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postado em: 4/8/2013
A ESPERA DE AL-MAHDI
Fernando de Almeida Silva
Al-Mahdi (Marcos de Almeida Silva)
Ao amanhecer do dia seguinte deixei Al-Mahdi dormindo em seu quarto encanto. Não quis despertá-lo do sono, porque seria o mesmo que destruir a beleza de seu encantamento espiritual e profanar o mistério de seu segredo divino, guardado na ternura de seu coração.
Ele dormia como a relva no vale à espera de um novo dia, embalado pelo silêncio das horas e o sussurro esquecido da escuridão, como se a alma fosse a essência do amanhecer da aflição das recordações, à procura de lembranças para abraçar.
Fiquei contente de poder amar aquela alma infantil tão cheia de sonhos e esperanças, cujas venturas estão além do semblante da vida e dos caminhos entre rios, sorrindo, feliz, diante de Deus.
Aproximei-me dele e pensei:
“Ele dorme... Deus é seu guia”.
Olhei para ele com os olhos do coração e as esperanças da alma. E uma chama de emoção invadiu todo o meu ser. Minha alma iluminou-se de alegria diante de Al-Mahdi, embalado pelo sono da escuridão da noite. Então, murmurei seu nome na quietude daquelas quatro paredes, que nada sabem e nada vêem.
“Al-Mahdi!...”.
E minha alma sobressaltou-se.
Já era tarde quando voltei à minha habitação, onde deixara Al-Mahdi dormindo. Porém, ao abrir a porta, lá estava Al-Mahdi à minha espera, como a flor diante dos primeiros raios de Sol e o espelho diante de suas recordações imagens, tentando materializar em sua superfície lisa, imagens de rostos esquecidos de anos e sonhos que não voltam mais. Os olhos de Al-Mahdi brilharam de alegria, como o amanhecer deixando a escuridão, ao ver-me de volta à minha habitação. Seu rosto encheu-se de alegria e ele sorriu para mim. Seu tímido sorriso abriu-se à lembrança da partida e à alegria da chegada, como se o começo fosse o princípio do fim e, o fim, o princípio de um novo dia. Comovido, Na alegria dos seus cinco anos ele abraçou-me e sussurrou-me ao ouvido:
“Você demorou a voltar”.
Aquele momento mágico pareceu-me eterno e sublime, como o infinito à procura da luz, ante a imagem do tempo da meditação, buscando aproximar-se mais e mais do rosto iluminado de Deus.
Fiquei extasiado diante dele. Meu coração sofreu com as palavras de Al-Mahdi, pois revelavam a solidão da espera e a esperança do retorno, diante das recordações que povoavam seu coração. Mas, eu nada pude dizer, para não entristecê-lo com minhas palavras de afeto. Apenas disse que amava. Seus olhos brilharam de satisfação e refletiam uma alegria e uma travessura de menino. Sorriu mais uma vez. E seu rosto iluminou-se nos braços de sua alma em transe, como se as estrelas piscassem para ele naquele momento, do mistério da devoção.
Al-Mahdi ficou em silêncio e apertou-me em seus braços de menino. Depois falamos de coisas de menino, com palavras de menino; de sonhos de menino; de brincadeiras de menino; com alegrias de menino.
Anos depois, lembrei-me desse encontro sublime entre um adulto e uma criança de cinco anos apenas. Emocionei-me ao lembrar-me das palavras que Al-Mahdi me segredou aos ouvidos naquele dia, que a distância dos anos levou. Lembrei-me, também, de suas palavras ao ver-me chegar. E meu coração exclamou, em triunfo, o grito da vida que se perpetua na descendência da espécie e na continuidade da vida.
E eu, agradecido de emoção, disse no meu coração:
“Eu te amo, meu filho”.