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postado em: 9/15/2015
Reescrevendo Minha História
Stefan pode lhe contar sobre árvores familiares. Ganha a vida por meio delas. Herdou um bosque alemão que pertenceu à sua família durante quatrocentos anos.
As árvores que ele cultiva foram plantadas pelo seu bisavô faz cento e oitenta anos. As árvores que planta não estarão prontas para comercializar até que nasçam seus bisnetos.
Ele é parte de uma corrente.
"Cada geração deve tomar uma decisão", me disse. "Podem saquear ou plantar. Podem abusar da terra e enriquecer, ou podem cuidá-la, recolher somente o que lhes pertence e deixar um investimento para seus filhos".
Stefan colhe frutos semeados por homens que jamais conheceu.
Stefan planta sementes que os descendentes que nunca verá coletarão.
Dependente do passado, responsável pelo futuro: é parte de uma corrente.
Como nós. Somos filhos do passado. Pais do futuro. Herdeiros. Benfeitores. Receptores do trabalho realizado pelos que nos precederam. Nascidos num bosque que não semeamos.
O qual me leva a perguntar, como está seu bosque?
Ao ficar de pé sobre a terra legada pelos seus antecessores, que aspecto tem? Como se sente?
Orgulho pelo legado? Talvez. Alguns herdam terras com nutrientes. Árvores de convicção de raízes profundas. Fileira após fileira de verdade e herança. É possível que se apóie no bosque de seus pais com orgulho. Se este é o caso, agradeça, pois muitos não podem fazê-lo.
Muitos não estão orgulhosos de suas árvores familiares. Pobreza. Vergonha. Abuso. Tais são os bosques em que alguns se encontram. A terra foi saqueada. As colheitas foram efetuadas, mas não foi realizada semeadura alguma.
Talvez o criaram num lar de prejuízos e intolerância, o qual o faz intolerante com as minorias. Talvez o tenham criado num lar de avareza, daí que seus desejos de posses sejam insaciáveis.
Talvez suas lembranças da infância lhe causem mais dor que inspiração. As vozes de seu passado o amaldiçoaram, o rebaixaram, o ignoraram. Nessa época, achou que semelhante tratamento era normal. Agora vê que não é assim.
E agora tenta entender o seu passado.
Falaram-me de um homem que deve ter tido pensamentos dessa natureza. Seu legado era trágico. Seu avô era um assassino e um místico que sacrificava seus filhos em abuso ritual. Seu pai foi um canalha que destruía casas de adoração e zombava dos crentes. O assassinaram aos vinte e quatro anos de idade... seus amigos.
Os homens eram típicos de sua era. Viveram num tempo quando as prostitutas ofereciam suas mercadorias nas casas de adoração. Os magos tratavam as doenças com feitiços. As pessoas adoravam as estrelas e se guiavam por horóscopos. Pensava-se mais na superstição e no vodu que na educação das crianças.
Era um momento tenebroso para nascer. Que pode ser feito quando seu avô era seguidor de magia negra, seu pai era um homem vil e sua nação, corrupta?
Repetir a história? Alguns pensavam que o faria. O qualificaram de delinqüente antes de nascer, de tal pai, tal filho. Quase pode ouvir como as pessoas gemem quando ele passa: "Será igual ao seu pai".
Porém, erraram. Não o foi. Reverteu a tendência. Enfrentou o improvável. Elevou-se qual dique contra as tendências de sua época e imprimiu um novo curso ao futuro de sua nação. Suas conquistas foram tão notáveis que continuamos relatando sua história dois mil e seiscentos anos depois.
A história do rei Josias. O mundo tem conhecido reis mais sábios; o mundo tem visto reis mais ricos; o mundo tem sabido de reis mais poderosos. Mas a história nunca viu um rei mais valoroso que o jovem Josias.
Nascido uns seiscentos anos antes de Jesus, Josias herdou um trono frágil e uma coroa turva. O templo estava em desordem, a Lei tinha se perdido e o povo adorava qualquer deus que aparecesse.
Porém, ao finalizar seu reinado de trinta e um anos, o templo tinha sido reconstruído, os ídolos foram destruídos e a Lei de Deus novamente tinha se elevado até ocupar um lugar de proeminência e poder.
O bosque havia reclamado.
O avô de Josias, o rei Manassés, foi lembrado como o rei que "derramou muitíssimo sangue inocente, até que encheu Jerusalém de um a outro extremo" (2 Rs 21:16, PJFA). Seu pai, o rei Amom, morreu pelas mãos de seus próprios oficiais. "Ele fez o que era mau aos olhos do Senhor", diz seu epitáfio (2 Rs 21:20, PJFA).
Os cidadãos formaram uma comitiva e mataram os assassinos, e Josias, de oito anos, assumiu o trono. No princípio de seu reinado, Josias tomou uma valente decisão. "Andou em todo o caminho de Davi, seu pai, não se apartando dele nem para a direita nem para a esquerda" (2 Rs 22:2, PJFA).
Folheou seu álbum familiar até encontrar um antepassado digno de imitação. Josias pulou a vida de seu pai e passou por alto a de seu avô. Deu um pulo para trás no tempo, até encontrar Davi e determinou: "Serei como ele".
O princípio? Não podemos escolher nossos pais, mas sim podemos escolher nossos mentores.
E como Josias escolheu a Davi (que tinha escolhido a Deus), começaram a acontecer coisas maravilhosas:
O povo derrubou os altares dos baalins, seguindo as direções de Josias.
