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postado em: 8/18/2015
Deus Falando de Dentro de Um Balde
O corredor está silencioso, exceto pelas rodas do carrinho contendo um balde de limpeza e os pés que o velho vai arrastando. Ambos soam cansados.
Os dois conhecem estes pisos. Quantas noites Hank os limpou? Sempre cuidando de limpar os cantos. Sempre cuidadoso de colocar sua placa amarela de advertência devido ao chão molhado. Sempre ri ao fazê-lo. "Cuidado todos", ri para dentro, sabendo que não há ninguém por perto.
Não às três da manhã.
A saúde de Hank já não é como antes. A gota sempre o mantém acordado. A artrite o faz mancar. Seus óculos são tão grossos que seus globos oculares aparentam ser o dobro do tamanho normal. Seus ombros estão caídos. Mas realiza seu trabalho. Ensopa o chão com água com sabão. Esfrega as marcas dos saltos que os advogados de passo firme deixaram. Terminará sua tarefa uma hora antes da hora de ir embora. Sempre finaliza cedo. Tem sido assim durante vinte anos.
Quando acabar, guardará o balde e se sentará do lado de fora do escritório do sócio mais antigo e esperará. Nunca sai cedo. Poderia fazê-lo. Ninguém saberia. Mas não o faz.
Uma vez quebrou as regras. Nunca mais.
Um passado obscuro
Às vezes, se a porta está aberta, entra no escritório. Não por muito tempo. Só para olhar. O escritório é maior que seu apartamento. Percorre com seu dedo o escritório. Acaricia o sofá de couro macio. Permanece em pé diante da janela e observa enquanto o céu cinzento se torna dourado. E recorda.
Uma vez teve um escritório como este.
Lá quando Hank era Henry. Naquele tempo, esse encarregado da limpeza era um executivo. Faz muito tempo. Antes do turno da noite. Antes do balde de limpeza. Antes do uniforme de manutenção. Antes do escândalo.
Hank não pensa muito no assunto. Não há razão para fazê-lo. Ficou encrencado, o despediram e foi embora dali. Isso é tudo. Não são muitos os que sabem do assunto. Melhor assim. Não é necessário dizer-lhes nada a esse respeito.
É seu segredo.
A história de Hank, por falar nisso, é real. Mudei o nome e um ou dois detalhes. Dei-lhe uma profissão diferente e o situei num século diferente. Porém a história é verídica. Você já a ouviu. A conhece. Quando lhe disser o verdadeiro nome, lembrará.
Porém, mas que uma verdadeira história, é uma história comum. É uma história sobre um sonho descarrilado. É uma história de uma colisão entre esperanças elevadas e duras realidades.
Acontece com todos os sonhadores. E como todos sonhamos, nos acontece a todos.
No caso de Hank, tratava-se de um erro que nunca poderia esquecer. Um grave erro. Hank matou alguém. Encontrou um valentão que batia num homem inocente e Hank perdeu o controle. Assassinou o assaltante. Quando o fato se tornou conhecido, Hank foi embora.
Hank preferiu esconder-se para não ser preso. Então, fugiu. O executivo se converteu num fugitivo.
História verídica. História comum. A maioria das histórias não chega ao extremo da de Hank. Poucos passam suas vidas fugindo da lei. Muitos, porém, vivem com remorsos.
"Poderia ter conseguido uma vaga em golfe na universidade", me disse um homem a semana passada, estando na quarta área de saída. "Tive uma oferta assim que saí da escola secundária. Mas me uni a uma banda de rock. No final nunca fui. Agora estou limitado a consertar portas de garagens".
"Agora estou limitado". Epitáfio de um sonho descarrilado.
Pegue um anuário da escola secundária e leia a frase de "O que desejo fazer" embaixo de cada retrato. Vai ficar tonto ao respirar o ar contaminado de visões de cumes de montanhas.
"Estudar numa universidade de renome".
"Escrever livros e viver na Suíça".
