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postado em: 26/12/2007
O Sorriso da Beleza Sílvia gostava de sorrir. Parecia feliz e dizia sentir saudade de muitas coisas que deixou para trás. Era confiante e altiva. Zulei era mais contida, serena, contemplativa e, acima de tudo, bela. Se sorria, era como se seus olhos dissessem algo que somente ela pudesse compreender e seu coração falar. Que sorriso! Era como se todas as primaveras a convidassem a fazer parte das flores que um dia formaram todas as belezas do mundo. Como se o sorriso de aceitação de Deus a chamasse para falar com Ele somente. Como se o crepúsculo desenhasse seu rosto nas cores idílicas do Céu da tarde, à hora do crepúsculo. Era a beleza da arte, que o pintor não consegue expressar em suas telas eternas, sem se inspirar no sublime motivo que o faz pintar. A arte em sua sublimidade maior, magistral, inigualável, falando com o coração do sorriso e sorrindo com o coração dela. A arte da beleza pura, inigualável, encantadora, eterna, sublime. Zulei era assim. Falava pouco, mas gostava de ouvir. Era como uma criança, encantada com os brinquedos recebidos, que há muito desejava ter. Quando nos olhava, seu coração se abria à alegria de viver, aos grandes espaços que sua alma continha para nos amar, como amigos que ela elegeu em seu ser, e a Frank que, em segredo, o tinha em seu coração para sempre. Diante dela, a grandeza de nossa amizade era a partícula mínima de sua beleza gigante, que acalma as tormentas da alma em transe. Seu sorriso era enigmático, meigo, deslumbrante, incrivelmente belo. Parecia o por do sol das horas nos umbrais da beleza eterna, que o tempo não conta, não sabe definir. E, por isso, foge à compreensão humana e à sua capacidade de compreendê-la. Tinha os olhos castanhos, serenos e contemplativos, como a inspiração das obras eternas, que o artista cria uma única vez na vida. Observava quando falávamos e sorria quando algo lhe tocava a alma e o coração sonhador. Seus cabelos castanhos lisos caíam sob seus ombros. Seu rosto era meigo, sereno, suave, como a brisa matinal do vale, e sua pele lisa e aveludada, enfeitando as horas do amanhecer. Era serena e encantadora. Não foi difícil compreender porque Frank amava em segredo aquela mulher tão bela, maravilhosa, peculiar, sensível e meiga no olhar, cuja grandeza humana nos fazia pequenos diante dela. A beleza é como o tempo, pois tudo aquilo que vemos hoje, amanhã já é passado. E o presente é o guardião do futuro. A beleza fere o coração de quem a mão da vida não enfeitou o rosto, feito à imagem e semelhança de Deus. É difícil explicar a beleza. É difícil entender a arte. É difícil definir a saudade. De beleza se vive; de saudade se morre. Beleza é o êxtase maravilhado ante uma obra de arte, inanimada na tela ou no mármore, cuja luz, cores e perfeição, outro pintor não consegue repetir jamais. Já a inspiração é obra de um único momento sagrado, em que o artista se envolve num transe que o leva a materializar, na tela ou no mármore, a obra dos seus sonhos, eternizando a beleza. Foi assim com Michelangelo, que pintou a Capela Sixtina, criou a Pietá, o Moisés, o Davi; com Bernini, que fez a Colunata da Praça e o Baldaquino da Basílica de São Pedro, em Roma; Leonardo Da Vinci, que pintou a Mona Lisa e a Última Ceia; Rafael, Caravaggio, Ticiano e tantos outros que, no transe da inspiração pela arte, fizeram da Beleza o ornamento de suas obras eternas. Saudade é o sofrimento por alguém que amamos e que partiu, ou quando partimos e deixamos alguém ou coisas que amamos. Está condicionada ao tempo e à distância. A beleza nos faz sorrir e ficar alegres; a saudade, chorar e sentir tristeza. Beleza é subjetiva; saudade é introspectiva. A beleza vem da alma; a saudade, do coração. Daí minha dificuldade em saber qual das duas é mais sublime, se a subjetividade da beleza ou a introspecção da saudade. A beleza os olhos vêem. A saudade o coração sente. Mas, se eu conseguir compreender a beleza da saudade e a saudade da beleza, então conseguirei definir o DEVENIR do bioprospectivismo hominal, que filosofou o sentido da vida. E se, encontrando o sentido da vida, encontrar a beleza, encontrarei a felicidade, pois, quem tem a beleza, presume-se, tem a Felicidade. Se a beleza está nos olhos, a saudade está no coração. E a beleza estava no rosto, no coração, na alma e no sorriso de Zulei. A Zulei de anos passados, de minhas lembranças, de minha compreensão de beleza única, eterna. E por isso acreditávamos, naquela época distante, que Frank a amava e ela o amava também. E que Zulei tenha sido, possivelmente, o único amor de sua vida. Um dia, encontrei-a sentada à beira do lago, olhando a propagação das ondas, jogando pedrinhas na água para provocá-las. Fiquei parado à distância, olhando-a em seu prazer de brincar. Por muito tempo ficou ali, sozinha, provocando o lago, absorta em seu devaneio, deixando a vida passar. Então, de repente, senti o desejo de ver aquele rosto que a mão de Deus pintou com doçura e amor sem igual. Timidamente avancei alguns passos, prendi a respiração por um momento e, para não assustá-la, chamei-a suavemente: "Zuleeei!..." Quando ela se levantou, sorriu inocente para mim. Neste momento, deparei-me com o mais belo sorriso que vira até então. Era o sorriso de uma mulher que a mente humana não consegue definir, o coração não consegue explicar, não consegue esquecer e... deixar de amar. Foi nosso último encontro. Nunca mais a vi. Não sei se ainda vive e, se vive, onde ilumina a vida com a beleza de sua alma e de seu sorriso encantador. Passados todos esses anos, esta é a maneira como sempre me lembro dela, pois vi, naquele dia tão distante, à beira do lago e através do seu rosto belo, sublime e encantador, o inesquecível Sorriso da Beleza, que o tempo não consegue apagar e a gente não consegue esquecer.