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postado em: 11/1/2015
O Retrato de Um Indigente – II Continuando o nosso relato, vimos que Davi obtivera livramento; agora desejava fazer o mesmo. Um servo chamado Ziba conhecia um descendente. “Ainda há um filho de Jônatas, aleijado de ambos os pés. E disse-lhe o rei: Onde está? E disse Ziba ao rei: Eis que está em casa de Maquir, filho de Amiel, em LoDebar” (2 Sm 9.3,4). Apenas uma sentença e Davi soube que havia mais do que ele esperava. O menino era “aleijado de ambos os pés”. Quem teria culpado Davi por perguntar a Ziba: “Há alguma outra opção? Algum membro saudável da família?” Quem o culparia por raciocinar: “Um aleijado não se adaptará à multidão do castelo. Apenas a elite anda por estes pavimentos; este menino nunca poderá andar! E que serventia teria ele? Sem saúde, sem educação, sem treino. E quem sabe que aparência ele tem? Todos esses anos, vivendo em... como é mesmo? LoDebar? Até o nome parece “lodo e barro”. Certamente há alguém que eu possa ajudar, que não seja tão paupérrimo”. Mais tais palavras nunca foram pronunciadas. A única resposta de Davi foi: “Onde está esse filho?” (v.4). Esse filho. Há quanto tempo Mefibosete não recebia a designação de filho? Em todas as referências anteriores, fora chamado de aleijado. Em cada menção, seu nome é seguido de sua desvantagem. Todavia, as palavras de Davi não fizeram menção de sua deficiência. Ele não perguntou: “Onde está Mefibosete, essa criança problemática?” Mas sim: “Onde está esse filho?” Alguns de vocês sabem o que significa carregar um estigma. A cada vez que seu nome é mencionado, sua calamidade o acompanha. “Tem tido notícias de João, ultimamente? Você sabe, aquele colega divorciado”. “Recebemos uma carta de Jerry. Lembra dele? O alcoólatra”. “Sharon está na cidade. Que humilhação ela ter criado sozinha aque¬les meninos”. “Vi Melissa hoje. Não sei por que ela não consegue parar num emprego”. Como um irmão incômodo, seu passado o segue onde quer que você vá. Não há ninguém que o veja pelo que você é, e não pelo que você faz? Sim. Existe um que o vê pelo que você é. Seu Rei. Quando Deus fala de você, não menciona sua situação, dor, ou problema; ele o deixa partilhar da sua glória. Ele o chama de filho. “Não repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a Sua ira. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui segundo as nossas iniqüidades. Pois quanto o Céu está elevado acima da Terra, assim é grande a Sua benignidade para com os que o temem. Quanto o oriente está longe do ocidente, tanto tem ele afastado de nós as nossas transgressões. Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (Sl 103.9-14). Mefibosete carregou seu estigma por vinte anos. Quando lhe mencionavam o nome, mencionavam-lhe o problema. Porém quando o rei pronunciou-lhe o nome, chamou-o de “filho”. E uma palavra vinda do palácio equivale a mil vozes nas ruas. Os mensageiros de Davi rumaram para a casa de Mefibosete, puseram-no em uma carruagem, e escoltaram-no até o palácio. Ele foi levado à presença do rei, onde prostrou-se com o rosto em terra, e confessou: “Eis aqui teu servo” (2 Sm 9.6). Seu temor era compreensível. Embora ele tivesse ouvido falar da bondade de Davi, quem lha garantiria? Apesar de os emissários lhe haverem dito que Davi não pretendia fazer-lhe mal, ele estava amedrontado. (Você não estaria?) A ansiedade estava naquela face que se inclinava ao chão. As primeiras palavras de Davi para ele foram: “Não tenha medo”. De igual modo, seu Rei é conhecido por dizer o mesmo. Já notou que a maioria das ordens repetidas pelos lábios de Jesus era: “Não temas”? Já observou que a ordem celeste para não temer aparece em cada livro da Bíblia? Mefibosete fora chamado, encontrado, e resgatado, mas ainda pre¬cisava de garantia. O apóstolo aponta a cruz como nossa garantia do amor de Deus. “Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Deus provou seu amor por nós através do sacrifício de seu Filho. No passado, Deus enviara profetas a pregar; agora, enviou seu Fi¬lho para morrer. No passado, Deus comissionara anjos a ajudar; agora, ofereceu seu Filho para redimir. Quando trememos, ele aponta o sangue derramado no madeiro e conforta: “Não tenha medo”. Durante os primeiros dias da guerra civil americana, um soldado da União foi preso por deserção. Incapaz de provar sua inocência, foi condenado e sentenciado à morte dos desertores. Sua apelação foi parar na mesa de Abraão Lincoln. O presidente compadeceu-se do soldado e assinou um