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postado em: 20/10/2014
À Sombra das Buganvílias
Fernando de Almeida Silva
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No fim da tarde daquele dia inesquecível de 1955, atravessei a estrada que passava entre a nossa casa e o rio, cruzei o rio e subi a montanha. Chegando ao topo, sentei-me debaixo de uma das buganvílias de flores vermelhas que existiam lá, para olhar a planície que se estendia e se perdia entre árvores espaças e capim colonião. Mais adiante, na linha do horizonte, o dia morria e, lentamente, sumia, como se fora um segredo esquecido da tarde, que a montanha teimava em não revelar. Então, com o coração todo enfeitado de sonhos, divisava o horizonte da minha vida, para o tempo poder passar.
Eu era feliz no meu mundo encantado de tenra idade. E via a magia do dia pela linha do horizonte, como se fora o último suspiro da tarde, ante o soluço da escuridão. Era como se contemplasse minha vida pelo espelho da vida da própria vida, através da alma encantadora da montanha. E meu coração sangrava de felicidade.
No mundo dos meus sonhos, o voo gracioso e o cantar alegre dos pássaros, eram como setas incendiadas penetrando meu coração pequenino, inflamando-o de admiração pela vida, em êxtase de alegria.
Era como se a vida descobrisse a vida, pelo voar gracioso e pelo cantar alegre dos pássaros, e pelas pétalas de flores vermelhas das buganvílias, que caiam e morriam no chão, mas resplandecentes de luz.
Era como se abraçasse a solidão dos caminhos e os caminhos da solidão e morresse extasiado de amor, sob as estrelas e o luar, em um momento único e sublime da vida. Ficava deslumbrado pela beleza das distâncias e pelo lamento dos anos que vinham e iam, e passavam diante de mim, como num sonho continuado da vida, que pedia para não morrer.
Eu vivia e sonhava debaixo da buganvília de flores vermelhas, para ver o horizonte dos dias de todos os dias, com o vento soprando pelos caminhos.
E hoje, ao recordar os anos maravilhosos da minha infância, naquele canto esquecido do mundo, de saudade vou morrendo aos poucos. Mas, o conforto é que, nos sonhos e nas lembranças do passado, ainda me vejo menino, sentado no topo da montanha, olhando, em silêncio, para a linha do horizonte e a solidão dos caminhos, à sombra das buganvílias.