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postado em: 10/15/2015
Não Confie Num Símbolo!
Havendo tratado da questão da linhagem, Paulo agora enfoca o problema da tatuagem. Ele volta sua atenção ao mais sagrado emblema judaico: a circuncisão.
A circuncisão simbolizava a proximidade que Deus desejava ter com o Seu povo. Deus pôs uma faca para nossa auto-suficiência. Ele quer ser parte de nossa identidade, de nossa intimidade, e até de nossa potencialidade. A circuncisão atesta que não há nenhuma área em nossa vida demasiadamente privada, ou pessoal demais, para Deus.
Ora, em lugar de ver a circuncisão como um sinal de submissão, os judeus viam-na como sinal de autoridade. Com o tempo, passaram a confiar mais no símbolo que no Pai. O apóstolo Paulo destrói esta ilusão ao proclamar: "Não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é meramente exterior e física. Não! Judeu é quem o é interiormente, e circuncisão é a operada no coração, pelo Espírito, e não pela lei escrita. Para estes o louvor não provém dos homens, mas de Deus" (Rm 2.28,29 NVI).
Mais tarde, Pauto indaga: Deus aceitou Abraão antes ou depois de ele haver sido circuncidado? (Rm 4.10). Pergunta importante. Se Deus somente aceitou Abraão após a circuncisão, então Abraão foi aceito de acordo com os seus méritos, e não por causa de sua fé.
Qual é a resposta de Paulo? Abraão foi aceito antes de sua circuncisão (v.10). Ele foi aceito por Deus em Gênesis 15, e circuncidado em Gênesis 17. Quatorze anos separam os dois eventos!
Se Abraão já tinha sido aceito por Deus, então por que a circuncisão? Paulo responde a questão com o seguinte verso: "Ele recebeu a circuncisão como sinal, selo da justiça que ele tinha pela fé, quando ainda não fora circuncidado" (Rm 4.11 NVI).
O ponto de Paulo é crucial: A circuncisão era simbólica. Seu propósito era mostrar o que Deus já tinha feito.
Vejo um grande exemplo disso enquanto digito estas palavras. Em minha mão esquerda há um símbolo — uma aliança de ouro. Embora não elaborada, ela é inestimável. Foi-me dada por minha esposa no dia de nosso casamento. A aliança é um símbolo do nosso amor, um manifesto do nosso amor, uma declaração do nosso amor, mas não é a fonte de nosso amor.
Quando nos desentendemos ou temos alguma dificuldade, não pego a aliança e a coloco num pedestal e oro para ela. Não a esfrego nem lhe peço sabedoria. Se eu perdesse essa aliança, ficaria desapontado, mas nosso casamento continuaria. Ela é um símbolo. Nada mais do que isso.
Suponha que eu tente fazer da aliança mais do que ela é. Suponha que eu me torne um traste de marido, cruel e desleal. Imagine que eu falhe em prover às necessidades de Denalyn ou em cuidar de nossos filhos. Que um dia ela chegue ao ponto de dizer-me: "Você não é um marido para mim. Não há amor em seu coração, nem devoção em sua vida. Quero que você vá embora!"
Como você acha que ela reagiria, se eu rebatesse: "Como você ousa dizer isto? Estou usando a aliança que você me deu. Eu nunca a tirei um minuto sequer! É certo que a espanquei e enganei, mas sempre usei a aliança. Isto não basta?"
Quantos de vocês acham que tal defesa a levaria a desculpar-se e a lamentar-se: "Oh, Max, como sou esquecida. Você tem sido tão sacrificial, usando esta aliança todos estes anos. É certo que você me tem espancado, me abandonado e me negligenciado, mas deixo tudo isso de lado porque você tem usado a aliança"?
Conversa fiada. Ela nunca diria isso. Por quê? Porque à parte do amor, a aliança nada significa. O símbolo representa o amor, porém não o substitui. Paulo acusa os judeus de confiarem no símbolo da circuncisão, enquanto negligenciam a sua essência.
