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postado em: 18/9/2009
O Encanto do Iluminismo – 2ª parte
Fernando de Almeida Silva
[email protected]
Editor Associado
www.iasdemfoco.net
Originado na Inglaterra, Holanda e França, o Iluminismo inseriu-se no contexto histórico das outras nações, tendo como ponto de referência o período da Renascença (século XIV), com a descoberta da razão, como a chave para compreender o mundo. Desses países, chegou aos demais, como Escócia, Estados Unidos, Rússia, Polônia, Áustria, Grécia e Bálcãs. Seu apogeu se deu no começo do século XVIII, que ficou conhecido, também, como a Era dos Cafés, da palavra ágil e contestadora (o século XVII foi chamado a Era da Taberna, do álcool e da embriaguez).
O século XVIII, veio a ser conhecido como o “Século das Luzes”, uma época de grandes transformações tecnológicas, como a invenção da máquina a vapor e do tear mecânico, principalmente, caracterizando, assim, o fim entre o feudalismo e o capitalismo, o que possibilitou a formação do lema iluminista da Revolução Francesa: “Liberdade, Igualdade ou Morte”, substituído depois, na II República (1848-1852), por “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Os principais precursores do movimento foram o matemático e filósofo francês, René Descartes (1596-1650), considerado o pai do racionalismo, e o cientista inglês Isaac Newton (1642-1727). Mas, tudo começou com a determinação do físico e matemático italiano Galileu Galilei (1564-1642), fundador da ciência experimental na Itália, que devolveu à ciência, sua importância primordial: a pesquisa experimental. E, de Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano alemão que, em 31 de outubro de 1517, reagindo às pretensões de Roma, prega suas 95 teses ou proposições, relativas à doutrina e aos abusos da Igreja Católica, na porta da igreja do castelo ducal de Wittenberg, onde eram afixados os avisos da Universidade.
Nelas, Lutero renegava o absolutismo papal, em matéria de fé, principalmente, diante do escândalo da venda das Indulgências (venda de perdão dos pecados e faltas menores), a “Questão da Indulgência”, cuja finalidade era arrecadar dinheiro para a construção da Basílica de São Pedro, em Roma, e pagar dívidas que Alberto, arcebispo de Brundenburg, tinha com o papa. Com a venda das Indulgências, metade do dinheiro ia para Alberto e metade para o papa, como pagamento da dívida de Alberto.
Em 15 de junho de 1520, em sua bula contra os erros de Lutero Exsurge Domine (Erguei-vos, Senhor), carta-patente dos papas para assuntos de grande importância, o papa Leão X (1513-1521), declara Lutero herege, por ter-se afastado dos princípios fundamentais e recusado os dogmas de fé da Igreja Católica, dando-lhe um prazo de 60 dias para retratar-se de 41 das 95 teses por ele defendidas.
Mas, em 10 de dezembro de 1520, Lutero, que dizia que o papa era “o demônio que estava sentado na cátedra de Pedro” queimou, em praça pública, uma cópia da bula, juntamente com alguns volumes do Código do Direito Canônico.
Em 1521, perante a Dieta (assembléia dos príncipes e bispos alemães), convocada por Carlos V (1500-1558), Imperador do Sacro (Santo) Império Romano e rei da Espanha, a pedido do papa, na cidadezinha alemã de Worms (Weimar), Lutero confirma, oficialmente, sua posição de insurgente e se desliga da Igreja Católica, o que deu início ao luteranismo.
Devido à sua intransigência, foi excomungado, dois meses depois e desterrado do império. Fugiu e encontrou apoio em Frederico da Saxônia, hospedando-o no Castelo de Wartburg, onde, entre outros escritos, traduziu a Bíblia para o alemão.
Lutero abandonou o sacerdócio em 1524 e, em 13 de julho de 1525, casou-se com a ex-freira Catarina von Bora, com a qual teve seis filhos. Morreu aos 63 anos de idade, em Eisleben, Saxônia, pequeno povoado onde havia nascido. É considerado o “Pai da Reforma” protestante.
Além deles, temos os chamados “filósofos do Iluminismo”: o médico e filósofo inglês, John Locke (1632-1704), considerado o “pai do iluminismo”, que participou da Revolução Inglesa de 1688; os franceses Voltaire, pseudônimo literário de François Marie Arouet (1694-1778), o crítico da igreja e da intolerância religiosa, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Charles Louis de Secondat, Barão de La Brède e de Montesquieu (1689-1755) o mais radical do movimento (contestou a propriedade privada), e Denis Diderot (1713-1784).
