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postado em: 21/8/2009
O Encanto do Iluminismo – 1ª parte Fernando de Almeida Silva [email protected] Editor Associado www.iasdemfoco.net Depois das mudanças na cultura do homem, promovidas pelo desenvolvimento intelectual do Renascimento (século XIV), marcando a transição da Idade Média para a Idade Moderna, que sucedeu à Idade Média (fim da Idade Antiga até o início da Idade Moderna – 1453), a decadência do pensamento barroco, deu lugar ao arcadismo, em 1700. O termo Barroco significa “bizarro” e é de origem francesa. Mas o “estilo barroco”, um estilo arquitetônico que se desenvolveu desde o fim do século XVI e perdurou, até meados do século XVIII, surgiu na Itália. O Barroco foi uma reação ao estilo Clássico que, no final do Renascimento, perdia seu vigor como beleza artística. Com a decadência do Barroco, surgiu o Rococó, não como estilo arquitetônico, mas, ornamental, que os críticos da arte consideram de mau gosto, devido a seus ornamentos espalhafatosos e à profusão de curvas caprichosas. A glória maior do Rococó foi na França de Luiz XV (1710-1774). Quando aportou em Portugal, o Barroco recebeu o nome de “Estilo D. João V ou Jesuíta”. No Brasil ficou conhecido como “Colonial”. No entremeio do Barroco e do Rococó, reinou o arcadismo. O arcadismo (de Arcádia, região central do Peloponeso – península da Grécia), deu origem às academias literárias, existentes ainda hoje, e cultivava, principalmente, a poesia bucólica, como os poetas de Vila Rica, em Minas Gerais, Brasil. O arcadismo veio acompanhado do Iluminismo, período no qual a visão teocêntrica girava em torno da religião Católica somente. Com a chegada do Iluminismo, os ventos da Europa mudaram de rumo, anunciando uma profunda renovação social, política, científica e religiosa. Como movimento intelectual, o Iluminismo trazia o sentido de liberdade e progresso para o homem. E seus ideólogos pregavam a substituição das “trevas” da ignorância, pela “luz” (conhecimento) do poder da razão (ciência), para iluminar os aspectos “escuros” da Idade Média e da intermediação da igreja entre o homem e Deus, pela ida, direta, do homem a Deus. O Iluminismo, cujos ideólogos pregavam a existência de uma sociedade, para proporcionar felicidade, justiça e igualdade entre os homens, condenavam, também, o absolutismo, o mercantilismo e a imposição da Igreja. Esse movimento de renovação cultural, uma corrente de pensamento, um conceito que sintetizou diversas tradições filosóficas, correntes intelectuais e atitudes religiosas, com ênfase no progresso, na liberdade de pensamento, na emancipação política, no poder da razão, o “Primado da Razão” (a razão – ciência - sobre a ignorância, a superstição e a aceitação crítica da autoridade, comuns, durante a Idade Média), que abominava a ignorância, ocorreu entre a Revolução Inglesa de 1688, chamada “Revolução Gloriosa”, e a Francesa de 1789, devido à intransigência da monarquia, que não cedia às reformas. Os iluministas assumiram integralmente as idéias do filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), barão de Verulam, que foi chanceler da Inglaterra, e que pregava abertamente que “conhecimento é poder”. O feudalismo dava seus últimos suspiros na Europa e as monarquias absolutistas estavam no apogeu. A burguesia, dominadora, que ganhava força nas cidades, detestava a autoridade do rei, o poder da Igreja e os privilégios do clero, aliados às petulâncias da nobreza. O apogeu do Iluminismo se deu com a ascensão e consolidação da burguesia na Grã-bretanha, nos Países Baixos e na França, graças à influência dos escritos de Voltaire, Denis Diderot, Jean Le Rond d’Alembert, o suíço Jean-Jacques Rousseau, René Descartes e outros. Tinha, como principal característica, “creditar à razão a capacidade de explicar racionalmente os fenômenos naturais e sociais e a própria crença religiosa”. Embora pregasse a igualdade dos homens, como conceito social, na literatura o Iluminismo apoiava o neoclassicismo, inspirado em frases latinas do poeta romano Quintus Horatius Flaccus, mais conhecido como Horácio (65-8 a.C.), que dizia: “Fugere Urben” (fugir da cidade) e “Carpe Diem” (aproveite o dia). No Ancien Régime (Antigo Regime), principalmente na França, a sociedade era dividida na seguinte ordem de importância e poder: clero, nobreza, burguesia e trabalhadores da cidade e do campo. E o objetivo do Iluminismo foi mudar tudo isso. O termo “Iluminismo”, pois “iluminava” os aspectos “escuros” da idade Média, com a “luz” da razão da Idade Contemporânea, significa Esclarecimento, Ilustração. Na França, ficou conhecido como o Siècle des Lumières (Século das Luzes); na Alemanha, Aufklärung (Filosofia das Luzes, Iluminação) e, em uma melhor conceituação, “o homem iluminado pela própria razão”; na Grã-Bretanha, Enlightenment (Esclarecimento); na Espanha, Ilustración (Ilustração); e na Itália, onde sua influência maior foi nas cidades de Nápoles e Milão, Illuminismo mesmo (com dois eles). Esses termos designavam uma época da história ocidental essencialmente rica e intelectual, e sua síntese estava nas diversas tradições filosóficas, correntes intelectuais e atitudes religiosas incoerentes, cuja aceitação era contestada pela elite intelectual, que ansiava por transformações. A inspiração para o Iluminismo francês foi a liberalidade política inglesa, que muitos filósofos franceses, em visita à Inglaterra, encontraram, com mais intensidade lá, do que na França. Eles ficaram encantados, por exemplo, com a ciência natural daquele país. De volta à França, começaram a se rebelar contra o autoritarismo real e, logo depois, o poder da Igreja Católica e da aristocracia. Mas, o início, como movimento, foi mesmo na França, de onde se espalhou por toda Europa, principalmente pela Alemanha, no final do século XVII, no apagar das luzes da Idade Média. Os ideais iluministas ajudaram a promover a Independência dos Estados Unidos da América (1775-1783), libertando-se do domínio inglês e, no Brasil, a Inconfidência Mineira (1789). Em Portugal, o Iluminismo encontrou apoio em Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal (1699-1782), ministro do D. José I e ex-embaixador na Inglaterra, de 1738 a 1745. Em sua tarefa de renovação cultural, em 1759, expulsou os jesuítas, fundou escolas e tirou o ensino da tutela da Igreja. Foi o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), quem sintetizou de maneira brilhante, o lema do Iluminismo. Ele disse: “O Iluminismo representa a saída dos humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem, quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento, mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da sua própria razão! – esse é o lema do Iluminismo”. No Brasil, o Iluminismo possibilitou importantes mudanças no conceito social de então. Em primeiro lugar, a cultura dos jesuítas, com base no autoritarismo da Igreja Católica da Idade Média, deu lugar aos ventos do neoclassicismo, surgido na Itália, no fim do século XVIII, espalhando-se aos países vizinhos, perdurando por cem longos anos (de 1750 a 1850). Seu objetivo foi restituir a beleza e as formas clássicas à arquitetura e à pintura, e à harmonia das formas plásticas do corpo humano. Em segundo lugar, Minas Gerais e Rio de Janeiro se destacam no cenário político nacional como centros de relevância política, econômica, social e cultural. Estudantes brasileiros descobrem a Europa para sua formação acadêmica. Se olhada para outra direção, a arte emergente do Iluminismo foi o retorno à simplicidade clássica.