Josias destroçou os altares de incenso.
Josias... despedaçou as imagens de Asera e... as reduziu a pó.
Queimou os ossos dos sacerdotes.
Josias derrubou os altares.
Destroçou todos os altos de incenso por todas as terras de Israel (2 Cr 34:4-5,7).
Não se pode dizer que fosse um percurso turístico. Mas, por outro lado, Josias não tinha a intenção de conseguir amigos. Tinha como finalidade fazer uma declaração: "O que ensinaram meus pais, eu não ensino. O que eles abraçaram, eu rejeito".
E ainda não tinha acabado. Quatro anos depois, na idade de vinte e seis anos, dirigiu sua atenção para o templo. Estava em ruínas. O povo tinha permitido que fosse desmoronando. Mas Josias estava decidido. Algo tinha sucedido que ateou fogo em sua paixão pela restauração do templo. Tinha-lhe sido entregue um bastão. Uma tocha havia recebido.
No princípio de seu reinado decidiu servir o Deus de Davi, seu antepassado. Agora escolhia servir o Deus de outro. Note-se em 2 Crônicas 34:8: "E no ano décimo oitavo do seu reinado, havendo já purificado a terra e a casa, enviou a Safã (...) para repararem a casa do SENHOR seu Deus", o Deus de Josias (ênfase do autor).
Deus era seu Deus, a fé de Davi era a fé de Josias. Tinha encontrado o Deus de Davi e o havia feito seu. Quando o templo estava sendo reconstruído, um dos operários encontrou um rolo. No rolo estavam as palavras de Deus dadas a Moisés quase mil anos antes.
Quando Josias ouviu estas palavras, ficou estarrecido. Chorou ao ver que seu povo tinha se distanciado tanto do Deus que sua Palavra não tomava parte de suas vidas.
Enviou uma pergunta para uma profetisa, perguntando-lhe: "O que acontecerá a nosso povo?"
Ela disse a Josias que por ter-se arrependido quando ouviu estas palavras, sua nação se salvaria da ira de Deus (veja 2 Crônicas 34:27). Incrível. Uma geração completa recebeu graça devido à integridade de um homem.
É possível que Deus o tenha colocado sobre a terra por esse motivo?
É possível que Deus tenha colocado você sobre a terra pelo mesmo motivo?
Talvez seu passado não seja algo do qual jactar-te. Talvez tenhas sido testemunha de horrível maldade. E agora você, igual a Josias, deve tomar uma decisão. Vai se sobrepor ao passado e produzirá uma mudança? Ou permanecerá sob o controle do passado e elaborará desculpas?
Muitos escolhem o último.
Muitos escolhem os lares de convalescentes do coração. Corpos saudáveis. Mentes agudas. Porém sonhos aposentados. Balançam-se sem cessar nas cadeiras de balanço do remorso, repetindo as condições da rendição. Aproxime-se e poderá ouvi-los: "Se tão somente".
A bandeira branca do coração.
"Se tão somente..."
"Se tão somente tivesse nascido em outra parte..."
"Se tão somente tivessem me tratado com justiça..."
"Se tão somente tivesse pais mais amorosos, mais dinheiro, melhores oportunidades..."
"Se tão somente tivessem me ensinado a usar o banheiro mais rápido, me castigado menos ou ensinado a comer sem fazer ruídos incômodos..."
Talvez você já tenha usado essas palavras. Talvez tenha motivos de sobra para usá-las. Talvez você, igual a Josias, tenha ouvido contar até dez ainda antes de entrar no ringue. Para encontrar um antepassado que valha a pena imitar, você, igual a Josias, deve folhear o álbum familiar pulando muito para trás.
Se esse é o caso, permita que lhe mostre onde recorrer. Deixe de lado o álbum e levante a sua Bíblia. Busque no Evangelho de João e leia as palavras de Jesus: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito" (Jo 3:6, ARC).
Medite nisso. A vida espiritual nasce do Espírito! Seus pais podem lhe ter dado seus genes, mas Deus lhe dá graça. É possível que seus pais sejam responsáveis pelo seu corpo, mas Deus se incumbiu de sua alma. É possível que seu aspecto venha de sua mãe, mas a eternidade vem de seu Pai, seu Pai celestial.
Ele não está cego diante de seus problemas. Mais ainda, Deus está disposto a dar-lhe o que sua família não lhe deu.
Não teve um bom pai? Ele será seu Pai.
Através de Deus você é um filho; e, se é um filho, certamente também é um herdeiro (Gálatas 4:7).
Não teve um bom modelo? Experimente com Deus.
"Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados" (Efésios 5:1, ARC).
Nunca teve um pai que enxugasse suas lágrimas? Reconsidere. Deus viu cada uma delas.
"Tu contas as minhas vagueações; põe as minhas lágrimas no teu odre. Não estão elas no teu livro?" (Salmo 56:8, ARC).
Deus não o deixou à deriva num mar de heranças. Como Josias, você não pode controlar a forma como seus antepassados responderam a Deus. Porém, pode controlar sua forma de responder a Ele.
Não é necessário que o passado seja sua prisão. Pode ser uma voz em seu destino. Pode se expressar a respeito de sua vida. Pode escolher o caminho por onde andará.
Escolha bem e algum dia, muitas gerações depois, seus netos e bisnetos agradecerão a Deus pelas sementes que você plantou.
- Texto Extraído e Adaptado de Max Lucado, “Quando Deus Sussurra o Seu Nome”.