No entanto, o pai do movimento foi mesmo John Locke, embora o mais notável dentre eles tenha sido o filósofo e sacerdote Etienne (Estêvão) Bannot de Condillac (1715-1780), o francês que foi preceptor na corte de Fernando (Ferdinando) de Bourbon, herdeiro do trono e filho de Carlos III (1716-1788), rei da Espanha, filho de Filipe V (1683-1746), duque de Parma, Itália. Os Traité des Sensations, Traité dês Systèmes, Traité de Raisonner, entre outros, são de autoria de Condillac. Mas, todos eles pregavam idéias que, juntas, deram ao Iluminismo a consistência de uma verdadeira revolução intelectual na França.
Os Bourbons da Itália e Espanha eram da mesma família real francesa, cuja ascendência remonta ao conde Robert de Clermnont, sexto filho do rei São Luiz IX (1215-1270), senhor do castelo feudal de Bourbon-l’Archambault. Eles formaram importantes dinastias na França, Espanha e Nápoles.
Locke dizia que o homem nasce sem idéia e que o conhecimento é adquirido por meio dos sentidos. Rousseau pregava a formação de um Estado, governado pela vontade do povo. Ele dizia que “o homem nasce bom” e sem vícios e, depois, corrompido, torna-se pervertido pela sociedade civilizada, “devendo, portanto, retornar para a natureza”. Defensor da pequena burguesia, Rousseau inspira a Revolução Francesa.
Montesquieu era mais radical: pregava a separação dos três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) do Estado. E Diderot, ao lado do físico e filósofo, Jean Le Rond d’Alembert (1717-1783), organiza uma enciclopédia, na qual reuniu os conhecimentos científicos e filosóficos até então.
Diderot e d’Alembert planejaram a L’Encyclopédie (Enciclopédia) em 1750, obra magna do pensamento iluminista. Tanto Diderot quanto d’Alembert, eram filósofos e matemáticos franceses. O título era Dictionaire Raisonné des Sciences, des Arts, et des Métiers (Enciclopédia ou Dicionário Racional das Ciências, das Artes e dos Ofícios), dirigida, de 1751 a 1754, por d’Alembert e, a seguir, por Diderot.
Após sua publicação, a L’Encyclopédie sofreu violenta reação da Igreja Católica, que os iluministas criticavam e, também, de grupos ligados à ela, que a classificaram como racionalista e materialista, visto ser a Enciclopédia uma “obra de referência que exprimia concepções políticas revolucionárias”. Mesmo assim, durante vinte anos, entre 1751 (ano da publicação do primeiro volume) e 1772, foram publicados 17 dos 35 volumes concebidos de textos e 11 de pranchas de ilustração, encerrando a obra inteira.
Diderot selecionou 139 colaboradores, o melhor da elite intelectual da França, para a vitoriosa tarefa. Os mais importantes colaboradores foram Montesquieu (leis), Voltaire (literatura, elegância, história, espírito e imaginação), Lamarck (botânica), Helvetius (matemática), Condillac e Condorcet (filosofia), Rousseau (música), Buffon (ciências naturais), Quesnay e Turgot (economia), Holbach (química) Diderot (história da Filosofia) e D’Alembert (matemática).
É por isso que os iluministas também são chamados de “enciclopedistas”. Mas, além da Enciclopédia, muitos livros e panfletos foram publicados nesse período. Quando eram censurados ou queimados na França, por ordem judicial, os iluministas faziam edições clandestinas na Holanda, que depois eram contrabandeadas para a França.
Os enciclopedistas propunham a imediata separação da Igreja do Estado, combate às superstições e aos pensamentos mágicos, como as instituições religiosas. E, mesmo com a censura e condenação papal, o Iluminismo influenciou o mundo intelectual e inspirou o movimento social que originou a Revolução Francesa de 1789.
A grande contribuição da Enciclopédia foi que ela buscou definir, no homem interior, as rupturas necessárias, com base na autoridade intelectual. Sua finalidade foi “reunir os conhecimentos esparsos sobre a terra, expor seu sistema geral aos homens de seu tempo e transmiti-lo às gerações futuras, a fim de que aquilo que foi realizado no passado não caia no esquecimento. Assim, tornando-se mais instruídos, os homens serão certamente mais virtuosos e felizes”.