"Ser médico num país do Terceiro Mundo".
"Ensinar para crianças de bairros pobres".
Ainda assim, leve o anuário a uma reunião de ex-colegas depois de vinte anos de graduados e leia o capítulo seguinte. Alguns sonhos se converteram em realidade, mas muitos não.
Compreenda que não é que todos devam concretizar-se. Espero que esse pequenino que sonhava em ser um lutador de sumô tenha recuperado seu bom senso. E espero que não tenha perdido sua paixão durante o processo. Mudar de direção na vida não é trágico. Mas perder a paixão é.
Algo nos acontece no trajeto. As convicções de mudar o mundo vão-se degradando até converter-se em compromissos de pagar as contas. Em vez de alcançar uma mudança, conseguimos um salário. Em lugar de olhar para a frente, olhamos para trás. Em lugar de olhar para fora, olhamos para dentro.
E não gostamos do que vemos.
Hank não se agradava. Hank via um homem que se havia conformado com a mediocridade. Tendo sido educado nas instituições de maior excelência do mundo, contudo trabalhava no turno noturno de um serviço de salário mínimo para não ser visto de dia.
Mas tudo isso mudou quando ouviu a voz que vinha do balde. (Mencionei que esta história é verídica?).
No princípio achou que a voz fosse uma piada. Alguns dos homens do terceiro andar faziam truques desse tipo.
— Henry, Henry — chamava a voz.
Hank virou-se. Mais ninguém o chamava de Henry.
— Henry, Henry.
Olhou para o balde. Resplandecia. Vermelho brilhante. Vermelho ardendo. Podia perceber o calor a dois metros de distância. Aproximou-se e olhou para dentro. A água não fervia.
— Isto é estranho — murmurou Hank ao aproximar-se mais um passo para poder ver com maior clareza. Porém a voz o deteve.
— Não se aproxime mais. Tire o calçado. Está parado sobre piso santo.
De repente Hank soube quem falava.
— Deus?
Não estou inventando isto. Sei que pensa que sim. Parece loucura. Quase irreverente. Deus falando de um balde quente a um zelador de nome Hank? Seria crível se dissesse que Deus falava de uma sarça ardente a um pastor de nome Moisés?
Talvez esta versão seja mais fácil de analisar... porque você já a ouviu antes. Mas o simples fato de que seja Moisés e uma sarça em vez de Hank e um balde não faz com que seja menos espetacular.
Com certeza Moisés deixou cair as sandálias por causa da emoção. Nos perguntamos o que surpreendeu mais o ancião: que Deus lhe falasse de uma sarça ou o simples fato de que Deus lhe falasse.
Moisés, igual a Hank, tinha cometido um erro. Você se lembra da história. Da nobreza por adoção. Um israelita criado num palácio egípcio. Seus compatriotas eram escravos, porém Moisés era privilegiado. Comia à mesa real. Foi educado nas escolas mais refinadas.
Mas a professora que mais influiu não tinha título algum. Era sua mãe. Uma judia que contrataram para ser sua aia. "Moisés", você quase pode ouvir como sussurra a seu jovem filho, "Deus o colocou aqui de propósito. Algum dia você libertará o seu povo. Nunca esqueça, Moisés. Nunca esqueça".
Moisés não o fez. A chama da justiça se fez mais quente até arder. Moisés viu um egípcio que batia num escravo hebreu. Do mesmo modo que Hank matou o assaltante, Moisés assassinou o egípcio.
No dia seguinte, Moisés viu o hebreu. Pensava que o escravo lhe agradeceria. Não o fez. Em vez de mostrar gratidão, expressou ira. "Pensas matar-me, como mataste o egípcio?" (Êx 2:14, ACF).
Moisés soube que estava em dificuldades. Fugiu do Egito e se ocultou no deserto. Chame a isso uma mudança de carreira. Passou de jantar com os dirigentes de estado a contar cabeças de ovelhas.