indulto. O soldado retornou ao serviço, lutou durante toda a guerra, e foi morto na última batalha. No bolso de sua camisa, foi encontrada a carta assinada pelo presidente. Cercando o coração do soldado, estavam as palavras de perdão de seu líder. Ele achara coragem na graça. Pergunto-me quantos milhares mais acharam coragem na cruz enaltecida de seu Rei. O Privilégio da Adoção Assim como Davi cumpriu sua promessa a Jônatas, Deus cumpre-nos a sua. O nome Mefibosete significa “o que despedaça a desonra”. E era isto, exatamente, o que Davi pretendia fazer pelo jovem príncipe. Logo em seguida, Davi devolveu a Mefibosete todas as suas terras, colheitas, e servos, e insistiu que o aleijado comesse da mesa do rei. Não apenas uma vez, mas para sempre! “E te restituirei todas as terras de Saul, teu pai, e tu de contínuo conterás pão à minha mesa”. “Mefibosete... de contínuo comerá pão à minha mesa”. “Porém Mefibosete comerá pão à minha mesa como um dos filhos do rei”. “Morava, pois, Mefibosete em Jerusalém, porquanto de contínuo comia à mesa do rei; e era coxo de ambos os pés” (2 Sm 97,10,11,13 itálicos meus). Pare e visualize a cena na sala de jantar real. Posso novamente passar minha pena a Charles Swindoll a fim de ajudar você? A sineta ressoa através do palácio, anunciando o jantar. Davi chega e senta-se à cabeceira da mesa. Em poucos minutos, Amnon — esperto e astucioso Amnon — senta-se à esquerda de Davi. A adorável e graciosa Tamar, uma jovem bonita e atraente, aproxima-se e senta-se ao lado de Amnon. E então, atravessando o recinto, Salomão caminha lentamente, vindo de seus estudos; precoce, brilhante, preocupado Salomão. O virtual herdeiro senta-se devagar. E aí, Absalão — bonitão, encantador Absalão, com seus cabelos bastos e ondulados, negros como um corvo, descendo-lhe pelos ombros — assenta-se também. Nessa noite particular, Joabe, o corajoso guerreiro e comandante das tropas de Davi, foi convidado a jantar. Musculoso, bronzeado, Joabe senta-se perto do rei. Posteriormente, eles esperam. Ouve-se o arrastar de pés, o tum, tum, tum das muletas, enquanto Mefibosete, um tanto desajeitado, encontra seu lugar à mesa, escorrega para o assento e... a toalha da mesa cobre-lhe os pés. Pergunto-lhe: Mefibosete compreendeu a graça? E eu lhe pergunto: você vê nele a nossa história? Filhos da realeza, aleijados por uma queda, permanentemente desfigurados pelo pecado. Vivendo de modo parentético nas crônicas da terra, apenas para ser lembrado pelo rei. Movido não por nossa formosura, mas por Sua promessa, Ele chamou-nos a Si, e convidou-nos a tomar lugar à Sua mesa. Embora às vezes coxeemos mais do que andamos, tomamos nosso lugar junto a outros pecadores-tornados-santos, e partilhamos a glória de Deus. Posso partilhar com você algumas das coisas que o esperam na mesa do rei? Você está além da condenação (Rm 8.1). Você está liberto da lei (Rm 7.6). Você está perto de Deus (Ef 2.13). Você está livre do poder do mal (Cl 1.13). Você é um membro do reino de Deus (Cl 1.13). Você está justificado (Rm 5.1). Você é perfeito (Hb 10.14). Você foi adotado (Rm 8.15). Você tem acesso a Deus a qualquer momento (Ef 2.18). Você é uma parte de seu sacerdócio (1 Pe 2.5). Você nunca será abandonado (Hb 13.5). Você tem uma herança imperecível (1 Pe 1.4). Você partilha da vida de Cristo (Cl 5.4), de seus privilégios (Ef 2.6) de seus sofrimentos (2 Tm 2.12), e de seu serviço (1 Co 1.9). Você é um: Membro do seu corpo (1 Co 12.13). Ramo na videira (Jo 15.5). Pedra no edifício (Ef 2.19-22). Noiva ataviada (Ef 5.25-27). Sacerdote na nova geração (1 Pe 2.9). Habitação do Espírito (1 Co 6.19). Você possui (guarde isto!) todas as bênçãos espirituais possíveis “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1.3). Este é o presente oferecido ao mais humilde pecador da terra. Quem poderia fazer tal oferta, senão Deus? “E todos nós recebe¬mos também da sua plenitude, com graça sobre graça” (Jo 1.16). Paulo declara-nos tudo ao perguntar: Você já experimentou algo como este extravagante amor de Deus, esta profunda sabedoria? Está além de nossa mente. Nunca o calcularemos com exatidão. “Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro Quem primeiro lhe deu para que ele o recompense? Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém.” (Rm 11.33-36). À semelhança de Mefibosete, somos filhos do Rei. E, como me acontecia em Miami, nossas maiores oferendas, comparadas ao que nos é dado, não passam de amendoins. - Texto extraído e adaptado de Max Lucado, Nas Garras da Graça.