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postado em: 2/10/2008
A Última Tristeza da Vida Há tempos venho pensando, seriamente, sobre o que se passa na mente de uma pessoa, em seus últimos momentos de vida, como encara o fim e a tristeza de deixar parentes queridos e amigos, com os quais conviveu ao longo de sua existência. Pode até parecer estranha essa minha preocupação. Mas, acontece que todos nós vamos morrer um dia. E, sendo assim, que mal há em pensar se teremos, no final da vida, uma última tristeza? É certo que, durante toda a nossa existência, tivemos alegrias e tristezas. Alegrias felizes, que nos fizeram sorrir e dar mais sentido à vida; tristezas amargas, que nos fizeram chorar. Para uns, as alegrias foram muitas. Mas, para outros, as tristezas ocuparam lugar de destaque em sua existência. E, em muitos casos, aqueles que descem ao túmulo, tiveram como principal motivo da partida deste mundo, as muitas tristezas que sofreram e que lhes tirou a saúde, o brilho e a alegria de viver. Para alguns, a última tristeza da vida foi, realmente, apenas a morte, como a de Orlando Brunelli. Em certos momentos da vida é muito difícil ser feliz. Mas, em contrapartida, é muito fácil ser dominado pela tristeza. Você já parou para pensar nas alegrias que teve ao longo da vida? Alegrias de verdade, gratificantes, que o elevaram para mais perto do Altíssimo, pela sua maneira serena de encarar a vida? Não é fácil idealizar a vida por essa maneira de pensar. No entanto, quando vejo pessoas sofrendo por falta de alegrias, fico imaginando quanto diferença faria, se elas, ao menos, tentassem fugir das tristezas e buscassem soluções imediatas para suas angústias. Fugir das tristezas é adicionar à vida, no dia-a-dia da própria vida, o sorriso da felicidade. É possível que muitos não acreditem na presença da felicidade. Podem achá-la vazia, sem sentido, ilusória até, pelo simples motivo de não a verem. Mas ela existe e é possível em nossas vidas, pelos resultados positivos que produz. A vida se torna difícil, quando insistimos em caminhar na mesma direção, sem notar as opções de caminhos que surgem à nossa frente. Mudar de direção no caminho da vida, é ver o mundo de maneira diferente, com satisfação e prazer. Que mal lhe fará, lançar um novo olhar sobre a vida? Há tantas coisas boas no mundo. Sofrer pelas tristezas que surgem, é resignar-se pela presença delas e deixar de lutar e vencer. Os que não lutam para vencer olham a vida como um castigo imerecido de Deus, em detrimento de sua felicidade e paz. Mas, aqueles que lutam, sentem a presença de Deus em suas vidas e, também, da maravilhosa alegria de viver. Voltemos ao título deste texto, “A Última Tristeza da Vida”. Qual seria a última tristeza da vida de uma pessoa? Seria o desgosto de ter lutado tanto, por anos e anos a fio e, no final da existência, perceber que fracassou ante a própria vida? Ou, a busca incessante da felicidade, com a sensação de nunca a encontrar? Um dia, morreremos. Um dia deixaremos de existir. Partiremos para uma viagem, cujo destino final ninguém sabe, mas, que está condicionada à nossa maneira de viver e escolha de procedimentos, cujo conhecimento se dará quando da nossa chegada ás portas do Tribunal de Deus. Ninguém é eterno, mas quando morrer, todos querem ir para o Céu. A última tristeza da vida não é deixar de sonhar e ser feliz, mas chegar ao fim da jornada. Em uma linguagem mais terrível e assustadora, é a chegada indesejável da morte. Não importa a designação que se dê, seja sob o ponto de vista da contemplação filosófica ou do enfoque crítico e analítico da Teologia. O certo é que a chegada da morte é o fim de tudo, para quem parte para sempre, e deixa parentes, amigos, entristecidos pela separação. É difícil o momento final da vida, quando a razão diz que não mais se verá a luz dourada do sol nem o brilho cintilante das estrelas. Na cidade de São Paulo vive um amigo meu, Wagner Brunelli, ex-colega de colégio, dos tempos do antigo curso Ginasial (1968-1971), no então Instituto Adventista de Ensino – IAE, atual Centro Universitário de São Paulo – UNASP – São Paulo, Campus 1. Eu era aluno interno e ele, externo. Fiquei 12 anos no internato. Não estudamos juntos os quatro anos do curso. Mas, foi uma convivência feliz e gratificante de amigos, que jamais esqueci. Em 2007, mais uma vez, estive na cidade de São Paulo. Fico hospedado na casa do genro do falecido pastor João Stinglin Linhares (a quem sempre chamei de “Meu Pai Paulista”), Dr. Wilsom Jorge Rossi, em frente ao antigo Colégio, fundado em 1915. Sábado, pela manhã, fui assistir à programação religiosa. Lá, para minha surpresa, encontrei-me com o Wagner. Foi uma alegria muito grande revê-lo, depois de 39 