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postado em: 5/24/2015
Fuga Para a Vida: Solitude Assim como é inestimável e necessário o companheirismo, tornando-nos capazes de ser encorajados, responsabilizados e desafiados, é também de igual forma importante um segmento da vida espiritual que muitas vezes tem sido bastante ignorado. Refiro-me aqui à disciplina do que chamo de solitude, de estarmos a sós, através da qual podemos cultivar uma serenidade profunda dentro de nós. A solitude tem sido chamada de "a fornalha da transformação". Não estou falando de uma privacidade pessoal de doze segundos, onde obtemos a correção de alguma coisa no tempo mais breve possível, para de novo voltarmos à corrida. É muito mais do que isso. É um oásis da alma em que vemos a nós mesmos, em que vemos os outros, e especialmente o nosso Deus de uma maneira nova. É onde muito daquela confusão toda que eu mencionei anteriormente é identificada e exterminada, graças ao implacável calor dessa "fornalha". A transformação da alma acontece quando a serenidade toma o lugar da ansiedade. Na solitude ocorrem lutas de que ninguém mais fica sabendo. Batalhas profundas são travadas nos momentos em que se está só, e raramente elas dão subsídios para sermões ou ilustrações de livros. Deus, que sonda os nossos mais profundos pensamentos nos períodos em que estamos em solitude, abre os nossos olhos para coisas que necessitam de atenção. São nesses momentos que Ele nos faz conscientes daquelas coisas que tentamos esconder dos outros. Henri Nouwen descreve a solitude com palavras de ordem prática e penetrantes: “Na solitude eu me liberto de toda a minha armação: nada de amigos com quem conversar, nenhum telefonema para dar, nenhuma reunião para ir, nenhuma música para ouvir, nenhum livro para me distrair, apenas eu — nu, vulnerável, fraco, com pecado, sem nada para fazer, quebrantado — com mais nada. E esse nada que eu tenho que me defrontar na minha solitude, um nada tão aterrorizante que todo o meu ser deseja correr para junto de meus amigos, para o meu trabalho, para tudo o que me distrai, para que assim eu venha a esquecer esse meu nada e passar a crer que eu tenho algum valor. Mas isso não é tudo. Assim que decido permanecer na minha solitude, idéias confusas, imagens perturbadoras, incontroláveis fantasias e misteriosas associações de pensamentos atacam a minha mente tal como macacos atacam uma bananeira. A raiva e a avareza começam a mostrar as suas caras feias... A minha tarefa é então perseverar na minha solitude, ficando na minha célula até que todos os visitantes sedutores se cansem de bater em minha porta e deixem-me sozinho. O Tão Necessário Exame Interior O salmista percebeu a necessidade de um exame interior profundo. De fato, ele convidou a sonda de raios laser de Deus a descer até as câmaras mais profundas do seu coração e dos seus pensamentos: “SENHOR, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe penetras os meus pensamentos. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos. Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda. Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Salmo 139:l-4;23-24). Paulo de igual forma entregou-se à solitude e à auto-análise. Sem hesitação, ele repreendeu os Coríntios pela sua vergonhosa impostura na ceia do Senhor, quando se reuniam em comunidade: “Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais não para melhor e sim para pior. Porque, antes de tudo, estou informado haver divisões ente vós quando vos reunis na igreja; e eu, em parte, o creio. Porque até mesmo importa que haja partidos entre vós, para que também os aprovados se tornem conhecidos em vosso meio. Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis. Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague. Não tendes, porventura, casas onde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto, certamente, não vos louvo” (I Coríntios 11:17-22). Ele então instruiu cada um a passar tempo em solitude e num auto-exame pessoal, a sós, com o Senhor: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não pou¬cos que dormem. Porque, se nós julgássemos a nos mesmos, não seríamos julgados”. “Uma inquietação em nosso interior cresce dentro de nós quando nos recusamos a nos isolar para examinar o nosso próprio coração e os nossos motivos. Corremos o risco de nos embaraçarmos sempre com nossas atividades e responsabilidade, e por isso temos que nos esforçar para prosseguir, para permanecermos ativos e ocupados na obra do Senhor. Se não nos empenharmos em retroceder, em ficar a sós para o árduo trabalho do auto-exame em momentos de solitude, a serenidade permanecerá na condição de apenas um sonho distante”. Nós proferimos palavras, mas elas nada significam. Acabamos trafegando por verdades não vividas por nós. Caímos em fraudes espirituais. Uma das meditações do falecido A. W. Tozer, que mais aprecio, não está nunca longe de minha mente diz: “Não será que a imperfeição de muitas de nossas experiências espirituais seja decorrente do nosso hábito de sair às pressas pelos corredores do Reino como crianças no mercado, tagarelando acerca de tudo, mas não parando para saber o real valor de nada?” É tempo do juízo começar na casa de Deus. Admitamos isso, você e eu sabemos que os lugares mais propícios à interminável conversa mole são os círculos religiosos. Como é fácil sermos vítimas de uma conversa sem sentido, de respostas pré-fabricadas, e de atividades descuidadas! Não era para ser assim; mas, na maioria das vezes, é desse jeito que é. Para combatermos isso, a solitude é necessária. O difícil trabalho de um auto-exame, feito repetidamente, é absolutamente essencial. Você se lembra da resposta de Jesus a seus discípulos imediatamente após a ministração que tinham feito? Leia e observe: “Voltaram os apóstolos à presença de Jesus e lhe relataram tudo quanto haviam feito e ensinado. E ele lhes disse: Vinde repousar um pouco, a parte, num lugar deserto; porque eles não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham. Então, foram sós no barco para um lugar solitário” (Marcos 6:30-32). O nosso Senhor, mesmo apreciando o árduo trabalho e as obras de fé dos apóstolos, quando retornaram das ministrações que tinham feito, viu a necessidade que eles tinham de um descanso e reflexão. Ele conhecia muito bem a influência exaustiva das muitas pessoas "que iam e vinham" (parece até a cena após o término do culto de muitas igrejas), e então os encorajou a deixarem tudo. Colocando-os num barco, navegou com eles até "um lugar solitário". Por quê Jesus fez isso? Ele viu a necessidade de escapar de toda atividade, da correria da vida – que desgasta e esgota, deixando um vazio: Um “oco” dentro de cada ser humano. Tirou-os do “epicentro” da agitação, para que pudessem estar num "lugar solitário", isto é, sem mais ninguém. Lá a serenidade poderia ser cultivada. Claramente vemos que Jesus reconheceu o valor da solitude. - Extraído e adaptado de Charles Swindoll, Perseverança.