Não se pode dizer que tenha subido de posição. E assim foi que um hebreu brilhante e promissor começou a cuidar das ovelhas nas colinas. Do círculo mais refinado ao cultivo do algodão. Do escritório oval ao táxi. De manobrar o taco de golfe a cavar uma vala.
Moisés pensou que a mudança era permanente. Não existe evidência de que tenha jamais albergado a intenção de voltar para o Egito. Além disso, tudo parece indicar que desejava permanecer com suas ovelhas. De pé descalço perante a sarça, confessou: "Quem sou eu, que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel?" (Êx 3:11, ACF).
Alegra-me que Moisés tenha feito essa pergunta. É uma boa pergunta. Por que Moisés? Ou, mais especificamente, por que o Moisés de oitenta anos?
A versão de quarenta anos era mais atraente. O Moisés que vimos no Egito era mais temerário e seguro. Mas o que encontramos quatro décadas mais tarde era relutante e curtido.
Se você ou eu tivéssemos visto Moisés lá no Egito, teríamos dito: "Este homem está pronto para a batalha". Foi educado no sistema mais refinado do mundo. Treinado pelos soldados mais hábeis. Contava com acesso instantâneo ao círculo íntimo de Faraó. Moisés falava sua língua e conhecia seus costumes. Era o homem perfeito para a tarefa.
Gostamos do Moisés de quarenta anos. Mas o Moisés de oitenta? De jeito nenhum. Demasiado velho. Demasiado cansado. Cheira a pastor. Fala como estrangeiro. Que impacto causaria em Faraó? Não era o homem indicado para a tarefa.
E Moisés estaria de acordo. "Já tentei antes", diria ele. "Esse povo não quer ajuda. Só me deixe aqui para cuidar de minhas ovelhas. São mais fáceis de conduzir".
Moisés não teria ido. Você não o teria enviado. Eu não o teria enviado.
Mas Deus o fez. Como se entende isto? No banco de reservas aos quarenta e titular aos oitenta. Por quê? O que sabe agora que antes desconhecia? O que aprendeu no deserto que no Egito não aprendera?
Para começar, a vida no deserto. O Moisés de quarenta anos era um cidadão da cidade. O octogenário conhece o nome de cada cobra e a localização de cada poço de água. Se deve conduzir milhares de hebreus no deserto, será melhor que conheça o básico da vida no deserto.
Outro assunto é a dinâmica de família. Se vai ter que viajar com famílias durante quarenta anos, é possível que seja de ajuda compreender como agem. Ele se casa com uma mulher de fé, a filha de um sacerdote midianita, e estabelece sua família.
Porém ainda mais importante que a vida do deserto e as pessoas, Moisés precisa aprender algo sobre si mesmo. Aparentemente aprendeu. Deus diz que Moisés está pronto. E para convencê-lo, lhe fala através de um arbusto. (Era necessário que fizesse algo dramático para captar a atenção de Moisés).
"Acabaram as aulas", disse Deus. "Chegou o momento de começar a trabalhar". Coitado de Moisés. Nem sequer sabia que estava inscrito.
Porém estava. E, adivinha. Você também está. A voz da sarça é a voz que sussurra para você. Lembra que Deus ainda não acabou a obra com você. Claro que é possível que ache que acabou. Talvez pense que já está no declínio. Ou ache que há outro para realizar a tarefa.
Se é isso o que você pensa, reconsidere. "Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo" (Filipenses 1:6, ACF).
Você viu o que Deus faz? Uma boa obra em você. Viu quando a terminará? Quando Jesus voltar. Posso soletrar uma mensagem? Deus ainda não terminou sua obra em você.
Seu Pai quer que saiba disto. E, para convencê-lo, é possível que o surpreenda. Talvez lhe fale através de um balde ou, mais estranho ainda, talvez lhe fale por meio deste devocional – do texto de reflexão que, hoje, está diante dos seus olhos.
- Texto Extraído e Adaptado de Max Lucado, “Quando Deus Sussurra o Seu Nome”.