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postado em: 5/1/2015
Tornando Deus Visível O trabalho de um jornalista é, simplesmente, o de ver. Somos olhos profissionais. Como jornalista cristão, aprendo a procurar pelos rastros de Deus. Tenho encontrado esses rastros em lugares inesperados: entre os principais propagandistas de uma nação outrora atéia e os refugiados de uma nação atéia no presente. Tenho visto esses rastros numa capela ajeitada num depósito no Ponto Zero em Nova York, numa favela em Atlanta e até numa academia de Chicago; numa reunião da Anistia Internacional, num retiro de fim de semana com vinte judeus e muçulmanos, e num painel em que se debatia a pergunta “Por que os muçulmanos nos odeiam?” Tenho sentido os rastros de Deus nas prisões do Peru e do Chile e em orfanatos na África do Sul e em Mianmar; nos discursos de Vaclav Havel e mesmo nas peças de Shakespeare. Este livro, boa parte do qual adaptado a partir de escritos esporádicos, é o relato do que tenho visto nos últimos anos. Encontrei desconforto em meio à abundância e esperança contagiante em circunstâncias que deveriam provocar desespero. Encontrei maldade nos lugares mais inesperados, e Deus também. Conheci uma mulher notável numa viagem à Africa do Sul; chamava-se Joana. Ela pertencia a uma raça miscigenada, parte negra e parte branca, uma categoria conhecida lá por “coloridos”. Quando era estudante, ela incitou movimentos de mudança do apartheid, e então viu o milagre que ninguém previa, o desmantelamento pacífico daquele sistema maligno. Logo depois, durante várias horas ela sentou-se com o marido, assistindo às transmissões ao vivo das audiências da Comissão de Verdade e Reconciliação. Em vez de simplesmente exultar com a liberdade recém-adquirida, o passo seguinte de Joana foi eleger como alvo a prisão mais violenta na África do Sul, na qual Nelson Mandela passou muitos anos. Membros de uma gangue — o corpo coberto de tatuagens — controlavam a prisão, impondo com rigor uma regra que exigia dos novos membros um teste de admissão: agredir prisioneiros indesejáveis. As autoridades faziam vistas grossas a esse constante “festival” de violências, deixando aqueles “animais” se espancar e até mesmo se matar. Sozinha, essa jovem e atraente mulher começou a visitar dia após dia os interiores daquela prisão. Ela levou uma mensagem simples de perdão e de reconciliação, tentando pôr em prática, numa escala reduzida, aquilo que Mandela e o Bispo Tutu estavam tentando realizar na nação como um todo. Ela organizou pequenos grupos, ensinou jogos que estimulavam a confiança, conseguiu que os prisioneiros revelassem detalhes horripilantes da infância. No ano anterior ao início das visitas, a prisão tinha registrado 279 atos de violência; no ano seguinte houve dois. Os resultados obtidos por Joana foram tão impressionantes que a BBC enviou de Londres uma equipe de filmagem para produzir dois documentários, de uma hora cada, sobre ela. Conheci Joana e seu marido, que desde então se juntara a ela no trabalho na prisão, num restaurante da área portuária da Cidade do Cabo. Como sempre fazem os jornalistas, pressionei-a a fim de obter os detalhes do que aconteceu para aquela prisão ser transformada. Ela parou com o garfo a meio caminho da boca, levantou os olhos e disse, quase sem pensar: “Bem, Philip, Deus já estava presente na prisão. Tive apenas que torná-lo visível”. Tenho pensado com freqüência naquela frase de Joana, que seria um excelente testemunho de missão para todos os que procuram conhecer e seguir a Deus. Deus já está presente, e nos lugares mais inesperados. Precisamos apenas torná-lo visível. - Extraído e adaptado do livro “Descobrindo Deus Nos Lugares Mais Inesperados”, de Philip Yancey.