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postado em: 13/2/2008
A Sublimidade da Arte Disseram-me que meu texto é denso, filosófico, dramático até. E que falo muito de tristeza, angústia, corações partidos, sofrimento, dor e morte. Concordo plenamente. Mas, quem nunca sentiu tristeza, angústia, o coração machucado, dor, viu a morte de perto e sofreu, seja por que motivo for? Falo também de alegria e felicidade, distância e saudade, amor e paixão, flores, arte, música e encantamento do coração. Essas revelações sobre meu texto deixaram-me reconfortado, pelo simples motivo de entender que não o acham banal, sem graça, nem cansativo. Graças a Deus! Fizeram-me lembrar de um professor de Filosofia que tive na faculdade, lá pelos idos da década de 1970. Um dia, ao término de sua aula, ele passou o trabalho individual para ser apresentado em sua próxima aula, em outro dia. O tema era livre. Meti os pés, isto é, as mãos, e escrevi, com a ajuda da minha Smith Corona, americana (com muito orgulho, sim, senhor, pois, naquela época, era um luxo possuir algo importado, principalmente se fosse "Made in USA" como a Smith Corona era), sobre "A Vida e a Arte", fazendo uma comparação entre ambas. O título era VIDA E ARTE. Que petulância, um reles aluno de faculdade, que nunca tinha publicado um livro sobre Arte ou coisa semelhante, nunca tinha feito uma "obra de Arte" (a não ser aquelas inerentes à sua condição de aluno nessa fase da vida), se meter a falar sobre Arte! Arte que existe desde que o homem fez despertar suas primeiras impressões sobre a beleza e a vida, e as materializou na rocha, na madeira e no metal e, séculos depois, na parede e na tela, sua arte maior, para exprimir a beleza criativa que Deus deixou para todos, para felicidade daqueles que aprenderam a apreciar a arte mundo afora, mas com beleza, pois, para mim, Arte só é Arte quando exprime, além de inspiração mediúnica, beleza e poesia. A essa altura, já tinha publicado dois pequenos livros de poesias e escrito um de prosa, este, inédito. Escrevi o que acreditei ser o imaginário expressivo da ARTE, algo difícil de conceituar, sem viajar pelas entranhas difusas da filosofia, ou vasculhar o pensamento de seus expoentes maiores. E, lá fui eu cumprir o meu dever, com frases curtas e precisas, conceitos pessoais e definições corretas e, algumas, um pouco enigmáticas, para quem as lesse depois. Pelo menos foi o que concluiu o professor, ao ler e conceituar o referido trabalho. O texto era pequeno, um pouco mais de meia página datilografada (na minha Smith Corona, é claro!). A linguagem? Bem, para o professor, que o conceituou com boa nota até, era meio confusa. No final do trabalho, escrevi, entre parêntesis, cheio de "não-sei-o-quê": "não pesquisei". Finalmente, chegou o dia da aula daquele professor. Eu estava preocupado, em saber como tinha sido sua reação ao referido texto e qual seria a minha nota, quanto ao tema e à redação do mesmo, pois, além de professor de Filosofia, ele o era, também, de Português. E aí, pensávamos, tínhamos que redobrar as atenções, para não expor ao nível do ridículo, nossas abundantes ignorâncias semânticas. Após a chamada, ele distribuiu os trabalhos, com notas e, alguns, com observações que ele achou necessárias. O meu tinha nota e observação também. Fiquei surpreso com a nota que ele me deu: OITO! Escrita em letras vermelhas, para um trabalho que valia de um a dez. Mas, lá embaixo da folha, que guardo até hoje, logo após o texto, com a mesma caneta, ele escreveu a seguinte observação: "Quando se trata de tema filosófico recomendo que primeiro defina os termos que usar, especialmente termos equívocos e também análogos, senão há o perigo da composição se constituir num amontoado de palavras". E quanto ao texto? Bem, o texto era o seguinte: "Se o Eu fosse uma unidade niveladora entre o Sou e o Existo, a capacidade do homem fluiria da devassa da razão, formando uma essência carente para todas as suas emoções. Mas identificar um sentido, é dar forma à concepção, em cuja certeza reside a prioridade do caos. Por isso, a polaridade existencial não pode definir o supremo anelo do relativismo. Só com o invólucro da vontade aberto é que podemos unir o essencial ao todo. E o todo não condiciona nossas necessidades diárias, antes, porém, força a relatividade que induz o homem perante o seu próprio mundo: o universo de seus sonhos. Fugir à capacidade de uma força potente (arte), seria falar da vida sem um conteúdo extenso, pois a vontade de sobrepujá-la assassina a própria arte, condena a reflexão para com o mundo exterior, destrói a satisfação e mata a felicidade de criar. Só mesmo o sentido da vida, condicionado às mais superiores forças da alma é que pode determinar a gloriosa sublimidade da arte. Ninguém, mesmo dotado do maior senso de crítica e de contemplação interna, seria capaz de determinar o seu valor supremo. A sua influência, no tempo e espaço, só fez desnortear a capacidade do homem. E com todos os requisitos necessários ao conhecimento da arte e seu sentido, só assim poderíamos divisar a sua sublimidade. Vejamos: arte pela criação da arte; arte pelo valor da arte; arte pela liberdade de criar; arte pela glorificação cósmica; arte pela devastação do mundo exterior, e arte pela consagração (ou satisfação) interna. Dou aqui a concepção filosófica que empana o lume da criatividade: se o subjetivismo enfoca a arte só em formas humanas, sem o contexto que lhe deu vazão, não haveria coisa mais vã que a preocupação do conceito criador, ao encarar a obra de arte? Que foco filosófico substituiria o conteúdo que define a arte? Que outra importância revelaria o seu substituto, dentro da própria vida? Spencer encarava a arte como um jogo. Jogo de quê? De idéias? De emoções? De Altruísmo? De Ideal? De Frustrações ou de técnicas criadoras? A vida é tão necessária à arte como a arte o é à vida. Se o homem conseguisse desligar uma da outra, o mundo se tornaria um vazio chocante, tal qual no começo, quando a confusão de todos os seus elementos indefinia a terra no espaço sideral. Mente dilatada não significa capacidade de criar. Este poder criador não flui do conhecimento das coisas primeiras nem dos primeiros princípios e sim, da visualização emocional, unindo técnicas a conhecimento, burilados na obra do sonho do artista. Há, contudo, creio eu, uma grande diferença entre o verdadeiro artista e um simples autor. O autor dá origem, inventa, sem, contudo, possuir o senso artístico. O artista é aquele que, além de autor, sente as influências do mundo astral a que está sujeito, deixa-se dirigir pelo ideal da vida e faz da sublimidade da arte o seu apostolado." Tenho dito!