Poderia ele acusar-nos do mesmo erro? Substitua por um símbolo contemporâneo, tal como batismo, santa ceia ou ser membro de uma igreja. "Deus, eu sei que nunca penso no Senhor. Sei que odeio as pessoas e engano meus amigos. Abuso de meu corpo e minto à minha esposa. Mas o Senhor não se importa, não é? Pois acima de tudo, eu fui batizado nesta igreja cristã quando tinha doze anos."
Ou: "Em todas as páscoas, participo da comunhão". Ou: "Meu pai e minha mãe são a quinta geração de presbiterianos, o Senhor sabe."
Você acha que Deus diria: "Você está certo. Você nunca pensa em mim ou me respeita. Você odeia seu vizinho e maltrata suas crianças (é um pai ausente e negligente em seus deveres), mas uma vez que você foi batizado, passarei por alto a sua rebelião e seu mau caminho"?
Papo furado. Desassociado de quem o partilha, um símbolo não tem poder.
Em meu armário há uma jaqueta da equipe desportiva da universidade. Eu a ganhei por jogar dois anos no time de futebol. Ela, também, é um símbolo. Simboliza as longas horas de suor e trabalho no campo de treinamento.
A jaqueta e uma cicatriz no joelho são recordações de algo que pude fazer vinte anos atrás. Você acha que se eu vestir a jaqueta agora, instantaneamente ficarei dez quilos mais leve e totalmente veloz? Você acha que se eu entrasse no gabinete de um treinador usando essa jaqueta, ele me estenderia sua mão e diria: "Estávamos esperando por um jogador como você. Vai lá e bote pra quebrar!"?
Conversa mole. A jaqueta é meramente a lembrança de algo que outrora eu fiz. Ela não diz nada do que posso fazer hoje. Sozinha, ela não me transforma, não me capacita, nem me habilita a fazer nada. Nem sua herança tampouco o faz, ainda que você seja descendente de John Wesley.
Nem sua participação na ceia o faz, ainda que você se empanturre de pão.
Nem seu batismo o faz, ainda que você seja submerso no próprio Rio Jordão.
Por favor, entenda. Símbolos são importantes. Alguns deles, como batismo e santa ceia, ilustram a cruz de Cristo. Eles simbolizam salvação; demonstram salvação; proclamam salvação. Porém não concedem salvação.
Depositar sua confiança num símbolo é como pretender ser um navegante só porque tem uma tatuagem, ou pretender ser um bom marido só porque tem uma aliança, ou pretender ser um jogador de futebol só porque tem uma jaqueta esportiva.
Pensamos, honestamente, que Deus salvaria seus filhos baseado num símbolo? Que espécie de Deus olharia para um religioso hipócrita e diria: "Você nunca Me amou, nunca Me buscou ou obedeceu-Me, mas porque seu nome está no rol de membros de uma determinada denominação, Eu o salvarei"?
Ou por outro lado, que espécie de Deus olharia para alguém que O busca verdadeiramente e diria: "Você dedicou sua vida a amar-Me a amar aos meus filhos. Você entregou-Me seu coração e confessou-Me seus pecados. Eu gostaria de salvar você, que é tão falho. Sinto muito, mas sua igreja celebra a santa ceia mensalmente, e isso é muito. Por causa de um assunto técnico, você está para sempre perdido no inferno"?
Lero-lero. Nosso Deus é abundante em amor e constante em misericórdia. Ele nos salva, não porque confiamos em um símbolo, mas porque confiamos em um Salvador.
Por favor, note que Paulo não mudou de assunto; mudou apenas de ouvintes. Seu tópico ainda é o drama da vida ímpia. "A ira de Deus é revelada do céu contra toda impiedade" (Rm 1.18 NVI).
