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postado em: 6/19/2015
Um Coração Que Perdoa Ganhei meu primeiro bicho de estimação como presente de Natal na minha infância. Em algum lugar tenho a foto de uma cachorrinha chinesa de pelo castanho e branco, tão pequenina que cabia na mão de meu pai, e encantadora, ganhou meu coração de oito anos. Nós lhe demos o nome de Liz. A carreguei no colo o dia todo. Suas orelhas caídas me fascinavam, e seu nariz achatado me intrigava. Até a levei comigo para brincar na minha cama. Se ela tinha cheiro de cachorro? Eu achava seu cheiro adorável. Se uivava e choramingava? Achava seus barulhos adoráveis. E se fazia suas necessidades sobre meu travesseiro? Não posso dizer que achei isso adorável, porém não me importava. Mamãe e papai tinham falado muito claramente que a condição para eu ficar com Liz, era que eu teria que cuidar dela, e aceitei muito feliz. Limpava seu diminuto prato e abria uma lata de comida para cachorros. No mesmo instante em que ela lambia a água, voltava a encher a cumbuca de água. Mantinha seu pelo bem escovado e sua cauda mexendo. Em poucos dias, meus sentimentos mudaram um pouco. Liz ainda era minha cachorrinha, e eu era seu amigo, mas já estava farto de seus latidos, e ela parecia estar sempre com muita fome. Mais uma vez meus pais tiveram que me lembrar: "Cuide dela. É sua cadela". Não gostava de ouvir essas palavras: sua cadela. Não me importaria de ouvir: "a cadela com que você brinca", ou "sua cadela quando você quer", ou até: "sua cadela quando se comporta". Mas não eram essas as palavras de meus pais. Diziam: "Liz é sua cadela". Ponto final. Na saúde e na doença. Na pobreza e na riqueza. Quando estava limpa e quando fazia as coisas dela. Então me veio a idéia: "Estou pregado com Liz". A corte tinha acabado, tal qual lua de mel. Estávamos juntos na mesma focinheira. Liz deixou de ser uma opção para ser uma obrigação, de ser uma mascote para ser uma tarefa, de alguém com quem brincar para alguém de quem cuidar. Talvez você possa me entender. É provável que reconheça a claustrofobia que vem com o compromisso. Só que, em vez de lembrar você: "É sua cadela", o que dizem é: "É seu esposo" ou "É sua esposa", ou "É seu filho, pai, funcionário, chefe ou colega de quarto", ou qualquer outra relação que requeira lealdade para sobreviver. Tal permanência pode conduzir ao pânico; pelo menos aconteceu isso comigo. Devia responder a algumas perguntas duras. Posso tolerar a mesma cara com nariz achatado, peluda e com fome todas as manhãs? (Vocês, esposas, sabem do que estou falando?). Vai continuar latindo até eu morrer? (Algum filho ou filha compreende isto?). Ela vai chegar a aprender a limpar sua própria desordem? (Ouço um "amém" de alguns pais?). Pregafobia Estas são as perguntas que nos fazemos quando nos sentimos pregados (presos) a alguém. Existe uma palavra para especificar esta condição. Ao consultar o dicionário médico de uma só palavra (que escrevi no dia anterior a este capítulo), descobri que esta doença comum chama-se "pregafobia" Pregado quer dizer que você está "aprisionado" (preso). Fobia é um sufixo que você agrega a qualquer palavra que deseja que pareça impressionante. Leia em voz alta: Pregafobia). O Manual de Max de Termos Médicos diz o seguinte a respeito dessa condição: "Os ataques de pregafobia limitam-se às pessoas que respiram, e tipicamente acontecem em algum momento entre o nascimento e a morte. A pregafobia se manifesta com irritabilidade, perda da paciência, e tendência a transformar um grão de areia numa montanha. O sintoma mais comum das vítimas de pregafobia é a repetição de perguntas que começam com quem, que e por quê: quem é esta pessoa? O que eu estava pensando? Por que fiz caso de minha mãe?" Este prestigioso manual identifica três formas para enfrentar a pregafobia: fugir, lutar ou perdoar. Alguns optam por fugir: sair da relação e começar de novo em alguma outra parte, mesmo que com freqüência se surpreendam ao ver que a condição aflora do mesmo modo do outro lado da cerca. Outros lutam. Os lares convertem-se em zonas de combate, os escritórios em ringues de boxe e a tensão chega a ser uma forma de vida. Uns poucos, contudo, descobrem outro tratamento: o perdão. Meu manual não tem modelo a respeito de como acontece o perdão, porém a Bíblia sim. Jesus sabia o que se sente ao estar pregado com alguém. Por três anos andou com o mesmo grupo. Em todos os lugares e a toda hora via a mesma dúzia ou pouco mais de faces, na mesa, na fogueira noturna, o tempo todo. Viajavam no mesmo barco, e andavam pelos mesmos caminhos, visitavam as mesmas casas e, me pergunto, como Jesus pôde ser tão devotado para seus homens? Não só teve que suportar suas visíveis extravagâncias, mas também teve de aturar suas bobagens invisíveis. Pense nisso. Podia ouvir os pensamentos que eles não expressavam verbalmente. Sabia de suas dúvidas mais íntimas; e não só isso, sabia de suas dúvidas futuras. O que você acha de saber todos os erros que seus entes queridos cometeram e todas as faltas que ainda não cometeram? O que você acha de saber o que pensam a respeito de você, toda irritação, todo o que não lhes agrada, toda traição? Foi duro para Jesus amar a Pedro, sabendo que Pedro num momento lançaria maldições contra ele? Foi duro confiar em Tomé, sabendo que um dia duvidaria da sua ressurreição? Como Jesus resistiu ao impulso de recrutar um novo grupo de seguidores? João queria destruir o inimigo. Pedro mutilou a orelha de outro. Poucos dias antes da morte de Jesus, seus discípulos discutiam qual deles era o melhor. Como pôde Ele amar pessoas tão difíceis de serem agradáveis? Poucas situações estimulam tanto o pânico como se sentir aprisionado em alguma relação. Uma coisa é estar pregado com um cachorro, porém algo completamente diferente é estar aprisionado no matrimônio. Podemos zombar de termos risíveis como pregafobia, porém, para muitos, isso não é assunto de riso. Por essa razão acho que é sábio que comecemos nosso estudo do que significa ser como Jesus, meditando sobre seu coração perdoador. - Texto extraído e adaptado de Max Lucado, “Simplesmente Como Jesus”.