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postado em: 4/5/2015
Deus Ama a Variedade! Meu corpo emprega um zoológico assombroso de células, nenhuma das quais se parece com o corpo maior. Exatamente assim, o Corpo de Cristo engloba um agrupamento diferenciado de seres humanos. "Diferenciado" é a palavra exata, pois somos decididamente diferentes uns dos outros e daquele a quem seguimos. De quem é o projeto que origina essas cômicas formas humanas que tão vagamente refletem os ideais do Corpo como um todo? Jesus orou para que nós "sejamos um" como Ele e Deus Pai são um (Jo 17.11). Como é possível que um organismo resultante de tal diversidade consiga ao menos uma aparência de unidade? Enquanto as dúvidas ecoam dentro de mim, uma voz sábia e tranquila responde: "Vocês não Me escolheram. Eu escolhi vocês". O riso de satisfação, ante o Corpo de Cristo, fica entalado na garganta. Pois, se há alguma coisa na qual se deve acreditar sobre o grupo de gente que segue a Cristo é o fato de que fomos chamados por Ele. A palavra igreja, ekklésia, significa "os que foram chamados". Nossa trupe de figurantes de comédia é o grupo que Deus quer. Durante minha vida de cirurgião missionário na Índia e, agora, como membro de uma capelinha no recinto do leprosário de Carville, vi muitos improváveis seguidores de Deus. E devo admitir que a maior parte dos meus atos de culto dos últimos 30 anos não aconteceu entre pessoas que dividem comigo o mesmo gosto em termos de música, conversa ou mesmo pensamento. Mas, ao longo desses anos, fiquei profunda e humildemente impressionado por encontrar Deus no rosto de colegas de culto, pela convivência com pessoas escandalosamente diferentes umas das outras e de mim. C. S. Lewis conta que, quando ele começou a frequentar a igreja, não gostava dos hinos, por ele considerados poemas de quinta categoria adaptados a uma música ainda pior. Mas, após um tempo, ele declara: Percebi que os hinos (simplesmente música de sexta categoria) eram, apesar disso, cantados com devoção e proveito por um velho santo de botinas com elástico, no banco ao lado, e então você percebe que não é digno de engraxar aquelas botinas. A experiência acaba com o seu orgulho solitário. O Que Faz o Belo São as Diferenças Uma cor sobre uma tela pode ser bonita por si só. Todavia, não é esparramando uma tinta sobre a tela que o artista nos mostra sua excelência, mas sim achando o lugar dela entre tons contrastantes ou complementares. A cor original deriva então riqueza e profundidade do seu meio de cores desiguais. A base de nossa unidade no Corpo de Cristo não começa com as nossas semelhanças, mas sim com a nossa diversidade. Parece-me seguro presumir que Deus gosta da variedade, e não apenas no nível celular. Ele não se satisfez com mil espécies de insetos. Só de escaravelhos e carunchos fez três mil. Em seu famoso discurso no livro de Jó, Deus apontou com orgulho para algumas singularidades da criação tais como o cabrito montês, o jumento selvagem, a avestruz e o raio com relâmpago. Ele derramou cor, forma e textura sobre o mundo, dando-nos pigmeus e watusis, louros escandinavos e morenos italianos, russos troncudos e japoneses franzinos. As pessoas, criadas à sua imagem, continuaram o processo de individualização, agrupando-se de acordo com culturas distintas. Considere o continente asiático como exemplo de variedade excêntrica. Na China as mulheres usam calças compridas e os homens, saias. Na Ásia tropical bebe-se chá quente e masca-se pimenta ardida para refrescar o organismo. Os japoneses fritam sorvete. Os homens da Indonésia dançam em público com outros homens, para demonstrar que não são homossexuais. Os ocidentais acham graça da tradição asiática de casamentos arranjados pelos pais; os asiáticos se surpreendem de que nós confiemos tal decisão a um vago amor romântico. Os homens de Bali se agacham para urinar, ao passo que as mulheres ficam de pé. Muitos asiáticos iniciam uma refeição com um doce e terminam com uma sopa. E, quando os britânicos introduziram o violino na Índia um século atrás, os homens começaram a tocá-lo sentados no chão, segurando o instrumento entre o ombro e a sola do pé. Por que não? Quando viajo para o exterior, sempre fico perplexo com a incrível diversidade do mundo, e as igrejas estrangeiras estão agora começando a mostrar essa expressão cultural própria. Por um tempo demasiado longo, elas ficaram presas às tradições ocidentais (assim como a igreja primitiva ficara presa às tradições judaicas), de modo que hinos, vestimentas, arquitetura e nomes de igrejas eram iguais pelo mundo afora. Agora as igrejas locais estão irrompendo com suas expressões espontâneas de culto a Deus. Devo tomar cuidado para não representar o Corpo de Cristo como se ele fosse composto apenas de células norte-americanas ou britânicas. Ele é muito mais vasto e mais exuberante. Aprendi que, quando Deus olha para o seu Corpo, espalhado como um arquipélago pelo mundo afora, Ele vê o quadro completo. Creio que Ele, compreendendo os contextos culturais e o verdadeiro intento dos que lhe prestam culto, gosta da variedade daquilo que vê. Os negros de Murphy, na Carolina do Norte, gritam seus louvores a Deus. Os crentes da Áustria os entoam, ao som de magníficos órgãos e à luz de vitrais coloridos. Alguns africanos dançam seu louvor a Deus, ao ritmo de um tambor percutido com destreza. Os sossegados cristãos japoneses expressam sua gratidão criando objetos de beleza. Os indianos erguem as mãos para o alto, palma com palma, repetindo a respeitosa saudação namaste, que tem sua origem no conceito hindu de "eu adoro o Deus que vejo em você", mas adquire novo significado quando os cristãos a usam para reconhecer nos outros a imagem de Cristo. O Corpo de Cristo, como o nosso próprio corpo, é composto de células individuais e desiguais que se juntam para formar um só Corpo. Ele é o quadro completo, e a alegria do Corpo aumenta quando as células individuais percebem que elas podem ser diversas, sem se tornarem postos avançados isolados. - Extraído e adaptado do livro “Feito de Modo Especial e Admirável”, dos autores Philip Yancey & Paul Brand.