Da perspectiva divina, não há diferença entre o ímpio freqüenta-festas, o ímpio aponta-dedo, e o ímpio freqüenta-igreja. A turma do salão, o clã do palácio da justiça, e o coro da igreja precisam da mesma mensagem: Sem Deus, todos estão perdidos.
Ou como sintetiza Paulo: Todos nós, íntimos ou estranhos, iniciamos em idêntica condição. Isto é, iniciamos como pecadores. As Escrituras não deixam dúvidas sobre isto: "Não há um justo, nem um sequer" (Rm 3.10).
Assim como linhagem, leis e tatuagens não fazem de mim um navegador, herança, rituais e cerimônias não me tornam um cristão. "Deus justifica o crente, não pelos méritos de sua crença, mas pelos méritos de Cristo".
Não Tente Fazer o que Somente Deus Pode Fazer!
Voltemos ao meu convite para navegar. Eu sei ter dito que provavelmente você não iria, mas vamos fingir que você não é tão exigente quanto parece, e você aceita entrar no barco.
Você começa a preocupar-se quando nota que icei a vela somente umas poucas polegadas sobre o mastro. Você estranha quando eu me posiciono atrás da vela parcialmente içada, e começo a soprar.
— Por que você não desfralda a vela? — indaga você.
— Porque não consigo assoprar sobre a coisa toda — explico ofegante.
— Deixe que o vento assopre — insta você.
— Oh, não posso fazer isto. Estou navegando este barco por mim mesmo.
Essas são as palavras de um legalista, soprando e bufando para impelir sua nave ao Céu. (Alguma vez já se perguntou por que tantos religiosos parecem cansados, totalmente esgotados?)
Com pouco estamos vogando sobre o mar, e uma forte tempestade nos ataca. A chuva bate no convés, e o pequeno navio salta sobre as ondas.
— Vou lançar a âncora! — grito eu.
Você está aliviado porque eu sei ao menos onde está a âncora, mas então você se surpreende ao ver onde a coloco Primeiro, pego a âncora e a coloco perto da proa.
— Isto deverá estabilizar o barco! — Garanto eu aos gritos, mas claro, ele não se estabiliza. A seguir, levo a âncora para a popa. — Agora estamos seguros! — Mas o balanço continua. Penduro a âncora no mastro, mas isto não ajuda.
Finalmente, frustrado e com medo, você agarra a âncora, arremessa-a nas profundezas, e grita:
— Você não sabe que tem de ancorar em alguma coisa que não seja você mesmo?
Um legalista não sabe disso. Ele ancora apenas em si mesmo. Sua segurança provém do que ele faz, de sua linhagem, sua lei e sua tatuagem. Quando a tempestade desaba, o legalista lança sua âncora em seu próprio esforço. Ele salvará a si mesmo. Além de que, ele não está no grupo certo? Ele não tem a lei exata? E ele não passou pela iniciação correta? (Alguma vez já se perguntou por que muitos religiosos têm a vida tão tempestuosa?)
Este é o ponto: A salvação é tarefa de Deus.
Recorda a parábola do rio? O primeiro irmão, o hedonista, construiu uma choupana e chamava-a de mansão. O segundo irmão, o judicialista, olhava para o primeiro e chamava-o de desajustado. O legalista, o terceiro irmão, empilhava pedras e confiava em sua própria força.
Ele representa o beato ímpio que amontoa suas boas obras contra a correnteza, pensando que elas farão uma passagem rio acima. No final, os três rejeitaram o convite do irmão mais velho, e todos permaneceram igualmente distantes do pai.
A mensagem da parábola e a mensagem de Paulo aos Romanos são a mesma: Deus é o único que salva Seus filhos. Existe um único nome sob o céu que tem o poder de salvar, e esse nome não é o seu.
Apesar de você ostentar esta bela sereia em sua tatuagem, no braço.
- Texto extraído e adaptado de Max Lucado, Nas Garras da Graça.
Frase-Chave:
A Salvação é Tarefa de Deus!