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postado em: 4/5/2013
Fernando de Almeida Silva Editor Associado [email protected]
Os verdes pastos da Fazenda Onça, minha terra natal, em janeiro de 2013.
Parei para refletir sobre os momentos da minha vida, no tempo de menino, em minha terra natal. Eu via o mundo pela visão do mundo que eu conhecia então e cujos limites eram o horizonte por trás das montanhas, com suas indescritíveis distâncias a perder de vista.
De pé, no topo da colina, imaginava que aquele mundo era o único que existia e eu dele fazia parte, assim como o milagre da vida, que se renova todos os dias. E que, fora dele, a vida não tinha sentido e nem explicação, muito menos horizontes, para aumentar minha admiração de menino, de pé, no topo da colina, ou sentado ao pé da montanha grande.
Como eu era pequeno, tudo parecia grande, até mesmo o bezerro de poucos dias e o rio que passava na frente da nossa casa.
Desde os primeiros anos da minha vida, nunca vi uma árvore morrer por vontade própria, naquele rincão esquecido do meu mundo de menino. Ora era o fogo, que a sufocava até à morte, ora era o homem que a derrubava, com seus machados e serras destruidores, para transformá-la em moirões e estacas de cercas, dormentes para mata-burros e esteios e caibros pra moradias. E o que restava da árvore ficava ali em silêncio até o outono seguinte, quando os galhos cresciam e floresciam, como a eternizar minhas memórias em seus galhos renovados, vergados pelo peso dos dias e das estações.
As árvores espalhadas pelo campo eram um desafio à minha imaginação de menino, que as contava todos os dias, como uma diversão subliminar. E quanto mais imaginação eu tinha, mais e mais eu as contava, para saber qual delas florescia primeiro, com a chegada da primavera.
Eu me deleitava com o canto dos pássaros, o soluço do rio e o sibilar do vento que ninguém via, mas sabia que existia e passava no vale, onde o gado pastava, ruminando o capim verde que o sereno da noite regava. E quando a noite chegava e a calma tomava conta de tudo, eu dormia abraçado ao meu encantamento de menino, até o galo cantar, na alvorada de um novo dia. Então, pensava nas estrelas que piscavam lá fora, atormentadas de alegria, caçoando do sorriso enciumado da Lua, que afugentava a escuridão, iluminando os caminhos da noite, para os sonhos não se perderem.
Relembrar os dias da infância é como vivê-los de novo na imaginação. É como enxugar lágrimas de sereno à beira dos caminhos sem nome, ao raiar do Sol de um novo dia.
Quem se lembra do passado, com saudade, sabe o que é a dor da separação. Sabe, não somente o que é a dor, mas, também, a amargura de senti-la, porque o tempo passou. É o sofrimento de quem partiu, para o futuro, ou a tristeza da infância, que ficou no passado. E tudo se transforma em recordação.
Aquele tempo e aquele mundo não existem mais. Ficaram escondidos no passado das lembranças eternas e nas batidas sofridas do coração, eternizando olhares de saudade, engravidando de tristeza os olhos, num lugar distante da solidão.
Saudade é reviver a beleza da infância e da juventude, no rosto envelhecido do presente, pela distância do passado, cujas lembranças nos fazem reviver a vida, como se estivéssemos lá novamente, brincando e correndo pelos campos, com um ramo de flores na mão, para colocá-lo na sepultura da recordação, no túmulo envelhecido do cemitério do tempo.
Eu queria viver sem sentir saudade, pois saudade é a lembrança do tempo que passou e não volta mais. É a lembrança das horas, dos dias, das semanas, dos meses, dos anos e das imagens da infância que a memória do tempo guardou, gravadas no coração da vida, para não esquecermos do mundo de menino no qual vivemos um dia, e que agora só existe nas lembranças inesquecíveis do coração do passado.
O que mais eu poderia dizer?