afirma o filósofo Martin Heidegger, que pretende dizer que o ato de falar retroage sobre nosso consciente. Essa postura também é desmascarada por outros rumos da fala. O subjuntivo é, sobretudo, a linguagem da impotência: “Eu deveria...” “Eu poderia” “Em si, eu não deveria...” Quem diz “eu deveria”, esse nunca fez nada; a irresponsabilidade do “eu deveria” ainda é sobreposta pela ampla aplicação de uma indefinição quanto ao sujeito: “A gente deveria... !” Isso é, até onde alcança minha compreensão da linguagem, o coroamento do jargão da impotência. Originalmente usado para descrever algo, o “a gente” refere-se à constatação de hábitos corriqueiros e significa “qualquer pessoa”; assim, se forma a oportunidade para dar sumiço à decisão própria em um quadro aparentemente genérico. Empurrando “Com a Barriga” Nesse contexto, também é muito usual a postura “querer-saber-mais-do-que-é-necessário-para-negociar”, ou seja, tenho total conhecimento de que agora preciso agir, mas, antes disso, gostaria de ler mais um livro... ou participar de um seminário... ou ir ao terapeuta. Assim, acreditamos ser possível ficar passivo: Compreender em vez de agir. A conseqüência é um decidido “Talvez!” e uma muda desvalorização: “Sempre tomo as decisões erradas”, “Não posso decidir”. Atrás da máscara da consideração e argumentação, escondem-se freqüentemente covardia e o desejo de não ser envolvido. Assim como Hamlet, muitos procuram segurança quando é exigido ânimo. Tenho a impressão de que quanto mais alguém se esquiva de uma ação tanto mais alto voa intelectualmente. Também aqueles que afirmam “não pude...” ou “não me sobrou outra opção...” “não quero isso, meu chefe é que mandou!” se anunciam como vítimas de forças ocultas; esse é o jargão de quem se dobrou à impotência. E essas pessoas fazem todas as outras infelizes, porque perderam a consciência da livre escolha. “Na verdade, não queria beber, mas não resisti”. Aquele que fala assim, confirma que o impulso para beber não está localizado no interior do “Eu”; o “Eu”, que naturalmente é o lugar da decisão, não “queria” beber, gostaria de decidir diferentemente, mas foi vencido por forças estranhas. Do mesmo modo: “Minha mão fugiu do controle”, “As palavras de ofensa me escaparam”, “Bati num momento de raiva”. Histórias de vítimas! Nada se consolida se não for planejado anteriormente ou, no mínimo, imaginado. - Texto extraído e adaptado do livro “Toda Mudança Começa Em Você”, do Dr. Reinhard K. Sprenger.