Digite uma palavra chave ou escolha um item em BUSCAR EM:
postado em: 10/14/2015
Religião Prática X Práticas da Religião
"Eis que tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; ...que tens a forma da ciência e da verdade na lei; tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo?" (Romanos 2.17,20,21).
Vamos supor que eu o convide para navegar comigo.
— Eu não sabia que você era marinheiro — observa você.
— Pode apostar que sou — respondo eu.
— Diga-me, onde você aprendeu a navegar? Faço brilhar um sorriso arrogante, e puxo do bolso um retrato amarelado. Você olha para o marinheiro de pé sobre a proa de uma escuna.
— Esse é meu bisavô. Ele atravessou o Cabo de Horn. A navegação está em meu sangue.
— Seu bisavô o ensinou a navegar?
— Claro que não. Ele morreu antes de eu nascer.
— Então, quem o ensinou a navegar? Exibo um livro com capa de couro e orgulho-me:
— Li todo o manual.
— Você leu um livro sobre navegação?
— Mais que isso. Fiz um curso no grêmio do colégio. Posso dizer-lhe a diferença entre proa e popa, e entre bombordo e estibordo. Você precisa ver-me levantar um mastro.
— Você quer dizer "içar uma vela"?
— Tanto faz. Numa viagem, conheci um capitão de verdade.
Apertei a mão dele! Ora, vamos, não quer navegar?
— Honestamente, Max, não acho que você seja um marinheiro.
— Quer uma prova? Quer uma prova real? Dê uma olhada, companheiro. Tenho uma tatuagem ge-nu-í-na. — Levanto a manga e revelo uma sereia sentada numa âncora. — Veja como ela pula quando eu contraio o braço.
Você não está impressionado.
— Essa é toda a prova que você tem?
— Que mais preciso fazer? Tenho linhagem. Tenho livro. Tenho tatuagem. Todos a bordo!
Provavelmente você ficará em terra. Até um marinheiro de água doce sabe que é preciso mais que uma árvore genealógica, um curso de uma noite e uma tatuagem, para ser um navegador. Você não confiaria num companheiro como eu para navegar seu barco. Paulo tampouco confiaria num confrade igual a mim para dirigir a igreja.
Aparentemente, alguns foram difíceis. Oh, eles não eram do tipo navegantes; eram do tipo religioso. Seus ancestrais não foram companheiros de bordo; foram companheiros de sinagoga. Não tinham um livro sobre barcos, mas tinham um livro chamado Torá. E acima de tudo, tinham sido tatuados; tinham sido circuncidados. E eles eram orgulhosos, orgulhosos de sua linhagem, sua lei, e sua iniciação.
Tenho o pressentimento de que eles estavam orgulhosos também da carta de Paulo. Imagine a congregação ouvindo esta epístola. Judeus de um lado, gentios do outro. Não está vendo o sorriso radiante dos judeus? Paulo fala declaradamente contra os costumes ímpios, e eles balançam a cabeça aquiescendo. Paulo adverte quanto à ira divina dirigida ao hedonista construtor de cabanas, e eles sorriem. Quando Paulo, seu companheiro judeu, ralha com os miseráveis incircuncisos, eles explodem em coro: "Amém! Isso, Paulo, exorte-os!"
Mas então Paulo os surpreende. Ele aponta o dedo para seus peitos estufados e verbera:
E quanto a você? Você chama a si mesmo de judeu. Você confia na lei de Moisés e se envaidece de estar perto de Deus. Você sabe o que Ele quer que você faça, e sabe o que é importante, porque tem aprendido a lei. Você pensa que é um guia para os cegos e uma luz para os que estão nas trevas. Você acha que pode mostrar aos tolos o que é certo, e ensinar esses que nada sabem. Você tem a lei, por isso pensa que sabe todas as coisas e é dono da verdade. (Rm 2.17-20).
Não se vanglorie de sua linhagem! Isso que você está ouvindo não são fogos de artifício; são granadas. Sete granadas, para ser exato. Sete quentes e ferventes verbos lançados bem no centro do legalismo. Ouça como explodem:
"Você chama a si mesmo de judeu."
"Você confia na lei de Moisés e se envaidece de estar perto de Deus."
"Você sabe o que Ele quer que você faça, e sabe o que é importante, porque tem aprendido a lei."
"Você pensa que é um guia para os cegos e uma luz para esses queandam em trevas."
"Você acha que pode mostrar aos tolos o que é certo, e ensinar
esses que nada sabem."
"...você pensa que sabe todas as coisas." (Rm 2. 17-20).
Bum! Bum! Bum! Justamente quando os líderes pensavam que ganhariam elogios, foram detonados. Paulo disparou: "Vocês, judeus, confiam na lei em vez de confiar no legislador, e ufanam-se de ter o monopólio de Deus. Vocês estão convencidos de que são uma parte dos eleitos privilegiados que ‘sabem’ (sem sombra de dúvidas) o que Deus quer que se faça. E se isso não fosse ruim o bastante, vocês ‘pensam’ que são uma dádiva de Deus para os loucos e confusos. De fato, vocês ‘pensam’ que sabem tudo".
Algo me diz que Paulo dirigiu seu tiro ao prêmio "Pastor do Ano". O apóstolo, não obstante, está mais interessado em marcar um ponto que contar pontos, e seu ponto para os religiosos amontoadores de pedras é claro: "Não se vanglorie de sua árvore genealógica". Ter nascido com um mezuzá de prata na boca nada significa no Céu. A fé é profundamente pessoal. No reino de Deus não há estirpe real, ou linhagem santa.
Neste momento, me vem à mente a história do filho do lenhador. Por alguma razão, o menino convenceu-se de que havia fantasmas na floresta. Isso preocupou seu pai que, havendo feito das árvores um meio de vida, esperava que o filho fizesse o mesmo. A fim de encorajar o filho, o pai deu-lhe seu lenço dizendo-lhe:
— Os fantasmas têm medo de mim, meu filho. Use este lenço, e eles terão medo de você. O lenço fará de você um lenhador.
E assim o rapaz fez. Usou o lenço orgulhosamente, dizendo a todos que era um lenhador. Todavia, nunca entrou na floresta, nem nunca cortou uma árvore, mas desde que ganhara o lenço do pai, considerava-se a si mesmo um lenhador.
O pai teria sido sábio se houvesse ensinado ao filho que não havia fantasmas, em vez de ensiná-lo a confiar num "lenço". Os judeus confiavam nos lenços de seus pais. Dependiam da aba de sua herança. Não importava que fossem ladrões, adúlteros e escroques (Rm 2.22,23); ainda consideravam a si mesmos como os eleitos de Deus. Por quê? Porque tinham o "lenço".
Talvez lhe tenham dado um lenço. Talvez os ramos de sua árvore genealógica estejam carregados de santos e profetas. Talvez você tenha nascido numa casa pastoral e criado dentes num banco de igreja. Se assim for, seja agradecido, mas não acomodado. Melhor confiar na verdade que em um lenço!
Ou quem sabe você não tenha pedigree. Seus ancestrais estão mais nos registros da prisão, que no rol de professores da Escola Sabatina. Neste caso, não se preocupe. Assim como uma herança religiosa não traz bônus, uma secular não traz déficits. Árvore genealógica não pode salvá-lo, ou condená-lo; a decisão final é sua.
- Texto extraído e adaptado de Max Lucado, Nas Garras da Graça.
Frase-Chave:
Seja agradecido, nunca acomodado!