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postado em: 10/31/2015
O Retrato de Um Indigente – I O retrato que Paulo faz de nós não é nada atrativo. Nós éramos “incapazes de ajudar a nós mesmos”, “vivendo contra Deus”, “pecadores”, “inimigos de Deus” (Rm 5.6,8,10). Tais são as pessoas por quem Cristo morreu. O terapeuta familiar, Paul Faulkner, conta do homem que resolveu adotar uma adolescente problemática. Alguém questionaria a lógica do pai. A menina era destrutiva, desobediente e desonesta. Um dia, ela veio da escola para casa, e revirou tudo à procura de dinheiro. Quando ele chegou, ela já se fora, e a casa estava de pernas para o ar. Ao saber do fato, os amigos insistiram com ele para que não finalizasse a adoção. — Deixe-a ir — aconselharam. — Afinal, ela não é realmente sua filha. A resposta dele foi simples: — Sim, eu sei. Mas eu disse a ela que era. Deus, também, fez um acordo para adotar o Seu povo. E Seu pacto não é invalidado por nossa rebelião. Uma coisa é amar-nos quando somos fortes, obedientes, e cordatos. Porém, e quando vasculhamos-lhe a casa, e roubamos o que é dEle? Esta é a prova do amor. E Deus passa na prova. “Mas Deus prova Seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). As damas de minha igreja não olhavam para mim e meu amendoim, e diziam: “Volte quando aprender a cozinhar”. O pai não olhou para a bagunça da casa, e disse: “Volte quando aprender a respeitar”. Deus não olhou para nossas vidas confusas, e disse: “Morrerei por você, quando você o merecer”. Nem Davi olhou para Mefibosete e disse: “Eu o resgatarei quando você aprender a andar”. Mefibo o quê? Mefibosete. Quando você ouvir sua história, compreenderá por que mencionei-lhe o nome. Assopre a poeira dos livros de 1 e 2 Samuel, e lá você o verá. “E Jônatas, filho de Saul, tinha um filho aleijado de ambos os pés. Era da idade de cinco anos quando as novas de Saul e Jônatas vieram de Jezreel; e sua ama o tomou e fugiu; e sucedeu que, apressando-se ela a fugir, ele caiu e ficou coxo; o seu nome era Mefibosete” (2 Sm 4.4). Os parêntesis no versículo não são tipos. Mefibosete está entre parêntesis na Bíblia. O versículo não diz muito; apenas seu nome (Mefibosete), sua calamidade (deixado cair pela ama), sua deformidade (aleijado dos pés), e segue adiante. Mas isto basta para levantar algumas questões. Quem era esse menino? Por que sua história aparece na Escritura? Por que Max Lucado o está mencionando num livro sobre a graça? Uma pequena volta ao passado será útil. Mefibosete era filho de Jônatas e neto de Saul, o primeiro rei de Israel. Saul e Jônatas tinham sido mortos na batalha, deixando o trono para ser ocupado por Davi. Naqueles dias, o novo rei, às vezes, demarcava seu domínio, exterminando a família de seu antecessor. Davi não pretendia seguir esta tradição, mas a família de Saul não sabia disso. Então apressaram-se a fugir. O cuidado deles concentrou-se em Mefibosete, de cinco anos, que, após a morte do pai e do tio, era o provável herdeiro do trono. Se Davi tivesse a intenção de assassinar os herdeiros de Saul, esse menino seria o primeiro da lista. Então a família fugiu. Na precipitação, Mefibosete escapuliu do colo da ama, danificando, permanentemente, ambos os pés. Pelo resto de sua vida, ele seria um aleijado. Se a história está começando a lhe parecer familiar, é o que deveria acontecer. Você e Mefibosete têm muito em comum. Você também não nasceu da realeza? E você também não traz as marcas de uma queda? E não temos, cada um de nós, vivido com medo de um rei que nunca vimos? Mefibosete entenderia o retrato que Paulo faz de nós, indigentes: “estando nós ainda fracos...” (Rm 5.6). Por aproximadamente duas décadas, o jovem príncipe viveu numa terra distante, amedrontado demais para falar com o rei. Ele era fraco, incapaz de ajudar-se a si mesmo. Entrementes, o reino de Davi florescia. Sob a sua liderança, Israel aumentou dez vezes o seu tamanho original. Ele não conhecia derro¬tas em campo de batalha, nem insurreição em sua corte. Israel estava em paz. O povo estava agradecido. E Davi, o pastor feito rei, não esquecera a promessa feita a Jônatas. A Promessa de Um Rei Davi e Jônatas eram como duas teclas num piano. Separados, faziam música; juntos, harmonia. Jônatas amava a Davi “com todo o amor da sua alma” (1 Sm 20.17). Sua legendária amizade encontrou sua prova máxima no dia em que Davi ouviu que Saul tentava matá-lo. Jônatas empenhou-se para salvar Davi, e pediu em troca um favor ao amigo: “Nem tampouco cortarás da minha casa a tua beneficência eternamente; nem ainda quando o Senhor desarraigar da terra a cada um dos inimigos de Davi. Assim fez Jônatas aliança com a casa de Davi (1 Samuel 20.15,16). Você reconhece que essa era uma terna lembrança para Davi? Pode imaginá-lo refletindo sobre esse momento, anos mais tarde? Da sacada do palácio, contemplando a cidade salva. Cavalgando em seu corcel, através dos campos abundantes. Vestido em sua armadura, inspecionando seu competente exército. Em algum momento foi ele dominado pela gratidão? Alguma vez pensou: “Não houvesse Jônatas salvo a minha vida, nada disso teria acontecido”? Talvez, um desses momentos de reflexão o tenha levado a voltar-se para os servos e perguntar: “Há ainda alguém que ficasse da casa de Saul, para que lhe faça bem por amor de Jônatas?” (2 Sm 91). Aqueles que estão nas garras da graça são conhecidos por fazerem semelhantes indagações. “Posso fazer algo por alguém?” “Posso ser bondoso com alguém, assim como outros têm sido bondosos comigo?” Isto não é uma manobra astuta. Davi não procurou fazer o bem a fim de ser aplaudido pelas pessoas. Nem tampouco fez alguma coisa, esperando que fizessem o mesmo por ele. Mas foi movido pelo singular pensamento de que ele também já fora fraco, E em sua fraqueza, fora ajudado. Enquanto se escondia de Saul, cabia-lhe bem o epitáfio de Paulo: “Quando éramos incapazes de ajudar a nós mesmos” (Rm 5.6). Todos nós fomos socorridos quando éramos incapazes de esboçar qualquer reação. Quando estávamos fracos e impotentes diante das conseqüências da queda que sofremos. Com certeza, isso faz com que nos enxerguemos de perto na história de Mefibosete. - Texto extraído e adaptado de Max Lucado, Nas Garras da Graça.