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postado em: 10/13/2015
Não Seguramos o Martelo!
No primeiro capítulo de Romanos, Paulo confronta o hedonista. No capítulo dois, ele trata com outro grupo: os moralistas judiciais, que condenam a si mesmos naquilo em que julgam (Rm 2.1). Eles stão sempre apontando um dedo para alguém:
"Portanto, você que julga os outros é indesculpável; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você que julga, pratica as mesmas coisas" (Rm 2.1 NVI).
Quem é essa pessoa? Poderia ser qualquer um ("Ó homem, quem quer que sejas) que filtre a graça de Deus através de sua opinião pessoal. Qualquer um que dilua a misericórdia de Deus em seu próprio preconceito.
É o irmão do filho pródigo que não quis comparecer à festa para receber de volta o arrependido que voltava ao lar (Lc 15. 11-32). É o trabalhador de dez horas, frustrado porque o que trabalhou apenas uma hora ganhou o mesmo salário que ele (Mt 20. 1-16). É o censor obcecado pelos pecados de seu irmão, e esquecido dos seus próprios.
Se você "acha que pode julgar os outros" (Rm 2.1), Paulo tem um duro lembrete a você. Não lhe cabe a função de segurar o martelo. "E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem" (v.2).
A palavra chave aqui é juízo. Uma coisa é ter uma opinião; outra, bem diferente, é passar um veredicto. Uma coisa é ter uma convicção; outra é condenar a pessoa. Uma coisa é estar repugnado pelos atos de Jeffrey Dahmer (e eu estou). Outra totalmente diferente é declarar que sou superior (não sou), ou que ele está fora do alcance da graça de Deus (ninguém está).
Como escreveu John Stott: "Este (versículo) não é uma intimação a suspender nosso senso crítico, ou renunciar toda censura e reprovação a outros, como algo ilegítimo. É, antes, a proibição de nos levantarmos em julgamento à outra pessoa e condená-la (como seres humanos, não temos o direito de fazê-lo), especialmente quando falhamos em julgar a nós mesmos."
Cabe a nós odiar o pecado. Mas tratar com o pecador é tarefa de Deus. Ele convocou-nos a desprezar o mal; porém jamais ordenou que desprezássemos o malfeitor.
Contudo, oh, como gostaríamos de fazê-lo! Existe algo mais deleitável que julgar os outros? O que daria mais satisfação que vestir a toga, assentar-se atrás da mesa e fazer soar o martelo e declarar: "Culpado!"?
Além de que, julgar os outros é um modo fácil e rápido de sentir-nos bem com nós mesmos. Uma loja de conveniência Levanta Ego. Olhando para todos os Mussolinis e Hitlers e Dahmers do mundo, nos gabamos: "Veja, Senhor, comparado a eles, não sou tão mau assim".
Esse é o problema. Deus não nos compara a eles. Eles não são paradigmas. Deus é. E, comparado a Ele, Paulo argumenta: "Não há quem faça o bem" (Rm 3.12). Na verdade, essa é uma das duas razões porque Deus é o único que pode julgar.
Razão 1: Não Somos Bons o Bastante
Suponha que Deus simplifique o assunto e reduza a Bíblia a um mandamento: "Deves saltar bem alto no ar para que toques a lua". Não é preciso amar o próximo, nem orar, nem seguir a Jesus; apenas toque a lua pela eficácia de um salto, e você será salvo.
Nunca o faríamos. Pode ser que uns poucos consigam pular três ou quatro pés, e outros menos cheguem a cinco ou seis; porém com a distância que nos separa da lua, ninguém chegaria nem perto. Ainda que você pudesse pular dezesseis centímetros mais alto que eu, isto mal constituiria motivo de orgulho.
Ora, Deus não nos chamou para tocar a lua, mas bem que poderia tê-lo feito. Ele ordenou: "Sede perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus" (Mt 5.48). Nenhum de nós pode satisfazer o critério de Deus. Como resultado, ninguém de nós merece vestir a toga, sentar-se na cadeira do juiz e julgar os outros. Por quê? Não somos bons o bastante. Dahmer pode pular seis polegadas, e você, seis pés, mas comparado às 230.000 milhas restantes, quem pode orgulhar-se?