anos, agora, não mais rapazes saindo da adolescência, mas homens maduros, casados, com filhos, e... Muitos cabelos brancos. De volta à Vitória-ES, passamos a nos falar por e-mails. Pouco tempo depois, ele me escreveu, pedindo orações para seu pai, Orlando Brunelli, hospitalizado com “infecção generalizada”. O estado de coma induzido o deixava sem a dor física. No e-mail seguinte, disse-me que já estava em “morte cerebral” e, no dia 23 de abril de 2008, li no e-mail, que o coração dele, finalmente, parou. Morreu aos 77 anos de idade, digno, sereno e tranqüilo, com os familiares à sua volta, despedindo-se dele com lágrimas e soluços de muita tristeza e dor. Penso que Orlando Brunelli não experimentou a angústia dolorosa da morte, quando o coração finalmente parou, pois estava sedado, e em coma já há alguns dias. Apenas a tristeza de saber que ia morrer, enquanto estava lúcido e com as funções cerebrais ainda ativas, pois sabemos que, enquanto há atividade cerebral, há vida. Constatada a morte física, alguns de seus órgãos foram doados a outros pacientes, alguns terminais, que voltaram a conhecer a alegria da vida, através da última tristeza da vida, de Orlando Brunelli: a morte. Mas, em um dos e-mails que recebi do Wagner, ele disse, sobre o pai: “Morreu trabalhando. Não tinha doença grave”. Foi, como sempre dizemos, uma “fatalidade” da vida. Após a leitura do e-mail, respondi ao Wagner, com palavras de conforto e esperança que, àquele momento, só mesmo Deus poderia reconfortá-lo devidamente. Quem foi Orlando Brunelli? Orlando Brunelli foi um homem que espalhou alegria, otimismo, confiança, fé e a Palavra de Deus, com amor e dedicação, através das muitas viagens, visitas de casa-em-casa, e dos milhares de bons livros que vendeu, tornando as pessoas e o mundo melhores. Nasceu na cidade de São Paulo, no dia 13 de janeiro de 1931. Casou-se com Luíza Brunelli, em 18 de dezembro de 1954, com a qual teve três filhos: Wagner, Rozane e Cibele, todos casados. Wagner casou-se com Sandra, de cuja união nasceu Giovanna, casada com Sérgio, e Bruno, estudante de medicina. Cibele casou-se com William Evangelista. O casal tem dois filhos, Izabelle e Camille. E Rozane, com Rildo Elias. Rozane tem dois filhos, William e Wanessa, do seu primeiro casamento. William, neto de Orlando, tem dois filhos: Guilherme e Nicolas. E Wanessa, casada com Elmer, é mãe de Pedro. Orlando Brunelli foi um fiel membro da Igreja Adventista do sétimo Dia até morrer. Conheceu o Evangelho através do programa radiofônico “A Voz da Profecia”, então dirigido pelo falecido pastor Roberto M. Rabello, e orador oficial do mesmo. Após receber estudos bíblicos preparatórios, foi batizado, juntamente com a esposa, pelo irmão do pastor Roberto M. Rabello, o também pastor João Mendes Rabello, na igreja Adventista do bairro da Lapa, São Paulo, no dia 01 de abril de 1962 (o pastor João Mendes Rabello mora atualmente em Curitiba-PR e está com 90 anos de idade). No ano seguinte, entrou para a colportagem, um programa de vendas de literatura da igreja, de porta em porta, trabalho que desempenhou com amor e dedicação até pouco antes de ser hospitalizado e morrer. Após sua conversão e batismo, fundou e ajudou a construir várias igrejas adventistas, inclusive a do Jardim Lilah, zona Sul de São Paulo. Por vários anos manteve alguns programas de rádio no populoso bairro Capão Redondo, na zona Sul de São Paulo, voltados para o evangelismo, que foram líderes de audiência entre os religiosos do bairro e da Grande São Paulo. Orlando Brunelli era um homem cristão, trabalhador, honesto, bom esposo, pai, sogro, avô e bisavô. Mas, finalmente, o fim da vida chegou e, com ele, as lágrimas que esposa, filhos, genros, nora, netos e bisnetos derramaram no momento extremo da dor e da separação. O coração de Orlando Brunelli parou de bater no dia 23 de abril de 2008. Mas, dias antes, no momento em que perdera suas funções cerebrais, tenho certeza de que experimentou a amargura de sentir a “Última Tristeza da Vida” sobre a terra: a conflitante aceitação da chegada inoportuna da morte. Naquele momento, teve a certeza de que não mais veria os entes queridos, os amigos, a luz do sol e o brilho das estrelas... E, finalmente, nada mais soube nem sentiu. Ao morrer, deixou muita saudade, tristeza e dor, entre os que o conheceram e viveram com ele. Morreu entre sonhos alegres e esperanças felizes, de um dia reencontrar esposa, filhos, genros, nora, netos e bisnetos, na Cidade Eterna, a Nova Jerusalém que Deus promete aos fiéis e escolhidos, para a vida eterna. Sim, a vida eterna, onde não haverá lágrimas, nem pranto nem dor, e onde esquecerão que viveram a angústia e a desilusão da “Última Tristeza da Vida” na terra, antes de morrer.