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postado em: 2/10/2009
O Encanto do Iluminismo – 3ª parte Fernando de Almeida Silva [email protected] Editor Associado www.iasdemfoco.net A maior parte dos iluministas era constituída de deístas. Como tal, eles acreditavam que Deus, depois de criar o Universo, deixou-o sozinho à sua própria sorte. Seu maior expoente francês foi Voltaire. Na Inglaterra, Cherbury (não confundir com Cherbuliez -1829-1899 - escritor suíço) e Cudworth, Locke e Tindal. Na Alemanha, Reimarus, que não admitia atributos intelectuais e morais em Deus. Anticlerical, o Iluminismo criou uma encrenca danada com a Igreja Católica, ao condenar a intermediação desta entre o homem e Deus, além de pregar a separação entre a Igreja e o Estado. Mesmo assim, eles criam piamente em Deus. Há quem veja o Iluminismo sob dois aspectos distintos: Primeiro: como doutrina de natureza místico-religiosa, onde se aninharam os chamados “iluminados” da inspiração sobrenatural, com o apoio de diversas seitas. Essa corrente surgiu no século XV, na cidade de Toledo, Espanha, mas, com raízes no misticismo francês da época medieval, cujo elemento essencial da civilização ficou conhecido como Cristandade. Da Espanha passou para a França, Alemanha e Bélgica, onde seus adeptos viviam em permanente estado passivo de, segundo eles, aproximação à divindade. Acredita-se que essa corrente tenha se ligado ao luteranismo alemão. Mas, depois de 1570, nada mais se soube deles. Segundo: como movimento cultural-filosófico. Mas, não há uma unidade isolada que justifique seu surgimento, visto fatores diversos terem contribuído para sua formação, como países e pensadores diferentes, correntes humanistas, naturalistas, criticistas e expoentes como John Locke, Pierre Bayle (1647-1706), considerado o fundador da crítica histórica, Gotthold Ehpraim Lessing (1729-1781), Johann Gottfried von Herder (1744-1803), Voltaire, caracterizando o fim entre o feudalismo e o capitalismo, Claude Adrien Helvetius (1715-1771), Denis Diderot, Charles Louis de Condorcet, Barão de La Brède e de Montesquieu, Paul Heirich Dietrich, barão de Holbach (1723-1789) e Kant. A característica do Iluminismo é a fé “nas luzes” da chamada razão humana, livre das idiotices das pesquisas dos problemas metafísicos, conhecidos até então. Surgia, daí, a teorização da liberdade humana. E, destacando-se, as político-econômicas e sócio-religiosas, contrapondo-se aos obsoletos limites das superstições, da tradição e autoridade, do progresso dos mais fortes e poderosos e, principalmente, intelectuais. O ponto de partida foi a liberdade de pensamento e a emancipação política, que pôs fim à supremacia da burguesia feudal e criou uma nova visão da vida e desenvolvimento social. Todavia, a maior façanha do Iluminismo, no campo do conhecimento intelectual, foi a publicação e difusão da Enciclopédia, obra de referência, que exprimia a síntese do pensamento revolucionário dos “iluminados”. Os iluministas davam valor absoluto à razão, em detrimento a toda e qualquer forma de crença. Salvou, no entanto, sua definição religiosa, na qual o Iluminismo se baseia “num contato imediato com a divindade, fonte da luz intelectual”. Mas, é bom lembrar que, durante o século XVIII, efetuou-se certa dessacralização da história, que passa a ser compreendida como uma trajetória vitoriosa e puramente humana, ou seja, destituída da ação divina. Em outras palavras, pelo conhecimento humano somente, pela luz da RAZÃO - ciência (daí, Iluminismo), com capacidade de esclarecer qualquer fenômeno. Esse mesmo Iluminismo foi subdividido em diversos micro-iluminismos, diferentes no tempo, nas regiões e nos ideários religiosos, chamados de “iluminismo tardio”, “iluminismo francês” e “iluminismo espanhol”, etc. O Iluminismo defendia o domínio da razão, sobre a visão teocêntrica (Deus, como centro de tudo), posição defendida pela Igreja desde a Idade Média, cuja humanidade havia encontrado refúgio na fé (elemento da civilização conhecido como Cristandade), com o propósito de “iluminar as trevas” em que se encontrava a sociedade, presentes no antigo regime, no absolutismo político, no mercantilismo, na sociedade rural, no homem, como súdito do rei e na sociedade estamental (dividida em estados com funções sociais definidas), como a aristocracia e o clero, que mantinham seus privilégios através das tradições medievais. O fim das trevas veio com o início da Idade Contemporânea, com a Modernidade. O Iluminismo possibilitou as revoluções burguesa e industrial que, com suas luzes, primado da razão, dúvida metódica, crença nos direitos naturais, liberalismo político e econômico, antimonárquico, anticlerical e antimercantil, igualdade de todos perante a lei, crítica aos dogmas, criou um novo mundo de idéias e pensamentos. A luz da “Razão” tornou-se o centro dos debates do século XVIII, como uma “luz natural”, em oposição à fé, tida como uma “luz sobrenatural”. Embora, tal qual a ciência, a razão e o chamado “otimismo pedagógico”, tornaram-se marcas visionárias do Iluminismo. Voltaire, crítico da Igreja, do clero, da servidão feudal e da censura, disse que “a função da luz é dissipar as trevas”. E Kant, exaltando a presença dos dissipadores de luz no iluminismo, disse que “o iluminismo é o ato do homem sair da menoridade” de pensamento. Mas, essas mesmas luzes, que tanto Voltaire e seus colegas acenderam, para brilhar muito no século XVIII, chegaram ao século XIX sem brilho, sem intensidade, “iluminando menos do que prometeram”, diminuídas pela contestação do marxismo (crítico do liberalismo), nietzscheanismo (crítico do cristianismo) e freudismo (crítico do racionalismo). Os iluministas defendiam que a razão deveria substituir as crenças religiosas. E, devido a esse posicionamento, buscaram respostas que, até então, eram encontradas e justificadas, apenas, pela supremacia da fé (Igreja Católica). O triunfo do Iluminismo foi libertar-se da tutela dos reis e dos pontífices de Roma e a “consolidação do liberalismo político em grande parte do Ocidente a partir do séc. XIX. O antigo regime ruiu, o poder da aristocracia desapareceu e a burguesia assumiu o controle do Estado liberal”. O movimento foi o mais duro golpe à ideologia do poder eclesiástico, no intuito de anular, nos cristãos europeus, o domínio da Igreja Católica sobre eles. Além do mais, o encanto do Iluminismo foi a colocação de Deus no coração do homem, sem a intermediação da Igreja, mas, sendo iluminado pelo Espírito Santo, que o desperta para a realidade e necessidade da Salvação em Deus, segundo o preceito bíblico dos ensinos de Jesus de Nazaré, que um dia, andando pelas terras áridas da Judéia, disse, sobre a vinda do Reino de Deus e olhando nos olhos dos fariseus: “Não se poderá dizer: ‘Ei-lo aqui! Ei-lo ali!’, pois eis que o Reino de Deus está no meio de vós” (ou, “dentro de vós” – entos), conforme o advérbio está escrito no original grego “koinê”, comum, simples, no Novo testamento – Lucas 17:21 (BJ). E esse é o Encanto do Iluminismo!