A simples idéia chega a ser cômica. Nós, os que saltamos três pés, olhamos o companheiro que pulou uma polegada, e dizemos: "Que pulo ruim". Por que nos ocupamos com tais acusações? É uma manobra. Enquanto estou pensando em sua fraqueza, não tenho de pensar na minha. Enquanto estou olhando seu pulo fraco, não tenho de ser honesto com o meu próprio salto. Estou como o homem que foi ao psiquiatra, com uma tartaruga na cabeça e uma tira de bacon pendurada em cada orelha, e disse: "Estou aqui para consultá-lo a respeito de meu irmão".
É a estratégia universal da impunidade. Todas as crianças a usam. Se eu puder deixar papai mais bravo com o meu irmão do que comigo, sairei livre. Então, acuso. Comparo. Em vez de admitir minhas próprias faltas, encontro falhas nos outros. O jeito mais fácil de justificar os erros em minha casa é achar erros piores na casa de meu vizinho.
Tal artifício não funciona com Deus. Leia atentamente as palavras de Paulo. Deus não se deixa levar tão facilmente. Ele enxerga claro através da fumaça, e o pega pelo que você fez. Você não acha que, pelo simples fato de apontar o dedo para outra pessoa, irá desviar a severidade divina de sobre você, acha? Ou pensa que, só porque Ele é um Deus tão bondoso, vai deixar você de fora?
Melhor pensar nisto desde o princípio. Deus é bom, porém não é bobo. Em sua bondade, Ele toma-nos firmemente pela mão, e leva-nos a uma mudança radical de vida (Rm 2.2-4).
Não somos bons o bastante para julgar. Pode o faminto acusar o mendigo? Pode o doente zombar da enfermidade? Pode o cego julgar o surdo? Pode o pecador acusar o pecador? Não. Apenas Um pode julgar, e este Um não está escrevendo nem lendo este livro.
Razão 2: Não Sabemos o Bastante
Não somos apenas indignos; somos incompetentes. Não sabemos o bastante sobre a pessoa para julgá-la. Condenamos um homem por cambalear nesta manhã, mas não vimos a pancada que ele levou ontem. Julgamos uma mulher.por andar mancando, mas não podemos ver o prego em seu sapato. Zombamos do medo em seus olhos, mas não fazemos idéia de quantas pedras já tiveram de se desviar, ou de quantas flechas teve que se esquivar.
Não ignoramos apenas o ontem, mas também o amanhã. Ousaríamos julgar um livro antes que seus capítulos fossem escritos? Podemos dar nossa opinião sobre um quadro, enquanto o artista ainda segura os pincéis? Como pode você repudiar uma alma, antes que o trabalho de Deus seja completado? "Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês há de completá-la até o dia de Cristo Jesus" (Fp 1.6 NVI).
Cuidado! O Pedro que negou a Jesus na fogueira, esta noite, poderá proclamá-lo com fogo, amanhã, no Pentecostes. O Sansão que hoje está cego e fraco pode usar suas últimas forças para demolir os pilares do ateísmo. O pastor gago desta geração pode ser o poderoso Moisés da geração vindoura. Não chame Noé de louco; talvez você tenha de pedir-lhe uma carona naquele grande barco. "Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que o Senhor venha" (1 Co 4.5).
Um criminoso foi condenado à morte por seu país. Em seu último momento, clamou por misericórdia. Houvesse ele pedido clemência ao povo, e ela lhe teria sido negada. Houvesse pedido ao governo, e não lha teriam concedido. Houvesse pedido às suas vítimas, e elas teriam se mostrado surdas. Mas não assim com a graça. Ele virou-se para o vulto ensangüentado, pendurado na cruz próxima à dele, e apelou: "Jesus, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu reino". E Jesus respondeu-lhe dizendo: "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23.42,43).
Tanto quanto sabemos, Jeffrey Dahmer fez a mesma coisa. E tanto quanto sabemos, Jeffrey Dahmer obteve a mesma resposta. A súplica de Dahmer não foi diferente da sua nem da minha. Ele pode tê-la feito no beliche de uma prisão, e você, num banco de igreja, porém do ponto de vista do Céu, estamos todos tentando tocar a lua.
E, pela graça do Céu, todos nós fomos atendidos.
- Texto extraído e adaptado de Max Lucado, Nas Garras da Graça.
Frase-Chave:
Cuidado com os julgamentos precipitados!