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postado em: 4/11/2015
O Perigo do Diagnóstico Errado “... porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à ganância, e tanto o profeta como o sacerdote usam de falsidade. Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (Jeremias 6:13-14). Outros, com habilidades teológicas maiores que as minhas, devem des¬crever e interpretar para nós doutrinas específicas. A ética situacional sugere que o conceito de certo e errado, muitas vezes, depende da necessidade e do estado de espírito do momento. Eu simplesmente mostro este aspecto sin¬gular da lei de Deus: ela deve ser consistente, tal como os ossos o são. A fé exige que seja assim. Sobre fé, lembro-me de uma experiência que tive alguns anos atrás. An¬tes de me especializar como cirurgião, trabalhei no consultório de clínica geral de meu sogro, perto de Londres. Certo dia apareceu por lá uma senho¬ra com uma lista de sintomas que descreviam com exatidão uma gastrite. Depois de breve exame, dei-lhe o diagnóstico, mas ela me olhou com os olhos arregalados, cheios de medo. Repeti com voz suave: — Realmente, não é uma doença grave. Há milhões de pessoas com esse problema. Com remédios e alguns cuidados, a senhora vai ficar ótima. O medo não desaparecia do rosto dela. Rugas de tensão contraíam-lhe a testa e os maxilares. De meu recado "A senhora vai ficar ótima", ela se esqui¬vava como se ouvisse "Sua doença é terminal". Aquela senhora me interrogou sobre cada ponto, e eu lhe assegurei que faria outros testes para confirmar o diagnóstico. Ela me repetiu todos os sintomas e continuou perguntando: — O senhor tem certeza? O senhor tem certeza? Então pedi que ela fizesse um enema de bário e detalhados exames de raios X. Quando os resultados chegaram, todos indicavam tratar-se definitiva¬mente de gastrite. Vi a mulher mais uma vez. Ela tremia levemente enquan¬to eu falava. Usei o tom mais confortante e profissional possível para dizer-lhe: — Está perfeitamente claro. Não resta nenhuma dúvida de que a senho¬ra sofre de gastrite. Eu achava isso desde a sua primeira consulta, e agora estes testes confirmam tudo. E um estado crônico, mas a senhora deve acalmar-se. Não há razão nenhuma para alarmar-se. A mulher encarou-me com olhar penetrante durante pelo menos um minuto, como se tentasse ver dentro de minha alma. Consegui sustentar seu olhar, temendo que, se eu desviasse dele, ela duvidaria de mim. Final¬mente, ela deu um profundo suspiro, e seu rosto se descontraiu pela pri¬meira vez. Respirou fundo e disse: — Bem, muito obrigado. Eu tinha certeza de que era câncer. Precisava ouvir o diagnóstico de alguém confiável, e acho que posso confiar no senhor. Em seguida ela me contou uma história envolvendo sua mãe, que sofre¬rá com uma longa e dolorosa doença. Uma noite angustiante, o médico da família tinha vindo visitar minha mãe enquanto ela gemia e apertava as mãos contra o estômago. Estava febril e obviamente sofria muito. Quando o médico chegou, ela disse: "Doutor, será que eu vou mesmo melhorar? Sinto-me tão mal e perdi tanto peso... eu acho que estou morrendo". O médico pôs-lhe a mão no ombro, olhou para ela com ternura e respondeu: "Eu sei como a senhora se sente. Dói muito, não é mesmo? Mas nós vamos ganhar essa... é apenas gastrite. Se a senhora tomar este remédio durante mais um tempo, com estes sedativos, logo sairá dessa cama. Ficará boa em dois tempos. Não se preocupe. Apenas confie em mim". Minha mãe sorriu e agradeceu. Eu fiquei impressionada com a bondade do médico. Fora do quarto, onde não podia ser ouvido por ela, o médico dirigiu-se a mim e disse com voz grave: "Receio que sua mãe não dure mais que um ou dois dias. Ela tem um câncer de estômago em estado avançado. Se a mantivermos sedada, provavelmente vai falecer em paz. Se há alguém para avisar... ". Eu o interrompi no meio da frase: "Mas doutor! O senhor disse-lhe que ela ia ficar boa!". "Sim, de fato, é muito melhor assim", ele respondeu. "Ela não sabe, e então não se preocupará. Provavelmente vai morrer dormindo." Ele tinha razão, minha mãe morreu naquela mesma noite. Aquela mulher, agora uma paciente de meia-idade, tinha consultado aquele mesmo médico antes de me procurar por causa de suas dores estomacais. Ele pusera a mão sobre o ombro dela, dizendo com voz suave: "Não se preocupe. É apenas gastrite. Tome este remédio, e a senhora logo se sentirá bem". E ele sorriu aquele mesmo sorriso paternal que exibira à mãe dela. A mulher tinha saído do consultório aos prantos e nunca mais voltaria a vê-lo. Quando as pessoas se queixam sobre as rígidas e inflexíveis leis de Deus, eu penso naquela mulher. O médico da família havia eliminado a possibilidade de ajudá-la devido à sua atitude flexível diante da verdade. Apenas uma coisa podia aliviar-lhe a ansiedade e o desespero: a fé em alguém que acreditava em uma verdade que não podia ser distorcida e adaptada. Há ocasiões em que a inverdade é mais conveniente ou menos ofensiva. Mas, o respeito pela verdade não é roupa que se possa trocar como uma camisa. A verdade não pode contrair-se e depois relaxar como um músculo. Ou é rígida e confiável como um osso sadio, ou é inútil. - Extraído e adaptado do livro “Feito de Modo Especial e Admirável”, dos autores Philip Yancey & Paul Brand.